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Aristóteles Prof. Ricardo Feijó.  Natural de Estagira na Grécia, Aristóteles (384-322 a.C.) foi discípulo de Platão e em alguns aspectos sua visão.

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1 Aristóteles Prof. Ricardo Feijó

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3  Natural de Estagira na Grécia, Aristóteles (384-322 a.C.) foi discípulo de Platão e em alguns aspectos sua visão filosófica conserva a marca do mestre.  Todavia, as diferenças entre ambos são evidentes e, no que tange ao aspecto da organização econômica da sociedade, eles estão em posições diametralmente opostas. O substrato filosófico também difere e é sobre ele que discorreremos inicialmente.

4  Aristóteles não acredita no “mundo das idéias” de Platão. A realidade fica contida nos objetos sensíveis, mas nem tudo é matéria. Há deuses e espíritos; no entanto, o mundo sobrenatural é incomunicável e não exerce influência no mundo concreto. Além disso, a própria matéria carrega um elemento que não nos é percebido diretamente pelos sentidos.

5  Trata-se de uma essência não revelada no objeto particular, mas que é encontrada no universal que se faz presente em todos os objetos de mesma natureza.  Os objetos saltam aos olhos em sua aparência; entretanto, só podemos pensá-los na sua essência.

6  A matéria pura, de que são feitos, é incognoscível, enquanto formamos idéias com base no conhecimento das formas dos objetos.  Não podemos pensar em madeira sem nos reportarmos à arvore e esta é apreendida pela sua forma.  Todas as coisas possuem uma natureza. Por trás da aparência mutável e não repetitiva das coisas há características essenciais que particularizam sua existência. Tudo possui uma essência que não é engendrada e não se transforma, tratando- se de uma substancia imutável e eterna.

7  Assim, a filosofia de Aristóteles deve ser pensada com base nessas dicotomias entre essência e aparência ou forma e matéria. A investigação da realidade consiste em procurar pela natureza das coisas.

8  Na obra Organon, o volume “Analíticos Superiores” descreve o caminho que devemos seguir para alcançar o essencial das coisas: começar com a observação atenta dos fatos até se chegar à plena familiaridade com o objeto; é quando o processo de indução permite ao “olhar intelectual” ( nous ) penetrar na realidade última dele.  A identificação da essência vem à tona como uma recordação de algo que já se sabia. A idéia de conhecimento como lembrança tem um inequívoco componente platônico.

9  A explicação do mundo dá-se então ao se identificar as causas dos seres. Deve-se reconhecer a ação da causa com vistas a um resultado final, o que se entende como ação teleológica

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11  A noção de causalidade em Aristóteles aplica-se ainda na explicação da sociedade.  Na sua obra Política, o homem é tido como um animal social e político. O seu lugar natural é a sociedade onde ele realiza o principal propósito da vida humana: a busca da felicidade.  A felicidade não é apenas o usufruto do prazer sensorial, e nenhuma das vantagens econômicas da vida na cidade a justifica. Esse prazer é comum também entre os animais.

12  Duas outras dimensões da felicidade são puramente humanas. A honra é importante por reforçar no homem a sua auto-estima. Mas somente o prazer do pensamento racional presente na atividade da teoria ou contemplação merece menção entre os objetivos prioritários da vida.  A teoria identifica o bem e o justo, distinguindo-os do mal e do injusto.  Só os humanos são dotados desses sentimentos morais porque só eles possuem o dom da palavra.

13  Em Aristóteles a cidade é pensada como um meio de tornar feliz a vida presente do indivíduo, enquanto em Platão a cidade viabiliza a consecução de objetivos espirituais para além da vida terrena.  Em nenhum momento Aristóteles enfatiza as cidades como um instrumento para satisfazer a necessidades materiais, como chega a estabelecer Platão ao discorrer sobre a causa ou origem das cidades.

14  A felicidade contemplativa, associada ao uso da razão, é a ênfase; no entanto, a possibilidade concreta de se exercer a contemplação requer o consumo de bens materiais, pois é condição necessária, mas não suficiente, para a felicidade “ cuidar do corpo, ter bons amigos e descendência feliz ”.

15  São necessários recursos econômicos para a felicidade e ao reconhecer tal fato Aristóteles lança-se a tecer considerações de natureza econômica.  A Economia é uma parte mais restrita da ciência do homem que estuda a administração do lar ( oïko = casa, nomik = leis ou princípios de administração).

16  O ramo mais abrangente e mais importante dessa ciência é a política e o estudo mais específico do indivíduo pertence à ética.

17  A cidade nunca pode ser perfeita, pois tudo o que pertence ao mundo sublunar está sujeito ao acaso e a mudanças imprevisíveis; o mundo perfeito e imutável é o das esferas celestes, tal como se observa na harmonia do movimento dos astros

18  Na política, Aristóteles não se posiciona a favor de um único regime. Três deles são possíveis: a realeza, a aristocracia e a república. O Filósofo apenas condena as formas degeneradas desses governos, respectivamente a tirania, a oligarquia e a democracia, por serem a ditadura de um só, do dinheiro ou da maioria, nessa ordem.  A política fornece os princípios que norteiam o legislador mostrando-lhe como alcançar em sociedade a virtude.  A Economia ensina a organizar a vida econômica de modo a torná-la compatível com a obtenção das metas supremas da humanidade.

19  O comunismo de Platão é criticado. Os argumentos que, para tanto, Aristóteles lança-se a fazer merecem uma exposição, pois até hoje são utilizados pelos liberais críticos do coletivismo.  Enquanto Platão pensava que a propriedade comunal facilitaria o entendimento entre os homens, Aristóteles acredita que possuir bens comuns é fonte de conflito. O amor e a amizade requerem a propriedade privada.

20  O sentimento de propriedade estimula o amor, bem como a afeição pelos objetos e também pelas pessoas. Para ajudar e receber os amigos é preciso possuir bens.  A educação das crianças no sistema comunal de Platão é combatida. Os filhos devem estar próximos aos pais, já que nos interessamos menos pelo que pertence a todos. Só a afeição exclusiva dos pais engendra o amor. Aristóteles defendia a família patriarcal com a mulher submissa ao homem.

21  A luta interna na cidade não é resolvida pela igualdade de riquezas. O comunismo leva à irresponsabilidade.  Todo o ônus da manutenção das novas gerações é repassado para a sociedade e, sendo assim, os indivíduos não refreiam o ímpeto da procriação, o que leva à divisão infinita das fortunas pelo crescimento do número de cidadãos.

22  Regular a população era também uma preocupação de Platão; ele pensava que as cidades deveriam ter apenas 5040 cidadãos, número divisível por todos os inteiros de 1 a 12, exceto o 11, facilitando-se o trabalho administrativo de organizar grupos.  Aristóteles, como Platão, também propõe a eliminação de crianças disformes. O que os difere é que Aristóteles acredita que no comunismo seria impossível regular a população.

23  A desigualdade e, por extensão, a existência de homens ricos é tolerável e até útil para a cidade.  Os ricos pagam impostos e o Estado necessita deles para bancar as despesas das atividades em comum: cultos aos deuses, defesa da cidade etc.

24  Aristóteles não defende a supressão do Estado, pelo contrário, há um amplo espaço para o domínio público, inclusive a propriedade pública de terras.  Vê-se então que a defesa da propriedade privada em Aristóteles não é radical.

25  Uma última idéia vale a pena comentar: o estagirita antecipa o argumento moderno contra a pretensão de eficácia do comunismo ao enfatizar o comportamento oportunista dos que não se empenham em contribuir para a sociedade, uma vez que o regime de propriedade comum garante de antemão o usufruto da produção social.

26  No contexto da época, tal argumento não era tão forte, já que de qualquer maneira os cidadãos não tinham que trabalhar. O trabalho penoso é incompatível como os objetivos da vida em contemplação.  O trabalho agrícola do lavrador não é um impedimento para a virtude, ele até é bom, pois, confere força ao corpo e o torna apto para a guerra, embora prive os homens do lazer necessário à reflexão.  O trabalho artesanal é o mais penoso e degenerativo por estragar o corpo.

27  O trabalho pode e para o cidadão deve ser evitado sem prejuízo para a existência, já que, de qualquer modo, os meios materiais para a sobrevivência dos cidadãos estão garantidos pela instituição da escravidão

28  Escravos são sub-homens que não podem ser senhores de sua própria vida e que necessitam de comando.  No entanto, é preciso, em cada caso, averiguar se o escravo em questão é de fato um ser menos dotado. Não se pode aceitar que alguém que não mereça ser escravo o seja.  Platão desenvolveu argumentos semelhantes a favor da escravidão, mas Aristóteles é mais enfático em afirmar que em certos casos o senhor deve libertar seu escravo.

29  Certo conforto material é condição para a vida reflexiva do cidadão, no entanto a procura ilimitada da riqueza é um vício que impede o alcance da verdadeira felicidade. Aliás, indivíduos bons são os que menos necessitam de riquezas.

30  Somente as atividades voltadas ao atendimento de necessidades naturais de consumo são dignas de serem examinadas pela Economia.  Há uma distinção importante entre Economia ( oikonomik ) e Crematística ( chrematistik ).  A ciência da administração doméstica se preocupa com o consumo e o aprovisionamento de riquezas na satisfação de necessidades humanas  A Crematística estuda tudo o que diz respeito à aquisição de riquezas, incluindo o ganho e acúmulo de dinheiro por empréstimo e comércio.

31  A Economia estuda a maneira natural de aquisição de bens que consiste na apropriação pelo homem de outros seres vivos através da agricultura, pecuária, pesca e caça.  A Crematística estuda modos não naturais e, portanto, condenáveis de adquirir bens via comércio e atividades financeiras.

32  Nem sempre o comércio é condenável, aceitamo-lo moralmente quando se trata de melhor atender às necessidades humanas pela especialização do produtor e troca do excedente.  Nesse caso, a troca é um modo de atender a necessidades diversificadas e não um meio de acumulação de dinheiro.  Então uma parte da Crematística tem um caráter natural, uma vez que visa o atendimento de necessidades.

33 Trocas para o acolhimento de necessidades Necessidades atendidas pela apropriação de seres vivos Obtenção de riquezas pelo comércio ou pela atividade financeira ECONOMIA (Natural) CREMATÍSTICA (Artificial )

34  A intersecção dos dois conjuntos mostra que há uma área da Economia que é Crematística e uma parte desta última que é objeto da Economia.  Excetuando-se as condições em que o comércio e a atividade financeira fizerem parte da Economia, eles devem ser proscritos da cidade.  O uso do dinheiro para fazer trocas e retirar disso o máximo lucro corrompe a alma humana e como tal é condenável. Trata-se da Crematística Pura, o setor não econômico da Crematística.

35  Na Política, Aristóteles explica que fazem parte dela o comércio exterior (e, portanto, as atividades de exportação e importação devem ficar a cargo dos estrangeiros), o trabalho assalariado (“o fato de se vender o próprio trabalho por dinheiro”), a formação de monopólio (“o açambarcamento de toda a quantidade disponível de uma mercadoria a fim de a revender muito cara”) e o empréstimo a juros, a atividade mais condenável de todas.

36  Nas condições em que a troca for necessária como parte da Economia, há que se observar a justiça no estabelecimento dos contratos.  Neste ponto o conceito ético de justiça, exposto em Política e na obra Ética a Nicômaco, é aplicado nas trocas; é quando aparecem as reflexões aristotélicas sobre o valor dos bens que lançam as bases do pensamento econômico que se farão presentes no nascimento dessa ciência no século XVIII.

37  Aristóteles concebe a justiça em sociedade com base na noção de igualdade proporcional: dar mais àqueles que merecem mais.  As trocas devem obedecer a um critério de reciprocidade. O que é considerado mérito depende da sociedade em questão, muito embora o filósofo apregoe que a virtude deva ser o critério maior.  No caso dos contratos, a discussão da reciprocidade nas trocas lança sementes de um aspecto fundamental do pensamento econômico: qual o critério que regula as proporções trocadas dos bens?

38  Aristóteles oscila de posição, primeiro ele pensa que as partes devam receber de acordo com o trabalho despendido na obtenção do bem. Tal idéia antecipa o que será aceito entre os economistas clássicos como a teoria do valor-trabalho.  O Filósofo, porém, está ciente das dificuldades desta medida de mérito, primeiramente pelas diferenças qualitativas entre trabalhos de naturezas distintas e depois pelo preconceito grego, muito arraigado, contra o trabalho, o que torna difícil elegê-lo como elemento de mérito regulador das trocas justas.

39  O estagirita parte para outro princípio que deveria regular as trocas: a importância da necessidade atendida pelo bem.  Ciente de que isto envolve o conhecimento de avaliações subjetivas, ele se mostra céptico quando à possibilidade do uso deste critério na avaliação moral de situações econômicas concretas.

40  Aristóteles diz que na prática os bens são avaliados pela moeda e que os valores monetários devem então refletir os diferentes graus de necessidade.  Não há, de fato, muito aprofundamento dessa questão.  Importa assinalar que Aristóteles lança e discute superficialmente as duas principais vertentes do pensamento econômico na explicação do valor: a teoria do valor-trabalho e a teoria do valor-subjetivo.

41  Na sua obra Política, Aristóteles discorre sobre a natureza da moeda. Descreve como ela surgiu historicamente e diz que a moeda veio a ser adotada por sua função de meio intermediário entre os bens: instrumento de comparação de valores e facilitadora das trocas.  O filósofo aponta também para a função da moeda como reserva de valor, antecipando uma idéia importante na moderna teoria monetária.

42  Outra questão monetária investigada por Aristóteles pergunta se o valor da moeda depende do valor do metal precioso contido nela ( metalismo ) ou se aquele valor provêm da autoridade de um governo que a põe em circulação ( nominalismo ).  Entre os defensores da interpretação nominalista da moeda aparece Platão nas Leis. Aristóteles, sem aderir a ela, também não se sente inteiramente convencido da posição metalista que atribui valor intrínseco à moeda.  Para ele, as propriedades físicas tanto quanto o costume do povo e a força da lei explicam a natureza da moeda.

43  Anteriormente ao século V a.C., Roma à época de Aristóteles ainda não era uma cidade importante.  Sua sociedade aristocrática separava os homens entre nobres e plebeus, havendo em cada uma das classes uma ampla subdivisão de grupos ordenados pela riqueza.  A partir de então essa cidade começa a desenvolver um crescente poderio até se constituir no maior império da Antigüidade em extensão e riqueza, que durou cerca de mil anos, até sua completa desintegração entre 535 e 540 de nossa era.

44  O desenvolvimento do império romano acompanha a decadência da civilização helênica pela dispersão de seus povos, instabilidade política e guerras internas.  Após ter sido subjugada pelos reis da Macedônia, a Grécia é por fim anexada ao império de Roma em 146 a.C. Toda a orla do mar Mediterrâneo teve esse mesmo destino.  A conquista dos povos mediterrânicos fez parte da estratégia da aristocracia romana que através da pilhagem, do comércio e de deportações em massa logrou grande êxito em seu enriquecimento.

45  O poder está nas mãos dos grandes proprietários que dominam a Assembléia Centurial em detrimento das outras classes sociais já em 312 a.C.  O regime republicano mantém-se coeso graças a concessões calculadas que vão sendo paulatinamente feitas à plebe e ao combate encarniçado contra os escravos rebelados sob a liderança de Sálvio, Atenião e Espártaco, em diferentes momentos, até a derrota definitiva desses movimentos em 71 a.C.

46  O período áureo de Roma ocorre na fase imperial que se estabelece em 27 a.C. com a tomada do poder por Augusto. As liberdades políticas são abolidas e um Senado, sem poder, fornece os quadros dirigentes de governadores de províncias e generais.  Nesta fase, uma intensa atividade econômica se verifica espalhada pelo império.

47  A elite de Roma desenvolve hábitos sofisticados e de toda parte afluem bens de consumo na satisfação de seus desejos.  O comércio entre regiões se desenvolve, adotam-se moedas para intermediar as trocas.  Instituições de crédito similares ao cheque e notas promissórias eram conhecidas e usadas.  Há banqueiros profissionais e até um banco público para supervisionar suas atividades.

48  O governo tem de enfrentar problemas econômicos típicos da era moderna como crises monetárias e fiscais, falta de ouro, balança comercial deficitária e inflação.  Os imperadores intervêm de muitas formas na vida econômica, fixando preços, tabelando os juros, protegendo devedores, inspecionando a qualidade dos bens nos mercados, confiscando mercadorias defeituosas ou estragadas.

49  Também atuam com medidas contra a competição estrangeira, outras que regulam o uso das vias públicas, que proíbem a exportação de metais preciosos e até organizando as profissões em corporações obrigatórias.

50  Com tudo isto, era de se esperar que o pensamento econômico tivesse grande desenvolvimento no período, mas tal fato não ocorreu.  Pelo contrário, há uma relativa estagnação entre os romanos em relação às reflexões políticas e econômicas dos povos gregos.  Isto se explica pelo fato de a cultura romana ter desenvolvido um viés bastante pragmático; os romanos são homens de ação e estão mais preocupados com idéias concretas sobre relações econômicas, de aplicação imediata nos negócios do dia-a-dia, e menos voltados à análise puramente teórica.

51  A principal fonte de idéias econômicas na Roma Antiga localiza-se no sistema de leis.  Há um pensamento econômico original e fértil entre os juristas romanos.  Na elaboração das leis com impacto na economia, esses juristas tendiam a dar menos importância a considerações éticas e religiosas.  A inclinação predominante era ver a esfera econômica como dominada pela ação de forças impessoais.

52  Tal fato representa um afastamento em relação aos povos antigos que não separavam a esfera econômica da dimensão ética e política.  Mas não se pode exagerar essa interpretação a ponto de se falar em teorias de sistema econômico imbuído de racionalidade própria.  Contudo, a partir dos romanos inicia-se um caminho em direção a essa perspectiva que somente se desenvolve no nascimento da Economia como ciência no século XVIII.

53  Não se pode negar que as concepções filosóficas e teológicas também tiveram alguma influência no pensamento econômico do período, mesmo levando-se em conta que pouca filosofia original sobre política, Estado e vida social aparece entre os romanos.  Roma esteve sob a influência de duas doutrinas filosóficas principais: o epicurismo e a filosofia estóica.

54  Epicuro viveu em fase decadente da civilização grega, entre 341 e 270 a.C., e suas idéias refletem a percepção de um período em que os valores dessa civilização estão sendo questionados.  Assim suas crenças desdenham do legado aristotélico; a filosofia política peripatética é posta de lado e com ela a tese de que a sabedoria somente seria alcançada com a ajuda da cidade.  A ênfase recai agora no indivíduo isoladamente considerado dentro de uma concepção materialista e atéia.

55  Nele, a realidade é composta de átomos materiais que se combinam mecanicamente para formar os corpos sensíveis, como nos filósofos pré-socráticos.  Os deuses que existem são também corpos materiais, só que inteiramente estranhos ao resto do mundo.  O homem deve abandonar o mundo da cidade e voltar-se para si mesmo, adotando o comportamento hedonista de maximizar a sua própria felicidade ao longo da vida, pelo cultivo moderado do prazer carnal e da amizade

56  O estoicismo foi a principal influência filosófica sobre as concepções legais e o pensamento econômico de Roma.  Ele conjuga tendências idealistas e materialistas e representa em relação ao epicurismo um afastamento menor de Aristóteles.  A concepção moral dos estóicos retém de Aristóteles a explicação teleológica do mundo pelos fins que se persegue, em detrimento do modelo mecânico de Epicuro.  Aliado a isso, há uma dose de fatalismo que apregoa a resignação diante do mundo, o que leva a uma indiferença em relação à sociedade e seus problemas.

57  A felicidade consiste no domínio dos desejos e paixões.  O sábio deve seguir a ordem intangível e divina da natureza, submetendo-se, pela sua própria vontade, às leis naturais.  A felicidade está na adesão da razão particular à razão presente na ordem universal.  A razão soberana da natureza revela-se diretamente à consciência individual dizendo ao homem o que deve e o que é proibido fazer, conferindo às leis um valor absoluto.

58  Com o tempo, as leis romanas vão se tornando cada vez mais divorciadas da religião e menos guiadas pelos costumes locais, na medida em que são fundadas em princípios gerais de racionalidade, ligados à ideia grega de natural ( jus naturale ).  O conceito de lei natural terá uma grande influência na doutrina jurídica de Roma e também entre os filósofos morais da época, principalmente Cícero e Sêneca.  No século XVIII, a ideia de lei natural será retomada pelo pensamento dos fisiocratas e de Adam Smith.

59  A ênfase da lei em elementos impessoais leva ao desenvolvimento de um sistema legal científico que prioriza os direitos do indivíduo mais do que os de comunidades como famílias e clãs.  Desenvolve-se então a liberdade de contrato e o direito individual de dispor da propriedade.  O reconhecimento legal das instituições da propriedade privada e do contrato favoreceu os processos econômicos e também foi importante para a evolução do pensamento econômico.

60  O sistema de direitos privados individuais foi, de fato, a grande contribuição intelectual dos romanos.  Idéias e preceitos econômicos são discutidos pelos juristas de Roma.  Eles conheciam a instituição da moeda e sabiam de sua vantagem para as trocas.  Eram metalistas, pois achavam que a moeda tinha um valor intrínseco que não poderia ser estabelecido por lei. No período romano, os juros sempre estiveram fixados ou controlados por lei.

61  Já em 450 a.C., a Lei das Doze Tábuas fixa os juros, condena a usura e busca diferenciar juros de usura.  Em 357 a.C. os juros estão fixos por lei em 10% ao ano e dez anos depois em 5%.  Na seqüência, as leis genucianas proíbem completamente os juros.  As leis justinianas fixam os juros entre 4 e 8% de acordo com as características do empréstimo.

62  Na prática, entretanto, a lei era letra morta, pois as taxas de juros variavam com as condições de mercado.  De fato, as leis foram se tornando mais flexíveis com os juros na medida em que o império se enriquecia e os empréstimos se generalizavam.  Em geral, as taxas praticadas eram muito maiores nas províncias mais distantes, chegando a quase 50% ao ano em alguns casos.

63  O Direito Romano também tecia idéias sobre preço e valor econômico dos bens. Havia um senso prático nessa questão.  A Lei das Doze Tábuas deixava os preços ao sabor do mercado.  O preço era visto como uma resultante dos processos de regateio no mercado, onde cada parte tendia a fazer o seu ponto de vista prevalecer.  Os juristas romanos não analisam as forças que determinam o preço final da transação, mas com o tempo surgem discussões sobre o preço justo ( verum pretium ).

64  A idéia de preço justo será depois retomada pelos padres da Idade Média e ela está na base da idéia moderna de preço de equilíbrio.  Um aprofundamento na questão do valor aparece nos filósofos morais Cícero e Sêneca.  Eles reconhecem a importância do desejo humano e da utilidade do bem na determinação do valor.  Com o crescimento do comércio e do crédito, os romanos passam cada vez mais a ver na “utilidade” o fundamento para o valor de troca dos bens.

65  Nos últimos dois séculos antes da queda do império romano, a percepção da decadência estimula o desenvolvimento de idéias econômicas e as iniciativas de intervenção do Estado nas atividades econômicas como um paliativo para evitar o desastre anunciado.  Em 301 da nossa era, Dioclesiano fixa nos contratos um preço justo com base no custo tradicional de produção.  Cresce a partir de então as tentativas de limitar os contratos introduzindo considerações éticas.

66  Embora encontremos no Direito Romano uma visão renovada dos processos econômicos, menos embebida de considerações éticas e religiosas, não se pode dizer que se tenha abandonado por essa época o antigo preconceito e desdém contra o trabalho e a atividade econômica.  O filósofo Cícero, no século I, afirma que os homens ocupados em trabalhos manuais são de fato inferiores e possuem uma natureza servil.  Ele também condena a atividade crematística que visa tão somente o lucro e o empréstimo a juros.

67  Diz que “quem empresta dinheiro assassina um homem”.  Cícero se posiciona contra o comércio e a contratação de mão de obra assalariada.  Em geral, os filósofos morais de Roma condenam os luxos e vícios da época, a sede de dinheiro e de riqueza, e pedem moderação e comedimento na vida econômica.  Fazem a apologia da vida simples dedicada à agricultura como nos tempos remotos e apregoam uma volta à natureza.

68  Entre os romanos, entretanto, constata-se algum progresso na mentalidade anti-econômica.  Há a defesa da propriedade que é tida como legítima se adquirida conforme ao direito.  Mesmo a riqueza não é tão execrada como antes.  Sêneca diz que a riqueza fornece ao homem sábio uma matéria para ele desenvolver suas qualidades, desde que ganha de modo honesto.  Os mercados e o processo de formação de preços são melhor compreendidos.

69  Os devedores são protegidos por lei e estão salvos contra a escravidão.  Na ausência de fraude, o comprador não pode processar o vendedor.  Há em Cícero argumentos sobre o papel da divisão do trabalho.  A escravidão, embora generalizada no império romano e embora se encontrem filosóficos que a justifique, é condenada com base em argumentos econômicos nos escritos que tratam dos princípios práticos das propriedades agrícolas, dos autores romanos Varrão, Catão e Columella.

70  Os romanos não acrescentaram muito ao pensamento econômico, não desenvolveram teoria nessa disciplina.  No entanto, o estudo de suas doutrinas jurídicas e filosóficas é importante para uma compreensão da evolução das idéias econômicas.  Não se pode negar que houve um avanço na interpretação econômica entre os romanos e talvez falte na literatura especializada em história da idéias um maior aprofundamento no período em questão.


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