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SEGUNDA GERAÇÃO MODERNISTA Aulas 51/52. CONTEXTO DE PRODUÇÃO Época das Ideologias: -Bipartização política: Direita x Esquerda -Revolução Constitucionalista.

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1 SEGUNDA GERAÇÃO MODERNISTA Aulas 51/52

2 CONTEXTO DE PRODUÇÃO Época das Ideologias: -Bipartização política: Direita x Esquerda -Revolução Constitucionalista de 1932 -Estado Novo (1937) – Totalitarismo -Segunda Guerra Mundial (1939-45)

3 FASE DE CONSOLIDAÇÃO (1930-1945) 1ª FASE: Irreverência Humor Nacionalismo Liberdade estética 2ª FASE: Problemas existenciais / sociais Mundo alienado Espiritualismo Liberdade estética / Tradição

4 POESIA a) Estar no mundo / Tensão ideológica – Drummond b) Religiosa / Filosófica – Cecília Meireles / Vinícius de Moraes / Jorge de Lima c) Dimensão Surrealista – Murilo Mendes

5 C ARLOS D RUMMOND DE A NDRADE (1902-1987 Filho de fazendeiro, nasce em Itabira, MG Insubordinação mental / Formado em Farmácia Radica-se em 1934 no Rio de Janeiro Chefe de Gabinete do Ministro da Educação / Aposenta-se no funcionalismo público Poeta / Tradutor / Cronista / Contista Morre pouco depois da filha em 1987

6 O BRA POÉTICA 1962 TEMAS: O indivíduo A terra natal A família Os amigos O choque Social O Conhecimento Amoroso A Própria Poesia Exercícios Lúdicos O estar-no-mundo

7 4 FASES DE DRUMMOND

8 1- EU MAIOR QUE O MUNDO HERANÇA DE 22: Humor Individualismo (Gauche ) Coloquialismo Versos Livres Cotidiano Poema-Piada Influência das Vanguardas Alguma Poesia (1930) Brejo das Almas (1934)

9 Cota Zero Stop. a vida parou ou foi o automóvel?

10 Era uma vez um czar naturalista que caçava homens. Quando lhe disseram que também caçam borboletas e andorinhas, ficou muito espantado e achou uma barbaridade

11 No meio do caminho No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra.

12 INFÂNCIA Meu pai montava a cavalo, ia para o campo. Minha mãe ficava sentada cosendo. Meu irmão pequeno dormia. Eu sozinho menino entre mangueiras lia a história de Robinson Crusoé, comprida história que não acaba mais. No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu a ninar nos longes da senzala - e nunca se esqueceu chamava para o café. Café preto que nem a preta velha café gostoso café bom. Minha mãe ficava sentada cosendo olhando para mim: - Psiu... Não acorde o menino. Para o berço onde pousou um mosquito. E dava um suspiro... que fundo! Lá longe meu pai campeava no mato sem fim da fazenda. E eu não sabia que minha história era mais bonita que a de Robinson Crusoé

13 P OEMA DAS S ETE F ACES Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres. A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos. O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. Porém meus olhos não perguntam nada.

14 O homem atrás do bigode é sério, simples e forte. Quase não conversa. Tem poucos, raros amigos o homem atrás dos óculos e do bigode. Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco. Mundo mundo vasto mundo se eu me chamasse Raimundo, seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração. Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo.

15 Cidadezinha qualquer ( Alguma poesia ) Casas entre bananeiras Mulheres entre laranjeiras pomar amor cantar. Um homem vai devagar. Um cachorro vai devagar. Um burro vai devagar. Devagar... as janelas olham. Eta vida besta, meu Deus.

16 Quadrilha (Alguma poesia) João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para a tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história. AMAR-AMARO

17 E U MENOR DO QUE O MUNDO Encontro com a poesia social: Social / existencial Versos livres / tradicionais Engajamento Sem transcendência ou fuga Luta / Luta Inútil Metapoesia Outrora escutei os anjos, as sonatas, os poemas, as confissões patéticas. Nunca escutei voz de gente. Em verdade sou muito pobre. ("Mundo grande", Sentimento do mundo ) Sentimento do Mundo (1940) José (1942) A rosa do povo (1945)

18 Nosso Tempo Este é tempo de partido, tempo de homens partidos. (...) O poeta declina de toda responsabilidade na marcha do mundo capitalista e com suas palavras, intuições, símbolos e outras armas promete ajudar a destruí-lo como uma pedreira, uma floresta, um verme. O medo Em verdade temos medo. Nascemos escuro. As existências são poucas: Carteiro, ditador, soldado. Nosso destino, incompleto. E fomos educados para o medo. Cheiramos flores de medo. Vestimos panos de medo. (...) (...) De medo, vermelhos rios vadeamos. (...) Fiquei com medo de ti, meu companheiro moreno. De nós, de vós; e de tudo. Estou com medo da honra. Assim nos criam burgueses. Nosso caminho: traçado. Por que morrer em conjunto? E se todos nós, vivêssemos? (...) Adeus: vamos para a frente, recuando de olhos acesos. Nossos filhos tão felizes... Fiéis herdeiros do medo, eles povoam a cidade. Depois da cidade, o mundo. Depois do mundo, As estrelas, dançando o baile do medo.

19 5. Áporo Um inseto cava Cava sem alarme Perfurando a terra Sem achar escape Que fazer, exausto, Em país bloqueado, Enlace de noite Raiz e minério? Eis que o labirinto (oh razão, mistério) presto se desata: em verde, sozinha, antieuclidiana, uma orquídea forma-se. Nenhuma luta é vã, pois plantar o amanhã é o papel social de todos.

20 JOSÉ E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? e agora, Você? Você que é sem nome, que zomba dos outros, Você que faz versos, que ama, protesta? e agora, José? Está sem mulher, está sem discurso, está sem carinho, já não pode beber, já não pode fumar, cuspir já não pode, a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José?

21 Procura da poesia (fragmentos) (A rosa do povo) Não faças versos sobre acontecimentos. Não há criação nem morte perante a poesia. Diante dela, a vida é um sol estático, não aquece nem ilumina. As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam. Não faças poesias com o corpo, esse excelente, completo e confortável corpo, tão inofensivo à efusão lírica. Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro são indiferentes.

22 Nem me revele seus sentimentos, que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem. O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia. Não cantes tua cidade, deixa-a em paz. O canto não é o movimento das maquinas nem o segredo das casas. Não é a música ouvida de passagem: rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma. (...) penetra surdamente no reino das palavras. Lá estão os poemas que esperam ser escritos. Estão paralisados, mas não há desespero, há calma e frescura na superfície intacta. Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário. Convive com teus poemas, antes de escrevê-los. Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.

23 Mãos dadas (Sentimento do mundo) Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre ele, considero a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. Não serei o cantor de uma mulher, de uma história, não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela, não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins. O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.

24 Os ombros suportam o mundo (Sentimento do mundo) Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. Tempo de absoluta depuração. Tempo em que não se diz mais: meu amor Porque o amor resultou inútil. E os olhos não choram. E as mãos tecem apenas o rude trabalho. E o coração está seco. Em vão mulheres batem a porta, não abrirás. Ficaste sozinho, a luz apagou-se, mas na sombra teus olhos resplandecem enormes. És toda a certeza, já não sabe sofrer. E nada esperas de teus amigos.

25 Pouco importa velha a velhice, que é a velhice? Teus ombros suportam o mundo e ele não pensa mais que a mão de uma criança. As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios provam apenas que a vida prossegue e nem todos se libertam ainda. Alguns, achando bárbaro o espetáculo Preferiam (os delicados) morrer. Chegou um tempo em que não adianta morrer. Chegou um tempo em que a vida é um ordem. A vida apenas, sem mistificação.

26 Há pouco leite no país, é preciso entregá-lo cedo. Há muita sede no país, é preciso entregá-lo cedo. Há no país uma legenda, que ladrão se mata com tiro. Então o moço que é leiteiro de madrugada com sua lata sai correndo e distribuindo leite bom para gente ruim. Sua lata, suas garrafas e seus sapatos de borracha vão dizendo aos homens no sono que alguém acordou cedinho e veio do último subúrbio trazer o leite mais frio e mais alvo da melhor vaca para todos criarem força na luta brava da cidade. MORTE DO LEITEIRO Na mão a garrafa branca não tem tempo de dizer as coisas que lhe atribuo nem o moço leiteiro ignaro, morados na Rua Namur, empregado no entreposto, com 21 anos de idade, sabe lá o que seja impulso de humana compreensão. E já que tem pressa, o corpo vai deixando à beira das casas uma apenas mercadoria.

27 E como a porta dos fundos também escondesse gente que aspira ao pouco de leite disponível em nosso tempo, avancemos por esse beco, peguemos o corredor, depositemos o litro... Sem fazer barulho, é claro, que barulho nada resolve. Meu leiteiro tão sutil de passo maneiro e leve, antes desliza que marcha. É certo que algum rumor sempre se faz: passo errado, vaso de flor no caminho, cão latindo por princípio, ou um gato quizilento. E há sempre um senhor que acorda, resmunga e torna a dormir.

28 Mas o homem perdeu o sono de todo, e foge pra rua. Meu Deus, matei um inocente. Bala que mata gatuno também serve pra furtar a vida de nosso irmão. Quem quiser que chame médico, polícia não bota a mão neste filho de meu pai. Está salva a propriedade. A noite geral prossegue, a manhã custa a chegar, mas o leiteiro estatelado, ao relento, perdeu a pressa que tinha. Da garrafa estilhaçada, no ladrilho já sereno escorre uma coisa espessa que é leite, sangue... não sei. Por entre objetos confusos, mal redimidos da noite, duas cores se procuram, suavemente se tocam, amorosamente se enlaçam, formando um terceiro tom a que chamamos aurora.

29 3 ª FASE – E U IGUAL AO MUNDO Retomada da tradição clássico-metafísica: Hermetismo Memória Predominância de versos tradicionais Interrogações / negações Abolição de toda crença (autofechamento) Novos Poemas (1948) Claro Enigma (1951)

30 Amar ( Claro enigma ) Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar? amar e esquecer, amar e malamar, amar, desamar, amar? Sempre, e até de olhos vidrados, amar? Que pode, pergunto, o ser amoroso, sozinho, em rotação universal, senão rodar também, e amar? amar o que o mar trás a praia o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha, é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

31 Amar solenemente as palmas do deserto, o que é entrega ou adoração expectante, e amar o inóspito, o cru, um vaso sem flor, um chão de ferro, e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina. Este o nosso destino: amar sem conta, distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, doação ilimitada a uma eterna ingratidão, e na concha vazia do amor a procura medrosa, paciente, de mais e mais amor. Amar a nossa falta de amor, e na secura nossa amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

32 A máquina do mundo (claro enigma) E como eu palmilhasse vagamente uma estrada de Minas, pedregosa, e no fecho da tarde um sino rouco se misturasse ao som de meus sapatos que era pausado e seco: e aves pairassem no céu de chumbo, e suas formas pretas lentamente se fossem diluindo na escuridão maior, vida dos montes e de meu próprio ser desenganado,

33 para quem de a romper já se esquivava e só de o ter pensado se carpia. Abriu-se majestosa e circunspecta, sem emitir um som que fosse impuro nem um clarão maior que o tolerável pelas pupilas gastas na inspeção contínua e dolorosa do deserto, e pela mente exausta de mentar toda uma realidade que transcende a própria imagem sua debuxada no rosto do mistério, nos abismos. (...)

34 a máquina do mundo se entreabriu baixei os olhos, incurioso, lasso, desdenhado colher a coisa oferta que se abria gratuita a meu engenho. A treva mais estrita já pousara sobre a estrada de Minas, pedregosa, e a máquina do mundo, repelida, se foi miudamente recompondo, enquanto eu, avaliando o que perdera, segui vagaroso, de mãos pensas.

35 CONCLUSÃO Os impactos de amor não são poesia (tentaram ser: aspiração noturna). A memória infantil e o outono pobre vazam no verso de nossa urna diurna. Que é poesia, o belo? Não é poesia, e o que não é poesia não tem fala. Nem o mistério em si nem velhos nomes poesia são: coxa, fúria, cabala. Então, desanimamos. Adeus, tudo! A mala pronta, o corpo desprendido, resta a alegria de estar só, e mudo. De que se formam nossos poemas? Onde? Que sonho envenenado lhes responde, se o poeta é um ressentido, e o mais são nuvens?

36 4ª FASE- INOVAÇÕES ESTÉTICAS Poemas curtos / Humorísticos Experiências próximas do Concretismo Experimentalismo Lição das coisas

37 Para Sempre Por que Deus permite que as mães vão-se embora? Mãe não tem limite, é tempo sem hora, luz que não apaga quando sopra o vento e chuva desaba, veludo escondido na pele enrugada, água pura, ar puro, puro pensamento. Morrer acontece com o que é breve e passa sem deixar vestígio.

38 Mãe, na sua graça, é eternidade. Por que Deus se lembra — mistério profundo — de tirá-la um dia? Fosse eu Rei do Mundo, baixava uma lei: Mãe não morre nunca, mãe ficará sempre junto de seu filho e ele, velho embora, será pequenino feito grão de milho.

39 C ECÍLIA M EIRELES (1901-1964) Morte precoce dos pais Educadora e Jornalista 1935- Suicídio do marido Viagens à Europa, ao oriente Pesquisa Histórica – Romanceiro da Inconfidência

40 T RANSITORIEDADE DA VIDA

41 GÊNEROS Poesia Teatro Crônicas Prosa Poética Ficção

42 P OESIA 1)Espiritualismo / Intimismo Distanciamento do real Neossimbolismo: -Senso de mistério -Musicalidade -Sinestesia Eu menor x evasão maior - SOLIDÃO - O oceano, o espaço, o nada, a viagem, a morte, o vento, a noite, o ceú etc Linguagem: versos tradicionais/ versos livres

43 Retrato "Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: Em que espelho ficou perdida a minha face?"

44 Canção (Cecília Meireles) Não te fies do tempo nem da eternidade, que as nuvens me puxam pelos vestidos que os ventos me arrastam contra o meu desejo! Apressa-te, amor, que amanhã eu morro, que amanhã morro e não te vejo! Não demores tão longe, em lugar tão secreto, nácar de silêncio que o mar comprime, o lábio, limite do instante absoluto! Apressa-te, amor, que amanhã eu morro, que amanhã eu morro e não te escuto! Aparece-me agora, que ainda reconheço a anêmona aberta na tua face e em redor dos muros o vento inimigo... Apressa-te, amor, que amanhã eu morro, que amanhã eu morro e não te digo...

45 Traze-me (Cecília Meireles) Traze-me um pouco das sombras serenas que as nuvens transportam por cima do dia! Um pouco de sombra, apenas, - vê que nem te peço alegria. Traze-me um pouco da alvura dos luares que a noite sustenta no teu coração! A alvura, apenas, dos ares: - vê que nem te peço ilusão. Traze-me um pouco da tua lembrança, aroma perdido, saudade da flor! -Vê que nem te digo - esperança! -Vê que nem sequer sonho - amor!

46 Motivo Eu canto porque o instante existe E a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: Sou poeta. Irmão das coisas fugidias, Não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias No vento. Se desmorono ou se edifico, Se permaneço ou me desfaço, _ não sei, não sei. Não sei se fico ou passo. Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo: _ mais nada.

47 Distância “Quem sou eu, a que está nesta varanda, em frente deste mar, sob as estrelas, vendo vultos andarem? Sabem, acaso, os vultos, quem vão sendo? Sentem o céu, as águas, quando passam? Ou não vêem, ou não lembram? Como alguém deste mundo para a lua dirige os olhos, meditando coisas e assim no vago mira - Para este mundo vão meus pensamentos; tão estrangeiros, tão desapegados, como se esta varanda fosse a Lua.”

48 O tempo no jardim Nestes jardins – há vinte anos – andaram os nossos muitos passos, E aqueles que então éramos se contemplaram nestes lagos. Se algum de nós avistasse o que seríamos com o tempo, Todos nós choraríamos, de mútua pena e susto imenso. E assim nos separamos, suspirando dias futuros, E nenhum se atrevia a desvelar seus próprios mundos. E agora que separados vivemos o que foi vivido, Com doce amor choramos quem fomos nesse tempo antigo.

49 2) Poesia Histórico-mística – O Romanceiro da Inconfidência (1953) Pesquisa Histórica: Inconfidência Mineira Romanceiro: coletânea de poemas épico-líricos Poema narrativo: tradição medievalista 5 partes: I- Sacrifício de Tiradentes / Descrição do espaço social-folclórico-cultural da insurreição II- A Conspiração / Prenúncios do fracasso III- Morte de Cláudio Manuel da Costa / Tiradentes IV- Destino de Gonzaga V- Presença de D. Maria no Brasil (louca, 20 anos antes do tempo da história) – Testamento de Marília

50 Não posso mover meus passos, por esse atroz labirinto de esquecimento e cegueira em que amores e ódios vão: - pois sinto bater os sinos, percebo o roçar das rezas, vejo o arrepio da morte, à voz da condenação; - avisto a negra masmorra e a sombra do carcereiro que transita sobre angústias, com chaves no coração; - descubro as altas madeiras do excessivo cadafalso e, por muros e janelas, o pasmo da multidão.

51 Romance VIII ou do Chico-Rei Tigre está rugindo nas praias do mar. Vamos cavar a terra, povo, entrar pelas águas: O Rei pede mais ouro, sempre, para Portugal. O trono é de lua, de estrela e de sol. Vamos abrir a lama, povo, remexer cascalho, guarda na carapinha, negra, o véu do ouro em pó! Muito longe, em Luanda, era bom viver. Bate a enxada comigo, povo, desce pelas grotas! - Lá na banda em que corre o Congo eu também fui Rei.

52 V INÍCIUS DE M ORAIS (1913-1980) Filho de músicos amadores, formado em Direito, estudou em Oxford. Em 1943- ingressou na carreira diplomática, serviu durante 20 anos. 1968 – aposentou-se da carreira. Dedicou-se à carreira musical / Parcerias musicais famosas Poetinha - falta de apuro formal Boêmio, fumante, apreciador do uísque, conquistador. Casou-se várias vezes.

53 P OETA LÍRICO 1ª fase: Transcendentalismo / Misticismo Contramão da Geração de 22: Desejo de transcendência – Formação religiosa do poeta Mulher = Pecado Predomínio do verso livre / Verso longo (bárbaro) Poesia para ser lida Vocábulos que ligam poesia e religiosidade

54 O olhar para trás Nem surgisse um olhar de piedade ou de amor Nem houvesse uma branca mão que apaziguasse minha fronte palpitante... Eu estaria sempre como um círio queimando para o céu a minha fatalidade Sobre o cadáver ainda morno desse passado adolescente. Talvez no espaço perfeito aparecesse a visão nua Ou talvez a porta do oratório se fosse abrindo misteriosamente... Eu estaria esquecido, tateando suavemente a face do filho morto Partido de dor, chorando sobre o seu corpo insepultável. Talvez da carne do homem prostrado se visse sair uma sombra igual à minha Que amasse as andorinhas, os seios virgens, os perfumes e os lírios da terra Talvez… mas todas as visões estariam também em minhas lágrimas boiando E elas seriam como óleo santo e como pétalas se derramando sobre o nada. Alguém gritaria longe: – "Quantas rosas nos deu a primavera!..." Eu olharia vagamente o jardim cheio de sol e de cores noivas se enlaçando Talvez mesmo meu olhar seguisse da flor o vôo rápido de um pássaro Mas sob meus dedos vivos estaria a sua boca fria e os seus cabelos luminosos. (...)

55 A mulher na noite Eu fiquei imóvel e no escuro tu vieste. A chuva batia nas vidraças e escorria nas calhas – vinhas andando e eu não (te via Contudo a volúpia entrou em mim e ulcerou a treva nos meus olhos. Eu estava imóvel – tu caminhavas para mim como um pinheiro erguido E de repente, não sei, me vi acorrentado no descampado, no meio de insetos E as formigas me passeavam pelo corpo úmido. Do teu corpo balouçante saíam cobras que se eriçavam sobre o meu peito E muito ao longe me parecia ouvir uivos de lobas. E então a aragem começou a descer e me arrepiou os nervos E os insetos se ocultavam nos meus ouvidos e zunzunavam sobre os meus (lábios. Eu queria me levantar porque grandes reses me lambiam o rosto E cabras cheirando forte urinavam sobre as minhas pernas. Uma angústia de morte começou a se apossar do meu ser As formigas iam e vinham, os insetos procriavam e zumbiam do meu desespero E eu comecei a sufocar sob a rês que me lambia. Nesse momento as cobras apertaram o meu pescoço E a chuva despejou sobre mim torrentes amargas. Eu me levantei e comecei a chegar, me parecia vir de longe E não havia mais vida na minha frente.

56 2 ª FASE - M ODERNISTA O cotidiano O humor – temas não líricos A mulher – ideal no plano físico Forma: Uso do soneto decassílabo / Versos livres Poesia Social: Engajamento Temas existenciais: Infância Saudade Solidão Envelhecer Os amigos

57 Cotidiano Soneto de intimidade Nas tardes de fazenda há muito azul demais. Eu saio às vezes, sigo pelo pasto, agora Mastigando um capim, o peito nu de fora No pijama irreal de há três anos atrás. Desço o rio no vau dos pequenos canais Para ir beber na fonte a água fria e sonora E se encontro no mato o rubro de uma amora Vou cuspindo-lhe o sangue em torno dos currais. Fico ali respirando o cheiro bom do estrume Entre as vacas e os bois que me olham sem ciúme E quando por acaso uma mijada ferve Seguida de um olhar não sem malícia e verve Nós todos, animais, sem comoção nenhuma Mijamos em comum numa festa de espuma.

58 Passagem do tempo A morte A morte vem de longe Do fundo dos céus Vem para os meus olhos Virá para os teus Desce das estrelas Das brancas estrelas As loucas estrelas Trânsfugas de Deus Chega impressentida Nunca inesperada Ela que é na vida A grande esperada! A desesperada Do amor fratricida Dos homens, ai! dos homens Que matam a morte Por medo da vida.

59 Homenagem a escritores Soneto a Katherine Mansfield O teu perfume, amada – em tuas cartas Renasce, azul... – são tuas mãos sentidas! Relembro-as brancas, leves, fenecidas Pendendo ao longo de corolas fartas. Relembro-as, vou... nas terras percorridas Torno a aspirá-lo, aqui e ali desperto Paro; e tão perto sinto-te, tão perto Como se numa foram duas vidas. Pranto, tão pouca dor! tanto quisera Tanto rever-te, tanto!... e a primavera Vem já tão próxima!... (Nunca te apartas Primavera, dos sonhos e das preces!) E no perfume preso em tuas cartas À primavera surges e esvaneces.

60 Dessacralização da mulher Soneto de devoção Essa mulher que se arremessa, fria E lúbrica aos meus braços, e nos seios Me arrebata e me beija e balbucia Versos, votos de amor e nomes feios. Essa mulher, flor de melancolia Que se ri dos meus pálidos receios A única entre todas a quem dei Os carinhos que nunca a outra daria. Essa mulher que a cada amor proclama A miséria e a grandeza de quem ama E guarda a marca dos meus dentes nela. Essa mulher é um mundo! – uma cadela Talvez... – mas na moldura de uma cama Nunca mulher nenhuma foi tão bela!

61 Amor em Lágrimas - Vinícius de Moraes Ouve o mar que soluça na solidão Ouve, amor, o mar que soluça Na mais triste solidão E ouve, amor, os ventos Que voltam dos espaços Que ninguém sabe Sobre as ondas se debruçam E soluçam de paixão E ouve, amor, no fundo da noite Como as árvores ao vento Num lamento se debruçam Para o chão Deixa, amor, que um corpo sedento Como as árvores e o vento No teu corpo se debruce E soluce de paixão

62 A bomba atômica e=mc2 Einstein Deusa, visão dos céus que me domina...tu que és mulher e nada mais! (Deusa, valsa carioca.) I Dos céus descendo Meu Deus eu vejo De pára-quedas? Uma coisa branca Como uma fôrma De estatuária Talvez a fôrma Do homem primitivo A costela branca! Talvez um seio Despregado à lua Talvez o anjo. Tutelar cadente Talvez a Vênus Nua, de clâmide Talvez a inversa Branca pirâmide Do pensamento Talvez o troço De uma coluna Da eternidade Apaixonado Não sei indago Dizem-me todos É A BOMBA ATÔMICA

63 Passagem do tempo A morte A morte vem de longe Do fundo dos céus Vem para os meus olhos Virá para os teus Desce das estrelas Das brancas estrelas As loucas estrelas Trânsfugas de Deus Chega impressentida Nunca inesperada Ela que é na vida A grande esperada! A desesperada Do amor fratricida Dos homens, ai! dos homens Que matam a morte Por medo da vida.

64 RECEITA DE MULHER. DESSACRALIZAÇÃO: MULHER FÍSICA As muito feias que me perdoem Mas beleza é fundamental. É preciso Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture Em tudo isso (ou então Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na República Popular Chinesa). Não há meio-termo possível. É preciso Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da aurora.


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