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REVISÃO DE LITERATURA UNICAMP 2016 – 2ª FASE.

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1 REVISÃO DE LITERATURA UNICAMP 2016 – 2ª FASE

2 A LISTA Poesia: Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do Mundo. Luís de Camões, Sonetos. 1 Contos: Clarice Lispector, “Amor”, do livro Laços de Família. Guimarães Rosa, “A hora e a vez de Augusto Matraga”, do livro Sagarana. Monteiro Lobato, “Negrinha”, do livro Negrinha.  Teatro: Osman Lins, Lisbela e o prisioneiro.  Romance:  Almeida Garret, Viagens na Minha Terra. Aluísio Azevedo, O cortiço. Jorge Amado, Capitães da Areia. José de Alencar, Til. Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas. Mia Couto, Terra Sonâmbula.

3 POESIA

4 Sonetos de Luís Vaz de Camões

5 Camões - biografia Foi um célebre poeta de Portugal, considerado uma das maiores figuras da literatura em língua portuguesa e um dos grandes poetas do Ocidente. Pouco se sabe com certeza sobre a sua vida. Aparentemente nasceu em Lisboa, de uma família da pequena nobreza. Sobre a sua infância tudo é conjetura mas, ainda jovem, terá recebido uma sólida educação nos moldes clássicos, dominando o latim e conhecendo a literatura e a história antigas e modernas. Pode ter estudado na Universidade de Coimbra, mas a sua passagem pela escola não é documentada. Frequentou a corte de Dom João III, iniciou a sua carreira como poeta lírico e envolveu-se, como narra a tradição, em amores com damas da nobreza e possivelmente plebeias, além de levar uma vida boémia e turbulenta. Diz-se que, por conta de um amor frustrado, se autoexilou em África, alistado como militar, onde perdeu um olho em batalha.

6 Voltando a Portugal, feriu um servo do Paço e foi preso
Voltando a Portugal, feriu um servo do Paço e foi preso. Perdoado, partiu para o Oriente. Passando lá vários anos, enfrentou uma série de adversidades, foi preso várias vezes, combateu bravamente ao lado das forças portuguesas e escreveu a sua obra mais conhecida, a epopeia nacionalista Os Lusíadas. De volta à pátria, publicou Os Lusíadas e recebeu uma pequena pensão do rei Dom Sebastião pelos serviços prestados à Coroa, mas nos seus anos finais parece ter enfrentado dificuldades para se manter. Logo após a sua morte a sua obra lírica foi reunida na coletânea Rimas, tendo deixado também três obras de teatro cómico. Enquanto viveu queixou-se várias vezes de alegadas injustiças que sofrera, e da escassa atenção que a sua obra recebia, mas pouco depois de falecer a sua poesia começou a ser reconhecida como valiosa e de alto padrão estético por vários nomes importantes da literatura europeia, ganhando prestígio sempre crescente entre o público e os conhecedores e influenciando gerações de poetas em vários países.

7 Camões foi um renovador da língua portuguesa e fixou-lhe um duradouro cânone; tornou-se um dos mais fortes símbolos de identidade da sua pátria e é uma referência para toda a comunidade lusófona internacional. Hoje a sua fama está solidamente estabelecida e é considerado um dos grandes vultos literários da tradição ocidental, sendo traduzido para várias línguas e tornando-se objeto de uma vasta quantidade de estudos críticos.

8 Classicismo - A poesia lírica de Camões
A obra lírica de Camões é constituída por poemas feitos em medida velha e em medida nova. A medida velha obedece a poesia de tradição popular, as redondilhas, de 5 ou 7 sílabas (menor ou maior, respectivamente). São composições com um tema. Os poemas em medida nova são formas poéticas ligadas a tradição clássica. São eles: - Sonetos (composições poéticas de 14 versos, distribuídas em dois quartetos e dois tercetos); - Éclogas (poesia em forma de diálogo, com tema pastoril); - Elegias (composições que expressam tristeza); - Canções (composições curtas); - Oitavas (poemas com as estrofes de 8 versos); - Sextinas (poemas com as estrofes de 6 versos).

9 Soneto clássico Introduzido em Portugal por Sá de Miranda, coube a Camões assegurar o triunfo do soneto, mercê de sua irresistível vocação lírica; do seu gosto pela análise das finezas do sentimento amoroso; do equilíbrio entre a agudeza conceitual, a perfeição formal e a expressão comovida dos transes existenciais do poeta; da musicalidade feliz que, por trás do rigor da construção, faz parecerem espontâneos os decassílabos. Os sonetos de Camões são a parte mais conhecida de sua lírica; os melhores que escreveu são os melhores de toda a literatura da língua portuguesa.

10 Camões é o maior poeta lírico do Classicismo português.
Dotado de inegável genialidade, coube a ele a melhor performance do soneto em língua portuguesa. Camões segue estritas regras de composição, obedecendo ao princípio da imitação, embebendo-se em fontes italianas como as do poeta Petrarca. A brevidade do soneto - dois quartetos, dois tercetos - requer grande concentração emocional, geralmente disposta sob a forma de tese-antítese com desfecho conclusivo que busca a síntese ou a unidade. A linguagem é condensada no decassílabo, utilizando a palavra de forma precisa, permeada pelo controle rígido da razão, mesmo quando o tema é uma aparente desordem.

11 Temas comuns nos sonetos de Camões
Amor platônico  amor espiritualizado, conceitual, personificado Amor carnal  vassalagem amorosa O próprio amor  a perda de sua amada Dinameme Instabilidade das coisas  efemeridade, mudança constante de tudo Desconcerto do mundo  referência ao momento histórico de transição (medieval / renascentista)

12 desconcerto ê/ substantivo masculino 1.
ausência de harmonia, de ordem (física ou moral); perturbação, transtorno. "d. da natureza" 2. discordância entre seres, países etc.; desacordo, desavença.

13 Estrutura do soneto clássico petrarquiano
Amor é fogo que arde sem se ver; A É ferida que dói e não se sente; B É um contentamento descontente; B É dor que desatina sem doer; A É um não querer mais que bem querer; A É solitário andar por entre a gente; B É nunca contentar-se de contente; B É cuidar que se ganha em se perder; A É querer estar preso por vontade; C É servir a quem vence, o vencedor; D É ter com quem nos mata lealdade. C Mas como causar pode seu favor D Nos corações humanos amizade, C Se tão contrário a si é o mesmo Amor? D

14 Erros meus, má fortuna, amor ardente A
em minha perdição se conjuraram; B os erros e a fortuna sobejaram, B que para mim bastava o amor somente. A Tudo passei; mas tenho tão presente A a grande dor das cousas que passaram, B que as magoadas iras me ensinaram B a não querer já nunca ser contente. A Errei todo o discurso de meus anos; C dei causa a que a Fortuna castigasse D as minhas mal fundadas esperanças. E De amor não vi senão breves enganos. C Oh! quem tanto pudesse que fartasse D este meu duro gênio de vinganças! E

15 Sobre métrica e rimas:

16 SENTIMENTO DO MUNDO Carlos Drummond de Andrade

17 Publicado pela primeira vez em 1940, "Sentimento do mundo" é a terceira obra de Drummond e reúne 28 poemas. Neste livro, o poeta abraça de vez a poesia de cunho social, refletindo o momento de instabilidade e inquietação dos anos que antecederam a Segunda Guerra Mundial. Porém, a temática do eu (a terra natal, o indivíduo, a família etc.), muito presente nos seus livros anteriores, ainda aparece com destaque em Sentimento do Mundo.

18 Quanto à forma: Versos livres Linguagem coloquial Presença de ironia
Um poema em prosa (“O operário no mar”) Estrofação geralmente irregular

19 Contexto histórico Os poemas deste livro foram escritos entre 1935 e 1940, época em que o mundo tentava se recuperar da Primeira Guerra Mundial e enfrentava a ascensão de regimes totalitários: a Alemanha de Hitler, Franco na Espanha, Mussolini na Itália e o Estado Novo de Getúlio Vargas no Brasil. E, dentro deste contexto histórico-social, o poeta individualista de Alguma Poesia e Brejo das Almas revê seu fazer poético e toma consciência do mundo, voltando-se para a experiência coletiva. Porém, mesmo o poeta estando mais preocupado em escrever poesia social, a temática do eu continua ocupando lugar de destaque em Sentimento do Mundo, mas dessa vez com uma pitada de ironia e com um sentido mais universal. Assim, o eu não aparece mais como um indivíduo isolado, mas sim como alguém presente e conectado ao mundo. Aqui, o eu volta-se para assuntos mais universais e este seria o sentimento novo da poesia drummondiana a partir de então.

20 O poeta de Sentimento do mundo constata que vive em “um tempo em que a vida é uma ordem”, que vive num mundo grande, onde os homens de “diferentes cores” vivem suas “diferentes dores” e que não é possível “amontoar tudo isso/num só peito de homem”. Ele constata, arrependido, que se voltou para si e para seus ínfimos problemas: Outrora escutei os anjos, as sonatas, os poemas, as confissões patéticas. Nunca escutei voz de gente. Em verdade sou muito pobre. ("Mundo grande", Sentimento do mundo)

21 Mais que constatar ele se recusa a ser "o poeta de um mundo caduco", a ser "o cantor de uma mulher, de uma história". O poeta não será uma ilha, mas cantará "o tempo presente, os homens presentes, / a vida presente" ("Mãos dadas","Sentimento do mundo"). O verso-cachaça dá lugar ao verso-combate, que alimenta o coração do poeta, para lhe dar forças para lutar. Então, meu coração também pode crescer. Entre o amor e o fogo, entre a vida e o fogo, meu coração cresce dez metros e explode. Ó vida futura! nós te criaremos. ("Mundo grande“)

22 CONTOS

23 NEGRINHA Monteiro Lobato

24 Período: Pré-modernismo
Publicação: 1920 Autor: Monteiro Lobato Autor polêmico com relação ao Modernismo Linguagem coloquial, gramática impecável Valorizou os aspectos regionais de São Paulo (Vale do Paraíba), foi defensor de questões relacionadas ao desenvolvimento do país (petróleo, ferro), criou uma literatura infantil didática e sedutora. Temática central: a questão do negro pós-escravidão no Brasil. “(...) tempo em que a escravidão havia sido abolida por lei – mas leis não têm força para abolir costumes.” Uso de ironia pelo narrador (3ª pessoa onisciente) Negrinha: ausência de nome, ausência de identidade

25 Resumo: O conto Negrinha, de Monteiro Lobato, é narrado em terceira pessoa, e impregnado de uma carga emocional muito forte. O conto se mostra atual ao denunciar a violência contra a criança, notadamente a negra. Com ironia, lobato elabora o retrato negativo "da excelente senhora", a "ótima dona Inácia", apontando, através de chavões, a hipocrisia da sociedade: "a caridade é a mais belas das virtudes cristãs..."; "quem dá aos pobres empresta a Deus". Observações importantes - O tema da caridade azeda e má, que cria infortúnio para os dela protegidos, é um dos temas recorrentes de Monteiro Lobato. - O segundo aspecto que poderia ser observado é o fenômeno da epifania, a revelação que, inesperadamente, atinge os seres, mostrando-lhes o mundo e seu esplendor. A partir daí, tais criaturas sucumbem, tal qual Negrinha o fez. Ter estado anos a fio a desconhecer o riso e a graça da existência, sentada ao pé da patroa má, das criaturas perversas, nos cantos da cozinha ou da sala, deram à Negrinha a condição de bicho-gente que suportava beliscões e palavrórios, mas a partir do instante em que a boneca aparece, sua vida muda. É a epifania que se realiza, mostrando-lhe o mundo do riso e das brincadeiras infantis das quais Negrinha poderia fazer parte, se não houvesse a perversidade das criaturas. É aí que adoece e morre, preferindo ausentar-se do mundo a continuar seus dias sem esperança.

26 Negrinha: Diminutivo pejorativo: condição social e psicológica Criança pobre, negra, oprimida Magra, atrofiada, “peste” D. Inácia: Adulta, rica, branca, gorda Opressora, “dona do mundo”, “virtuosa” Muito bem vista pelo vigário (senhora caridosa) Sobrinhas: Loiras, “anjos” Instruídas, cheias de brinquedos Trazem consciência individual pela alteridade A boneca traz sentido de igualdade à Negrinha (brincava como as outras, era criança) A ausência da boneca devolve Negrinha à mesma condição, mas agora com consciência (inexorável).

27 A hora e a vez de Augusto Matraga
Guimarães Rosa

28 Período: Modernismo (3ª geração)
Publicação: 1946 Autor: Guimarães Rosa Um dos maiores narradores da nossa literatura Cultura e erudição vastíssimos (poliglota) Mineiro, usa o sertão como metáfora do mundo Temática central: a regeneração de um homem após proximidade com a morte. Particularidades: os neologismos de Guimarães, a narrativa dotada de ritmo, o regionalismo universal Narrador de terceira pessoa onisciente Presença do número 3: três lugares, três nomes, três partes, símbolo dos bois, etc.  caminho do meio

29 Enredo - Augusto Estêves manda e desmanda no pequeno povoado em que vive. Pródigo, com a morte do pai perde todos os seus bens. Certo dia, Quim Recadeiro dá-lhe dois recados que alterarão sua vida: perdera os capangas para seu inimigo, o Major Consilva, e a mulher e a filha, que fugiram com Ovídio Moura. Augusto Estêves vai sozinho à propriedade do major para tomar satisfação com seus ex-capangas. O Major Consilva ordena que Nhô Augusto seja marcado a ferro e depois morto. Ele é espancado à exaustão; depois os homens esquentam o ferro usado para marcar o gado do major e queimam o seu glúteo. Augusto, desesperado, salta de um despenhadeiro. Quase morto, o protagonista é encontrado por um casal de pretos, que cuida dele e chama um padre para seu alívio espiritual. Nhô Augusto decide que sua vida de facínora chegara ao fim. Recuperado, foge com os pretos para a única propriedade que lhe restara, no Tombador. Trabalha de sol a sol para os habitantes e para o casal que o salvara, em retribuição a tudo que fizeram por ele. Leva uma vida de privações e árduo trabalho, com a finalidade de purgar seus pecados e, assim, ir para o céu. Um dia, aparece na cidade o bando de Joãozinho Bem-Bem, o mais temido jagunço do sertão. Nhô Augusto e o famigerado jagunço tornam-se amigos à primeira vista e, depois da breve estada, despedem-se com pesar. Com o tempo, Nhô Augusto resolve sair do Tombador, pressentindo a chegada da "sua hora e vez". Encontra-se por acaso com Joãozinho Bem-Bem, que está prestes a executar uma família, como forma de vingança. Nhô Augusto pede a Joãozinho Bem-Bem que não cumpra a execução. O jagunço encara essa atitude de Nhô Augusto como uma afronta e os dois travam o duelo final, no qual ambos morrem.

30 AMOR Clarice Lispector

31 Período: Modernismo (3ª geração)
Publicação: 1974 Autora: Clarice Lispector Prosa intimista e introspectiva Fluxo de consciência: monólogo interior Existencialismo, busca de compreensão de si no mundo, do sentido da vida Temática central: busca do sentido do papel da mulher na família/sociedade. Narrador de terceira pessoa onisciente Esvaziamento da ideia (pré-concebida) do que é amor: o cego e o Jardim Botânico lhe trazem estranhamento  busca, consciência  compreensão  final: retomada do mesmo ponto de partida: esquecimento

32 Resumo: Relata a história de Ana, uma simples dona de casa entregue a uma vida de rotina, como por exemplo, cuidar dos filhos, da casa e do marido, com uma visão crítica a cerca do papel da mulher na sociedade. A personagem Ana se preparava para um jantar que serviria à noite para os irmãos. Após fazer as compras voltava para casa, de bonde, quando um simples fato, “um cego mascando chiclete”, interrompe a sua rotina, a desperta para reações íntimas e por meio da imaginação, a sua rotina se rompe. Ao refletir suas inquietações, sua dor, se deu conta da crueza do mundo, pensou na fome e sentiu asco, a piedade pelo cego era tão violenta como uma ânsia, assim o mundo lhe parecia sujo e perecível. Suas angustias poderiam ser ânsia pela liberdade. A situação de desconforto era cada vez mais intensa, todos os questionamentos emergiam em sua mente, como assumir ou não a sua vontade de viver numa outra realidade, de sair deste mundo de convenções ou ignorar e deixar as coisas seguirem na mesma linha, continuar vivendo a mesma vida. A personagem acaba se prendendo ao mundo ao qual já estava acostumada, por considerá-lo mais seguro, porém a sua consciência não continua a mesma, agora Ana consegue assumir sua própria identidade. Assim, possivelmente teria se identificado com o cego, pois ele representava o seu próprio reflexo, uma pessoa igualmente limitada. Enfim, ao se dar conta da pessoa que havia se tornado surge uma nova identidade, a de uma mulher que fez sua escolha e que decidiu continuar a viver de acordo com suas decisões, que agora possuía voz perante a família e sociedade.

33 Teatro

34 LISBELA E O PRISIONEIRO
Osman Lins

35 Período: Contemporâneo
Publicação: 1963 Autora: Osman Lins Foi aluno de Ariano Suassuna Natural de Recife, usa de regionalismos Peça de caráter popular, com um único cenário, personagens sem complexidade psicológica e linguagem coloquial Comédia de costumes que critica a ordem policial carcerária e a instituição do casamento Regionalismo de pano de fundo, sem problematizações Machismo em vários momentos do texto, uma única personagem feminina, sem muita atitude.

36 Resumo: Lisbela, filha do Tenente Guedes, delegado da Cadeia de Santo Antão, forma par amoroso com o funâmbulo Leléu, um Don Juan nordestino. Esse casal anticonvencional assume riscos em nome de sentimentos intensos. Lisbela foge com Leléu, no dia de seu casamento com Dr. Noêmio, advogado vegetariano, por isso mesmo personagem destoante do meio em que se encontra, prestando-se a alvo de muitas tiradas cômicas. Ao marido, doutor, representante do estabelecido e da segurança, a jovem prefere Leléu, o artista de circo preso, com tudo o que este significa de risco e subversão dos valores vigentes em seu meio. A peça é dominada pela presença de personagens masculinas. Além das já referidas, atuam na cadeia de Vitória de Santo Antão, Jaborandi, soldado e corneteiro, afeiçoado a fitas em série; Testa-Seca e Paraíba, outros presos; Juvenal, outro soldado; Heliodoro, cabo de destacamento, casado, já com uma certa idade, apaixonado por uma jovem, o qual chega a forjar um falso casamento para possui-la; Tãozinho, vendedor ambulante de pássaros, que rouba a mulher de Raimundinho; Frederico, assassino profissional, à procura de Leléu, que deflorou sua irmã Inaura,e que por ele é salvo, sem saber, de um ataque de boi; Lapiau, artista de circo, amigo de Leléu, que participa da farsa de casamento de Heliodoro com a jovem; Citonho, o velho carcereiro, esperto e dinâmico, cúmplice, no final, de Lisbela e de Leléu e mais dois soldados, personagens mudas.

37 Lisbela, a única filha do tenente Guedes, é também a única mulher que atua em cena; as outras são apenas mencionadas nos diálogos. E atua com força, porque enfrenta a autoridade patriarcal, representada pelo pai e pelo noivo, ao tomar iniciativa para colaborar com a fuga de Leléu da prisão e a se dispor a abandonar o marido no dia de seu casamento para aventurar-se na vida com o equilibrista. Como se não bastasse isso, é ela quem livra Leléu da morte, ao atirar, aparentemente, em Frederico, o assassino profissional, quando este lhe apontava a arma, pouco antes do desfecho da peça. Parece e julga-se tornar-se uma criminosa, colocando o pai numa situação incômoda. Para livrar a própria filha da cadeia, este usará expedientes comprometedores para a lisura de uma autoridade, com o fito de embaralhar ou ocultar a autoria do suposto crime, pois no desfecho da peça revela-se que Frederico morreu de morte natural. Por suas ações, Lisbela não apenas renega os mesquinhos valores, mas também expõe as fraturas da sociedade patriarcal. O gênero comédia aliado ao perfil anticonvencional da dupla protagonista foi muito bem escolhido por Osman Lins para pôr em cena, no contexto de uma região de valentias, de sentimentos exaltados, de honra e vinganças, um crime inesperado, porque aparentemente cometido pela jovem Lisbela. Inesperado, mas plenamente justificado, se tivesse ocorrido.

38 Atitudes que causam surpresa também compõem Leléu, que nada tem de prisioneiro em termos dos valores estabelecidos, garantidores de acomodada segurança, mas negadores da “flama da vida”. Volúvel nos amores, experimentador de várias profissões, portador de diferentes identidades, afeiçoado a riscos e deslocamentos, o circence Leléu, que tanto quer e tanto faz para sair das grades da cadeia de Vitória de Santo Antão, não hesita a ela retornar, só para ficar próximo de Lisbela, quando fracassa o plano de fuga dos dois. O paradoxal retorno à prisão é mais um movimento desta personagem para a libertação das amarras de valores que lhe são menores do que os impulsos da vida. Ele vive sempre com fervor seu minuto de aflição ou de alegria, como bem acentuou o próprio Osman Lins, ao apontar para o efeito contaminador de sua ”flama”, no programa da primeira temporada desta comédia: Leléu acende, mesmo na cadeia, as apagadas chamas de Lisbela e desperta em Citonho, o velho carcereiro, o herói escondido.

39 Aliás, essa personagem é uma daquelas que mais se destacam na peça e atraem a atenção e a conivência do leitor, porque de velho caduco e fraco, propício a gozações dos mais jovens e fortes, ele não tem nada. Com maestria, Osman Lins desvela na personagem octogenária, enfraquecida, em tese, pela faixa etária e pela categoria da função exercida, a mais desqualificada do contexto da peça, sua perspicácia, lucidez, força e coragem. O velho solitário considerado caduco pelo tenente Guedes é o que, de todos os seus submissos, mais o enfrenta: toma partido de Lisbela e de Leléu, em prol do amor libertário, com todos os seus riscos, e age com esperteza para proteger a jovem da suposta autoria de seu crime. Enfim, do velho também emanam vida e movimento. Essa poética do avesso contribui ainda para relativizar o lado antipático do tenente Guedes, representante da polícia. Apesar de suas atitudes condenáveis, como os desmandos, a prepotência, a conivência com o crime, o delegado mostra-se humano quase todo o tempo. Por causa de sua função, não consegue se desvencilhar do “encarceramento profissional” e se vê obrigado a tomar atitudes contrárias a seu temperamento. Eis um dos motivos pelos quais está sempre a afirmar que “a autoridade é um fardo”. Bordão com efeitos cômicos, de acordo com as situações nas quais é proferida. No fundo, o tenente Guedes é mais prisioneiro de sua profissão que todos seus subalternos. Dentre estes, merece menção especial o soldado e corneteiro, Jaborandi, que vive fugindo do local de trabalho, para assistir fitas em série no cinematógrafo, interrompendo seus momentos de fantasia, na hora que tem de tocar a corneta. Em meio a idas e vindas, ele vive entre o sonho e a realidade, mas uma realidade na qual sua função, tocar corneta, é desprovida de sentido conseqüente, a não ser o de acentuar a sua falta de sentido naquele contexto: para quê tocar corneta numa prisão? No mínimo, tais cenas provocam o riso, cumprindo sua função na comédia, e abrem brechas para o próprio Jaborandi e outras personagens estabelecerem ligação entre as estruturas das fitas em série (filmes de bandido e mocinho) e os episódios da comédia, além de interiorizarem na própria peça alusões às relações entre a vida e a fantasia.

40 Por mais despretensioso que tenha sido Osman Lins na composição simples e direta desta comédia, quando se encontrava ainda na fase da busca de caminhos próprios para sua ficção e para seu teatro, como ele próprio afirmou em entrevista concedida em 1961, o fato é que Lisbela e o prisioneiro é uma peça de um autor seguro, engenhoso e talentoso, que tem muito ainda a dizer em nossos dias, desde o que se refere aos desmandos e à conivência da polícia com o crime até questões de ordem existencial. O regionalismo de Lisbela e o prisioneiro, fundado no aproveitamento de incidentes testemunhados por amigos, por familiares e por Osman Lins bem como apoiado na transposição de ditados, expressões populares e dísticos encontrados em pára-choques de caminhões, é transfigurado sob a pena de seu autor. Matéria e linguagem re-elaboradas tecem esta peça, regada por uma equilibrada dosagem de leveza, comicidade e ternura, e assentada em valores libertários em prol da vida, o que lhe abre as portas para outros tempos e outros espaços.

41 ROMANCES

42 VIAGENS NA MINHA TERRA ALMEIDA GARRETT

43 Período: Romantismo português
Publicação: folhetins1845/46, romance 1846 Autor: Almeida Garrett Precursor do Romantismo em Portugal Autor versátil, escreveu poesia, teatro e narrativas Seu estilo mudou muito ao longo da vida Lutou na Guerra Civil de Portugal Peculiraridade: último romance de Garrett (maturidade), proximidade com o Realismo Caráter crítico da obra, análise de Portugal: Frei Dinis (Portugal antigo) Vs. Carlos (Portugal novo) Relato de viagem + novela sentimental + crônicas Dois focos narrativos

44 Enredo: A obra é composta por dois eixos narrativos bem distintos
Enredo: A obra é composta por dois eixos narrativos bem distintos. No primeiro, o narrador conta suas impressões de viagens, intercalando citações literárias, filosóficas e históricas das mais diversas, com um tom fortemente subjetivo e repleto de digressões e intertextualidades. Dentre as referências literárias, podemos levantar citações a Willian Shakespeare, Luis de Camões, Miguel de Cervantes, Johann Goethe e Homero. Já dentre as citações históricas e filosóficas, temos Napoleão Bonaparte, D. Fernando, Bacon e outros. Já o segundo eixo, que é interposto no meio dos relatos de viagem, conta o drama amoroso que envolve cinco personagens. Essa narrativa amorosa tem como pano de fundo as lutas entre liberais e miguelistas (1830 a 1834). 

45 O livro começa com o narrador contando sobre a sua vontade de partir em uma viagem de Lisboa à Santarém. Chegando a seu destino, o narrador começa a tecer comentários através da observação de uma janela. Nesse ponto, dá-se início à história de amor entre Joaninha e Carlos.  No romance, Joaninha é uma moça que mora apenas com sua avó, D. Francisca. Semanalmente, elas recebem a visita de Frei Dinis, que traz notícias do filho de D. Francisca, Carlos. Ele está ausente da cidade já há alguns anos e faz parte do grupo de D. Pedro. Frei Dinis e D. Francisca guardam algum segredo sobre Carlos. Frei Dinis foi um nobre cheio de posses, mas resolveu abandonar tudo e sumir e volta para Santarém dois anos depois, como frei. O narrador critica essa mudança, por para ele qualquer um poderia facilmente ser ordenado frei de uma hora para outra.

46 Quando a guerra civil atinge Santarém, Carlos, que havia ido para a Inglaterra após desentender-se com Frei Dinis, resolve voltar à cidade. É quando ele reencontra sua prima Joaninha. Eles trocam um beijo apaixonado como se fossem namorados. Porém, Carlos tem uma esposa na Inglaterra, chamada Georgina, se vê atormentado pela dúvida de contar ou não a verdade para sua prima.  Ferido durante a guerra, Carlos fica hospedado próximo à casa de Joaninha. Após se recuperar, ele pede para que D. Francisca revele o segredo que ela esconde. Então, ela acaba contando que Frei Dinis é o pai de Carlos. Na parte final sabemos através de Frei Dinis o destino das personagens: Carlos larga as paixões e começa sua carreira na política como barão, mas depois de um tempo desaparece. Joaninha, sem seu grande amor, e D. Francisca morrem. Georgina vai para Lisboa. “Santarém também morre; e morre Portugal”, termina por relatar Frei Dinis.

47 Durante os relatos da viagem, o autor-narrador faz uma série de digressões filosóficas, reflexões sobre fatos históricos e crítica literária sobre diversos autores, tanto clássicos quanto modernos, e suas obras.  Dentre estes comentários, podemos citar o mais famoso deles: “Eu não sou romanesco. Romântico, Deus me livre de o ser - ao menos, o que na algaravia de hoje se entende por essa palavra”. Garrett, embora pertencente ao movimento romancista de Portugal, deixa claro nessa passagem uma crítica ao Romantismo então vigente. Uma crítica dirigida a um romantismo “fabricado” por escritores menores que buscavam modelo numa literatura fácil para agradar ao público, com interpretações abusivas e uma vulgarização do que seria o verdadeiro movimento modernista.

48 Características românticas:
O retrato de Carlos como herói romântico Joaninha: o ideal feminino romântico A concepção romântica do amor A temática da Natureza A contextualização histórica da novela Defesa do patriotismo A concepção do escritor romântico

49 Características realistas
Estilo digressivo Metalinguagem Intimidade com o leitor Críticas ao Romantismo Ironia, visão desencantada do presente

50 Síntese: A obra modernizou a prosa portuguesa A marca da viagem é a da frustração, sobre tudo com a não-preservação do passado português A história de Joaninha traz uma visão desencantada do amor e serve como metáfora do mundo português em transição Postura analítico-reflexiva do autor (crônicas do cotidiano) Crítica ao materialismo progressista, defesa dos valores antigos

51 TIL José de Alencar

52 Período: Romantismo brasileiro
Publicação: 1871/72 (folhetim), 1875 (romance) Autor: José de Alencar Maior romancista romântico do Brasil Estilo tipicamente romântico (adjetivação farta, muitas idealizações, prosa poética) Engajado no esforço nacionalista Romance tipicamente folhetinesco  a trama é o ponto alto Narrativa casta de efeito moralizador Regionalismo pitoresco: a diversidade da nação (interior de São Paulo, Santa Bárbara) Foco narrativo: terceira pessoa onisciente Temática da escravidão é apenas pano de fundo

53 Resumo: Besita, moça pobre, porém das mais belas da região, é objeto de desejo tanto de Luis Galvão, jovem fazendeiro, quanto de Jão, um órfão que foi criado junto com Luis Galvão. A moça corresponde ao amor do rico fazendeiro, mas este não tem interesse em desposar Besita, pois ela é pobre. Influenciada por seu pai, Besita acaba casando-se com Ribeiro. Esse, logo após a noite de núpcias, parte em viagem para resolver problemas relacionados a uma herança de família e fica anos afastado. Durante o período em que Ribeiro não se encontra pela região, Luis procura Besita, que o recebe achando tratar-se de seu marido. Desse encontro nasce Berta. Uma tarde, Ribeiro retorna e, ao encontrar sua esposa com uma filha, descontrola-se e assassina Besita. Jão não consegue evitar a morte dela, mas consegue salvar Berta, que passa a viver com nhá Tudinha e seu filho Miguel. Zana, uma negra que vivia com Besita, enlouquece após presenciar o assassinato desta.

54 Jão torna-se capanga dos ricos da região, cometendo várias mortes e tornando-se o temido o Jão Fera.
Quinze anos depois de assassinar sua esposa, Ribeiro retorna irreconhecível e com o nome de Barroso. Com o propósito de vingar-se de Luis Galvão, ele contrata Jão Fera, que não o reconhece. Porém, Berta descobre os intentos de Ribeiro e consegue salvar Luis. Em uma segunda tentativa, dessa vez com a ajuda de alguns escravos da Fazenda das Palmas, Ribeiro incendeia o canavial. Ao tentar apagar o fogo sozinho, Luis leva uma pancada na cabeça. Quando está para ser lançado ao canavial em chamas, Luis é salvo por Jão, que mata os responsáveis pelo incêndio, com exceção de Ribeiro. Após isso, Jão Fera é preso em Campinas. Sabendo da ausência desse, Ribeiro planeja uma outra vingança, dessa vez contra Berta. Aproxima-se dela, que está com Zana, mas nesse momento chega Jão (que tinha se libertado) e mata Ribeiro de forma violenta. Brás, sobrinho de Luis com problemas mentais, leva Berta para ver a cena. Ela foge horrorizada e João, sabendo que a moça o desprezava a partir de então, entrega-se a polícia.

55 Convém neste ponto relatar a relação entre Brás e Berta
Convém neste ponto relatar a relação entre Brás e Berta. O jovem Brás possui problemas mentais e é completamente excluído em sua família. Apesar de Brás ser apaixonado por Berta, ela não pode corresponder aos sentimentos do rapaz, resolvendo então ensinar o abecedário e rezas a ele. Porém, o menino tem grandes dificuldades em aprender, tendo apenas decorado o acento "til", que o encantava. Para facilitar o aprendizado, Berta se autonomeia Til e passa a ensinar Brás relacionando cada coisa com nomes de pessoas que ele conhecia. Em certo momento, Luis decide contar toda a verdade para sua esposa, D. Ermelinda. Em um primeiro momento ela se entristece, mas depois passa a apoiar o marido e decide que ele deve reconhecer Berta como filha. Dessa forma, os dois a procuram e contam tudo, omitindo as partes desagradáveis.

56 Jão foge mais uma vez da prisão e vai procurar Berta
Jão foge mais uma vez da prisão e vai procurar Berta. Desconfiada que Luis Galvão e sua esposa escondem algo, ela implora a Jão que conte toda a verdade sobre a história de sua mãe Besita, o que Jão faz. Berta se emociona com a história e abraça Jão, dizendo que ele sempre cuidou dela, sendo, então, seu pai. Luis quer que Berta vá morar com ele, mas ela nega e pede que ele leve Miguel. Todos partem e Berta fica na fazenda com Jão Fera e Brás. 

57 Berta, Inhá ou Til: personagem central do livro, Berta, filha bastarda do fazendeiro Luis Galvão com Besita, é a representação típica da heroína romântica. Após a morte de sua mãe, passa a viver com nhá Tudinha e seu filho Miguel. Muito bonita e graciosa, atrai o carinho e o amor de todos, tendo contato inclusive com as pessoas mais desprezadas da região. Berta é personagem central e exerce grande influência sobre todas as outras personagens do livro. Miguel: filho de nhá Tudinha, mostra-se apaixonado por sua irmã de criação, Berta (ou Inhá, como ele a chama). Por ser pobre, Miguel busca estudar para ascender socialmente e poder se casar com Linda.  Luis Galvão: dono da Fazenda das Palmas. Homem de muitas aventuras amorosas desde a juventude, é sempre protegido por seu "capanga" João Fera.  Linda: é filha de Luis Galvão e D. Ermelinda. Educada aos moldes da corte, mas amiga de Berta e Miguel, jovens de camada social inferior. Afonso: irmão de Linda. Possui o mesmo espírito conquistador de seu pai e acaba se apaixonando por Berta, sem saber que esta é sua irmã de sangue. Jão Fera ou Bugre: capanga dos ricos da região, é um homem temido. Sem conseguir salvar Besita, por quem era apaixonado, passa a proteger Berta após a morte de sua mãe.  Brás: sobrinho de Luis Galvão que sofria de ataques epiléticos e era débil mental. Era apaixonado por Berta (ele a chama de Til), que lhe ensinava o abecedário e rezas.  Zana: negra que trabalhava para Besita e que elouquecera após presenciar o assassinato de Besita. 

58 Ribeiro ou Barroso: marido de Besita
Ribeiro ou Barroso: marido de Besita. Logo após a noite de núpcias, parte para longe e fica anos afastado. Ao voltar e encontrar a esposa com uma filha, planeja vingança e assassina Besita. Promete vingar-se de Luis Galvão e Berta.  D. Ermelinda: elegante esposa de Luis Galvão. 

59 Síntese: Moral da história: generosidade e altruísmo (Berta), “o crime não compensa”, “o amor salva” (Jão) Personagens planas, com exceção de Jão Fera (e Berta?) Prosa de entretenimento edificante, casta e nacionalista

60 Memórias póstumas de Brás Cubas
Machado de Assis

61 Período: Realismo (introdutor)
Publicação: 1881 Autor: Machado de Assis Maior nome do Realismo brasileiro Estilo inconfundível (ironia, pessimismo, microcapítulos, análise psicológica, metalinguagem, intertextualidade) Estilo digressivo: reflexões acerca da natureza humana Livro de memórias de um homem rico e caprichoso: a pena na mão do senhor “escrevi-o com a pena da galhofa e a tinta da melancolia”  temática séria em estilo leve e brincalhão SER X PARECER  o narrador tira, de fato, todas as máscaras? Foco narrativo de primeira pessoa, protagonista

62 A infância de Brás Cubas, como a de todo membro da sociedade patriarcal brasileira da época, é marcada por privilégios e caprichos patrocinados pelos pais. O garoto tinha como “brinquedo” de estimação o negrinho Prudêncio, que lhe servia de montaria e para maus-tratos em geral. Na escola, Brás era amigo de traquinagem de Quincas Borbas, que aparecerá no futuro defendendo o humanitismo, misto da teoria darwinista com o borbismo: “Aos vencedores, as batatas”, ou seja: só os mais fortes e aptos devem sobreviver. Na juventude do protagonista, as benesses ficam por conta dos gastos com uma cortesã, ou prostituta de luxo, chamada Marcela, a quem Brás dedica a célebre frase: “Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis”. Essa é uma das marcas do estilo machadiano, a maneira como o autor trabalha as figuras de linguagem.

63 Marcela é prostituta de luxo, mas na obra não há, em nenhum momento, a caracterização nesses termos. Machado utiliza a ironia e o eufemismo para que o leitor capte o significado. Brás Cubas não diz, por exemplo, que Marcela só estava interessada nos caros presentes que ele lhe dava. Ao contrário, afirma categoricamente que ela o amou, mas fica claro que, naquela relação, amor e interesse financeiro estão intimamente ligados. Apaixonado por Marcela, Brás Cubas gasta enormes recursos da família com festas, presentes e toda sorte de frivolidades. Seu pai, para dar um basta à situação, toma a resolução mais comum para as classes ricas da época: manda o filho para a Europa estudar leis e garantir o título de bacharel em Coimbra. Brás Cubas, no entanto, segue contrariado para a universidade. Marcela não vai, como combinara, despedir-se dele, e a viagem começa triste e lúgubre. Em Coimbra, a vida não se altera muito. Com o diploma nas mãos e total inaptidão para o trabalho, Brás Cubas retorna ao Brasil e segue sua existência parasitária, gozando dos privilégios dos bem-nascidos do país.

64 Em certo momento da narrativa, Brás Cubas tem seu segundo e mais duradouro amor. Enamora-se de Virgília, parente de um ministro da corte, aconselhado pelo pai, que via no casamento com ela um futuro político. No entanto, ela acaba se casando com Lobo Neves, que arrebata do protagonista não apenas a noiva como também a candidatura a deputado que o pai preparava. A família dos Cubas, apesar de rica, não tinha tradição, pois construíra a fortuna com a fabricação de cubas, tachos, à maneira burguesa. Isso não era louvável no mundo das aparências sociais. Assim, a entrada na política era vista como maneira de ascensão social, uma espécie de título de nobreza que ainda faltava a eles. 

65 Síntese: Obra universal que está além de seu tempo Salto estilístico na literatura brasileira Visão amarga e cética do mundo (Schopenhauer) A riqueza do romance são as digressões machadianas Sutileza do humor, agudeza de pensamento

66 O Cortiço Aluísio Azevedo

67 Período: Realismo (Naturalismo)
Publicação: 1890 Autor: Aluísio Azevedo Segue à risca os preceitos naturalistas (Emile Zola) Talentoso em desenvolver romances de coletivo Estilo que busca a neutralidade narrativa (distanciamento) Narrativa de muitos personagens: o coletivo é o protagonista Determinismo e zoomorfismo Crueza na exposição dos fatos, temática sexual sem disfarces Classe baixa  animalização e ausência de moral Foco de terceira pessoa observador neutro

68 Resumo: O romance segue claramente duas linhas mestras em seu enredo, cada uma delas girando em torno de um imigrante português. De um lado temos João Romão, o dono do cortiço, do outro Jerônimo, trabalhador braçal que se emprega como gerente da pedreira que pertence ao primeiro.  João Romão enriquece às custas de sua obsessão pelo trabalho de comerciante, mas também por intermédio de meios ilícitos, como os roubos que pratica em sua venda e a exploração da amante Bertoleza, a quem engana com uma falsa carta de alforria. Ele se torna proprietário de um conjunto de cômodos de aluguel e da pedreira que ficava ao fundo do terreno. Aumenta sua renda e passa a se dedicar a negócios mais vultosos, como aplicações financeiras. Aos poucos, refina-se e deixa para trás a amante.  Miranda, comerciante de tecidos e também português, muda-se para o sobrado que fica ao lado do cortiço. No início disputa espaço com o vizinho, mas, aos poucos, os dois percebem interesses comuns. Miranda tem acesso à alta sociedade, posição que começa a ser almejada por João Romão, este, por sua vez, tem fortuna, cobiçada pelo comerciante de tecidos que vive às custas do dinheiro da esposa. Logo, uma aliança se estabelece entre eles. Para consolidá-la, planeja-se o casamento entre João Romão e a filha de Miranda, Zulmira. João se livra de Bertoleza, devolvendo-a aos seus antigos donos.  

69 Jerônimo assume a condição de gerente da pedreira de João Romão e passa a viver no cortiço com a esposa Piedade. Sua honestidade, força e nobreza de caráter logo chamam a atenção de todos. No entanto, seduzido pela envolvente Rita Baiana, assassina o namorado desta, Firmo. Jerônimo abandona a esposa e vai viver com Rita. Entra então em um acelerado processo de decadência física e moral, assim como sua esposa, que termina alcoólatra.  A decadência atinge também outros moradores do cortiço. É o caso de Pombinha, moça culta que aguardava a primeira menstruação para se casar. Seduzida pela prostituta Léonie, abandona o marido e vai viver com a amante, prostituindo-se também.

70 Síntese: O enfoque é na força degradante da sociedade, exposição do lado mais animalesco e grotesco do homem O jogo das conveniências é mais uma vez colocado Novamente a figura do malandro e da mulata sensual Ausência de psicologismos A queda moral de Jerônimo também possui explicação ligada ao ambiente: o sol dos trópicos abate a vontade de trabalhar e o homem se entrega aos prazeres. Sua pureza original é superada por seus instintos, e ele se torna preguiçoso e dado à luxúria. O fato de a mesma decadência atingir Piedade e Pombinha confirma a tese de que a tendência à frouxidão de costumes se dá em função do ambiente.

71 Capitães da areia Jorge Amado

72 Período: Modernismo 2ª geração – regionalismo nordestino
Publicação: 1937 Autor: Jorge Amado Baianidade típica (tipos baianos, costumes) Duas literaturas: pitoresca e crítica Oralidade e fluência narrativa Várias temáticas dentro de uma maior: desigualdade social Relação fato / mídia Saúde pública Menores infratores Pluralidade religiosa Luta de classe, etc. Ideologia de esquerda: a revolução proletária, socialismo Foco narrativo de terceira pessoa onisciente

73 Resumo: No início da obra há uma série de reportagens fictícias que explicam a existência de um grupo de menores abandonados e marginalizados que aterrorizam a cidade de Salvador e é conhecido por Capitães da Areia. Após esta introdução, inicia-se a narrativa que gira em torno das peripécias desse grupo que sobrevive basicamente de furtos. Porém, apesar de certa linearidade, a história é contada em função dos destinos de cada integrante do grupo de forma a montar um quebra-cabeça maior. O chefe do grupo Capitães da Areia é um jovem chamado Pedro Bala, um menino loiro e filho de um grevista morto no cais. Tinha ido parar na rua por volta dos cinco anos de idade e desde jovem já se mostrava corajoso e o mais capacitado a se tornar o líder das crianças. O grupo ocupava um trapiche abandonado na praia e era formado por mais de cinquenta crianças, sendo que algumas vão sendo apresentadas aos poucos durante a narrativa.  Uma delas era o Professor, que sabia ler e passava as noites lendo livros à luz de vela. Algumas vezes ele lia as histórias para os outros do grupo ou então criava as suas próprias narrativas a partir do que lera. Outra personagem que compõe o grupo é Gato, conhecido assim por ser tido como um dos mais bonitos ali. Quando entrou no grupo um dos meninos tentou se relacionar com ele, mas Gato não quis. Sendo muito vaidoso, tentava andar arrumado na medida do possível e de acordo com sua realidade de menino de rua. Gato se apaixona por uma prostituta chamada Dalva, que irá ter um romance com o jovem após ser abandonada por seu amante.

74 Outra personagem que merece destaque é Sem Pernas, um menino que uma vez fora pego pela polícia e por isso passou a ser um jovem amargo e que odiava a tudo. Por ser manco, às vezes era usado nos assaltos a casas: ele batia nas portas das casas dizendo que era um órfão aleijado e pedia ajuda. Ganhando confiança dos moradores, ele descobria o que tinha de valor na casa e depois relatava aos Capitães da Areia. Por fim, outras personagens são: Volta Seca, que se dizia afilhado de Lampião e sonhava integrar o bando desse; Pirulito, um menino de forte convicção religiosa e que irá abandonar o roubo; Boa Vida, jovem esperto e que se contenta com pouco; e o negro João Grande, que tinha o respeito dos demais do grupo por sua coragem e tamanho. Ao lado dessas personagens centrais que formam o grupo, encontra-se ainda o Padre José Pedro, que era amigo dos meninos e procurava cuidar deles da forma que considerava mais correta, e a mãe-de-santo D. Aninha. Em certo momento da narrativa, a varíola passa a assustar os moradores da cidade. Um dos meninos do grupo contrai a doença e é internado. Nessa altura, surge Dora e Zé Fuinha, cuja mãe também morreu por causa da varíola, e eles passam a integrar o bando. No início alguns jovens tentaram se relacionar com Dora, mas são impedidos por Pedro Bala, Professor e João Grande. Porém, Dora e Pedro Bala passam a ter certo envolvimento amoroso.

75 Certo dia alguns dos meninos foram pegos em um assalto, mas foram protegidos por Pedro Bala e somente ele e Dora foram levados presos. Ela foi levada para um orfanato, enquanto Pedro Bala foi torturado pela polícia e mantido preso em uma solitária por oito dias. Algum tempo depois, os meninos conseguem ajudar Pedro a se livrar do reformatório e partem para libertar Dora também. Porém, encontram-na muito doente e ela passa apenas mais alguns dias com os meninos antes de morrer. Após a morte de Dora o grupo vai sofrendo algumas alterações. Pirulito parte com o Padre José Pedro para trabalhar com ele na igreja, Sem Pernas acaba morrendo em uma fuga da polícia e Gato vai para Ilhéus com Dalva, de quem é cafetão. Já Professor conseguiu entrar em contato com um homem que lhe oferecera ajuda e tornou-se pintor no Rio de Janeiro retratando as crianças baianas. Por fim, Volta Seca conseguiu se tornar um cangaceiro de seu “padrinho” Lampião. Após cometer muitas mortes e crimes, a polícia prende Volta Seca e ele é condenado. Cada vez mais fascinado com as histórias de seu pai sindicalista que morrera em uma greve, Pedro Bala passa a se envolver em greves e lutas a favor do povo. Assim, movido por ideais comunistas e revolucionários, Pedro Bala passa o comando do bando para outro menino e parte para se tornar um militante proletário. 

76 Síntese: Livro destaca-se pela qualidade narrativa que mistura o crítco e o poético de maneira muito fluente Personagens, em geral, tipificados, sem grandes contradições. Destaque-se as cenas: Sem-pernas na casa de uma família, Professor, abandonando a chance de ir estudar fora, Pirulito, entre o chamado de Deus e o ato de roubar. Boa dose de panfletarismo, no entanto sob uma cara poética ao final.

77 TERRA SONÂMBULA Mia Couto

78 Período: Contemporâneo
Publicação: 1992 Autor: Mia Couto Pseudônimo de Antonio Emilio Leite Couto Moçambicano, é biólogo e escritor Tenta recriar a língua portuguesa com uma influência moçambicana, utilizando o léxico de várias regiões do país e produzindo um novo modelo de narrativa africana. Narrativa fantástica que mistura realidade e sonhos (como no estado de sonambulismo) Temática central é a tentativa de recuperar a relação com a terra, com as tradições, com os mitos do passado  identidade Dois focos narrativos em dois eixos paralelos (cadernos de Kindzu e o presente de Muidinga e Tuahir.

79 Resumo: Um ônibus incendiado em uma estrada poeirenta serve de abrigo ao velho Tuahir e ao menino Muidinga, em fuga da guerra civil devastadora que grassa por toda parte em Moçambique. Como se sabe, depois de dez anos de guerra anticolonial ( ), o país do sudeste africano viu-se às voltas com um longo e sangrento conflito interno que se estendeu de 1976 a O veículo está cheio de corpos carbonizados. Mas há também um outro corpo à beira da estrada, junto a uma mala que abriga os “cadernos de Kindzu”, o longo diário do morto em questão. A partir daí, duas histórias são narradas paralelamente: a viagem de Tuahir e Muidinga e, em flashback, o percurso de Kindzu em busca dos naparamas, guerreiros tradicionais, abençoados pelos feiticeiros, que são, aos olhos do garoto, a única esperança contra os senhores da guerra. "Terra Sonâmbula" – considerado por júri especial da Feira do Livro de Zimbabwe um dos doze melhores livros africanos do século XX e agora reeditado no Brasil pela Companhia das Letras – é um romance em abismo, escrito numa prosa poética que remete a Guimarães Rosa. Couto se vale também de recursos do realismo animista e da arte narrativa tradicional africana para compor esta bela fábula.

80 Contexto histórico O cenário da obra em questão é a devastação de Moçambique por sucessivos conflitos armados. De 1965 a 1975, o confronto foi contra o domínio português e pela Independência do país. Após a conquista da liberdade de Portugal, em 1975, iniciam-se disputas internas pelo poder entre os partidos Renamo e Frelimo. Tais conflitos ocorreram de 1976 a 1992, fazendo milhares de vítimas e arrasando o país. Terra Sonâmbula retrata o último período dessa guerra civil, o livro foi publicado pela primeira no ano em que foi assinado o Acordo Geral de Paz entre os dois grupos, que hoje disputam pacificamente as eleições.

81 A memória e a identidade
(...) as fragilidades da identidade do personagem [Kindzu] encontram eco em uma nação recém-liberta, cuja memória e identidade encontram-se ainda fortemente abaladas. Daí a presença de outro personagem que, por sua vez, sofre de uma completa amnésia no que diz respeito a aspectos essenciais de sua identidade: não recorda seu nome, seu passado ou seus progenitores, esquecendo-se completamente de seu lugar no mundo. O menino de nome Muidinga não representa o esquecimento e as fragilidades da identidade apenas em nível individual, mas assume e dá voz aos “traumatismos coletivos e às feridas da memória coletiva”, já que desaprendeu seu nome, sua origem, sua história e suas raízes, tal qual a própria nação, espoliada e ferida em sua própria identidade.

82 O reaprendizado de Muidinga só se inicia à medida que se põe a ler sobre a história da nação, (re)investindo-se ele também de nova identidade. Não é à toa que pergunta obstinadamente por seus pais: o desejo de encontrar sua origem e suas raízes repousa inevitavelmente na necessidade de encontrar sua própria identidade.

83 Síntese: O final do romance é bem revelador: as folhas dos cadernos de Kindzu começam a virar terra  enraizar, entrar na terra, recuperar o contato por meio das narrativas Uso constante de neologismos e de termos regionais (a exemplo de Guimarães Rosa): terra viva e língua viva. Perda de memória (Muidinga) e busca de identidade (Kindzu) = Moçambique. Crítica de Mia Couto à relação do poder com o povo faminto e desabrigado.


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