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Universidade Federal de Santa Maria

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Apresentação em tema: "Universidade Federal de Santa Maria"— Transcrição da apresentação:

1 email: pesq.qualitativa@uol.com.br
Universidade Federal de Santa Maria Programa de Pós-Graduação em Enfermagem Santa Maria RS, 25 e 26 abril 2011 CURSO Metodologias Qualitativas: Conceitos das Ciências Humanas Aplicados à Pesquisa na Área da Saúde Laboratório de Pesquisa Clínico-Qualitativa Faculdade de Ciências Médicas / UNICAMP

2 Bibliografia básica: Turato, E. R.
Tratado da metodologia da pesquisa clínico-qualitativa: construção teórico-epistemológica, discussão comparada e aplicação nas áreas da saúde e humanas. 4a ed., Editora Vozes, 2010.

3 Diversos Tipos do Conhecimento Humano
Empírico: construído na experiência de vida Mítico: crença lendária explicativa Religioso: verdade revelada por divindade Filosófico: especulação sistemática Científico: hipóteses submetidas à verificação Tecnológico: conhecimento científico aplicado Senso comum: conhecimento compartilhado ‘Mágico’: crendice, um não-conhecimento

4 Escola de Atenas (Raphael)

5 Concepções Históricas de Ciência
Contribuições gregas: 1) o logos é o falar sobre a coisa. Se não sou a coisa, então para conhecê-la só me resta falar sobre ela. Portanto, cientistas tecem suas teorias com palavras. 2) Noção de causalidade Aristóteles ( a.C.): “Arbitramos possuir a ciência de algo quando - julgamos que conhecemos a causa pela qual esse algo é, - sabemos que essa causa é a causa desse algo, - não é possível que esse algo seja outro que não este.” (Organon IV: Analíticos Posteriores)

6 Nascimento da Ciência: Ruptura com a Filosofia e a Religião
Pilares da Ciência Moderna ou Galileana (1623): - observação: a explicação está na Natureza. experimento: controle de variáveis para relação causa-efeito. indução: raciocínio partindo do particular aplicado ao geral. - Exemplo científico clássico de nexos causais entre variáveis: Lei de Boyle-Mariotte (lei dos gases ideais) Sob temperatura constante, aumentando a pressão, diminui o volume; aumentando volume, diminui a pressão. Estruturação da Ciência (Newton, 1689): Leis científicas na formulação da Mecânica: 1) Inércia; 2) Aceleração dos corpos; 3) Ação-e-reação.

7 O Nascimento da Ciência Moderna
A filosofia encontra-se escrita neste grande livro que continuamente se abre perante nossos olhos (isto é, o universo), que não se pode compreender antes de entender a língua e conhecer os caracteres com os quais está escrito. Ele está escrito em língua matemática, os caracteres são triângulos, circunferências e outras figuras geométricas, sem cujos meios é impossível entender humanamente as palavras; sem ele nós vagamos perdidos dentro de um obscuro labirinto (Galileu, “O Ensaiador”, 1623)

8 Ciências do Homem (parafraseando Galileu)
As Ciências do Homem encontram-se escritas neste grande livro que, continuamente, se abre perante nossos olhos (isto é, as pessoas, a sociedade), o qual não se pode compreender antes de entender a língua com a qual está escrito. O livro está escrito na língua dos significados, das simbolizações, das representações, sem cujas interpretações é impossível entender cientificamente os fenômenos humanos. Quando o objeto de estudo é o ser humano, sem os instrumentos da observação e da escuta voltadas para os indivíduos ou os grupos, vagamos perdidos dentro de um obscuro labirinto.

9 Ciências Humanas não são Ciências Matematizadas
A vida humana se processa somente uma vez e, portanto, não poderemos jamais verificar quais decisões teriam sido boas e quais teriam sido ruins. Em dada situação, podemos decidir apenas uma vez. Não nos são dadas uma segunda, terceira ou quarta vidas para que se possa comparar decisões diferentes. [...] Se a História pudesse se repetir, seria indicado experimentar, a cada vez, outra eventualidade e, em seguida, comparar os dois resultados. Sem experimentos semelhantes, toda discussão sobre e grupos não passa de um jogo de hipóteses. (Milan Kundera, em “A Insustentável Leveza do Ser”)

10 A apresentação da teoria define a ciência
Teoria: theoros é quem joga um olhar, é o espectador. theatron é lugar onde se vê, onde se assiste. teoria e teatro posições de contemplação / observação. A construção de um modelo teórico deve ser o alvo final de todo pesquisador. Assim, tanto um astrônomo, quanto um psicanalista, são cientistas ao proporem teorias para o entendimento de seus respectivos objetos de estudo.

11 Conceitos de Ciência Ciência constrói teorias: Atividade na qual os empreendedores apresentam suas hipóteses e, partindo da organização dos elementos que apreendem, propõem teorias de como estes se relacionam. Ciência fala da ordem do invisível: Fazer ciência é criar teorias, é uma fala sobre as relações não visíveis ao olhar comum. Ciência está na mente: Jogo de palavras que espelham na mente do cientista as coisas que estão do lado de fora.

12 Conceitos de Ciência (cont.)
Aparência versus Realidade: Toda ciência seria supérflua se a forma de manifestação e a essência das coisas coincidissem imediatamente (Marx, 1890) Ciência forma um quadro: A ciência não é somente uma coletânea de leis, um catálogo de fatos não relacionados. É a criação da mente humana, com suas idéias e conceitos livremente inventados (Einstein & Infeld, 1938)

13 Conceitos de Ciência (cont.)
Mais que descrição dos acontecimentos: É uma tentativa de descobrir ordem, de mostrar que certos acontecimentos estão ordenadamente relacionados com outros (Skinner, 1950) Ciência busca as ligações: Os fatos históricos não constituem a ciência histórica, não passam de simples fatos, pertencem ao empirismo e, em si, são ininteligíveis. É preciso entre eles colocar argamassa; somente assim se tornam ciência (Perestrello, 1973)

14 Atividades afins diferenciadas com a Pesquisa Científica
Pesquisa Informal do Tipo de Mercado Levantamento de informações econômicas visando o consumo. Planejamento espontâneo; tem um caráter a-científico. Pesquisa sobre uma Realidade Empírica Delimitação de fatos/ocorrências comportamentais, sociais e históricos. Levantamento em biblioteca, na internet ou observando diretamente os fenômenos em campo. Planejamento sistematizado, mas de caráter pré-científico se parar na fase de coleta e arranjo dos achados. Pesquisa de Opinião Pública Levantamento do modo de pensar, partilhado num grupo, acerca de certo assunto. Também de caráter pré-científico, se estacionar no objetivo de obter resultados descritivos. Pesquisa Científica em Sentido Acadêmico Formulação de hipóteses e coleta de dados. Estabelecimento de leis explicativas, geração de novos conhecimentos. Elaboração de teoria a ser aceita pelos pares.

15 Tipos de Investigação Científica
- Pesquisas de Campo: Objeto: seres em seu ambiente natural. Pesquisador: adaptado a ver fenômenos na livre ocorrência. Dificuldade grande: campo está organizado autonomamente. - Pesquisas Laboratoriais Experimentais: Objeto: materiais são dispostos visando o experimento. Pesquisador: manipula variáveis para coletar dados. Dificuldade média: ambiente organizado pelo pesquisador. - Pesquisas Teóricas: Objeto: registros em bibliotecas (reais ou virtuais). Pesquisador: após problemas de acesso, dispõe do material. Dificuldade pequena: dados à mesa, no ritmo do pesquisador.

16 Tipos de Pesquisa na Área da Psicanálise
TIPO Local Recorte do Material p/ da coleta objeto de estudo interpretação     CLÍNICA: Consultório. Representações. O dito. TEÓRICA: Biblioteca. Escritos. A literatura. CULTURAL: Sociedade. Vivências. A Cultura.

17 Características apontadas para o Conhecimento Científico Convencional
Factual: trabalha empiricamente com as ocorrências da natureza (os fatos). Analítico: lida com componentes de um objeto, separando-os e reorganizando-os. Geral: busca generalizações dos resultados encontrados válidos para outros enquadres. Sistemático: usa referenciais metodológicos reconhecidas e estabelece quadros teóricos. Acumulativo: soma-se com a obtenção de novos resultados (novos tijolos no muro da ciência).

18 Características apontadas (cont.)
Falível: teorias não gozam de terminalidade, contém erros e são completadas ou substituídas. Verificável: hipóteses testadas em experimentos para serem confirmadas ou refutadas. Explicativo: variáveis são correlacionadas dentro do modelo da relação causa-efeito. Preditivo: resultados servem para prognosticar ocorrências em novas situações. Útil: resultados podem ser empregados tecnologicamente para benefícios das pessoas.

19 A Questão da Generalização em Ciência
Einstein e Infeld (1938): Pela aplicação do método estatístico não podemos predizer o comportamento de um indivíduo na multidão. Podemos somente predizer a chance, a probabilidade, de que se comportará de uma maneira em particular. CONCLUSÃO: se nossas leis estatísticas nos dizem um resultado numérico sobre um fenômeno de certa observação, significa que, pela repetição de nossas observações com muitos elementos, realmente obteremos esta média. Ou seja: a probabilidade de encontrarmos o fenômeno no meio observado equivale àquele valor numérico.

20 A Questão da Generalização (cont.)
Exemplos de Einstein e Infeld (1938): 1) Conhecer a taxa de nascimento de uma grande comunidade não significa conhecer se uma família em particular é abençoada com um filho. Significa um conhecimento de resultados estatísticos nos quais as pessoas participantes não representam nenhum papel. 2) Pela observação das chapas de muitos carros, podemos logo descobrir que um terço de seus números são divisíveis por três. Mas não podemos predizer que o carro que passará no momento seguinte terá essa propriedade. CONCLUSÃO: As leis estatísticas podem ser aplicadas somente a grandes agregados, mas não para seus indivíduos.

21 O Projeto e o Relatório de Pesquisa: uma lógica interna perpassando suas secções
Projeto Pesquisa: Objeto, contextualização, justificativas  Hipóteses iniciais formuladas  Objetivos da pesquisa estabelecidos  Método e técnicas sugeridos  Instrumentos de coleta de dados  Relatório Final: Discussão de resultados sob quadro teórico  Conclusões

22 Um Modelo de Projeto de Pesquisa
CAPÍTULO I - Questões Introdutórias: Delimitação do objeto-problema de estudo. Justificativas para a investigação proposta. Aspectos epidemiológicos e clínicos do tema. Aspectos psicológicos e socioculturais do tema. CAPÍTULO II - Hipóteses e Objetivos: Pressupostos iniciais. Objetivo geral (ou principal, inicial). Objetivos específicos (ou secundários, decorrentes).

23 Projeto de Pesquisa (cont.)
CAPÍTULO III - Recursos Metodológicos: Critérios de inclusão/exclusão dos sujeitos e fechamento da amostra Características do campo de pesquisa Método, técnicas de coleta de dados e procedimentos Técnicas para tratamento dos dados Manejo de possíveis vieses da pesquisa Quadro de referenciais teóricos Cuidados éticos da pesquisa

24 Projeto de Pesquisa (cont.)
Referências (no Estilo Vancouver - publicado 1979, revisado 2005) Anexos: Orçamento da pesquisa e recursos disponíveis Cronograma das etapas da pesquisa Cópia dos instrumentos de coleta de dados Termo de Consentimento Livre e Informado Cópia da aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa Autorização de serviços para coleta de dados Quadro das diferenças e ponto em comum entre métodos ‘quanti’ e ‘quali’

25 Relações entre pesquisa e literatura
LIVROS ARTIGOS Como literatura De ancoragem De cotejamento No que constitui Quadro primordial Quadro atualizado Relação Filiação a escolas Diálogo com pares Localização Em área acadêmica Na produção atual Área mais usual Ciências Humanas C. Naturais e Saúde Utilização Fonte primária Debate corrente Alvo Sustentação Contextualização Ganho obtido Definições gerais Resultados atuais Não-uso Pesquisa ingênua Pesquisa inútil Cuidados Evitar compilações Evitar dispersões

26 Tema-Problema: Justificativas de Escolha
Prioridade científica (uma necessidade objetiva): relevância epidemiológica, clínica e social. Novidade (idealmente posta): contribuições originais ao conhecimento. Comprometimento pessoal (um norteador): engajamento na assistência e no ensino. Oportunidade (uma propiciadora): favoráveis condições pessoais e institucionais.

27 Hipóteses e concepções próximas: Definições Metodológico-Etimológicas
Pergunta: idéia que pede outra. Problema: idéia que remete a outra. Hipótese: idéia que sustenta outra. Pressuposto: idéia que pensa outra. Premissa: idéia que faz caminho a outra. Quase-hipótese: idéia que nos informa outra. Postulado: idéia que pede ser verdadeira. Conjectura: idéia que atira a outra. Palpite: idéia que suspeita outra. Suspeita: idéia que nos intui a outra. Sugestão: idéia que alude a outra. Chute: idéia que arremessa a outra.

28 Concepção einsteiniana sobre o lugar do problema na ciência (atitude galileana)
The formulation of a problem is often more essential than its solution, which may be merely a matter of mathematical or experimental skill. To raise new questions, new possibilities, to regard old problems from a new angle, requires creative imagination and marks real advance in science. The importance of seeing known facts in a new light will be stressed and new theories described.

29 Objeto de estudo: visões conceituais de doença
Disease: é o próprio processo patológico, é um desvio da norma biológica. Na objetividade sobre a doença, os médicos podem ver, auscultar, palpar, cheirar e degustar as manifestações, medindo-as e levando ao diagnóstico médico-científico. Illness: é o sentimento pessoal e a experiência psicológica de uma “saúde ruim”, tal como percebida pelo indivíduo (ou quando ainda nenhuma disease foi encontrada e diagnosticada). Sickness: é o papel ou a posição organizada sociologicamente, consistindo de uma manifestação externa e de um modo cultural de uma não-saúde.

30 O movimento do Pesquisador: da Hipótese à Teoria
Percurso tem um caminho ‘familiar’: intuição  elaborações teóricas  submissão ao empírico  avaliação da suspeita. Pesquisa tem de ir além do papel passivo de confirmar ou refutar hipóteses. Desempenha papel ativo em 4 funções: inicia, reformula, corrige e clarifica a teoria.

31 Movimento na discussão de um Trabalho Científico nas Ciências do Homem
Fenômeno: passível de observação, representando-se na consciência do sujeito a partir de suas experiências, percepções. Significado: é o querer-dizer para o sujeito sobre os fenômenos, em sua visão e entendimento psicológicos e socioculturais. Interpretação: é o discutido/compreendido pelo pesquisador acerca dos significados que foram trazidos/relatados pelos sujeitos.

32 Padrão serendipidade numa pesquisa: a observação de um dado “diferente”
Descoberta por acaso e por sagacidade do autor, de resultados válidos, mas que não eram procurados: Dado imprevisto: fortuito no exame de uma hipótese; relacionável a teoria nova não considerada inicialmente. Dado anômalo: inconsistente com dados estabelecidos; relacionável à teoria que então se torna ampliada. Dado estratégico: inesperado mas relacionável com a teoria geral. Confirma o universal naquele particular. Exemplos de serendipidade: Penicilina com Fleming; Atos Falhos com Freud.

33 Processo de validação de dados / resultados em pesquisas
Validação interna ou “intrapessoal”: Background do pesquisador na prática da realização de entrevistas e de observações clínicas; Planejamento adequado dos métodos, técnicas e procedimentos, segundo a literatura e o senso crítico do pesquisador; Estabelecimento de reação transferencial positiva com o informante no transcorrer da entrevista. Validação externa ou “interpessoal”: Supervisão com o orientador e pesquisadores sêniores; Discussão com os pares em reuniões de sua linha de pesquisa; Discussão de dados preliminares em eventos científicos; Aceite de resultados para publicação em periódico arbitrado.

34 Princípios da Bioética Aplicados às Pesquisas Clínicas e Psicológicas
Autonomia: participação voluntária, sem coerção institucional ou psicológica; instruída com termo de consentimento. Beneficência: maior consciência sobre a situação de vida; aumento da auto-estima pela colaboração; catarse. Não-Maleficência: não invasão da privacidade; não mobilização emocional de traumas; não quebra do anonimato.

35 O que é a Epistemologia episteme (episteme)  conhecimento. logos (lógos)  palavra, discurso, estudo. É um ramo da filosofia: Estuda e teoriza sobre o conhecimento humano. Estudo crítico dos princípios, das hipóteses e dos resultados das diversas ciências, destinado a determinar a sua origem lógica, o seu valor e sua importância. (Vocabulário Lalande) Epistemólogo: estuda como o cientista faz sua prática e os fatores influentes na construção do conhecimento.

36 Parafraseando Marx Importância da epistemologia: Toda epistemologia seria supérflua se a forma de manifestação da produção científica e a essência das leis das ciências coincidissem imediatamente. Em outras palavras: Todo debate epistemológico seria desnecessário somente se os pesquisadores fossem conscientes de todos os fatores psicológicos, socioculturais, filosófico-ideológicos e político-econômicos que constituem vieses nas conclusões que tiram de suas investigações científicas.

37 Bacon: precedente da ciência
Valorização da busca da experiência. Uma simples experiência é um acidente, um acaso. Se buscada é um experimento. O verdadeiro método da experiência começa por acender uma tocha e, depois, com a luz, mostrar o caminho. Deve-se buscar uma experiência ordenada para deduzir axiomas e depois estabelecer novos experimentos. (Nova Organum, Aforismo LXXXII, 1620)

38 Debates Históricos da Epistemologia
David Hume (1748): Problema da teorização sobre o real versus problema de nossa imersão no mundo dos sentidos do qual advêm nossos conhecimentos (como fica a neutralidade da observação?) Problema da assertiva sobre certa causalidade versus problema de que mesmas causas nem sempre são relacionadas com mesmos efeitos (como fica a correlação causa-feito?). Questão do raciocínio versus a experiência pelo hábito (como fica a indução?) Conclusão: trocar a certeza pela probabilidade.

39 Debates Históricos da Epistemologia
Karl Popper (1934): Como estabelecer a verdade da teoria apoiando-se apenas na observação? (é um problema psicológico): - dos enunciados singulares (observação e experimento) aos enunciados universais (teoria) versus a questão da subjetividade humana. Como fazer teorias a partir de observações em número limitado e no presente? (é um problema lógico): - questionamento humiano do método indutivo. Proposta: Falseabilidade ao invés da Verificabilidade (quantos cisnes brancos preciso registrar para teorizar?)

40 Em suma, há limitação nos métodos?
A limitação não está propriamente nos métodos de pesquisa, mas nas possibilidades humanas do pesquisador. Todo conhecimento advém da experiência humana, passando pelos órgãos dos sentidos do pesquisador. (toda elaboração intelectual das teorias é subjetiva) O pesquisador não consegue ver a causa e o efeito, mas apenas pensá-los. (toda relação causal ocorre na ordem do invisível) A sensorialidade do pesquisador só é capaz de visar o particular; nunca alcança o universal. (todo pensamento totalmente indutivo é ilusório)

41 Visão popperiana do avanço da ciência
O avanço da ciência não se deve ao fato de se acumularem ao longo do tempo mais e mais experiências perceptuais. Nem se deve ao fato de estarmos fazendo uso cada vez melhor de nossos sentidos. A ciência não pode ser destilada de experiências sensoriais não interpretadas, independentemente de todo o engenho usado para recolhê-las e ordená-las. Idéias arriscadas, antecipações injustificadas, pensamento especulativo são os únicos meios de que podemos lançar mão para interpretar a natureza: nosso único “organon”, nosso único instrumento para apreendê-la. E devemos arriscar-nos, com esses meios, para alcançar o prêmio. Os que não se disponham a expor suas idéias à eventualidade da refutação não participarão do jogo científico. Popper, 1934

42 Debates Históricos da Epistemologia
Gaston Bachelard (1934) Há ruptura entre o conhecimento comum e o conhecimento científico. A ciência não é o aprofundamento do saber já presente ou da ilusão do saber, mas uma perpétua recusa. Todo conhecimento é resposta a uma questão: nada é dado, tudo é construído.

43 Debates Históricos da Epistemologia
Thomas Kuhn (1962): Paradigma: São as realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência. Ciência normal versus Ciência revolucionária. Quebra-cabeça: as pesquisas científicas têm resultados já previsíveis (tijolinhos no muro já existente).

44 Debates Históricos da Epistemologia
Paul Feyerabend (1975): Contra o método: anarquista. Operações da ciência não têm estrutura em comum. Escreveu o Poeta “Caminante no hay camino, se hace camino al andar...” Cantares..., Antonio Machado Pesquisador: não há um método (único), mas se constrói o método desenvolvendo a pesquisa.

45 Estatuto das Grandes Áreas das Ciências
Formais: Objeto: Entes ideais Modelo: Matemática Validade: Coerência demonstrada dos enunciados Ciências da Natureza ou Empírico-Formais: Objeto: Fatos naturais Modelo: Física Validade: Observação, experimento e reprodução: nexos causais para entendimento da natureza Ciências do Homem, da Cultura ou Simbólicas: Objeto: Fenômeno humano Modelo: Antropologia Validade: Apreensão na intersubjetividades e consenso: plausibilidade para entendimento do humano.

46 Ciência Moderna Galileu, 1623 Cartesianismo Descartes, 1637
Escolas Teóricas em Convergência e Divergência com Ciências Humanas e Métodos Qualitativos Ciência Moderna Galileu, 1623 Cartesianismo Descartes, 1637 Positivismo Comte, 1844 Existencialismo Kierkegaard, 1844 Materialismo Histórico Marx, 1844 Medicina Experimental Bernard, 1865 Historicismo Dilthey, 1883

47 Perspectivismo Nietzsche, 1886 Psicanálise Freud, 1896
Escolas Teóricas em Convergência e Divergência com Ciências Humanas e Métodos Qualitativos Perspectivismo Nietzsche, 1886 Psicanálise Freud, 1896 Sociologia científica Durkheim, 1897 Fenomenologia Husserl, 1900 Sociologia Compreensiva Weber, 1913 Estruturalismo Saussure, 1916 Antropologia Malinowski, 1922 Sociol. do Conhecimento Mannheim, 1929

48 Contribuições à realidade constitucional humana (em porcentagens, por brincadeira)
Evolução Big-Bang Darwiniana 15% Genética Mendeliana 15% Angústias Kierkegaardianas 15% Inconsciente Freudiano 10% Ideologia Hegeliana Marxista 10% Mecanismos Fisiológicos Claude-Bernardianos 10% Formação Hebraico-Cristã 5% Significados Antropológicos Lévi-Straussianos 5% Lingüística Saussureana 5% Sentidos Sociológicos Weberianos 5% Respostas Pavlovianas / Skinnerianas 5% Decisões da Razão Cartesiana 0% Jornais Impressos, Televisivos e Radiofônicos 0%

49 Discurso do Positivismo
Reconhece de agora em diante, como regra fundamental, que toda proposição que não seja estritamente redutível ao simples enunciado de um fato, particular ou geral, não pode oferecer nenhum sentido real e inteligível. A pura imaginação perde assim, irrevogavelmente sua antiga supremacia mental, e se subordina necessariamente à observação, de maneira a constituir um estado lógico plenamente normal ... Assim, o verdadeiro espírito positivo consiste sobretudo em ver para crer, em estudar o que é, a fim de concluir disso o que será, segundo o dogma geral da invariabilidade das leis naturais (Comte, 1844)

50 Epistemologia Nietzschiana
Contra o positivismo, que pára frente aos fenômenos: “há apenas fatos”, eu diria: não, propriamente fatos não há, ao contrário, só interpretações. Nós não podemos constatar nenhum fato “em si”, é talvez um absurdo querer qualquer coisa do gênero. Perspectivismo: Enquanto a palavra “conhecimento” tenha sentido, o mundo é cognoscível; mas ele é interpretável em modos diferentes, não tem atrás de si um sentido, mas inumeráveis sentidos. São as nossas necessidades que interpretam o mundo: os nossos instintos e os seus prós e contra. Cada instinto é uma espécie de sede de domínio, cada um tem a sua perspectiva, que ele gostaria de impor como norma a todos os outros instintos. (Nietzsche, 1886)

51 Quádrupla Paternidade para o Entendimento Científico Autônomo e Complexo dos Fenômenos Humanos
“A Ideologia Alemã” Contribuição filosófico-política em Marx/Engels – ação da Ideologia  significados das relações entre grupos humanos na História. “Estudos sobre a Histeria” Contribuição psicanalítica em Freud – ação do Inconsciente  significados dos atos humanos na Vida Pessoal. “Conceitos Básicos de Sociologia” Contribuição sociológica em Weber – ação dos Significados Sociais  significados dos atos humanas na relação com os outros na Sociedade. “Argonautas do Pacífico Ocidental” Contribuição antropológica em Malinowski – ação do Funcional  significados de representações humanas partilhadas na Cultura.

52 Semelhanças entre a Ideologia em Marx e o Inconsciente em Freud
Ideologia e Inconsciente contém idéias cujas identidades, relações e influências desconhecemos: Adotamos crenças e atitudes sem saber sua origem, sem pensar em suas causas, sem avaliar se são coerentes. Ideologia e Inconsciente operam através do imaginário, com representações vindas da experiência imediata, realizando-se indiretamente em nossa consciência: Pensamos, falamos, agimos de modos que parecem naturais, porque a sociedade os incute em nós através da família, escola, mídia, relações na sociedade. Um véu de imagens interpõe-se entre nossa consciência e a realidade.

53 Semelhanças entre Ideologia e Inconsciente
Inconsciente e Ideologia não são voluntários: O Inconsciente precisa de imagens, substitutos, sonhos, lapsos, atos falhos, sintomas, sublimação para manifestar seus desejos e, ao mesmo tempo, escondê-los do consciente. A Ideologia precisa de idéias-imagens, da inversão entre causas e efeitos, do silêncio para manifestar as vontades de grupos sociais dominantes e, ao mesmo tempo, escondê-las como se fossem de uma sociedade única. Portanto, para bem conhecer o Homem é preciso: desvelar os mecanismos da ideologia. desmascarar os mecanismos do inconsciente (M. Chauí)

54 Da Astrofísica à Medicina e às Ciências da Saúde
Galileu - O ensaiador, 1623 - universo escrito em língua matemática; - observação, experimento, indução; - física como primeira ciência. Descartes - Discurso do método, 1637 - roupagem filosófica para a moderna ciência galileana; - regras precisas para ciências experimentais. Comte - Discurso sobre o espírito positivo, 1844 - delimitação dos fatos em si; valorização da relação causa-efeito; - ciências experimentais como modelo das demais. Bernard - Medicina experimental, 1865 - direcionamento da medicina científica moderna; - visão mecanicista do corpo humano; - fisiologia como paradigmática das ciências médicas e da saúde.

55 A Verdade para o Poeta Encontrei hoje em ruas, separadamente, dois amigos meus que se haviam zangado um com o outro. Cada um me contou a narrativa de porque se haviam zangado. Cada um me disse a verdade. Cada um me contou as suas razões. Ambos tinham razão. Ambos tinham toda a razão. Não era que um via uma coisa e o outro outra, ou que um via um lado das coisas e outro um lado diferente. Não: cada um via as coisas exatamente como se haviam passado, cada um as via com um critério idêntico ao do outro, mas cada um via uma coisa diferente, e cada um, portanto, tinha razão. Fiquei confuso desta dupla existência da verdade (Livro do desassossego, Bernardo Soares / Fernando Pessoa)

56 Dúvidas sobre a Cientificidade da Pesquisa em Ciências do Homem
Conclusões da pesquisa qualitativa são generalizáveis? E os vieses das pesquisas qualitativas: quais seus efeitos sobre a apreensão dos dados? A ação/interação do pesquisador influi na fala e no comportamento dos sujeitos de seu estudo? Dois pesquisadores estudando em separado os mesmos sujeitos, no mesmo setting e empregando os mesmos meios chegarão aos mesmos resultados? Quais as diferenças entre a pesquisa qualitativa e outras atividades não-científicas mas que geram discurso ou representações sobre os seres humanos?

57 Dúvidas sobre Pesquisa em Ciências do Homem
Abordagens qualitativa e quantitativa podem ser usadas juntas num único projeto de pesquisa? A pesquisa qualitativa tem estatuto de ciência? Como nasceram os métodos qualitativos? Qual é o objetivo da pesquisa qualitativa? Como interpretar significados relatados pelas pessoas? Quais as diferenças paradigmáticas, de recursos técnicos, de apresentação e discussão de resultados entre a pesquisa quantitativa e qualitativa? Faz sentido perguntar qual tipo de pesquisa é melhor: qualitativa ou quantitativa? Contradizem-se? Que entender sobre complementaridade entre métodos?

58 Definições de Métodos Qualitativos No Campo das Ciências do Homem
... os pesquisadores qualitativistas estudam as coisas em seu setting natural, tentando dar sentido ou interpretar fenômenos nos termos das significações que as pessoas trazem para eles (Denzin & Lincoln) ... procuram entender o processo pelo qual as pessoas constroem significados e descrevem o que são aqueles significados (Bogdan e Biklen)

59 Definições de Métodos Qualitativos
... indutivos, holísticos, êmicos, subjetivos e orientados para o processo, usados para compreender, interpretar, descrever e desenvolver teorias relativas a fenômenos ou a settings (Morse & Field) ... aquelas capazes de incorporar a questão do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos, às relações, e às estruturas sociais, sendo essas últimas tomadas tanto no seu advento quanto na sua transformação, como construções humanas significativas (Minayo)

60 O Método Clínico-Qualitativo: Recorte Conceitual da Pesquisa nas Ciências Humanas Utilizada em Settings da Assistência em Saúde Método para interpretar as significações simbólicas (psicodinâmicas, bem como socioculturais), que indivíduos (pacientes, familiares, profissionais) dão a fenômenos vivenciados/observados no adoecer. Trabalha no paradigma fenomenológico, na grande área das Ciências do Homem, valorizando: - as angústias existenciais dos sujeitos; - a atitude clínica de escuta e acolhida; - um quadro interdisciplinar de referências teóricas, enfocando concepções psicanalíticas básicas (LPCQ / Unicamp)

61 Atitudes enquanto pilares definidores do Método Clínico-Qualitativo
Atitude Existencialista (kierkegaardiana): Valorização consciente das angústias e ansiedades humanas como força motriz para a pesquisa (como deveria ser tida em todos os ramos da ciência). Atitude Clínica (hipocrática): Inclinação da escuta e do olhar para o sofrimento do indivíduo sob estudo, movido pelo hábito da ajuda terapêutica. Atitude Psicanalítica (freudiana): Consideração da interação afetiva entrevistador-entrevistado e de teorias psicodinâmicas para as interpretações no estudo.

62 Diferenças entre Metodologias ‘Quanti’ e ‘Quali’ na Pesquisa em Saúde
Método: Quantitativo Qualitativo Paradigma: Positivismo Fenomenologia Atitude: Explicação Compreensão Objeto: Fato (descrição) Fenômeno (apreensão) Disciplinas: Ciências Médicas, Psicanálise, Antropol., Psicol. Comport. Psicol. Compreensiva Sociol. Positivista Sociol. Compreensiva Temas: Ocorrências gerais Ocorrência específica Comparação: Confronto grupos Desnecessária

63 Busca: Nexo causal Nexo de sentido
Método: Quanti Quali Busca: Nexo causal Nexo de sentido Objetivo: Relação causa-efeito Rel. de significados Desenho: Preestabelecido Flexível Andamento: Prefixado Evolutivo Força: Reprodutibilidade Validade Abordagem: Por experimentos Observador Instrumentos: Classificações, Próprio pesquisador Escalas, Entrev. semidirigida, Observação dirigida, Observação livre, Inform. randômicas Levant. intencional Amostra: Randomizada Intencional

64 Método: Quanti Quali Perfil da amostra: Maior número Poucos sujeitos
Tamanho amostral: ‘N’ predefinido Não busca um ‘N' Variáveis: Controladas Livres Tratamento dados: Estatística Análise conteúdo Apresentação: Em linguagem Citações literais matemática do campo Discussão: Confirma ou Revisão de refuta hipóteses pressupostos Generalização: De resultados De conceitos Quem generaliza: Autor/Pesquisador Leitor/Consumidor

65 Escolha de técnicas de coleta de dados
Coletar dados é como pescar peixes num lago, num rio ou no mar: Há redes de diversos tipos (os instrumentos de pesquisa) para peixes de diferentes tamanhos e de diferentes hábitats (os objetos de estudo). Há técnicas distintas para se pegar “peixes quantitativos” e “peixes qualitativos”. (só um desavisado caçaria baleias com anzol ou pescaria lambaris com arpão)

66 Como seria sem a angústia...
O Mundo não se fez para pensarmos nele (Pensar é estar doente dos olhos) Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo... O rio da minha aldeia não faz pensar em nada. Quem está ao pé dele está só ao pé dele. Acho tão natural que não se pense. Alberto Caieiro / Fernando Pessoa,

67 Passos do Trabalho de Campo
Idas de ambientação às regras do dampo Imersão e entrevistas de aculturação Seleção dos sujeitos, convite Leitura do termo de consentimento Marcação da entrevista Uso de recinto reservado Estabelecimento do rapport

68 Passos do Trabalho de Campo (cont.)
Coleta dos dados de identificação pessoal Colocação da questão disparadora Andamento semidirigido Paulatina colocação das questões esclarecedoras Observação e auto-observação no todo da entrevista Disponibilidade do pesquisador pós-entrevista

69 Tipos de Construção da Amostra Em Pesquisas Qualitativas
Por Saturação: inclusão de sujeitos de ampla homogeneidade interna; amostra é fechada por repetições dos dados. Por Bola-de-Neve: modo de captação de sujeitos por inclusão de indivíduos sucessivos, indicados, levando a teoria de ‘frouxa’ a ‘organizada’ (há também saturação). Por Variedade de Tipos: critério de uma homogeneidade fundamental; inclusão de tipos complementares, amostra de sujeitos é fechada com outros eventuais informantes por inclusão deliberada pelo pesquisador.

70 Sobre as técnicas de Análise de Conteúdo
Técnica de pesquisa para a descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto da comunicação. Quem diz o quê, para quem, e com qual efeito (Berelson, 1952) Estratégia de selecionar e reorganizar o material transcrito, segundo tópicos / categorias que são identificados em várias leituras flutuantes do corpus, respondendo às hipóteses. Leituras flutuantes: Modo de ler, surfando, não privilegiando a priori qualquer elemento da fala: deixar funcionar livremente a própria atividade inconsciente e suspender motivações que dirigem a atenção. Sem memória, sem desejo (Bion).

71 Freud aos médicos que exerciam Psicanálise, em “A Dinâmica da Transferência” (1912)
Pois assim que alguém deliberadamente concentra bastante a atenção, começa a selecionar o material que lhe é apresentado; um ponto fixar-se-á em sua mente com clareza particular e algum outro será, correspondentemente, negligenciado, e, ao fazer essa seleção, estará seguindo suas expectativas ou inclinações. Isto, contudo, é exatamente o que não deve ser feito. Ao efetuar a seleção, se seguir suas expectativas, estará arriscado a nunca descobrir nada além do que já sabe; e, se seguir as inclinações, certamente falsificará o que possa perceber. Não se deve esquecer que o que se escuta, na maioria, são coisas cujo significado só é identificado posteriormente.

72 Lembrando a experiência sobre a fala segundo Montaigne, 1533-1592
A palavra é metade de quem fala, metade de quem escuta. Quem ouve deve preparar-se para recebê-la como os que se preparam para receber a bola de tênis, de acordo com a direção e a força do lance. Damos o tom à nossa voz, buscando-o nos ouvidos daquele a quem nos dirigimos. Falamos o que temos a tratar a quem nos ouve sobre tal. O tom de voz encerra uma parte da expressão, cumpre graduá-lo portanto. Há tom para ensinar, para adular e outro para advertir. Que a voz, além de alcançar o ouvinte, que o fira, e por vezes o transpasse.

73 Cuidado com a sedução das palavras
Todas as palavras, tomadas literalmente, são falsas. A verdade habita o silêncio que está entre elas. É preciso investir no que não foi dito, deixando a atenção nas entrelinhas. É sábio fazer a atenção flutuar, apenas tangenciar as palavras sem cair em suas ciladas. É preciso resistir a seu poder enfeitiçante que tanto arrasta os ingênuos. Cuidado com sedução da clareza! Cuidado com o engano do óbvio! (Rubem Alves)


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