A apresentação está carregando. Por favor, espere

A apresentação está carregando. Por favor, espere

OLHOS D’ÁGUA CONCEIÇÃO EVARISTO. Dados da obra Autor: Conceição Evaristo Escola literária: Literatura Contemporânea Ano de publicação: 2014 Gênero: Conto.

Apresentações semelhantes


Apresentação em tema: "OLHOS D’ÁGUA CONCEIÇÃO EVARISTO. Dados da obra Autor: Conceição Evaristo Escola literária: Literatura Contemporânea Ano de publicação: 2014 Gênero: Conto."— Transcrição da apresentação:

1 OLHOS D’ÁGUA CONCEIÇÃO EVARISTO

2 Dados da obra Autor: Conceição Evaristo Escola literária: Literatura Contemporânea Ano de publicação: 2014 Gênero: Conto Divisão da Obra: 15 contos Local: Periferia de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro Temas: desigualdade social, preconceito racial, violência, miséria, vida em favelas, cotidiano de mulheres negras e pobres, homossexualismo, infância, erotismo.

3 CONTEXTO Sobre a autora A Autora Maria da Conceição Evaristo de Brito nasceu em uma favela de Belo Horizonte em 29 de novembro de 1946. É graduada em Letras pela UFRJ, mestre em Literatura Brasileira pela PUC do Rio de Janeiro, quando defendeu a dissertação: “Literatura negra: uma poética da nossa afro-brasilidade” e doutora em Literatura Comparada na Universidade Federal Fluminense, desde 2011, após a defesa e aprovação da tese que procurou “investigar a produção de autores africanos de língua portuguesa em diálogo com a literatura afro-brasileira”.

4 Sobre a autora OBRA DE CONCEIÇÃO EVARISTO Romance :: Ponciá Vicêncio. Belo Horizonte: Mazza.Edições, 2003. :: Becos da memória. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2006, 168p. Poesia: :: Poemas da recordação e outros movimentos. (antologia poética). Belo Horizonte: Nandyala, 2008. Conto :: Insubmissas lágrimas de mulheres. Belo Horizonte: Nandyala, 2011. :: Olhos d'água. Rio de Janeiro: Editora Pallas, 2015, 116p. Prêmio Jabuti na categoria Contos em 2015. :: Histórias de leves enganos e parecenças. Conceição Evaristo. [ilustrações Ainá Evaristo]. Rio de Janeiro: Editora Malê, 2016.

5 Sobre a autora Antologias (participação) Brasil :: Cadernos negros 13 (poemas). São Paulo: Edição dos autores, 1990. :: Cadernos negros: os melhores contos. [organização Esmeralda Ribeiro; Márcio Barbosa e Sônia Fátima]. São Paulo: Quilombhoje, 1998. :: Quilombo de palavras: a literatura dos afro-descendentes. [com: Meu rosário; A noite não adormece nos olhos das mulheres; Bendito o sangue de nosso ventre; Todas as manhãs]. Salvador: CEAO/UFBA, 2000. :: O livro da saúde das mulheres negras. [com o poema: A noite não adormece nos olhos das mulheres]. Rio de Janeiro: Pallas/Criola, 2002. :: Antologia da poesia negra brasileira: o negro em versos. [com os poemas: Do velho e do jovem; e Vozes-mulheres]. São Paulo: Editora Moderna, 2005. :: Textos poéticos africanos de língua portuguesa e afro-brasileiros. [com o poema: Vozes-mulheres]. João Pessoa: Ideia, 2007. :: Cadernos Negros - três décadas. São Paulo: Seppir/Quilombhoje, 2008. :: Questão de pele. [apresentação Conceição Evaristo]. Rio de Janeiro:, 2009. :: Contos afros. [com o conto: Ayoluwa, a Alegria do Nosso Povo]. São Paulo: Quilombhoje, 2009. :: Contos do mar sem fim. [com o conto: Olhos d'água]. Rio de Janeiro: Editora Pallas, 2010. :: Questão de pele. [com o conto: Ana Davenga]. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2010. :: Antologia de poesia afro-brasileira. [com os poemas: Todas as manhãs; Do velho ao jovem; Vozes-mulheres; e Meu rosário, a noite não adormece nos olhos das mulheres]. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2011. :: Clarice Lispector, personagens reescritos. [com o conto: Macabéa, flor de mulungu]. Rio de Janeiro: Oficina Raquel, 2012.

6 Sobre a autora Exterior :: Schwarze prosa. [com os contos: Maria; e Di Lixão]. Berlim/São Paulo: Edition diá, 1993. :: Finally Us: contemporary black brazilian women writers/Enfim...Nós!. [com os poemas: Eu-mulher; Os sonhos; e Fluída lembrança]. Colorado: Three Continent Press, 1995. :: Fourteen female voices from Brazil: interviews and work. [com o conto: Ana Davenga]. Austin: Host Publications, Inc, 2002. :: Women righting - Afro-brazilian women's short fiction. [como o conto: Duzu-Qurença]. Londres: Mango Publishing, 2005. :: Black Notebooks - contemporary afro-brazilian literature(Cadernos Negros). Asmara: Africa World Press, Inc, 2008. Em Revistas (participação) :: Callaloo. Vol. 18, nº 4. Baltimore/EUA: The Johns Hopkins University Press, 1995 :: The Dirty Goat. A section from Ponciá Vicêncio. Austin -Texas/EUA: Host Publications, 2005. :: Chimurenga. [com o conto: Maria]. Pretória/África do Sul: Chimurenga, 2007. :: Callaloo. Vol. 30, nº 3. Baltimore/EUA: The Johns Hopkins University Press, 2007. Organização :: Literatura, história, etnicidade e educação:estudos nos contextos afro-brasileiro, africano e da diáspora africana. [Organização Denise Almeida Silva e Conceição Evaristo]. 1ª ed., Frederico Westphalen: URI, 2011. Obra publicada no exterior :: Ponciá Vicêncio (romance).. [tradução Paloma Martinez-Cruz]. Austin - Texas: Host Publications, 2007.

7 ESCREVIVÊNCIA

8 TÍTULO O título, bem como a capa, remetem tanto ao primeiro dos contos (a personagem adulta acorda intrigada por não lembrar a cor dos olhos da mãe), quanto às lágrimas derramadas por quase todas as personagens em situações de crise, de luta pela sobrevivência, de medo e de desesperança. As personagens demandam “rios caudalosos”, “águas correntezas”, “choro-gozo”, “gozo-dor”, “lacrimevaginava”, rio-mar que justificam os “Olhos d’dágua”.

9 LINGUAGEM  ACESSÍVEL;  CULTA PARA O NARRADOR DE TERCEIRA PESSOA;  BRUTALISMO POÉTICO;  SUTIL EM MUITOS CONTOS (Luamanda, Maria);  CRIAÇÃO DE PALAVRAS POR COMPOSIÇÃO (HIFENIZAÇÃO- CORPO-CORAÇÃO, FLOR-CRIANÇA) INCLUSIVE NO NOME DAS PERSONAGENS: SALINDA (SINHA LINDA), DORVI (VI DOR), LUAMANDA (A LUA MANDA),

10 O livro OLHOS D’ÁGUA é composto por 15 contos: CONTOS EM 1ª PESSOA OLHOS D’ÁGUA. ALCANCE: EM UMA NARRAÇÃO EM 1ª PESSOA, NARRADOR: Dimensão dos sentimentos; Voz feminina, possivelmente negra (dada a percepção da experiência vivida).

11 O livro OLHOS D’ÁGUA é composto por 15 contos: CONTOS EM 3ª PESSOA: ONISCIÊNCIA Ana Davenga; Duzu-Querença; Maria; Quantos filhos Natalina teve?; Beijo na face; Luamanda; O cooper de Cida; CONTOS EM 3ª PESSOA: ONISCÊNCIA Zaíta esqueceu de guardar os brinquedos; Di lixão; Lumbiá; Os amores de Kimbá; Ei, Ardoca; e Ayoluwa, a alegria do nosso povo.

12 Polifonia: variação entre 1ª e 3ª pessoa O livro OLHOS D’ÁGUA é composto por 15 contos: A gente combinamos de não morrer: Narradores: fluxo de consciência Dorvi: personagem envolvida com narcotráfico Bica: Tem um filho com Dorvi, é sua companheira. Estrelina: mãe de Bica e de Idago, morto pelo tráfico Oito segmentos iniciados com expressões em negrito: Várias vozes falam no conto

13 DESCRIÇÃO Em “Olhos D’água” Conceição Evaristo constrói uma série de narrativas, composta por 15 diferentes contos, que se entrelaçam ao relatarem a história de mulheres e homens negros que sofreram e sofrem os mais diferentes tipos de violência e depreciação na sociedade. No entanto, desde o primeiro conto que leva o mesmo título do livro, percebemos que a autora vai além de uma construção vinculada apenas ao sofrimento, ela conduz o leitor a um aspecto da ancestralidade e identidade afro-brasileira que perpassa e em alguns momentos até acalenta a dura realidade de seus personagens.

14 DESCRIÇÃO Alguns dos títulos dos contos que compõe a publicação são construídos pelo nome e sobrenome de seus protagonistas, entre esses, podemos destacar: 1- Ana Davenga; 2-Duzu-Querença; 3- Maria; 4- Luamanda; 5- Di Lixão; e 6-Lumbiá.

15 DESCRIÇÃO O prefácio que abre o livro sinaliza para a grande marca da autora: a noção de escrevivência. Isto é, a escrita a partir de um lugar de enunciação que é também ̶̶ e sobretudo ̶̶ o da vivência da experiência narrada e o quanto essas escritas negras e femininas encontram-se embaralhadas na tênue linha que tenta separar, sem muito sucesso, a realidade vivida, da ficção sonhada. Desta forma, tudo isso acaba provocando nos leitores, uma identificação imediata com as narrativas lidas e compartilhadas. Como já descrito, as narrativas do livro são costuradas e umedecidas pelo choro dos personagens, que desabrocham e suplicam, mesmo que em silêncio, do lugar de opressão e submissão que ao longo da história foi designado a eles.

16 Importância do Livro Olhos D’água produz um lindo entrelaçar entre a temática e a poética, isso porque a construção linguística utilizada pela autora é de um acabamento preciso assim como o amarrar das histórias. As narrativas são permeadas de lágrimas, violência, ancestralidade, fé e sentimentos. A voz não se cala perante os acontecimentos narrados e nem a essência subjetiva da criação literária. Talvez por isso o livro comova e conduza todos os leitores pelo caminho da dor poética.

17 Período Histórico Publicada em 2014, pela editora PALLAS, a obra de Conceição Evaristo reúne narrativas que abordam conflitos sociais, históricos e contemporâneos, representando o grito dos escritores negros e de toda uma sociedade que não deveria silenciar nunca. Esse livro é um dos atalhos por onde a voz negra pretende ecoar.

18 TEMÁTICA São muitos e se repetem. O cotidiano de negros e pobres, em vidas marcadas pela desigualdade social, preconceito racial, violência, miséria, vida em favelas, cotidiano de mulheres negras e pobres, homossexualismo, infância, erotismo.

19 TEMPO E ESPAÇO As histórias se passam em um tempo psicológico, ou seja, não existem datas nem cronologia. As personagens estão em um momento emocional marcante. Os espaços são as favelas (Rio de Janeiro e Belo Horizonte) e a realidade que as rodeia (lixões, estações de trem, ônibus)

20 OLHOS D’ÁGUA  A narradora não tem nome;  Mulher, negra, pobre, mãe e filha;  Filha mais velha entre sete;  Não há menção a personagem masculino na história;  Recorda mulheres ancestrais;  Lembra-se das brincadeiras da mãe para enganar a fome das filhas;  Preocupa-se com o fato de não se lembrar da cor dos olhos da mãe;  Volta à cidade natal e vê na mãe olhos de lágrimas; e  Sua filhinha pergunta qual a ‘cor tão úmida’ de seus olhos.

21 ANA DAVENGA  Assume o nome de seu homem (Davenga);  Negra, pobre e amante;  Com 26 anos (festa surpresa de 27);  Gravidez não comunicada;  Seu homem é violento (matara Maria Agonia), líder da favela;  Não se incomoda pelos riscos que corre, por que viver é um risco;e  Morre fuzilada dentro de seu barraco com a invasão da polícia para prender Davenga.

22 DUZU-QUERENÇA  Duzu é mulher, negra, pobre, fora prostituta (antes mesmo de saber o que era prostituição);  Senil, deseja voar (depois de observar as roupas no varal) e deseja que a vida seja um carnaval (com papel planeja confeccionar sua fantasia.);  Mãe e avó: teve nove filhos, no momento do texto, espalhados pelos morros

23 MARIA  É mulher, negra, pobre, domestica, separada e mãe de três filhos.  Vindo do trabalho, com as sobras de uma festa na casa da patroa e R $35,00 e um corte na mão feito por uma faca laser.  Encontra o pai de seu primeiro filho no ônibus, entre conversas sussurradas, renasce a ternura entre eles.  O homem pede que faça um carinho no filho e a seguir anunciam (ele e um comparsa) um assalto ao ônibus;  Ela não é assaltada;  Após o assalto, Maria é acusada como cúmplice (atacada moral, racial e fisicamente) e linchada.  Pobres roubando pobres, negros ofendendo negros, vitimados vitimando.

24 QUANTOS FILHOS NATALINA TEVE?  Natalina é mulher, negra, pobre, domestica, solteira(não queria marido) e mãe de quatro filhos.  A primeira gravidez fruto da inexperiência(13 anos) não quis o filho, tentou o aborto(Sá Praxedes) e acabou por deixa-lo na maternidade com uma enfermeira.  A segunda gravidez foi fruto de um relacionamento com um peão de obra, ele queria casar, queria o filho. Não se quis casar, ele levou o filho para a cidade natal dele.  A terceira gravidez ocorreu a pedido da patroa, estéril, ela pede a Natalina que engravide de seu marido. Foi muito bem cuidada. Doou o filho aos patrões.  A última gravidez é resultado de uma violência sexual. Homens invadiram seu barraco à procura de um irmão (ela é uma de sete irmãs). Nega ter irmão, é sequestrada e violentada. Após o ato, num descuido do agressor, tomou sua arma e o matou.  Aquele filho seria dela (fruto da violência, dos frágeis limites entre a vida e a morte)

25 BEIJO NA FACE  Salinda (Sinha Linda) é mulher, negra, casada, infeliz (marido inseguro) e mãe de dois filhos.  Descobre-se como homossexual.  O marido e ela foram namorados quando jovens, mas se separaram, ela teve uma filha de outro homem, reencontraram-se, porém ele tornou-se inseguro e desconfia da traição com um amigo do casal.  A tia é sua cúmplice na traição ao marido, todavia com uma mulher.  Diante do espelho ela, ela recorda o beijo da parceira, sua imagem e lembra o telefone ameaçador do marido dizendo que sabia de tudo (entretanto, o ‘tudo’ não era a sua desconfiança).

26 LUAMANDA  Luamanda é mulher, negra, bem resolvida sexualmente, com 50 anos (aparência extremamente jovem) é mãe e avó.  Superficialmente ela parece narcisista, mas é apenas uma mulher que pretende aproveitar a vida em plenitude.  Aprecia a sexualidade em suas variadas formas;  Recorda os vários amores (as várias definições que o amor pode ter aliadas às suas experiências: homens jovens, mulheres, velhos)

27 O COOPER DE CIDA  Cida é solteira, tem 29 anos e vivia correndo para dar conta da vida.  Um dia resolve desacelerar em seu ‘cooper’ e vê o mar, vê também um nadador, pensa que para estar no mar aquela hora ele deveria ser rico.  Quase sem perceber desacelera e atrasa seu companheiro de trabalho que lhe daria uma carona.  Ela dispensa o rapaz e resolve tira o dia para si mesma.

28 ZAÍTA ESQUECEU DE GUARDAR OS BRINQUEDOS  Zaíta é vítima de violência do Morro.  São duas gêmeas, Naíta e Zaíta, que moravam na favela e viviam constantemente ameaçadas pela raiva da mãe que surtava quando as meninas não guardavam seus brinquedos.  Um dia, Naíta e Zaíta disputavam uma figurinha que continha um desenho aromatizado de uma flor.  Naíta pega a figurinha sem que Zaíta perceba e se esconde na casa da vizinha.  Zaíta sai nas ruas a procura de sua irmã e morre em meio a um tiroteio.  Naíta encontra o corpo da irmã quando ainda se lamentava por não ter guardado os brinquedos.

29 DI LIXÃO  Um menino de rua apelidado de Di Lixão, porque ele gostava de revirar latas de lixo, especialmente quando estava bravo.  Di Lixão acorda com uma estranha ferida na boca. A dor o impede de dormir.  Ele acorda com uma cusparada outra criança que divide o barraco com ele, o menino revida com um chute entre as pernas e a dor se generaliza.  Lembra a mãe que lhe aconselhava a estudar, ele não seguiu o conselho e parece odiar a mãe a quem viu matarem.  Diz saber quem a assassinou. Mas ódio a ela não denunciou.  A ferida se transforma em infecção que ele estoura e o menino morre no meio das ruas com um filete de sangue saindo do abcesso.

30 LUMBIÁ  Menino que vende produtos ambulantes, especialmente rosas para casais.  Lumbiá sempre tinha uma estratégia infalível para vender seus produtos e alcançava grande sucesso, debruçava sobre uma mesa e chorava.  O menino era encantado pelo Natal, especialmente pela cena do menino Jesus no presépio.  Sua paixão era tanta que o menino tenta roubar a imagem do menino-Jesus e morre atropelado enquanto fugia com a imagem nos braços.

31 OS AMORES DE KIMBÁ  Kimbá (Zezinho) é um belo jovem negro e pobre das favelas cariocas;  Está descontente com a vida que vivia e a ccompara com a de Gustavo seu amigo rico da Zona Sul (é ele que dá o apelido a Kimbá- nome de um rapaz nigeriano amigo de Gustavo);  É apresentado à Beth, prima de Gustavo, e os dois se apaixonam.  Gustavo também ama  Acaba se envolvendo em um triângulo amoroso depois que um de seus amigos ricos da zona sul do Rio o convida para um ménage à trois do qual ele sai apaixonado pela garota participante, a Beth. Ele não sabia era que o amigo (homem) que tinha o convidado para a orgia, era apaixonado por ele.  Entre o amor de Beth e o amor do amigo (também as facilidades do mundo a que tinha sido apresentado), igualmente divididos, eles decidem se suicidar juntos, ingerindo veneno.

32 EI, ARDOCA  Trabalhador carioca, pobre e negro, chamado Ardoca, que desde sempre conviveu com os trens, mas nunca se acostumara a eles.  Cansado de sua vida, toma veneno e morre no trem.  Em meio aos vagões de trem ele morre e é falsamente socorrido por outro homem que o tira do vagão.  O trem em movimento ainda mostra Ardoca sendo despojado de seus pertences(relógio, sapato, tênis).

33 A GENTE COMBINAMOS DE NÃO MORRER  Dorvi: personagem envolvida com narcotráfico, pobre negro, sabe que é o elo mais fraco do tráfico; gosta do perigo, sabe dos riscos e não tolera traição; mata um amigo (Neo, supostamente por ter adulterado a droga) Quebra o juramento de não morrer e some.  Bica: Tem um filho com Dorvi, é sua companheira, gosta das palavras, refugia-se nelas, ouve barulho de tiros mas consola-se na escrita.  Estrelina: mãe de Bica e de Idago, morto pelo tráfico (falava demais). É pobre, separada viciada em novelas

34 AYOLUWA, A ALEGRIA DE NOSSO POVO  Menina, que ao nascer traz a esperança a uma comunidade negra em crise (sutilmente descrita, mas não claramente declarada como negra)  Há menções de simbologia negra (nome dos personagens- Bamidele: Esperança e Ayoluwa: Alegria ).  A menina nasce não para ser sacrificada (Cristo) mas como simbologia da vida.

35 ANÁLISE Sempre houve dentro da literatura um investimento na construção negativa da mulher e do homem negro, entretanto nos últimos tempos um movimento em sentido oposto está crescendo, esse vem sendo liderado pelos autores que fazem parte desse grupo e que passaram a contar suas próprias histórias e de seus semelhantes, na tentativa de recontar e dar um novo sentido a suas vidas. A escrita de conceição Evaristo e a voz que ecoa de “Olhos D’água” é uma aposta que vai de encontro a esse novo sentido e contra as vozes e discursos que até então imperavam no meio literário.

36 ANÁLISE Podemos dizer que o livro de Evaristo divide-se em duas perspectivas diferentes que não se excluem. A primeira: evoca questões da ancestralidade e identidade [O conto que abre o livro (Olhos D’água) e o conto que encerra a obra (Ayoluwa, a alegria do nosso povo)]. Os contos que se encaixam entre essas duas narrativas (Ana Davenga, Duzu- Querença, Maria, Quantos filhos Natalina teve? Beijo na face, Luamanda, O cooper de Cida, Zaíta esqueceu de guardar os brinquedos, Di lixão, Lumbiá, Os amores de Kimbá, Ei, Ardoca e Agente combinamos de não morrer) estariam imbricados por um aspecto de violência que se multiplicariam em temáticas diversas como estupros, assassinatos, linchamentos, fome e demais mazelas.

37 ANÁLISE Analisando o processo de criação literária de Conceição Evaristo em Olhos D’água notamos que existe uma característica marcante dos contos que integram o aspecto da violência, o “brutalismo poético”, nesse caso compreendido como uma narrativa que apresenta elementos lingüísticos e semânticos duros, mas não menos poéticos. Por isso os leitores mesmo diante de cenas de profundo impacto ficam surpresos pela maneira com a qual a escritora consegue amarrar a violência urbana com tamanha leveza em suas palavras. Outro recurso estilístico que cabe ressaltar dentro do processo de criação é o recurso de escrita que se baseia na hifenização, o qual podemos denominar, neste caso específico, palavras siamesas: “lava-lava” e “passa-passa” (p. 16); “peitos-maçãs” (p. 22); “gozo-pranto” (p. 23); o nome de uma de suas mais contundentes de sua galeria de personagens, “Duzu-Querença” (p. 31); “flor-criança” (p. 46); essa estrutura cria uma assinatura estética para a autora. Cabe ainda destacar que os nomes escolhidos para seus personagens também são criados a partir da aglutinação de palavras, “Luamanda” por exemplo seria formado pelo substantivo lua e o verbo “mandar” (conjugado no presente do indicativo, na terceira pessoa do singular).

38 ANÁLISE Evaristo também utiliza outras fontes para a denominação de personagens que são inspirados nas culturas africanas Banto e Iorubá. Essa influência se estende inclusive para as temáticas das narrativas, pois as referências às narrativas míticas africanas se apresentam ora como poderosas metáforas, ora como alegorias que podem se referir, direta e/ou indiretamente, à diáspora africana no passado brasileiro e seus desdobramentos em nosso cotidiano atual. Dando ênfase ao conto que abre o livro e o nomeia podemos dizer que, em resumo, o conto narra o questionamento acerca da cor dos olhos da mãe da personagem. Diferente dos demais contos que trazem em sua estrutura uma narrativa em 3ª pessoa, esse é construído em 1ª pessoa, sugerindo um viés de proximidade com uma narrativa autobiográfica. A dúvida sobre a cor dos olhos da mãe surge acompanhada por lembranças e vai ganhando um tom acusatório que leva a personagem a retornar à cidade natal e encarar a figura materna, lançar seu olhar no dela para descobrir a cor de seus olhos. O leitor é convidado a adentrar nas memórias da narradora, conhecer a sua infância e, junto dela, reviver momentos marcados pelas dificuldades e privações de uma vida permeada pela pobreza, ao mesmo tempo em que se encanta pela figura materna que protege, acalenta e encanta, até mesmo nos momentos mais angustiantes.

39 ANÁLISE Ao se lembrar e narrar suas lembranças, a narradora-personagem de “Olhos d’água” evoca as experiências que marcaram sua infância e, neste jogo de recordações, acaba por (con)fundir suas próprias memórias com as lembranças de sua mãe: […] Às vezes, as histórias da infância de minha mãe confundiam-se com as de minha própria infância. Lembro-me de que muitas vezes, quando a mãe cozinhava, da panela subia cheiro algum. Era como se cozinhasse, ali, apenas o nosso desesperado desejo de alimento (EVARISTO, 2014, p. 16). Recorrente na prosa de Conceição Evaristo, a hereditariedade que ecoa na geração seguinte revela-se um traço forte no que diz respeito à ancestralidade, como um elo estabelecido entre passado e futuro que se concretizará no desfecho do conto, quando em frente à filha, a narradora brinca de buscar, uma na outra, a verdadeira cor de seus olhos: “Hoje, quando já alcancei a cor dos olhos de minha mãe, tento descobrir a cor dos olhos de minha filha. Faço a brincadeira em que os olhos de uma são o espelho dos olhos da outra. E um dia desses me surpreendi com um gesto de minha menina. Quando nós duas estávamos nesse doce jogo, ela tocou suavemente o meu rosto, me contemplando intensamente. E, enquanto jogava o olhar dela no meu, perguntou baixinho, mas tão baixinho como se fosse uma pergunta que para ela mesma, ou como estivesse buscando ou encontrando a revelação de um mistério ou de um grande segredo. Eu escutei quando, sussurrando, minha filha falou: _Mãe, qual é a cor tão úmida de seus olhos? (EVARISTO, 2011, p. 19).

40 ANÁLISE Ainda nesse jogo de busca pela identidade a autora recorda das mulheres de sua família e de suas ancestrais desde a África. “Havia anos que eu estava fora de minha cidade natal. Saíra de minha casa em busca de melhor condição de vida para mim e para minha família: ela e minhas irmãs tinham ficado para trás. Mas eu nunca esquecera a minha mãe. Reconhecia a importância dela na minha vida, não só dela, mas de minhas tias e todas as mulheres de minha família. E também, já naquela época, eu entoava cantos de louvor a todas as nossas ancestrais, que desde a África vinham arando a terra da vida com suas próprias mãos, palavras e sangue. Não, eu não esqueço essas senhoras, nossas Yabás, donas de tantas sabedorias.” (EVARISTO, 2010,p. 18). Distante dos referencias identitários, das mulheres presentes em sua infância e na memória, pensando nas ancestrais ainda em África, a narradora precisa descobrir a cor dos olhos de sua mãe, pois, somente dessa forma, conseguirá enxergar a si mesma. A indagação acerca da cor dos olhos da mãe é uma forma de voltar às origens e buscar uma identidade perdida, ou desconstruída, pelo afastamento de suas raízes. O tom acusatório com a qual a indagação vai se contornando ao longo do conto confirma a perda de identidade e a necessidade de reencontrá- la ou reconstruí-la.

41 ANÁLISE Pensar nos olhos, e na dúvida sobre eles, é pensar na maneira como a narradora enxerga o mundo e a si mesma, e os questionamentos que percorrem este olhar. Esta hipótese de leitura é confirmada ao se estabelecer entre o seu retorno para casa a um ritual aos orixás: “Vivia a sensação de estar cumprindo um ritual, em que a oferenda aos Orixás deveria ser a descoberta da cor dos olhos de minha mãe” (EVARISTO, 2010, p. 18). Diretamente ligada à voz autoral, a temática presente no conto dialoga com a identidade negra e com a ancestralidade utilizando-se da imagem dos olhos para simbolizar esta união estabelecida entre passado, presente e futuro, que perpassa desde a avó até a neta. A poeticidade do conto fica marcada a partir da presença da imagem do olho que se fortalece a cada repetição e que suscita na narradora suas recordações, e no leitor a possibilidade de adentrar nessas memórias. Por meio do uso da indagação “de que cor eram os olhos de minha mãe?” (p. 171), é que a autora fixa a imagem dos olhos como eixo da narrativa. O conto percorre desde a face histórica, por meio do retorno à mãe e às referências à África e à sabedoria das Yabás, até a cultural e religiosa, por meio das referências aos orixás, abarcando, neste percurso, o aspecto social do ser negro no Brasil

42 ANÁLISE Conceição Evaristo faz alusão aos olhos para trazer à tona questões de ordem social, cultural e religiosa, relacionadas à miséria em que a narradora se encontra na infância e pensando em sua relação com os orixás e com as Yabás ainda em África. Dessa forma, a autora produz um texto em que insere a voz autoral e seu ponto de vista sem abrir mão do trabalho estético em seu texto, fugindo do teor “panfletário”.


Carregar ppt "OLHOS D’ÁGUA CONCEIÇÃO EVARISTO. Dados da obra Autor: Conceição Evaristo Escola literária: Literatura Contemporânea Ano de publicação: 2014 Gênero: Conto."

Apresentações semelhantes


Anúncios Google