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Introdução ao Bem-Estar Animal

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Apresentação em tema: "Introdução ao Bem-Estar Animal"— Transcrição da apresentação:

1 Introdução ao Bem-Estar Animal
Essa aula foi originalmente desenvolvida para a WSPA pelo Dr. David Main (Universidade de Bristol) em Foi então revisada pelo painel científico da WSPA em 2012, utilizando as atualizações fornecidas pela Dra. Caroline Hewson. Essa aula foi originalmente desenvolvida para a WSPA pelo Dr. David Main (Universidade de Bristol) em Foi então revisada pelo painel científico da WSPA em 2012, utilizando as atualizações fornecidas pela Dra. Caroline Hewson.

2 Esse módulo permitirá você a compreender
Quais animais nos preocupam e por quê Senciência Sofrimento Antropomorfismo Morte e bem-estar animal Por que o bem-estar animal é complexo Diferentes definições científicas de bem-estar animal Por que a ciência do bem-estar animal envolve mais do que a medicina veterinária O papel da ciência, da ética e da legislação Este módulo abrange: Quais são os animais que nos preocupamos e por que (revisando o que é senciência, sofrimento, antropomorfismo, e a relação da morte e o bem-estar animal Por que o bem-estar animal é complexo (considerando-se as diferentes definições científicas do bem-estar animal; por que a ciência bem-estar animal envolve mais do que a medicina veterinária, os papéis da ciência, da ética e da lei).

3 Base Há milhares de anos, pessoas ao redor do mundo preocupam-se com o sofrimento animal. Isso seria somente antropomorfismo, ou seja, a atribuição de características humanas aos animais? Não, nós e muitas outras espécies somos sencientes. O estudo científico formal do bem-estar animal teve início aproximadamente há 50 anos, e a matéria é tratada como ciência do bem-estar animal. Entretanto, o questionamento sobre o sofrimento animal e suas consequências preocupa pessoas em todo o mundo há milhares de anos. Uma crítica comum a essa preocupação tem sido a crença de que os animais não têm sentimentos como os seres humanos, e as pessoas que se preocupam com os animais podem estar simplesmente atribuindo sentimentos humanos a eles. Essa atribuição de sentimentos humanos aos animais é conhecida como antropomorfismo. Entretanto, a ciência moderna sugere que compartilhamos muitos sentimentos com os animais até um certo grau. Esse achado científico apoia a intuição que muitas pessoas ao redor do mundo têm, de que os animais apresentam sentimentos similares aos nossos, e, portanto, mostram sinais de medo, dor, prazer e outras emoções. A capacidade dos seres humanos e outros animais de experimentar sentimentos agradáveis e desagradáveis é chamada “senciência”. O próximo slide examina essa definição.

4 Definições (1) Senciência Animais sencientes
“Um ser senciente possui algumas habilidades: de avaliar as ações dos outros em relação a si mesmo ou a terceiros, de lembrar-se de suas próprias ações e suas consequências, de avaliar riscos, de ter alguns sentimentos e algum grau de consciência.” (Broom, 2006) “ou seja, sentimentos que importam ao indivíduo” (Webster, 2011) “consciência dos sentimentos” (Mendl & Paul, 2004), ou seja, ‘isso é doloroso/prazeroso’ não é o mesmo que autoconsciência – ‘Eu sinto dor/prazer’ Animais sencientes Provavelmente todos os vertebrados, alguns invertebrados, como lulas e polvos, e possivelmente alguns crustáceos são sencientes (Mellor et al., 2009) A senciência é mais do que ter sensações. “Um ser senciente possui a habilidade de avaliar a ação dos outros em relação a si mesmo e a terceiros, de se lembrar de suas próprias ações e suas consequências, de avaliar riscos, de ter alguns sentimentos e algum grau de consciência” (Broom, 2006). Esses sentimentos importam para o indivíduo (Webster, 2011), e seu organismo está consciente ao sentir algo agradável ou desagradável. O conhecimento de que muitas espécies animais são sencientes significa que sabemos que podem sofrer. Existe uma clara evidência científica que prova que todos os vertebrados e alguns invertebrados são sencientes. A pesquisa sobre invertebrados avança constantemente e estamos descobrindo novas capacidades de diversas espécies de invertebrados diariamente. Nosso entendimento da senciência ainda está se desenvolvendo, muitas espécies que acreditamos atualmente que não são sencientes, podem ser, na verdade, sencientes, e, portanto, capazes de sofrer. Por exemplo, existem evidências preliminares de que camarões podem ser sencientes.

5 Senciência - continuação
Senciência é a capacidade de experimentar sofrimento e prazer Implica em um nível de consciência Senciência animal significa que os animais podem sentir dor e sofrer, assim como vivenciar emoções positivas Estudos mostram que muitos animais vivenciam emoções complexas, como o luto e a empatia (Douglas-Hamilton et al., 2006; Langford et al., 2006) A senciência animal é baseada em décadas de evidências científicas obtidas na neurociência, na ciência comportamental e na etologia cognitiva A senciência é a capacidade de ter sentimentos e experimentar sofrimento e prazer. Implica em um nível de consciência. A senciência animal significa que os animais podem sentir dor e sofrer, mas também vivenciam experiências positivas, como felicidade e prazer. Legislações ao redor do mundo reconhecem a senciência animal (como, por exemplo, o Tratado de Lisboa). Estudos mostram que muitos animais podem experimentar emoções complexas que eram antes consideradas únicas dos seres humanos, como o luto e a empatia. A aceitação da senciência animal é baseada em décadas de evidências científicas nos campos da neurociência, da ciência do comportamento e da etologia cognitiva.

6 Definições (2) Sofrimento
“Um ou mais sentimentos ruins prevalecendo por mais do que um curto período.” (Broom & Fraser, 2007) Para sofrer, um animal deve ser senciente Saber que muitas espécies animais são sencientes significa que sabemos que podem sofrer. Saber que uma espécie pode sofrer ajuda-nos a levantar questões éticas e científicas sobre como cuidar dos animais de forma a prevenir “um ou mais sentimentos ruins por mais de um curto período de tempo” (Broom & Fraser, 2007). Há crescentes evidências em estudos comportamentais e neurobiológicos de que os animais também podem receber estímulos prazerosos que produzem emoções positivas, como satisfação. Isso fornece informações sobre como cuidar dos animais. Por ainda não termos muito conhecimento sobre as emoções positivas, a maior parte da ciência do bem-estar animal e do trabalho dos veterinários foca na prevenção do sofrimento. Porém, é provável que durante a vida profissional, existam práticas desenvolvidas sobre como promover experiências positivas aos animais, e não apenas evitar seu sofrimento. Experiências positivas são o que faz a vida do animal valer a pena. Uma experiência positiva pode ser, por exemplo, no treinamento de um animal de trabalho, depois da execução de algo que não está acostumado a fazer, coordenar o pedido a uma recompensa, dessa forma o animal associará a tarefa a uma recompensa positiva.

7 Antropomorfismo O antropomorfismo é geralmente criticado
Utilizar uma “base humana” para a avaliação pode ser um primeiro passo útil (Webster, 2011) Por exemplo, cirurgia e dor (Viñuela-Fernandez et al., 2007) Abordagens antropomórficas devem ser condicionadas a evidências e informações científicas para atender às necessidades individuais O antropomorfismo é geralmente visto como uma coisa ruim pelos cientistas. Entretanto, alguns reconhecem que podemos utilizar as necessidades humanas como um ponto de partida para avaliar o que os animais podem precisar para ter uma vida boa, ou, pelo menos, para evitar seu sofrimento. Isso é chamado de ‘antropomorfismo crítico’. Um exemplo é a dor: como seres humanos, achamos as cirurgias bastante dolorosas, especialmente sem a utilização de anestesia ou analgesia. É razoável esperar que o mesmo ocorra com os animais. Viñuela-Fernandez et al. (2007) estudaram as respostas anatômicas de animais de produção e de companhia a drogas como a morfina, provando que esses animais sentem dor. Entretanto, é essencial não aplicarmos somente o antropomorfismo sem outros conhecimentos científicos. Por exemplo, muitos gatos não são amistosos com os seres humanos e aparentam não apreciar a interação com seus donos, e isso se deve a sua genética e experiências iniciais (McCune, 1995). Para muitas pessoas, a presença de companhia é benéfica, dessa forma, assumem que se obterem um gato, o gato gostará da companhia de seu dono e do contato próximo, de carinho. Porém, para muitos gatos essa proximidade é desagradável, e esses gatos tendem a ser independentes, a não dormirem no colo, etc. Nesse caso, a suposição inicial de que o gato gostará de contato está incorreta.

8 Com quais animais sencientes os veterinários estão preocupados?
Espécies que mantemos: domésticos e selvagens em cativeiro (Fraser & MacRae, 2011) criação animal utilização para pesquisa, produção, companhia; maus-tratos transporte, comércio, mercados abate, eutanásia (considerar também a morte de animais selvagens – controle de pragas, caça) Como veterinários, nos preocupamos primeiramente com o bem-estar dos animais domésticos e selvagens que os seres humanos mantêm como companhia, para alimentação, pesquisa ou entretenimento. As preocupações incluem: Como esses animais são tratados (incluindo quando há negligência ou crueldade). Para que são utilizados, por exemplo, vacas leiteiras, ovelhas lanadas, animais para pesquisa, esporte (como rodeio, adestramento) e entretenimento (como circos, rinhas). Como são manejados e abrigados durante o transporte e o comércio. Como são abatidos, de forma a evitar o sofrimento durante o pré-abate e o abate (como abate de animais de produção, eutanásia por doença ou sacrifício para controle populacional). A lógica da senciência significa que devemos nos preocupar quando animais selvagens são mortos porque são considerados pragas, para alimentação (como peixes marinhos) ou por esporte, para que esses processos de abate também sejam humanitários. Os veterinários não são normalmente envolvidos no cuidado dessas espécies e não supervisionam seu abate. Entretanto, por a profissão ser dedicada ao cuidado animal, a consciência sobre esse assunto é importante, outras aulas desse curso resumem a problemática. (Adaptado de Fraser & MacRae, 2011.)

9 Bem-estar e morte Bem-estar Morte
O bem-estar envolve a qualidade de vida do animal, não quão longa é a sua vida (quantidade) Quando um animal está morto, não vivencia mais nenhuma situação e seu bem-estar não é mais uma preocupação Morte Como um animal morre é uma preocupação em relação ao seu bem-estar Altas taxas de mortalidade são indícios de baixo grau de bem-estar Muitos discordam sobre se é correto os seres humanos matarem animais. Entretanto, a morte não é um problema de bem-estar, porque o bem-estar envolve a qualidade de vida do animal (sofrimento, etc.), e, quando o animal já está morto, não vivencia mais nenhuma situação. Os seres humanos normalmente querem ter uma vida longa e evitam uma má qualidade de vida. Porém, em relação aos animais, estamos normalmente preocupados com sua qualidade de vida, mas não em mantê-los vivos a qualquer custo. Muitas vezes terminamos suas vidas por motivos próprios, e a maneira como o animal morre é importante para o seu bem-estar. Por exemplo, o método de abate de animais de produção deveria, idealmente, causar morte instantânea. Porém, na pesca marítima, os peixes são capturados em massa e a maioria morre sufocada lentamente. Apesar do estado de morte não ser uma preocupação de bem-estar, uma alta taxa de mortalidade é preocupante. Isso porque, se muitos animais estão morrendo, pode ser um indício de um problema na criação ou no controle de doenças, e, portanto, um baixo nível de bem-estar.

10 Resumo Apesar de altamente criticado, o antropomorfismo pode ser útil, mas não é suficiente Alguns animais podem sofrer Sofrimento – “um ou mais sentimentos ruins prevalecendo por mais do que um curto período” (Broom & Fraser, 2007) Senciência – “habilidade de avaliar as ações dos outros em relação a si mesmo ou a terceiros, de lembrar-se de suas próprias ações e suas consequências, de avaliar riscos, de ter alguns sentimentos e algum grau de consciência” (Broom, 2006) A morte não faz parte do bem-estar, mas a maneira com que ocorre sim, pois pode ser uma fonte de sofrimento Já esclarecemos que os animais podem sofrer (sencientes) e o que significa senciência e sofrimento. Também vimos que antropomorfismo crítico pode ser um ponto de partida útil se estivermos preocupados com o sofrimento animal. Finalmente, vimos que a morte não é uma preocupação de bem-estar, mas a forma como os animais morrem é muito importante. Agora vamos explorar a definição de bem-estar animal.

11 Definições de bem-estar animal
Ainda existem muitas divergências sobre o bem-estar animal devido a diferentes valores éticos Por exemplo, ‘se os animais estão saudáveis, seu grau de bem-estar deve estar alto’ Ao nos preocuparmos com o sofrimento animal, estamos preocupados com o efeito que a maneira com que tratamos os animais tem em suas experiências de vida. Pessoas distintas têm ideias distintas sobre como devemos tratar os animais, e entendem o bem-estar animal de maneiras diferentes. Uma visão comum é que, se o animal está saudável, seu nível de bem-estar deve estar alto. Porém, os animais podem estar saudáveis e não ter qualidade de vida.

12 O que é bem-estar animal?
É um conceito complexo com três áreas (Fraser et al., 1997) O animal está bem (por exemplo, com boa saúde, boa produtividade, etc.)? O animal está se sentindo bem (por exemplo, não tem dor, etc.)? O animal é capaz de expressar comportamentos naturais e típicos de sua espécie, importantes para ele (por exemplo, pastar)? A maioria dos cientistas concorda que existem três áreas a serem consideradas ao avaliar o bem-estar animal. A primeira é muito conhecida dos veterinários: fatores físicos, incluindo a fisiologia, como taxa de crescimento ou doença. Por exemplo, tumores ou infecções podem levar a problemas físicos em um cão, sem causar problemas mentais. Essa situação é referente ao funcionamento físico – quando o animal não está bem fisicamente, seu proprietário pede ao veterinário para investigar e reparar o problema. A segunda área sobrepõe-se à primeira, e é referente ao estado mental do animal, incluindo suas preferências e sentimentos. Como veterinários, estamos familiarizados com os sentimentos dos animais relacionados à saúde, e como podemos fazer um animal doente sentir-se melhor (por exemplo, usamos medicamentos para aliviar a náusea e a dor). Porém, outros sentimentos que um animal escolheria evitar poderiam ocorrer sem a existência de doença ou queda da produção, como, por exemplo, medo ou ansiedade no manejo. Mas esses sentimentos não estão relacionados necessariamente a uma anormalidade física. Comumente, pelo fato dos proprietários não observarem se seus animais têm esses sentimentos, não buscam recomendações de seus veterinários, assim como a medicina veterinária não aborda esse assunto. Podemos distinguir entre diferentes graus de bem-estar que afetam o estado físico ou mental dos animais. Porém, a maioria das doenças e lesões induz tanto um dano físico quanto algum grau de dor ou desconforto. A terceira área também se sobrepõe às outras duas, especialmente em relação ao estado mental do animal. É referente aos comportamentos típicos de cada espécie (como o banho de areia das galinhas poedeiras, o ato de fuçar dos suínos, cavalos se coçando em pares, ursos polares caminhando quilômetros para caçar) e seu meio ambiente – quando o animal é mantido no ambiente natural em que evoluiu. Essa área ‘natural’ do bem-estar animal tradicionalmente não faz parte do trabalho do veterinário, porque normalmente não é uma causa óbvia de doenças. Se o animal é mantido em uma condição que o impeça de expressar seus comportamentos naturais, pode desenvolver comportamentos anormais, e experimentar frustrações e outros sentimentos negativos. Além disso, restrições de comportamentos e meio ambiente podem levar a efeitos físicos, algumas vezes severos. Também é importante entender que, assim como existem aspectos naturais que levam a um maior bem-estar, como, por exemplo, a possibilidade de expressar comportamentos, também existem aspectos naturais que podem levar a um menor bem-estar. Por exemplo, pode ser natural que os animais selvagens passem fome, fiquem doentes e sintam dor. Portanto, vemos que as três áreas do bem-estar animal podem ou não se sobrepor.

13 Três abordagens para avaliar o bem-estar animal
Esse slide ilustra as três áreas do bem-estar animal e como elas se sobrepõem. Qualquer comprometimento em uma área tende a afetar as outras duas, porém isso pode nem sempre ocorrer. Por exemplo, se uma galinha poedeira estiver sozinha em uma gaiola e tiver acesso a comida, água, um poleiro, um ninho e uma área para banho de areia, seu funcionamento físico provavelmente é bom. Seu estado mental provavelmente também é bom, apesar de poder sofrer por isolamento social, que pode ocorrer mesmo quando há outras aves próximas, em outras gaiolas. Ela poderá expressar comportamentos importantes, como fazer um ninho antes de botar ovos. Entretanto, algumas pessoas ainda teriam preocupações sobre seu bem-estar, pois manter uma galinha na gaiola não é ‘natural’. As gaiolas na verdade impactam outras áreas do bem-estar, incluindo a saúde animal. Por exemplo, grades no piso podem causar lesões, e se um animal está frustrado, pode causar automutilação ou expressar comportamentos estereotipados, o que causa dano físico. Portanto, nesses exemplos, o bem-estar da galinha é afetado nas três áreas, físico, mental e natural. Essas três áreas do bem-estar não devem ser avaliadas separadamente, e devemos focar no centro do diagrama onde elas se sobrepõem. Isso requer uma abordagem holística do bem-estar, incorporando as três áreas e entendendo a relação entre elas. Um exemplo diferente é uma ovelha criada extensivamente com uma infecção crônica no casco. Alguns aspectos naturais do bem-estar da ovelha serão muito bons. Entretanto, seu bem-estar será afetado por: Área física (funcionamento: movimentos mais lentos, perda de peso por incapacidade de acesso a quantidade suficiente de pastagem ou concentrado). Área mental (sentimentos: dor, fome, talvez medo, se separada do rebanho, e, portanto, vulnerável a predadores). A sobreposição do funcionamento físico e do estado mental. Esses exemplos ilustram que o bem-estar animal é um conceito complexo e que as pessoas – incluindo os cientistas – podem não concordar na avaliação porque valorizam as três áreas diferentemente. Agora estudaremos brevemente algumas das definições iniciais. After Appleby, M. C. (1999) e Fraser et al. (1997)

14 Definições de bem-estar animal: ‘físico’
“O bem-estar de um animal é seu estado em relação a suas tentativas de adaptar-se ao seu meio ambiente” (Broom, 1986) “Um animal está com baixo grau de bem-estar somente quando seus sistemas fisiológicos estão prejudicados a ponto de comprometer sua sobrevivência ou reprodução” (McGlone, 1993) As definições iniciais eram relativas ao estado físico do animal, particularmente em relação a como um animal se adapta ao estresse e como seu organismo responde fisiologicamente. O professor Donald Broom desenvolveu a visão do bem-estar (ver slide). McGlone (1993) propôs uma visão aparentemente mais extrema: que o bem-estar é pobre apenas quando a sobrevivência ou a reprodução está comprometida por problemas físicos (ver slide). Analogamente, Moberg (1985) argumentou: “... a única medição justificável de bem-estar animal é a determinação do sofrimento por estresse. Além disso, creio que o indicador mais apropriado de estresse é o surgimento de um estado pré-patológico.

15 Definições: ‘mental’ “... Nem a saúde, a ausência de estresse ou a condição física são necessárias e/ou suficientes para concluir que um animal tem alto grau de bem-estar. O bem-estar depende de como o animal se sente.” (Duncan, 1993) Os sentimentos têm valores adaptativos (Broom, 1998; Keeling et al., 2011) Negativo: escapar de lesão imediata Positivo: promove benefício a longo prazo  os animais permanecem em situações que promovem esses sentimentos Outros cientistas argumentaram em prol do estado mental, notadamente o professor Ian Duncan, como mostra o slide. A professora Marian Dawkins propôs um argumento similar: “Preocupar-se com o bem-estar animal é preocupar-se com os sentimentos subjetivos dos animais, particularmente os sentimentos desagradáveis de sofrimento e dor” (Dawkins, 1988). Mais recentemente, pesquisadores, veterinários, proprietários e outros reconheceram que a ausência de sentimentos negativos não significa que o bem-estar animal esteja bom. Para um alto grau de bem-estar, é importante haver sentimentos positivos, como felicidade, segurança, satisfação, etc. (Yeates & Main, 2008; Mellor et al., 2009). Estudos comportamentais e pesquisas em neurobiologia que utilizam técnicas com imagens cerebrais estão começando a indicar quando os animais experimentam sentimentos positivos, e o quanto a oportunidade de experimentar sentimentos positivos importa para os animais (Mellor et al., 2009). Porém, a ideia não é que devemos proteger os animais de terem algum sentimento negativo. Isso seria irreal e antinatural: sentimentos negativos têm valor adaptativo porque motivam os animais a os evitar ou escapar de situações prejudiciais. Preferencialmente, o objetivo é evitar manter os animais em uma condição onde experimentem sentimentos negativos e não possam sair dessa situação ou adaptar-se a ela (Keeling et al., 2011).

16 Comportamento natural
“Em princípio, desaprovamos o alto grau de confinamento pois compromete a maioria das atividades relacionadas ao comportamento natural dos animais” (Comitê Brambell, 1965) “Bem-estar não significa apenas o controle da dor e do sofrimento, mas também implica em cuidados e a satisfação da natureza animal, denominada telos” (Rollin, 1993) Nos anos 60, surgiu uma preocupação pública sobre o efeito do confinamento nos animais de produção. No Reino Unido, o governo montou um comitê de cientistas para pesquisar o assunto. O comitê foi nominado em homenagem ao seu presidente, Brambell, e publicou um relatório conhecido como o Relatório de Brambell. Uma das observações do relatório foi: “Em princípio, desaprovamos um grau de confinamento que frustre a maioria das principais atividades que compõem o comportamento animal” (Comitê Brambell, 1965). Em outro exemplo sobre como algumas autoridades realçaram a importância de uma forma natural de vida, os cientistas Barnard e Hurst (1996) argumentaram que o comportamento e a fisiologia evoluíram nas espécies de forma a permitir que sobrevivam e se reproduzam, e que isso é a base da seleção natural. Eles concluíram que os animais domésticos devem ser mantidos de uma maneira que os permita expressar seu comportamento, ou seja, de acordo com a seleção natural. O eticista americano e professor Bernie Rollin também defendeu esse ponto de vista. Ele observou que os animais têm uma natureza inerente (em grego, telos), ou “traços genéticos que se manifestam na raça e no temperamento”, e argumenta que, para um alto grau de bem-estar, os animais devem ser capazes de cumprir sua natureza (Rollin, 1993).

17 ‘Sentimentos’, ‘natureza’ e necessidades (Widowski, 2010)
Comportamentos específicos que os animais desenvolvem para obter um recurso essencial por exemplo, a construção de ninhos pelas marrãs, a mamada dos bezerros Necessidade de expressar certos comportamentos Se o ambiente doméstico ou o manejo não permite a expressão desses comportamentos, os animais vivenciam emoções negativas, como a frustração  sofrimento Em relação aos estados mentais e aspectos da natureza, está a ideia de que os animais necessitam expressar determinados comportamentos típicos de sua espécie. Esses comportamentos desenvolveram-se em seus ancestrais, para permitir que os animais obtivessem recursos essenciais e, portanto, sobrevivessem (por exemplo, o ato de mamar para ingerir leite nos bezerros, a construção de ninhos pelas marrãs em preparação ao parto). A necessidade de expressão de um comportamento origina-se no cérebro, e, portanto, é atualmente compreendida de forma que, se um animal não vive em um ambiente onde possa expressar esses comportamentos, esse animal provavelmente vai vivenciar emoções negativas e, portanto, sofrer. Isso deu origem à ideia de que os animais têm necessidades comportamentais, e que, estar em um ambiente onde possam expressar esses comportamentos, pode ser uma fonte de emoções positivas (revisado por Widowski, 2010).

18 Afirmações (1) Organização Mundial de Saúde Animal (Organização Internacional de Epizootias – OIE). Código Sanitário dos Animais Terrestres (OIE, 2011a) “Bem-estar animal significa como um animal está adaptando-se às condições em que vive. Um animal está em uma boa condição de bem-estar se (como indicado por evidências científicas) está saudável, confortável, bem nutrido, seguro, é capaz de expressar comportamentos natos, e se não está passando por situações desagradáveis, como dor, medo e estresse. Um alto grau de bem-estar animal requer prevenção e tratamento de doenças, abrigo apropriado, nutrição, manejo e abate/sacrifício humanitários.” Esses exemplos mostram que o bem-estar animal é um conceito complexo com três áreas importantes – físico, mental e aspectos da natureza. A melhor definição, portanto, é a que combina essas três áreas. Essa é a que a Organização Mundial de Saúde Animal utiliza. A Organização é conhecida por seu acrônimo OIE (Office International des Epizooties) e está baseada em Paris. A OIE representa 178 países e territórios, e lidera a promoção de normas de bem-estar animal ao redor do mundo. Sua afirmação em relação ao bem-estar animal está nesse slide, e a OIE reforça a importância das evidências científicas. Essa definição cobre os três aspectos do bem-estar animal: Funcionamento (Físico) Adaptação, saúde, prevenção de doença, nutrição. Mental (Sentimentos) Confortável, seguro, sem sofrimento, manejo e abate humanitários. Aspectos da Natureza Adaptação, apto a expressar comportamento nato.

19 Afirmações (2) As Cinco Liberdades (Conselho de Bem-estar dos Animais de Produção, 1992) são comumente utilizadas como base para avaliar o bem-estar animal Livres de fome e sede. Livres de desconforto. Livres de dor, lesão e doenças. Livres para expressar seu comportamento natural. Livres de medo e estresse. Outra afirmação importante que combina todos os elementos do bem-estar animal é conhecida como as Cinco Liberdades. As Cinco Liberdades foram baseadas nas preocupações e recomendações expressas no Relatório de Brambell (discutido anteriormente), publicado no Reino Unido em Elas estão listadas no slide, e você pode observar que também estão relacionadas ao funcionamento físico, estado mental/sentimentos e comportamento natural. As Cinco Liberdades sobrepõem-se aos três aspectos do bem-estar: físico, mental e natural. Por exemplo, para ter um bom funcionamento do organismo, precisamos estar livres de lesões e doenças, livres de fome e sede, livres de desconforto térmico, livres de medo e estresse, e assim por diante.

20 Resumo Definições Sofrimento – “um ou mais sentimentos ruins prevalecendo por mais do que um curto período” Senciência – “habilidade de avaliar as ações dos outros em relação a si mesmo ou a terceiros, de lembrar-se de suas próprias ações e suas consequências, de avaliar riscos, de ter alguns sentimentos e algum grau de consciência” Bem-estar animal – estado do animal – estado físico, mental e comportamento natural Como a ciência do bem-estar animal desenvolveu-se e por que não é o mesmo que medicina veterinária Começamos essa aula esclarecendo que a preocupação com o bem-estar animal significa preocupação com o sofrimento animal. Definimos sofrimento e vimos que somente animais sencientes podem sofrer. Agora esclarecemos também o que é bem-estar animal, e que é um conceito complexo que inclui o estado físico, o mental e aspectos naturais. Também vimos que a medicina veterinária não tem tradicionalmente abordado a preocupação com comportamentos animais não relacionados a enfermidades, e não tem abordado o bem-estar animal. Indivíduos valoram esses diversos aspectos do bem-estar animal distintamente. Isso faz com que o bem-estar animal seja controverso, mas os argumentos são os mesmo há milênios. Agora examinaremos o contexto histórico, e vermos como a ciência do bem-estar animal desenvolveu-se.

21 História Índia Ahimsa: não cause dano a nenhum ser vivo
Hinduísmo, Budismo, Jainismo (Taylor, 1999) Tribo Bishnoi no Rajastão filosofia ecológica por ~500 anos não coma nada de origem animal e dê dez por cento da colheita aos animais selvagens (Templar & Leith, 2010) Tomando a Índia como primeiro exemplo, a preocupação com os animais é parte de antigas religiões praticadas na região. A preocupação é em parte motivada pela crença em reencarnação, onde o animal pode reencarnar como ser humano, e como as ações como ser humano pode afetar a reencarnação. Ou seja, maltratar um animal pode trazer consequências visto que este animal pode reencarnar como um ser humano e vice versa. Outro exemplo é a tribo Bishnoi no Rajastão, comentado no slide.

22 História China: Confucionismo Europa (Fraser, 2008a)
Por causa da união entre todos os seres, o sofrimento animal é uma fonte de estresse para os seres humanos (Taylor, 1999) Europa (Fraser, 2008a) Grécia Antiga Grã-Bretanha nos séculos XVIII e XIX Na China, o confucionismo inclui a preocupação com o sofrimento animal. A Índia e a China são apenas dois exemplos ao redor do mundo. Atualmente, os argumentos éticos dominantes sobre como devemos tratar os animais estão enraizados no pensamento ocidental, iniciando-se com as filosofias da Grécia Antiga, com influência de pensadores britânicos e outros europeus nos séculos XVIII e XIX.

23 Grécia Antiga (Fraser, 2008a)
O mesmo leque de argumentos que temos hoje. Por exemplo: Pitágoras e outros (~500 a 300 a.C.): somos similares aos animais, portanto não devemos comê-los Estoicos: os animais não são racionais, portanto não precisamos nos preocupar se os estamos tratando bem Plutarco: os animais podem não ser racionais, mas mesmo assim devemos ser gentis com eles Porfírio (~250 d.C.): os animais merecem consideração porque podem sofrer estresse Fraser observou que todos os argumentos atuais – por exemplo, se devemos ou não comer animais, e nossas obrigações com os animais – são as mesmas preocupações dos gregos antigos. Algumas estão listadas aqui.

24 Grã-Bretanha nos séculos XVIII e XIX (Fraser, 2008a)
O tratamento dos animais na Grã-Bretanha foi descuidado durante muitos séculos Isso tornou-se uma preocupação porque autoridades religiosas e outras acreditavam que os seres humanos deveriam atuar virtuosamente (por exemplo, Jeremy Bentham no século XVIII; primeira lei de proteção animal aprovada em 1822) outras normas religiosas (Taylor, 1999), como por exemplo, o judaísmo proíbe causar dor aos animais, o islamismo proíbe crueldade com os animais O pensamento ocidental desenvolveu-se depois dessa era e, no século XVIII na Grã-Bretanha, o filósofo Jeremy Bentham observou que tratar os animais bem não era condicionado a se eles podiam falar ou pensar, mas simplesmente se podiam sofrer. Em 1822, a Grã-Bretanha aprovou a primeira lei de proteção animal nas democracias ocidentais. Entretanto, em religiões não cristãs como o islamismo ou judaísmo, já existiam normas sobre o tratamento dos animais.

25 Pecuária moderna Na Europa e na América do Norte, a criação animal foi intensificada nos anos 50 e 60 foco na produção e eficiência  alimentos mais baratos  melhora da saúde humana confinamento de animais  supervisão facilitada, mas aumento de doenças contribuições importantes da medicina veterinária ao bem-estar animal  vacinações, tratamentos Avançando às preocupações atuais, essas aumentaram com o desenvolvimento da pecuária intensiva nos anos 50 e 60 na Europa e na América do Norte, após a Segunda Guerra Mundial. O foco era tornar os animais mais produtivos (com maior taxa de crescimento, maior produção leiteira, maiores ninhadas) para que as pessoas pudessem arcar com uma alimentação mais nutritiva e ter uma saúde melhor. Os sistemas envolvem confinar os animais em grandes números, e a veterinária é uma importante parte do bem-estar animal, porque tais confinamentos facilitam a disseminação rápida de doenças. Porém, o desenvolvimento e o uso de vacinas e antibióticos evitam esse sofrimento. Com o desenvolvimento econômico de outras nações, suas populações também demandam alimentação barata e nutritiva de origem animal, e práticas pecuárias estão sendo baseadas e adaptadas dos sistemas intensivos da Europa. Dois exemplos são: África Subsaariana: cruzamento de raças zebuínas com indígenas, visando o aumento da fertilidade e outras características, ao mesmo tempo mantendo sua resistência para serem manejados pelos fazendeiros nas condições climáticas locais (Scholtz et al., 2011). Ásia: existe um rápido crescimento na demanda por dietas ocidentais na maioria dos países asiáticos, notadamente China e Índia; ou seja, uma dieta que inclui mais carne e peixe, ao invés da dieta tradicional baseada em arroz e outros carboidratos. Existe ainda um aumento na demanda por laticínios: em 2006, o queijo predominava no aumento de consumo de laticínio na Malásia e no Japão, talvez por seu uso em hambúrgueres em lanchonetes como McDonald’s e Wendy’s (Pingali, 2006).

26 História Crescente preocupação pública e científica desde os anos 60, em relação a animais de produção Reino Unido: Ruth Harrison (1964) – Máquinas Animais Reino Unido: Comitê Brambell (1965) animais selvagens afetados pela atividade humana Jane Goodall: estudos sobre os chimpanzés na Tanzânia movimento conservacionista tráfico de espécies ameaçadas A criação intensiva desenvolveu-se na Europa e nos Estados Unidos nos anos 60, e houve um aumento da preocupação pública com seus efeitos nos animais. No Reino Unido, um livro sobre o assunto intitulado Máquinas Animais, de Ruth Harrison, causou tamanha preocupação que o governo britânico reuniu um comitê de cientistas, veterinários e outras profissões para estudarem a questão. Esse grupo foi denominado Comitê Brambell, que publicou o Relatório de Brambell, mencionado anteriormente. Também havia a preocupação pública com outros animais sob os cuidados humanos, como o uso de primatas em pesquisa, e a necessidade da conservação das espécies.

27 Ciência do bem-estar animal
Encarregada de responder perguntas específicas de interesse público (Fraser, 2008a) Comitê Brambell (1965) Por exemplo, as galinhas poedeiras precisam tomar banho de areia? Em face da preocupação com animais de produção e do Relatório de Brambell, os cientistas começaram a pesquisar formalmente questões relacionadas ao bem-estar animal. A disciplina é conhecida como ciência do bem-estar animal, e levantou outras questões específicas de interesse público, como, por exemplo, se as galinhas poedeiras precisam de banho de areia em cativeiro. Ou por que os leitões mordem a cauda dos outros leitões quando confinados, e se os bezerros sofrem ao serem apartados da mãe após 24 horas. Como a ciência do bem-estar animal surgiu do interesse público, ao invés de uma curiosidade geral sobre o mundo, é uma “ciência essencial” (Fraser, 2008a).

28 Ciência A ciência do bem-estar animal é atualmente um campo bem estabelecido, e esse slide mostra alguns exemplos disso. Um grupo de pesquisadores em bem-estar animal é a Sociedade Internacional de Etologia Aplicada (ISAE) (cofundada pelo veterinário Andrew Fraser). Seu logotipo está no topo do slide, em verde. Existem vários grupos de estudo do bem estar animal vinculados às universidades como, por exemplo, o LABEA (Laboratório de Bem-estar animal da UFPR, o grupo ETCO da UNESP Jaboticabal , o Leta (Laboratório de Etologia Aplicada da UFSC) entre outros. As outras imagens mostram exemplos de publicações científicas e acadêmicas sobre bem-estar animal. Existem pelo menos 50 livros sobre o assunto, alguns são referências bibliográficas desse módulo, a maioria deles em Inglês, mas já existem alguns em Português. Existem várias revistas científicas bem estabelecidas que incluem pesquisas em bem-estar animal, e mais pesquisas sobre o assunto têm aparecido em revistas sobre clínica veterinária. Ademais, existem dois periódicos dedicados à ciência do bem-estar animal. O Bem-estar Animal (Animal Welfare, mostrado no slide) e Ciência Aplicada do Comportamento Animal (Applied Animal Behaviour Science), uma publicação da ISAE.

29 Importância internacional (1)
Organização Mundial de Saúde Animal (OIE, 2011b) 178 países-membro e territórios “Liderar o bem-estar animal internacionalmente” Código Sanitário para Animais Terrestres: sete diretrizes de bem-estar animal Código Sanitário para Animais Aquáticos: duas diretrizes Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) A importância internacional do bem-estar animal está refletida na OIE, que mencionamos anteriormente nas definições de bem-estar. Os países-membro da OIE autorizaram a organização da “liderança do bem-estar animal com a implantação de diretrizes e recomendações”. A OIE possui um Grupo de Trabalho de Bem-estar Animal que organiza conferências internacionais a cada três ou quatro anos, como no Egito em 2008, e Kuala Lumpur em Desde maio de 2005, a Assembleia Mundial de Delegados da OIE adotou sete diretrizes de bem-estar no Código Sanitário para Animais Terrestres, e duas diretrizes no Código Sanitário para Animais Aquáticos (OIE, 2011b). A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) possui uma base online com informações nacionais e internacionais sobre o bem-estar dos animais de produção, denominado Portal de Bem-estar dos Animais de Produção (Gateway to Farm Animal Welfare, FAO, 2011).

30 Importância internacional (2)
Iniciativa Uma só Saúde (2011) “Estratégia mundial para a expansão da colaboração interdisciplinar e da comunicação sobre todos os aspectos dos cuidados com seres humanos, animais e meio ambiente” Risco compartilhado de doenças entre animais e seres humanos, práticas ambientais, etc., que afetam o bem-estar animal e humano, como a gripe aviária: rapidamente disseminada em condições onde os animais não estão adequadamente abrigados quando, no abate para o controle da doença, a urgência pode acarretar mau manejo ou abate, e os funcionários envolvidos podem correr riscos Bem-estar animal também faz parte da Iniciativa Uma só Saúde (One Health) . Essa iniciativa é uma colaboração entre profissionais da saúde, incluindo veterinários. Visa expandir o conhecimento sobre doenças em pessoas e animais ao redor do mundo, especialmente porque diversas doenças colocam pessoas e animais em risco. O bem-estar animal está envolvido porque enfermidades afetam severamente os sentimentos e o funcionamento dos organismos. Além disso, o sacrifício em massa pode ser utilizado para prevenir a disseminação de algumas doenças de animais para pessoas. Em casos de urgência (por exemplo, em um surto de gripe aviária), os animais podem sofrer durante o abate porque os trabalhadores não estão treinados para manejá-los humanitariamente. A Iniciativa Uma só Saúde (One Health) é apoiada pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE).

31 Veterinários e a ciência do bem-estar animal
Prevenção e erradicação de doenças infecciosas ~60 vacinas (Mellor et al., 2009) Importância do comportamento sinais clínicos, dor comportamento como um indicador de estado emocional Agora avançamos para a forma com que a medicina veterinária e o bem-estar animal sobrepõem-se. Vimos anteriormente que a medicina veterinária preocupa-se com o funcionamento e os sentimentos relacionados ao bem-estar animal, através do diagnóstico, tratamento e prevenção de enfermidades. Doenças infecciosas são particularmente importantes, especialmente em animais de produção criados de forma intensiva, e os veterinários são essenciais nesse aspecto do bem-estar animal. Por exemplo, atualmente existem pelo menos 60 vacinas contra as principais doenças infecciosas nas espécies domésticas (por exemplo, tétano em cavalos, doença de Newcastle nas aves, clostridiose em ovelhas, raiva em diversas espécies, cinomose em cães). Essas doenças poderiam causar sofrimento disseminado. Veterinários continuam pesquisando sobre as doenças infecciosas e aconselhando governos e proprietários sobre o uso das vacinas, de forma que bilhões de animais são protegidos a cada ano. Como as pesquisas revelam mais sobre como os animais podem sofrer por outras razões que não infecções ou outras doenças, veterinários de diferentes países estão cada vez mais incluindo essa preocupação em sua atuação. Por causa da rápida expansão do conhecimento sobre saúde e doenças – infecciosas e não infecciosas – em todas as espécies de interesse veterinário, a medicina veterinária nem sempre acompanhou o desenvolvimento de outras áreas relativas ao bem-estar animal, especialmente em relação ao comportamento animal. Os veterinários sempre conheceram o comportamento normal relacionado à saúde física: muitos sinais clínicos de doenças manifestam-se por mudança do comportamento normal (por exemplo, um bezerro com respiração bucal ao invés de nasal, ou um cavalo claudicando, não distribuindo o peso igualitariamente entre os membros). Os veterinários utilizam o comportamento animal para avaliar quanta dor o animal está sentindo, e para determinar a droga analgésica e a quantidade a ser administrada. O que ainda é novo para os veterinários é o crescente conhecimento científico sobre sinais comportamentais que ocorrem porque o manejo ou o confinamento não estão apropriados. Analogamente, existem mais e mais pesquisas surgindo sobre a importância das emoções positivas sobre o bem-estar animal; essas pesquisas podem eventualmente nos dizer como podemos aconselhar os proprietários sobre como podem promover mais experiências positivas a seus animais.

32 No século XXI (1) A ciência do bem-estar animal é uma disciplina reconhecida em diversas faculdades de medicina veterinária ao redor do mundo Base de muitas linhas de pesquisa, grupos e programas de pós-graduação Habilitação de novos graduandos em medicina veterinária (OIE, 2011c) Explicar o bem-estar animal e as consequentes responsabilidades Identificar e corrigir problemas relacionados ao bem-estar animal Saber onde encontrar informações sobre normas locais e internacionais sobre a produção, transporte e abate humanitários Atualmente, países ao redor do mundo concordam que o bem-estar animal é importante, e a ciência do bem-estar animal é uma disciplina científica já estabelecida. Além de diversos departamentos governamentais de pesquisa e cursos distintos da medicina veterinária que ensinam e estudam o bem-estar animal, cada vez mais faculdades de medicina veterinária criam grupos de pesquisa e cursos de pós-graduação sobre o tema. A Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) recomenda que o bem-estar animal seja uma habilitação requerida aos graduados em medicina veterinária (OIE, 2011c). Isso significa que os graduados devem ser capazes de: “…explicar o bem-estar animal e a consequente responsabilidade aos proprietários, funcionários, veterinários e outros responsáveis pelo cuidado com os animais; identificar problemas de bem-estar animal e participar em ações corretivas; e saber onde encontrar informação atualizada e confiável a respeito das normas e diretrizes locais, nacionais e internacionais a respeito do bem-estar animal para ser capaz de descrever métodos humanitários para: produção animal; transporte; abate para consumo e sacrifício para controle de doenças.”

33 No século XXI (2) Muitas pessoas acreditam que têm uma obrigação com os animais (Broom, 2010) Isso se deve a diferentes razões, por exemplo Porque os animais têm um valor intrínseco Porque os animais têm valor para nós, como para alimentação/trabalho Porque os animais podem sofrer Porque a espécie está em perigo Ética e legislação Muitas pessoas atualmente concordam que temos uma obrigação com os animais. Suas razões podem diferir. Por exemplo, para algumas pessoas, o motivo é o valor inerente dos animais. Para outras, é porque os animais têm valor econômico, ou seja, são utilizados para alimentação, etc., e para outras, o motivo é a empatia, ou seja, a preocupação com o sofrimento animal. E ainda em outros casos, é porque a espécie está tornando-se rara e temos o poder de evitar sua extinção. Essas razões distintas significam que existem diferentes visões sobre o que nossa obrigação com os animais envolve. Esse é o campo da ética – como devemos tratar os animais. Outras aulas explorarão com mais detalhe a ética, e como a legislação sobre animais pode ou não refletir essa preocupação.

34 Observações finais Bem-estar animal é um conceito complexo
Seu entendimento requer a ciência (como ambientes distintos afetam a saúde e os sentimentos, do ponto de vista do animal) Decidir como aplicar esses achados científicos envolve a ética (como os seres humanos deveriam tratar os animais: pessoas ao redor do mundo sempre estiveram preocupadas com isso) Impor essas decisões na sociedade envolve legislação (como os seres humanos devem tratar os animais) Para resumir essa introdução ao bem-estar animal: O bem-estar animal está relacionado com a forma como os animais sencientes vivenciam suas vidas, em termos de seu funcionamento físico, estado mental e comportamento natural. Para entender esses três aspectos precisamos da ciência – por isso existe a ciência do bem-estar animal. O bem-estar animal é influenciado pelos valores das pessoas – como acreditam que devemos tratar os animais, e o que pensam que é importante para eles. A ciência nos ajuda a entender alguns desses pontos. A ética então confronta esse conhecimento com os desejos humanos (por exemplo, viver da pecuária, desmatar para construir casas), para que possamos decidir como devemos tratar os animais. Esse é o campo da ética animal. Relacionado a isso, o bem-estar animal também envolve legislação, ou seja, as regras da sociedade sobre como devemos tratar os animais. Idealmente, o bem-estar animal deveria refletir as decisões que a sociedade toma – utilizando a ciência e a ética – sobre como deveríamos tratar os animais. Porém, a legislação em relação ao bem-estar animal pode definir um padrão baixo de cuidados porque pode ser que não exista dinheiro público suficiente para fiscalizar padrões mais altos, ou porque a população não conhece os problemas ou não está disposta a gastar dinheiro com isso. O restante do curso avaliará esses três aspectos do bem-estar animal – ciência, ética e legislação – e mostrará sua aplicação prática.

35 Referências Appleby, M.C., (1999) What Should We Do About Animal Welfare? Oxford, Blackwell. Barnard, C.J. & Hurst, J.L., (1996). Welfare by design: the natural selection of welfare criteria. Animal Welfare 5: Brambell Committee (1965). Report of the Technical Committee to enquire into the welfare of livestock kept under intensive husbandry systems. Command Report London: Her Majesty’s Stationery Office. Broom, D.M Indicators of poor welfare. Br.vet. J., 142, Broom, D.M Welfare, stress and the evolution of feelings. Adv. Study Behav., 27, Broom, D.M. (2006). The evolution of morality. Appl. Anim. Behav. Sci., 100, Broom, D. M. (2010). Cognitive ability and awareness in domestic animals and decisions about obligations to animals. Applied Animal Behaviour Science, 126, 1-11. Broom, D.M. & Fraser, A.F. (2007). Domestic Animal Behaviour and Welfare, 4th Edition. Wallingford, CABI. Dawkins, M. (1988). Behavioural deprivation: a central problem in animal welfare. Applied Animal Behaviour Science, 20, Duncan, I. J. D. (1993). Welfare is to do with what animals feel. Journal of Agricultural and Environmental Ethics (Special Supplement 2), 8-14. Farm Animal Welfare Council (1992). Farm Animal Welfare Council updates the Five Freedoms. Veterinary Record, 131, 357. Food and Agriculture Organization (FAO) of the United Nations (UN) (2011). Gateway to Farm Animal Welfare. Retrived from

36 Referências Fraser, D., Weary, D. M., Pajor, E. A., & Milligan, B. N. (1997). A scientific conception of animal welfare that reflects ethical concerns. Animal Welfare, 6, Fraser, D. (2008a). c (UFAW Animal Welfare Series). Chichester, UK: Wiley-Blackwell, pp Fraser, D. (2008b) Toward a global perspective on farm animal welfare. Applied Animal Behaviour Science,113, Fraser, D., & MacRae, A. M. (2011). Four types of activities that affect animals: implications for animal welfare science and animal ethics philosophy. Animal Welfare, 20, Harrison, R. (1963). Animal machines: the new factory farming industry. Vincent Stuart. Keeling, L. J., Rishen, J., & Duncan, I. J. H. (2011). Understanding animal welfare. In M. C. Appleby, J. A. Mench, I. A. S. Olsson, & B. O. Hughes (Eds.), Animal Welfare (2nd ed.) (pp ). Wallingford, UK: CABI. McCune, S. (1995). The impact of paternity and early socialisation on the development of cats’ behaviour to people and novel objects. Applied Animal Behaviour Science, 45, McGlone, J. (1993). What is animal welfare? Journal of Agricultural and Environmental Ethics (Special Supplement 2), 26.

37 Referências Mellor, D. J., Patterson-Kane, E., & Stafford, K. J. (2009). The sciences of animal welfare (UFAW Animal Welfare Series). Chichester, UK: Wiley-Blackwell, pp Mendl, M. & Paul, E. S. (2004). Consciousness, emotion and animal welfare: Insights from cognitive science. Animal Welfare 13: S17-S25 Moberg, G. P. (1985). Biological response to stress: key to assessment of animal well-being? In G. P. Moberg (Ed.) Animal stress (pp ). Bethesda, MD: American Physiological Society. Mullan, S., & Main, D. M. (2001) Principles of ethical decision-making in veterinary practice. In Practice, July/August, Office International des Epizooties (OIE) (2011a). Terrestrial Animal Health Code, Article Retrieved from Office International des Epizooties (OIE) (2011b). The OIE’s achievements in animal welfare. Retrieved from Office Internationale des Epizooties (OIE) (2011c). Report of the Meeting of the OIE Ad Hoc Group on Veterinary Education, Paris, Annex 3, Section Retrieved from ation_August_2011.pdf

38 Referências One Health Initiative (2011). One Health Initiative will unite human and veterinary medicine. Retrieved from Pingali, P. (2006) Westernization of Asian diets and the transformation of food systems: Implications for research and policy. Food Policy, 32, Rollin, B. (1993). Animal welfare, science and value. Journal of Agricultural and Environmental Ethics (Special Supplement 2), 8-14. Scholtz, M. M., McManus, C., Okeyo, A. O., & Theunissen, A. (2011). Opportunities for beef production in developing countries of the southern hemisphere. Livestock Science, 142, Taylor, A. (1999) Magpies, Monkeys and Morals. What philosophers say about animal liberation. Broadview, Peterborough. p 24 Templar, D. & Leith, B. (2010) Human Planet. BBC Books. London. p Viñuela-Fernández, I., Jones. E., Welsh, E. M., & Fleetwood-Walker, S. M. (2007). Pain mechanisms and their implication for the management of pain in farm and companion animals. The Veterinary Journal, 174, Webster, J. (2011). Zoomorphism and anthropomorphism: fruitful fallacies? Animal Welfare, 20, 29-36 Widowski, T. (2010). Why are behavioural needs important? In T. Grandin (Ed.) Improving animal welfare. A practical approach (pp ). Wallingford, UK: CABI. Yeates, J. W. & Main, D. C. J., (2008). Assessment of positive welfare: A review. The Veterinary Journal 175: 293–300


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