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ANTÓNIO GEDEÃO (2 POEMAS).

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Apresentação em tema: "ANTÓNIO GEDEÃO (2 POEMAS)."— Transcrição da apresentação:

1 ANTÓNIO GEDEÃO (2 POEMAS)

2 De seu verdadeiro nome Rómulo de Carvalho, nasceu em Lisboa em 24 de Novembro de 1906 e faleceu também em Lisboa em 19 de Fevereiro de 1997.

3 “POEMA DA BUGANVÍLIA” Algum dia o poema será a buganvília
pendente deste muro da Calçada da Graça. Produz uma semente que faz esquecer os jornais, o emprego e a família, e além disso tudo atapeta o passeio alegrando quem passa.

4 Mas antes desse dia há-de secar a buganvília
E o varredor há-de levar as flores secas para o monturo. Depois cairá o muro. E como o tempo passa mesmo contra vontade, também há-de acabar a Calçada da Graça e o resto da cidade.

5 Então, quando nada restar, nem o pó de um sorriso
que é o mais leve de tudo que se pode supor, será esse o momento de o poema ser flor, mas já não é preciso.

6 Uns olhos que me olharam com demora,
não sei se por amor se caridade, fizeram-me pensar na morte, e na saudade que eu sentiria se morresse agora. E pensei que da vida não teria nem saudade nem pena de a perder, mas que em meus olhos guardaria certas imagens do que pude ver. “SAUDADES DA TERRA”

7 Gostei muito da luz. Gostei de vê-la
de todas as maneiras, da luz do pirilampo à fria luz da estrela, do fogo dos incêndios à chama das fogueiras. Gostei muito de a ver quando cintila na face de um cristal, quando trespassa, em lâmina tranquila, a poeirenta névoa de um pinhal, quando salta, nas águas, em contorções de cobra, desfeita em pedrarias de lapidado ceptro, quando incide num prisma e se desdobra nas sete cores do espectro.

8 Também gostei do mar. Gostei de vê-lo em fúria
quando galga lambendo o dorso dos navios, quando afaga em blandícias de cândida luxúria a pele morna da areia toda eriçada de calafrios.

9 E também gostei muito do Jardim da Estrela
com os velhos sentados nos bancos ao sol e a mãe da pequenita a aconchegá-la no carrinho e a adormecê-la e as meninas a correrem atrás das pombas e os meninos a jogarem ao futebol.

10 À porta do jardim, no inverno, ao entardecer,
à hora em que as árvores começam a tomar formas estranhas, gostei muito de ver erguer-se a névoa azul do fumo das castanhas. Também gostei de ver, na rua, os pares de namorados que se julgam sózinhos no meio de toda a gente, e se amam com os dedos aflitos, entrecruzados, de olhos postos nos olhos, angustiadamente.

11 E gostei de ver as laranjas em montes, nos mercados,
e as mulheres a depenarem galinhas e a proferirem palavras grosseiras, e os homens a aguentarem e a travarem os grandes camiões pesados, e os gatos a miarem e a roçarem-se nas pernas das peixeiras.

12 Mas... Saudade, saudade propriamente,
essa tenaz que aperta o coração e deixa na garganta um travo adstringente, essa, não.

13 Saudade, se a tivesse, só d’Aquela
que nas flores se anunciou, se uma saudade alguém pudesse tê-la do que não se passou.

14 De Aquela que morreu antes de eu ter nascido,
ou estará por nascer – quem sabe? – ou talvez ande nalgum atalho deste mundo grande para lá dos confins do horizonte perdido.

15 Triste de quem não tem, na hora que se esfuma, saudades de ninguém nem de coisa nenhuma.

16 Imagens: Net Música: Ruínas, Rodrigo Leão Formatação: GinaSF


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