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O Adolescente na Contemporaneidade. Rosa M. C

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Apresentação em tema: "O Adolescente na Contemporaneidade. Rosa M. C"— Transcrição da apresentação:

1 O Adolescente na Contemporaneidade. Rosa M. C
O Adolescente na Contemporaneidade Rosa M. C. Reis Membro Efetivo e Docente da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro Membro Diretor da Associação Brasileira de Psicanálise “...esta é uma fase que precisa ser efetivamente vivida, e é essencialmente uma fase de descoberta pessoal. Cada indivíduo vê-se  engajado  numa experiência viva, num problema do existir.” Winnicott (1961)

2 O sujeito humano nasce não integrado, sem noção de si como uma pessoa
O sujeito humano nasce não integrado, sem  noção de si como uma pessoa. Winnicott acredita que trazemos dentro de nós a capacidade para integração e que o meio ambiente é fundamental, pois ele pode proporcionar um acolhimento que facilite  o desenvolvimento ou crie obstáculos para o florescer do sujeito. Crescer física e psiquicamente, de forma madura e integrada, leva o sujeito a viver de forma criativa e valiosa podendo contribuir positivamente para a sociedade. Nascemos não diferenciados, descobrimos o outro, o mundo externo, amadurecemos sofrendo perdas, angústias e crescemos. No início, somos completamente dependentes, passamos para uma dependência relativa para finalmente caminharmos rumo à independência. Cada etapa vivida, desde que nascemos, é importante e serve de base para a etapa posterior. A adolescência é, sem dúvida, uma das fases mais delicadas. Entre os dois e três anos tivemos o primeiro momento de individuação, agora passamos por um segundo momento de individuação quando o adolescente precisa se adaptar a uma nova realidade, novas exigências, nova identidade, afrouxando os vinculos familiares para investir em novas relações de objeto. Estas várias exigências o tornam  vulnerável. Para angústia dos pais, o filho fica alternando entre o desejo de ser adulto, ao mesmo tempo em que vive um medo muito grande de crescer e assumir o lugar que, até então, pertencia aos seus pais. Saber quem sou é uma questão bastante difícil e nem sempre respondida, já que só podemos ter esta resposta quando passamos por um longo processo de autodescoberta que nos leva ao sentimento de existir como alguém real e verdadeiro. Esta experiência se intensifica em razão do adolescente estar em busca de uma identidade e seu corpo, sua aparência e suas questões estão em completa mudança. Paralelamente, a sociedade e os pais  que querem definições, (carreira que vai seguir, o que pretende na vida) levando muitos adolescentes a, apressadamente, tomarem decisões falsas para acalmar  a própria angústia e a ansiedade dos pais. Nesta etapa, os pais, também, se sentem colocados à prova – “o que meu filho vai ser?”.

3 Este momento é carregado de sentimento de futilidade, depressão e angústia. A luta pela identidade pessoal pode ser vivida mais dramaticamente conforme a dinâmica de cada família. Algumas, precisam que o adolescente cresça logo, exigindo respostas que ele ainda não tem, são famílias que não conseguem lidar com a luta que o adolescente trava contra os padrões já pré-determinados: "Eu sei o que é bom para você.“ Os filhos ficam rebeldes, desafiantes e dependentes enquanto que nos pais podemos perceber predominantemente os sentimentos de ciúmes e inveja. Pais que não tiveram um bom acolhimento e sofreram grandes pressões na adolescência invejam os filhos, que na sua visão, vivem uma adolescência feliz.  Os dois lados apresentam um grau de confusão já que, tanto para os filhos como para os pais, esta fase é de perda e transição. Ora os filhos agem como crianças, ora agem como adultos; assim também os pais, ora os tratam como bebês e ora exigem uma  maturidade que eles ainda não alcançaram. Aqui é preciso lidar com uma independência rebelde ao mesmo tempo em que o adolescente vive uma dependência regressiva. A forma que cada pai  viveu e elaborou sua adolescência vai entrar em cena  aqui. Winnicott (1963), em Comunicação levando ao estudo de certos opostos, fala do adolescente como um isolado. "Esta preservação do isolamento pessoal é parte da procura da identidade, e para o estabelecimento de uma técnica pessoal de  comunicação  que não leva à violação do self central." Ele ressalta que há um momento em que o adolescente ainda não está pronto para ser adulto, as defesas são incrementadas contra o fato de ser descoberto, ser "descoberto antes de estar lá para ser encontrado ". E acrescenta que  “O que é verdadeiramente real e que é sentido como real, deve ser defendido a todo custo”. O isolamento, muitas vezes, é utilizado pelo adolescente como momento de reflexão e elaboração da adolescência.

4 Este isolamento necessário, com freqüência, não é entendido pelos pais, preocupados com os caminhos que o filho está  tomando ou  movidos por um sentimento de rejeição, por se sentirem afastados da vida do filho, não admitem que o filho tenha segredos e vasculham sua vida e suas anotações. O próprio adolescente, ambivalentemente, acaba deixando rastro (baseado, pílulas). Winnicott entende que a criança que escreve um diário está estabelecendo um eu privado que não se comunica e, ao mesmo tempo, quer se comunicar e ser encontrado. Ele diz que é um sofisticado jogo de esconder em que é uma alegria estar escondido , mas um desastre não ser achado. Esse elemento não comunicável é sagrado e merece ser respeitado. Winnicott considera que violar o núcleo do self é um pecado contra o self. Ele relacionava esta necessidade de se sentir real  como provocadora de alguns atos anti-sociais do adolescente, então, dizia que: “Há apenas uma cura para a imaturidade, e esta é a passagem do tempo”. É comum, os adolescentes andarem em bando para se defenderem do medo de enfrentar o mundo , uma defesa paranóide contra um possível ataque. Na verdade, ainda não fazem parte de um grupo, ainda são indivíduos isolados. Percebermos que com o amadurecimento e dependendo dos agrupamentos que fazem, alguns se transformam em um grupo e vão se acompanhar por um longo período da vida. Claras mudanças ocorreram nas famílias e na sociedade nos dias atuais: as famílias ficaram reduzidas, de modo geral o casal tem apenas um filho. Eles vão à escola, têm algumas atividades extracurriculares e, durante boa parte do tempo ficam sozinhos, sendo monitorados através do telefone  pelos pais e, às vezes, pelas avós. A oportunidade para a troca afetiva, o confronto e a competição com o irmão lhe foi retirada, sendo um obstáculo real  para trocas afetivas e sociais.  Outra questão são as novas configurações familiares. No mundo atual onde o narcisismo é cultuado, o adolescente de hoje mais do que nunca é um isolado.

5 Um paciente me dizia que avó e a mãe ligavam constantemente durante toda à tarde para saber se ele estava estudando. Sua queixa é nunca procuravam saber como ele estava. Me dizia: "estou tendo que mentir. É impossível estudar o tempo todo, minto para elas me deixarem em paz, depois me sinto culpado" . Tinham que mantê-lo ocupado, mas longe da tv, do telefone e do computador (interessante que na casa com dois moradores havia dois computadores). A solidão é uma marca no mundo atual quer da criança como do adolescente, os aparelhos são as babás eletrônicas , preenchem a solidão destas crianças cujos pais estão em busca de sustento, de manter um status ou em busca de escalar degraus sociais mais altos, assim como estão em busca de prazer. Através dos jogos e computadores as trocas passam a ser virtuais dificultando a necessidade de troca física com o outro. A tv, indiscriminadamente, coloca a criança em contato com temas para o qual ela ainda não está preparada: sexo, violência, drogas. Estes temas expõem a criança a angústias e total falta de limite. Percebemos que os estímulos hoje são para que a adolescência comece mais cedo . As crianças são levadas a aprenderem várias atividades, sendo lançadas precocemente no mundo competitivo  se preocupando com o futuro deixando de lado as brincadeiras e jogos infantis. Neste contexto, se estimula a rivalidade, a competição , a eficiência ao invés das relações sociais afetivas entre as crianças. Pior ainda, quando são estimuladas a serem hostis com o companheiro que  poderá tomar seu emprego, sua vaga na faculdade. Hoje, as escolas têm "turmas especiais" preocupadas não com o aluno, mas com a percentagem de aprovação das escolas no vestibular. Ao mesmo tempo em que são  estimulados  a começarem mais cedo a adolescência, também, são estimulados a permanecerem mais tempo perto dos pais, seja pela escolaridade que se alongou, seja pela falta de emprego ou solidão  dos pais que narcísicamente  investem no filho para si, querendo mantê-los junto para tamponar seu vazio. Outros pais, numa atitude que parece mais liberal estimulam a independência quando, na verdade,  querem estar livres dos filhos para “viver a vida”.

6 Outra mudança que influencia as relações familiares é a maneira de lidar com o envelhecimento que afetou radicalmente alguns valores (tio Sukita). Os adultos vivem mais tempo, não abriram mão de viver e continuam em busca de prazer. Se para esta geração é uma conquista importante,  por outro lado a figura dos avós disponíveis para curtir os netos está se tornando mais rara, em função da desvalorização da família e do narcisismo que nos leva a fazer escolhas que visem apenas o próprio bem estar,  deixando de investir, paralelamente,  no bem estar coletivo. Na contemporaneidade, o sujeito torna-se avassalado pelas ofertas dos bens de consumo , pela imagem que determina o que se é, a substituição do ter pelo ser, onde ter algo significa ser alguém. Esta oferta constante  mostra que tudo é possível, mas nada dá conta, a falta não se preenche: o prazer de duração efêmera, as múltiplas informações. Possibilidades e escolhas baseadas em valores frágeis e efêmeros, contrapondo ao ideal contemporâneo de ser completo. A cultura da tatuagem vem ao encontro de um desejo de se singularizar. Tatuagem como uma busca de individualidade, marcando uma diferença e como marca de acontecimentos que não deveriam ser esquecidos. Ao mesmo tempo que se marca o corpo com as tatuagens, paradoxalmente, se procura apagar, através das cirurgias, as marcas naturais do tempo. O aumento da violência social dos dias atuais leva o sujeito a um sentimento de insegurança e se estende aos lares com o afrouxamento dos laços afetivos, o enfraquecimento da figura parental, a dificuldade de se colocar limites adequados e a perda de nitidez dos papéis (quem é a criança, adulto, homem, mulher). Diante de tanta insegurança no social as famílias ficam mais permissivas, desejando que os filhos arranjem parceiros para que fiquem em casa, deixando de lado as baladas que hoje não é só um lugar para dançar, mas também para mostrar que são fortes através da violência  que, reativamente, esconde o próprio medo e a fragilidade.

7 É fundamental que o adolescente possa contar com a família como um refúgio seguro após explorar o mundo  fora da família. Ter um lugar para  retornar, se sentir seguro, e se reabastecer, certificando-se de que não houve uma perda, nem ruptura real com os pais, que ele ainda pode contar com eles, embora, agora, de uma forma diferente. Os pais precisam de maturidade e flexibilidade para aceitar este retorno, após terem se sentido desprezados, e, em alguns momentos desvalorizados pelo adolescente. O adolescente precisa  viver estes momentos de oscilação entre se afastar e voltar a se aproximar dos pais. As famílias que não tem esta plasticidade, não conseguem se adaptar às mudanças na família e  na forma de se relacionar com os filhos, acabam vivendo conflitos intensos com grande sofrimento para todos os seus membros, especialmente nesta etapa da vida. Paralelo às mudanças e a crise do adolescente os pais também podem estar enfrentando a crise de meia- idade. Percebem-se mais velhos e vêem os filhos jovens, bonitos, com uma saúde invejável e com a vida inteira pela frente. Têem a sensação que receberam menos do que eles quando jovem , já que a vida deles na adolescência não foi tão livre nem tão feliz. Além disso, o filho ainda tem todas as possibilidades pela frente, e eles já percorreram a metade do caminho e estão no momento de auto avaliação. Muitas vezes, concluem que se afastaram de seus projetos e realizações sentindo-se frustrados, culpando à família por não terem se realizado. Outros pais, estão num momento de realização e crescimento, porém constatam que o corpo já não é o mesmo percebendo a aproximação da velhice. Aparecem sentimentos ambivalentes em relação aos filhos, pois ao mesmo tempo em que sentem orgulho e admiração, também, invejam sua beleza e juventude, além sentirem ciúmes de seus novos relacionamentos. Muitos pais são maduros o suficiente para dar conta desta pluralidade de sentimentos e conseguem elaborar estes conflitos. O despertar da sexualidade dos filhos, algo natural e desejável, é outro desafio a ser enfrentado. Alguns pais acham que devem estimular seus filhos num culto à sexualidade ou com o desejo de, assim, se aproximarem dos filhos, enquanto outros tentam criar barreiras para impedir ou atrasar o interesse sexual . Uma situação comum, ainda hoje, é o pai se

8 incomodar ao perceber que sua filha já desperta desejo nos homens e , tenta, reativamente, apagar sua sensualidade controlando sua maneira de vestir e se maquiar. Atualmente, os adultos estão bastante ativos, longe da sensação que seu tempo já passou como na geração de seus pais. Estão atrás do rejuvenescimento, de viver , acreditando que a vida começa aos 40. Alguns recomeçando uma nova família ou tendo seu primeiro filho, já que as mulheres passaram a adiar a maternidade priorizando a realização profissional. Outro aspecto interessante,se compararmos com as gerações anteriores, é que pais e filhos desta nova geração compartilham ídolos atuais e os da geração de seus pais possibilitando uma aproximação de valores, linguagem, interesse. Na classe média e alta os filhos adiam  sua saída de casa, por não quererem baixar seu padrão de vida. Ao contrário da geração de seus pais cujo grande o sonho era sair da casa dos pais. A própria moda não faz tão grande diferença entre as faixas etárias, inclusive estimulados pelos próprios filhos. Essa aproximação é bastante saudável desde que possa haver uma diferenciação entre as gerações. Essa geração de pais passaram sua juventude em busca de quebra de valores, lutando pela liberdade sexual e de expressão, contestaram o mundo adulto e por isso, hoje, alguns ficam constrangidos em assumir a função de autoridade. Confusos, acabam se associando discreta ou declaradamente às transgressões que os adolescentes fazem da lei, regras e valores. Oferecem carro e dinheiro mascarando uma autonomia que o filho não tem, se confundem achando que não devem dar limites para ajudar o filho a amadurecer. Alguns pais tentam se manter jovens e inadequadamente agem como se ainda fossem adolescentes, fugindo de suas obrigações. Um filho mostrava-se preocupado porque “minha mãe sai com caras que ela conhece na Internet.” A sociedade precisa que os pais não abram mão de sua condição de adultos e assumam seu  papel de pais educando seus filhos, para isto não é preciso que se afastem de seus filhos ou deixem de ter pontos de interesse em comum, assim como a sociedade, também, necessita da contribuição dos jovens para modificar o mundo.  

9 Membro Efetivo e Docente da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro
Ruggero Levy ( 2001) diz: "O processo adolescente tem uma dupla importância: é , por um lado, um momento de ciclo vital  que permite ao indivíduo amadurecer, revisar e reelaborar situações de sua infância e preparar -se para a vida adulta; e, por outro , um elemento renovador do processo cultural."    A adolescência não é um problema, é um processo de descoberta que ao final fará surgir um adulto  que poderá contribuir na sociedade. Percebemos na clínica que o adolescente é levado aos consultórios, muitas vezes,  pela falta de um ambiente que consiga dar suporte para esta etapa delicada de amadurecimento. Winnicott em Transpondo as zonas de calmaria - em seu livro  A Família e o Desenvolvimento Individual - diz :  "A cura da adolescência vem com o passar do tempo e do gradual desenrolar dos processos de amadurecimento; estes de fato conduzem , ao final, ao aparecimento da pessoa adulta.  Os processos não podem ser acelerados nem atrasados, mas podem ser  invadidos e destruídos; e podem definhar internamente, no caso do distúrbio psiquiátrico". Rosa M. C. Reis Membro Efetivo e Docente da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro

10 Bibliografia Eizirick, Claudio L. e Cols. O Ciclo da Vida Humana: uma perspectiva psicodinâmica. Porto Alegre: Artmed, 2001. Mahler, M. O processo de Separação e Individuação. Porto Alegre: Artes Médicas,1982. Winnicott, D. W. O Ambiente e os Processos de Maturação. Porto Alegre: Artes Médicas, ___A família e o Desenvolvimento Individual. São Paulo: Martins Fontes, 2001.


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