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MELHORES POEMAS JOÃO CABRAL DE MELO NETO

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Apresentação em tema: "MELHORES POEMAS JOÃO CABRAL DE MELO NETO"— Transcrição da apresentação:

1 MELHORES POEMAS JOÃO CABRAL DE MELO NETO
ELEMENTOS POÉTICOS MARCANTES EM ALGUNS POEMAS Adaptado de<

2 Marcas da obra: Atmosfera surrealista (ver A André Masson p. 18)
Ideal de rigor formal (ver Frei Caneca p.312) Poesia metalinguística (ver Tecendo a Manhã p. 274 ) Poesia referencial(ver No cemitério de Mondrian p. 284 ) Poesia imagética. (ver Poema de desintoxicação p. 15 ) Poesia antidiscursiva (ver Antiode p.49) Poesia antilírica(ver Fábula de Anfion p. 32) O social sem o panfletário (ver Morte e vida Severina p. 115 ) Secura, dureza, aspereza, vazio (ver Fábula de Anfion p. 32 e Morte e vida Severina p. 115 ) Texto conceitual: Faca – Bala – Relógio (ver Uma Faca só Lâmina p. 169)

3 Atmosfera surrealista : André Masson
Nasceu em 1896, em Balagny (cidade de mineração), na França. Aos doze mudou-se com a família para Bruxelas e iniciou seus estudos na Academia de Belas Artes. Em 1912 foi volta a Paris, dois anos depois ganhou bolsa para estudar a técnica de afresco na Toscana, Itália. Inicialmente, sua obra foi influenciada pelo Cubismo e por Juan Gris.

4 André Masson Paysage Matriarcale,  1941

5 A André Masson Imagens de sonhos Com peixes e cavalos sonâmbulos pintas a obscura metafísica do limbo. Cavalos e peixes guerreiros fauna dentro da terra a nossos pés crianças mortas que nos seguem dos sonhos. Formas primitivas fecham os olhos escafandros ocultam luzes frias invisíveis na superfície pálpebras não batem. Friorentos corremos ao sol gelado de teu país de mina onde guardas o alimento a química o enxofre da noite.

6 Atmosfera surrealista
As imagens no poema, não são geradas por parâmetros lógicos, mas através das exigências da imaginação criativa. O poeta recusa a frase clara, nítida e significativa que define a poesia realista e tende para linguagem hermética, para o mistério, para o fluir encantatório. Essa poesia será insistentemente sugerida por ambiente onírico, traduzida em uma atmosfera rarefeita, carregada de sombra, nuvens e espaços silenciosos. Valendo-se de símiles ditados pela paisagem dos sonhos o poema afirma suas imagens nos dizendo algo sobre o mundo e sobre si mesmo. 

7 Atmosfera surrealista
Cubismo: figuras puras As nuvens são cabelos Crescendo como rios; São os gestos brancos da cantora muda; são estátuas em voo à beira de um mar; a fauna e a flora leves de países de vento; Comparação são o olho pintado escorrendo imóvel; e a mulher que se debruça nas varandas do sono; são a morte (a espera da) atrás dos olhos fechados; a medicina, branca! Nossos dias brancos. Antítese Sinestesia Metáfora Antítese Metáfora Metáfora Metáfora

8 AS NUVENS Em “As nuvens”, poema inaugural do livro, observa-se a presença simultânea de cubismo e surrealismo. Aí, o branco da veia onírica enfatiza a inconsistência, o difuso dos seres e das coisas, enquanto o branco da inclinação para o fazer consciente incorpora o significado da depuração, do despojamento, da lucidez.

9 O engenheiro A luz, o sol o ar livre envolvem o sonho do engenheiro.
O engenheiro sonha coisas claras: superfícies, tênis, um copo de água. O lápis, o esquadro, o papel; o desenho, o projeto, o número: o engenheiro pensa o mundo justo, mundo que nenhum véu encobre. (Em certas tardes nós subíamos Ao edifício. A cidade diária, Como um jornal que todos liam, Ganhava um pulmão de cimento e vidro). A água, o vento a claridade, De um lado o rio, no alto as nuvens, Situavam na natureza o edifício Crescendo de suas forças simples. Metonímia Comparação Metáfora

10 O engenheiro : a composição da imagem
O sonho, aqui, já não é mais o sonho do poeta dormindo na “noite furiosa”, mas o sonho fora do sono. Por essa estratégia de controle, o poeta-engenheiro transforma as “coisas claras” que, mesmo se sob o signo da “luz”, do “sol” e do “ar livre”, ainda são apenas “sonhadas”, no “mundo justo/mundo que nenhum véu encobre”, do engenheiro. Vemos, assim, que no adjetivo “claras”, o sema referente a cor é reduzido à noção de pureza, despojamento, precisão, fazendo um paralelismo com “justo”. “Justo”, aqui, segundo muitos dos críticos de João Cabral, não remete a “justiça”, mas a “justeza”, exatidão.

11 FREI CANECA : Ideal de rigor formal
O Auto do Frade, de 1984, é uma poesia de fundo histórico falando sobre a vida e destino de Frei Caneca, condenado à morte em 1825 por estar envolvido na Confederação do Equador. Um poema para vozes, exemplo do teatro poético do autor, João Cabral de Melo Neto. Nesta obra, o autor passa do social (também em Morte e vida severina) ao histórico, sem que haja uma negação do primeiro, mas sim a sua incorporação, não através de uma apreensão de incidentes apenas narrativos (o que, sem dúvida, compõe também o quadro da narrativa histórica), mas pela exploração poética das tensões básicas, encarnadas por Frei Caneca, entre a razão pragmática do político rebelde e as elucubrações mais abstratas, lógicas, retóricas, filosóficas. O poema retoma o último dia do líder carmelita. O povo o vê caminhando para a morte:

12 Auto do frade Personagens do auto
Frei Caneca (Joaquim do Amor Divino Rabelo) -dedicou-se à Igreja desde cedo sendo adorado e aclamado pela população, que o tinha como um homem dedicado, sereno e prestativo aos olhos de Deus. É considerado uma figura da história real do Brasil, pois participou de um movimento revolucionário que queria a formação da República. Tal movimento ocorreu em 1817, denominado Confederação do Equador, foi um dos líderes. Enfrentou com bravura o imperador e lutou pelo Brasil, e mesmo condenado se mostrou digno e confiante. Pessoas de Recife - espectadores e formadores do cortejo que acompanhou todo o trajeto de Frei Caneca da cadeia à praça. Não impediram sua execução, apenas faziam comentários e contavam histórias entre si. Apesar de ouvirem o sermão do frei e de vivenciar seu sofrimento não ousaram retirá-lo daquela situação de morte. Oficiais da Justiça - eram os responsáveis pela condenação do Frei pertenciam a Comissão Militar do Imperador, se apresentaram duros e insensíveis na condução do frade.

13 Auto do frade: Enredo O Auto do frade tem como assunto o dia da morte do rebelde frei Caneca que já estava preso há mais de um ano. Estava sendo preparado o cortejo, a população já se acumulava do lado de fora da cadeia. O frei tentava dormir enquanto aguardava seu enforcamento. Como o juiz não havia chegado ao Tribunal de Justiça por causa de uma viagem de três meses, o corregedor decidiu que o Frei Caneca seria enforcado em praça pública, após percorrer a cidade com uma corda enrolada no pescoço. Assim, Frei Caneca foi retirado da prisão e muito fraco percorreu as ruas de Recife, várias pessoas o seguiram em pleno meio da rua, em cada esquina mais gente se aproximava. Em todos os lugares existiam espectadores do acontecimento abrangendo até mesmo o governador e toda a sociedade em geral. Frei Caneca chegou a dizer algumas palavras, mas foi obrigado a calar-se e até os gestos lhe foram proibidos. Seu comportamento podia representar grande perigo aos oficiais que pregavam ser ele um homem condenado à morte por trair o Rei e pretender o separatismo com a Confederação do Equador (1824). Lentamente o cortejo vai levando o Frei que andava calado e sereno. Ao chegar à Igreja do Terço, Frei Caneca foi colocado no centro de um círculo formando de policiais, com intuito de ninguém tentar soltá-lo ou se rebelar.

14 Auto do frade: Enredo Nesse evento Frei Caneca foi entregue ao oficial enviado pela Comissão do imperador que o condenou à morte. O Frei solenemente andou no interior de um círculo de policias. Ao chegar na Praça do Forte, onde seria executada a sentença de réu, o carrasco designado para matar o padre, recuou temendo a ação sobre ele de alguma força superior. Então todos os carrascos se recusaram a enforcar o padre, alegando que ele foi visto "voando no céu". Mesmo espancados resistiram a enforcá-lo. O Oficial de Justiça ofereceu perdão dos crimes aos presos, comida farta, emprego, cama e mesa a quem fosse voluntário para a execução. Contudo ninguém se disponibilizou, nem mesmos os presos que queriam liberdade. Ocorreu então que após algumas horas de espera, decidiu-se formar um pelotão de doze homens para o fuzilarem, pois nenhum destes ousaria fazê-lo sozinho. Assim, Frei Caneca foi morto fuzilado.

15 Auto do frade: Ideal de rigor formal
A/cor/do /fo/ra/ de /mim /(7) co/mo há/ tem/pos /não/ fa/zi/a (7) A/cor/do /cla/ro,/ de/ to/do, (7) a/cor/do /com /to/da a/ vi/da, (7) com/ to/dos /cin/co/ sen/ti/dos (7) e so/bre/tu/do/ co/m a /vis/ta (7) que/ den/tro /des/ta/ pri/são (7) pa/ra /mim /não /e/xis/ti/a. (7) A/cor/do/ fo/ra /de /mim (7) co/mo/ vi/da a/po/dre/ci/da. (7) acordar é ter saída. Acordar é reacordar-se ao que em nosso redor gira. Mesmo quando alguém acorda para um fiapo de vida como o que tanto aparato que me cerca me anuncia: esse bosque de espingardas mudas, mas Acordar não é de dentro, logo assassinas,

16 Auto do frade: Ideal de rigor formal
- Ei/-lo /que vem /des/cen/do a/ es/ca/da, de/grau/ a de/grau. /Co/mo/ vem /cal/mo.  - Crê/ no /mun/do,e /quis/ com/ser/tá-lo.  - E a/in/da /crê,/ já /com/de/na/do?  - Sa/be/ que/ não o /con/ser/ta/rá.  - Mas/ que /vi/rão /pa/ra i/mi/tá/-lo. Em Auto do Frade, a estrutura textual é diversa: os monólogos são construídos em redondilhas maiores(7 sílabas), enquanto os demais versos são octossílabos. A linguagem é criada não para documentar, mas para representar, concisa e contundentemente, uma situação limite. As rimas são, em sua maioria, toantes. Os versos exprimem a força política e revolucionária das palavras de Frei Caneca. A morte, assunto constante da obra poética de João Cabral de Melo Neto, é também tema central em Auto do frade.

17 TECENDO AS MANHÃS Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo  que apanhe o grito de um galo antes  e o lance a outro; e de outros galos  que com muitos outros galos se cruzem  os fios de sol de seus gritos de galo,  para que a manhã, desde uma teia tênue,  se vá tecendo, entre todos os galos. E se encorpando em tela, entre todos,  se erguendo tenda, onde entrem todos,  se entretendendo para todos, no toldo  (a manhã) que plana livre de armação.  A manhã, toldo de um tecido tão aéreo  que, tecido, se eleva por si: luz balão.

18 Poesia metalinguística: TECENDO AS MANHÃS
Não devemos deixar de considerar a abordagem metalinguística deste poema, e aproximar o canto do galo “tecendo a manhã” com o canto do poeta sendo tecido, verso a verso, fio a fio no poema. Podemos notar na divisão de estrofes dois movimentos bem assinalados, na primeira estrofe os galos convocam a manhã que se apresenta no verso dez e domina a segunda estrofe de forma leve (aérea), quando convocada no verso dezesseis: “que, tecido, se eleva por si: luz balão.” Pode-se considerar o eu - lírico transitando por duas dimensões de tempo, presente e futuro, e duas situações: individual e coletiva. Nestas oposições um único canto não será capaz de trazer a luz e anular a escuridão, torna-se necessário que o galo convoque todos os galos e que eles possam desta forma invocar a manhã, que pela alocação do artigo definido transforma-se em amanhã, numa clara projeção de futuro.

19 Poesia metalinguística: TECENDO AS MANHÃS
1) O poema começa com uma paráfrase do provérbio “uma andorinha sozinha não faz verão”. 2) “Tecer”, “abrir”, “começar”, “costurar”, “pintar”, “unir”, “fiar” e “entrelaçar”, são os verbos que dão o sentido de uma "tecimento" coletivo de muitos autores anônimos. 3) A metáfora mais saliente parece estar ligada a "tecer". Tecido por todos, ganha forma e constrói a tenda para todos, (para se abrigar do sol?). 4) Na 1ª estrofe a presença de “galo/galos” está presente em todos os versos, exceto nos versos 3, 6, 9 (múltiplos de 3? ), inclusive, produzindo as rimas finais colabora na construção de sentido de movimento, de construção do tecido, “um grito de galo” que vai passando de um a outro, tecendo a manhã (amanhã ?). 5) Metáfora: “ se cruzem / os fios de sol de seus gritos de galo”; " se erguendo tenda, onde entrem todos"; "se entretendendo para todos". 6) Neologismo: “entretendendo”. Tendo entre si/ entreter entendendo? 7) O poema é composto por 120 palavras, das quais 7 palavras são "galo(s)". Repete a palavra "todos" 4 vezes, "manhã" e "toldo" 2.

20 Poesia metalinguística: TECENDO AS MANHÃS
8) Aliteração: Há 484 caracteres no poema, dos quais 31 são a letra "t". Somente o verso 14 não possui "t": "(a manhã) que plana livre de armação" [o amanhã sem tramas?]. 9) Aliteração: Repete o letra "g" 12 vezes espontaneamente, no entanto, a repetição da letra "t" parece intencional. 10) A palavra "outros" é repetida 6 vezes na 1ª estrofe. A construção do "tecido" depende dos outros. 11) Metáfora: O galo é retratado como o trabalhador que constrói o futuro, a tenda protetora. 12) Ele não usa o "canto" do galo, mas o "grito" do galo. Grito evoca alerta, protesto (principalmente da vítima), greves e levantes. 13) Estaria o poeta sonhando com um futuro construído por todos, livremente, para todos, isento de "armações", intrigas. Um mundo verdadeiramente socialista?

21 Poesia metalinguística: TECENDO AS MANHÃS
Sempre guiado pela lógica, pelo raciocínio, seus poemas evitam análise e exposição do eu e volta-se para o universo dos objetos, das paisagens, dos fatos sociais, jamais apelando para o sentimentalismo. Por isso, o prazer estético que sua poesia pode provocar deriva, sobretudo de uma leitura racional, analítica, não do envolvimento emocional com o texto. Essas características levaram a crítica a ver na obra de João Cabral uma "ruptura com o lirismo" ou a considerar sua expressão poética como "antilírica". Não devemos, entretanto, supor que essa relação do poeta com o mundo concreto, objetivo, produza apenas textos descritivos. Na verdade, suas descrições ora acabam adquirindo valor simbólico, ora acabam denunciando a crítica social que o poeta pretende levar a efeito

22 Outras figuras evidentes:
"Um galo sozinho não tece a manhã " : (v.1) - Prosopopeia. " De um que apanhe esse grito que ele " (v.3) – Metáfora - Elipse. " que apanhe o grito que um galo antes "(v.5) – Metáfora – Elipse. " os fios de sol de seus gritos de galo " (v.8) – Eufemismo. (fios de sol= manifestos /protesto) " para que a manhã, desde uma tela tênue, "– Analepse (remeter a ação para o futuro). " se vá tecendo, entre todos os galos ". (v.9 e 10) – Prolepse (remeter a ação para o futuro). " E se encorpando em tela, entre todos, (v.11) " se erguendo tenda, onde entrem todos, " (v.12) " se entretendendo para todos, no toldo " (v.13) – Polissíndeto. "se entretendendo para todos, no toldo "(v.13) – Paronomásia – Neologismo. "(a manhã) que plana livre de armação. " (v.14) - Anáfora. " A manhã, toldo de um tecido tão aéreo "(v.15) - Anáfora – Metáfora. " que, tecido, se eleva por si: luz balão". (v.16) – Metáfora.

23 Poema de desintoxicação: METALINGUAGEM E POESIA IMAGÉTICA
Em densas noites com medo de tudo: de um anjo que é cego de um anjo que é mudo. Raízes de árvores Enlaçam-me os sonhos No ar sem aves vagando tristonhos. Eu penso o poema da face sonhada, metade de flor metade apagada. O poema inquieta o papel e a sala. Ante a face sonhada o vazio se cala. Ó face sonhada de um silêncio de lua, na noite da lâmpada pressinto a tua. Ó nascidas manhãs que uma fada vai rindo, sou o vulto longínquo de um homem dormindo.

24 Poema de desintoxicação: METALINGUAGEM E POESIA IMAGÉTICA
METALINGUAGEM: O primeiro da grande série de metapoemas é o POEMA DA DESINTOXICAÇÃO, em que a intimidade ou a convivência do poeta com sua poesia é sempre artesanal, de construção obsessiva com as palavras e as ideias, palavras de uma concretude absoluta. Parece pintar em vez de escrever. IMAGENS: A intimidade ou a convivência do poeta com sua poesia é sempre artesanal, de construção obsessiva com as palavras e as ideias, palavras de uma concretude absoluta. Parece pintar em vez de escrever.

25 No cemitério de Mondrian: Poesia referencial
“(...) para chegar ao pouco em que umas poucas coisas revelam-se, compactas, recortadas e todas, e chegar entre as poucas à coisa coisa e ao miolo dessa coisa, onde fica seu esqueleto ou caroço, que então tem de arear ao mais limpo, ao perfil asséptico e preciso do extremo de polir, ou senão despolir até o teto da estopa ou até o grão grosseiro de matéria de escolha” (...)”

26 Piet Mondrian Quadro II. 1921 Óleo sobre tela
Ruptura na concepção estética:  rejeição do convencionalismo académico da pintura figurativa e criação de novas linguagens artísticas;  autonomia da obra de arte em relação à realidade concreta;  libertação do artista no processo de criação;  recusa de qualquer noção de subjectividade ou de emotividade.

27 No cemitério de Mondrian: Poesia referencial
No longo e fluído poema NO CENTENÁRIO DE MONDRIAN, de ágeis versos – quase sempre heptassílabos (sete sílabas)– J.C. define de maneira mais clara a matéria de sua poesia, que é a mesma da pintura: cor, forma som... A temática de J.C. – como assinalada acima – é recursiva, volta sempre aos seus recursos de estilo, aos seus temas obsessivos – o canavial, o cemitério, a carnatura. Um dentre esses temas, sem dúvida, é Mondrian um pintor da depuração da imagem, reduzida a seus elementos mínimos, de pura forma e pura cor. Ele chega a poucas coisas, ao miolo da coisa, à coisa-coisa, compacta, revelada, plasmada na tela, no poema... Um figurativo geométrico, como J. C., materializa a linguagem e usa referências dessa plasticidade: Mondrian, Miguel Hernádez, Picasso...

28 Antiode: Poesia antidiscursiva
JC procura com esse traço combater à duas pressões: À primeira é o afastamento de uma poesia de imitação diluidora, mais chegada às abstrações de uma lírica da subjetividade do que ao concreto da realidade. Ele consegue isso privilegiando a sabedoria técnica do verso e o retorno programático a formas tradicionais do poema. À segunda ordem de pressões, foi combater a produção de poemas excessivamente folclóricos, tendendo ao exotismo regional e, às vezes, chegando mesmo à imitação grotesca de falares grosseiramente dialetalizados. JC cria poemas como Morte e vida Severina que são a um só tempo regionais e universais.

29 Antiode: Poesia antidiscursiva
A poesia de João Cabral será uma busca incessante de articulação entre um “lirismo racional” e a exploração do universal pelo regional. Como exemplo de “lirismo racional”, o leitor encontra a melhor resposta no poema "Antiode", uma espécie de declaração de princípios antipoéticos, incluído no livro Psicologia da Composição. "Antiode" buscava realizar uma limpeza nos despojos líricos tradicionais, precisamente ali onde mais se escondem os ardis da inconsciência poética, isto é, na unilateralidade entre poesia e imagem de um “eu que se revela”. JC programa o que será exposto, fala do mundo em vez de falar de si.

30 Num sentido limpeza, ainda que pareça irônico o uso da palavra na substituição que o poeta faz de flor por fezes, que permite, a partir do choque, nas últimas estrofes do poema, a superação da imagem pela linguagem: A Poesia, te escrevia: flor! conhecendo que és fezes. Fezes como qualquer, gerando cogumelos (raros, frágeis cogu- melos) no úmido calor de nossa boca. (...) D Poesia, não será esse o sentido em que ainda te escrevo: flor! (Te escrevo: flor! Não uma flor, nem aquela flor-virtude - em disfarçados urinóis.) Flor é a palavra flor, verso inscrito no verso, como as manhãs no tempo. (...)

31 A FÁBULA DE ANFION: Poesia antilírica
A mitologia diz que o desejo de Anfion era construir um muro para a cidade de Tebas e isso fora feito ao som da sua lira para que pudesse protegê-la, e que, também, ficara feliz por tal realização. Já no poema de João Cabral, a ação desse personagem assume outras particularidades. “Fábula de Anfion” expressa as concepções cabralinas acerca do fazer poético. Para o Engenheiro da palavra, o poema não precisa de excessos e, por isso, a sua poesia do “menos” tem sempre o aspecto de “subtração” (SECCHIN, 1999, p.52). Depurar a sua poesia é o que lhe denota o aspecto do “menos” e “aguça o combate contra o excesso” (SECCHIN, 1999, p.52). No primeiro segmento do poema, “O deserto”, Anfion chega a este e com ele se une, formando um único ser: “No deserto, entre a/ paisagem de seu/ vocabulário, Anfion”.

32 Fábula de Anfion: Poesia antilírica/ Secura, dureza, aspereza, vazio
1. O Deserto * (Ali, é um tempo claro como a fonte e na fábula. Ali, nada sobrou da noite Como ervas  Entre pedras Ali, é uma terra branca E ávida Como a cal Ali, não há como pôr vossa tristeza Como a um livro Na estante).

33 A FÁBULA DE ANFION: Poesia antilírica
Em síntese, este pernambucano nos apresenta Anfion que de acordo com a mitologia grega era dotado de talento a música e recebera de Apolo uma lira. Ao som desta lira, construiu a muralha de Tebas. Edificando pedra sobre pedra sem qualquer esforço. Assim, os motivos temáticos são associados por João Cabral: pedra/palavra; substituindo a lira por uma flauta rústica e interpretando o mito com a liberdade de criação. Nesta ‘Fábula’ percebemos que Anfion persegue o deserto, e este deserto é uma terra sedenta. Se a personagem grega busca o árido, então procura a sede. Transformando-se em amador da coisa amada. O deserto é a disciplina de Anfion, é a ordem severa de uma fome.

34 A FÁBULA DE ANFION: Poesia antilírica
O deserto e Anfion se registram e se representam pela analogia de um no outro, pois o deserto traz “no bojo/ as gordas estações” e Anfion “respira/ o deserto”. Anfion se confunde/une ao deserto no prisma de linguagem, mas também de corpo/sentidos: “como se preciso círculo/ estivesse riscando/ na areia, gesto puro/ de resíduos, respira/ o deserto, Anfion”. Além de deserto e Anfion se confundirem, no sentido de revelarem um único ser, a característica do “menos” vem a aparecer logo na primeira unidade do primeiro segmento, como expressa estes versos: “ao ar mineral isento/ mesmo da alada/ vegetação, no deserto/ que fogem as nuvens” . A segunda unidade do primeiro segmento elenca o deserto na perspectiva do tempo e do espaço. E nessa perspectiva, somente a claridade, a brancura se destacam, pois “nada sobrou da noite”. Além disso, não há lugar para “tristeza”, mas para luminosidade do tempo em um espaço radioso em que há o silêncio “puro do nada”. Além disso, as metáforas dos elementos orgânicos (aspecto de subtração) e elementos inorgânicos (aspecto de lirismo e de pureza poética) conotam tais características (SECCHIN, 1999)

35 A FÁBULA DE ANFION: Poesia antilírica
As duas últimas unidades do poema trazem a fala de um eu, Anfion, negação do espaço desencadeado pela flauta e o diálogo que ocorre perante o não e a pedra serão a expressão daquela fala, como bem se vê em tais versos: “Esta cidade, Tebas,/ não a quisera assim/ de tijolos plantada” . Além disso, na quarta estrofe, o que se percebe é o lamento de Anfion perante a obra: “Desejei longamente/ liso muro, e branco/ puro sol em si/ como qualquer laranja;/ leve laje sonhei (...)”. Ademais, as últimas estrofes do poema expressam a revolta de Anfion perante o instrumento musical, que é elencada a partir de indagações feitas por ele nas primeiras estrofes: “uma flauta: como/ dominá-la, cavalo/ solto, que é louco?/ como antecipar/ a árvore de som/ de tal semente?” . A última estrofe do poema confirma a negação de Cabra/Anfion daquilo que criou/construiu: o poema/muralhas de Tebas: “A flauta, eu a joguei/ aos peixes surdo -/ mudos do mar”. Ao se livrar do instrumento construtor, Anfion renuncia a Tebas e a região a qual lhe originou: o deserto. Com isso, a poética cabralina se revela pela negação de qualquer excesso inspirador.

36 A FÁBULA DE ANFION: Poesia antilírica
É no “deserto” que Anfion encontra “a lição do vazio”, ou seja, há o aspecto do “menos”, e, com isso, na terceira unidade do texto o que se perceberá é a utilização de imagem/elemento que proporcionará a mudança do deserto. Transformação essa que vai de encontro ao pensamento de Cabral/Anfion acerca do fazer poético/muralhas: “Ao sol do deserto e/ no silêncio atingido/ como a uma amêndoa,/ sua flauta seca:/ sem a terra doce/ de água e de sono;/ sem os grãos do amor/ trazidos na brisa,/ sua flauta seca” A flauta seca indica o estéril, o vazio como pressupostos de um sol que “não intumesce a vida/ como a um pão” nem “choca os velhos/ ovos do mistério”. A esterilidade da flauta, a sua secura, faz Anfion pensar ter encontrado o silêncio tão desejado, o silêncio “mudo cimento” como indicam as últimas estrofes do primeiro segmento: “sua mudez está assegurada/ se a flauta seca:/ será de mudo cimento,/ não será de um búzio/ a concha que é o resto/ de dia de seu dia (...)” .

37 Paisagem do Capibaribe: Poesia referencial e O social sem o panfletário
Em A Poesia do Capibaribe (Cão sem Plumas- 1950), faz da imagem um jogo de planos, cujos jogos e planos aprofundam uma lucidez na poesia em que seu verso encarregará a fala de ser o suporte da realidade social e concreta. O autor nela se entrega, com a maior exatidão interpretativa, a uma verdadeira e atenta humildade diante da cena. Paisagem do Capibaribe O rio ora lembrava a língua mansa de um cão, ora o ventre triste de um cão ora um outro rio de aquoso pano sujo dos olhos de um cão.

38 Paisagem do Capibaribe: Poesia referencial e O social sem o panfletário
As antíteses do Capibaribe aludem as situações concretas de limitação irracional do homem. O protesto/ descrição e revela a radicalidade da dialética do homem é redefinida em seu convívio com o rio. A critica social não é meramente deduzida, como um único significado positivo do ser homem, é seu conteúdo negativo, isto é, a sua obra de destruição, pretensão da criatura em apresenta-se como ser. O trabalho do Capibaribe e a sua união com outros rios em preparar a luta, podem ser vistos como uma tradução dos esforços solidários; e também como progresso da ascese (reflexão espiritual) do deserto o qual reflete na contínua destilação através da qual os cursos d’água, nos mangues, enfrentam o mar e lhe impõem como desafio o fruto das ilhas. Na poesia e posteriormente na imagem o rio-cão é, imediatamente, investido de status da trilogia imagística: restos, bala, copos enterrados.

39 Paisagem do Capibaribe: Poesia referencial e O social sem o panfletário
Há em João Cabral uma recusa do lirismo sobre acontecimentos políticos ou comentários, recusa também a seus poemas sociais todo caráter de circunstância. Se nada ocorre a crítica social na poesia e na imagem, não tem como dar a vez às forças do conflito; há uma denúncia de situações através de figuras, porém existem controvérsias. Há uma estratégia de mostrar o desequilíbrio, não celebrar os que combatem ou, mesmo ainda, apostrofar os seus beneficiários.

40 João Cabral de Melo Neto consegue ainda seguir os estilos dos cantadores populares nordestinos. O Rio narra as suas próprias experiências históricas e sociais em tom de prosa popular. O Rio ao partir companhia desta gente dos alagados que lhe posso deixar, que conselhos, que recados? —somente a relação do nosso comum retirar só esta relação tecida em grosso tear./.../

41 Morte e vida Severina: O social sem o panfletário
Como há muitos Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar Severino de Maria. Como há muitos Severinos com mães chamadas Maria, fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias. Mas isso ainda diz pouco: há muitos na freguesia, por causa de um coronel que se chamou Zacarias e que foi o mais antigo senhor desta sesmaria. Como então dizer quem falo ora a Vossas Senhorias? Vejamos: é o Severino da Maria do Zacarias, lá da Serra da Costela, limites da Paraíba. O meu nome é Severino, Mas isso ainda diz pouco: se ao menos mais cinco havia com nome de Severino filhos de tantas Marias mulheres de outros tantos já finados,Zacarias, vivendo na mesma serra magra e ossuda em que eu vivia Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte severina: que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia (de fraqueza e de doença é que a morte severina ataca em qualquer idade, e até gente não nascida).

42 Morte e vida Severina: O social sem o panfletário / Secura, dureza, aspereza, vazio
Morte e Vida Severina, o texto mais popular de João Cabral de Melo Neto, é um auto de natal do folclore pernambucano e, também, da tradição ibérica. Foi escrito entre Naquela ocasião, Maria Clara Machado, que dirigia o teatro Tablado, no Rio, pedira que João Cabral escrevesse algo sobre retirantes. O poeta escreveu, então, um grupo de poemas dramáticos, para "serem lidos em voz alta" e os dedicou a Rubem Braga e Fernando Sabino, "que tiveram a ideia deste repertório".

43 Morte e vida Severina: O social sem o panfletário
É por esse motivo que, no poema, João Cabral usa preferencialmente o verso heptassilábico, a chamada "medida velha", ou redondilha maior, verso sonoroso e facilmente obtido. Morte e Vida Severina estruturalmente está dividida em 18 partes; no entanto, outra divisão muito nítida pode ser feita quanto à temática: da parte 1 a 9, compreende-se o périplo(relato de viagem) de Severino até o Recife, seguindo sempre o rio Capibaribe, ou o "fio da vida" que ele se dispõe a seguir, mesmo quando o rio lhe falta e dele só encontra a leve marca no chão crestado pelo sol. Da parte 10 a 18, o retirante está no Recife ou em seus arredores e sofridamente sabe que para ele não há nenhuma saída, a não ser aquela que presenciou no percurso: a morte.

44 Morte e vida Severina: O social sem o panfletário
Sua linha narrativa segue dois movimentos que aparecem no título: "morte" e "vida". No primeiro, temos o trajeto de Severino para Recife, em face da opressão econômico-social, Severino tem a força coletiva de uma personagem típica: representa o retirante nordestino. No segundo movimento, o da "vida", o autor não coloca a euforia da ressurreição da vida dos autos tradicionais, ao contrário, o otimismo que aí ocorre é de confiança no homem, em sua capacidade de resolver os problemas sociais. O auto de natal Morte e Vida Severina possui estrutura dramática: é uma peça de teatro. Severino, personagem, se transforma em adjetivo, referindo-se à vida severina, à condição severa, à miséria. O retirante vem do sertão para o litoral, seguindo a trilha do rio Capibaribe. Quando atinge o Recife, depois de encontrar muitas mortes pelo caminho, desengana-se com o sonho da cidade grande e do mar. Resolve então "saltar fora da ponte e da vida", atirando-se no Capibaribe. Enquanto se prepara para morrer e conversa com seu José e uma mulher anuncia que o filho deste "saltou para dentro da vida" (nasceu). Severino assiste ao auto de natal (encenação comemorativa do nascimento). Seu José, mestre carpina(carpinteiro), tenta demover Severino da resolução de "saltar fora da ponte e da vida".

45 Uma Faca só Lâmina: Texto conceitual
Assim como uma bala enterrada no corpo, fazendo mais espesso um dos lados do morto; assim como uma bala do chumbo mais pesado, no músculo de um homem pesando-o mais de um lado; qual bala que tivesse um vivo mecanismo, bala que possuísse um coração ativo igual ao de um relógio submerso em algum corpo, ao de um relógio vivo e também revoltoso, relógio que tivesse o gume de uma faca e toda a impiedade de lâmina azulada; assim como uma faca que sem bolso ou bainha se transformasse em parte de vossa anatomia; qual uma faca íntima ou faca de uso interno, habitando num corpo como o próprio esqueleto de um homem que o tivesse, e sempre, doloroso de homem que se ferisse contra seus próprios ossos.

46 Uma Faca só Lâmina: Texto conceitual
O poema se compõe de dez seções ou partes, sendo que a primeira não recebe nenhuma designação e as demais levam por título letras de A até I. A seção I tem extensão um pouco maior que as demais, sendo mesmo subdividida em duas por intermédio de um * (asterisco).   As estrofes são quadras de seis sílabas em média, com uma rima toante entre os versos segundo e quarto de cada quadra. Chama-nos logo a atenção a figura da símile, da constante tentativa de comparação, onde o primeiro termo parece oculto, encoberto, ausente: "Assim como uma bala/ (...)/igual a um relógio/(...)/assim como uma faca"(estrofes I-VI).

47 Uma Faca só Lâmina: Texto conceitual
Os três elementos: bala, relógio e faca são o segundo termo da comparação, e entre eles logo instaura-se uma hierarquia: "Por isso é que o melhor dos símbolos usados é a lâmina cruel (melhor se de Pasmado):“ Os elementos faca, bala, relógio vão se alternando numa tentativa constante de definição de alguma coisa que não sabemos bem o que é, uma vez que o poeta esconde de nós essa coisa que persegue a partir do conceito dos três elementos: a faca, a bala e o relógio. O poema parece mesmo uma meditação apreensiva e tensa sobre a relação do homem com a realidade através da linguagem. Essa insistência na definição, essa meditação já se fazem sentir no subtítulo do poema: "serventia das ideias fixas".

48 Uma Faca só Lâmina: Texto conceitual
Uma faca que seja só lâmina, se bem utilizada, e há muitos riscos de corte ao segurar tal engenho, é um instrumento para cirurgias na tensa relação entre linguagem e realidade. "De volta dessa faca, amiga ou inimiga, que mais condensa o homem quanto mais o mastiga; (...) e daí à lembrança que vestiu tais imagens e é muito mais intensa do que pode a linguagem," (Seção I, est.XI e XIV)


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