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Frei Luís de Sousa - O Romantismo -

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Apresentação em tema: "Frei Luís de Sousa - O Romantismo -"— Transcrição da apresentação:

1 Frei Luís de Sousa - O Romantismo -
Almeida Garrett

2 Romantismo Primado dos valores do sentimento e da sensibilidade.
Individualismo. Hipertrofia do eu: Egocentrismo. Inspiração livre.      Arte desligada de valores éticos, utilitários e sociais. Autonomia dos valores estéticos. Arrebatamentos, exaltação desmedida, espontaneidade. Nacionalismo.

3 Homem que procura a evasão do real: fuga para locais que representem qualquer coisa de exótico, fuga para o passado.      Interesse pelos anseios e enigmas profundos do homem. Homem revoltado, irrequieto, pessimista. Culto da mulher-anjo ou da mulher-demónio. Amor sentimental e sensorial.

4 Preferência pelas horas sombrias, crepusculares ou da noite.
Preferência pelas personagens imperfeitas. Vocabulário familiar, afectivo, popular, sintaxe própria da fala. Versificação livre e variedade estrófica. Gosto pela quadra. Democracia. Simpatia pelo povo. Tom coloquial. Exploração das noções de originalidade e de génio.

5 Subversão das formas clássicas.
Interesse pelo excepcional e desmedido, procura do particular e do diverso. Exaltação da energia criativa, do sonho e da imaginação. Confessionismo. Valorização do nacional e do popular. Redescoberta do passado medieval.

6 Texto dramático Assente nas falas das personagens. Poucas descrições.
Suporta-se na 2ª pessoa. Tem como objectivo ser representado.

7 Palácio de Manuel de Sousa Coutinho, em Almada.
ESPAÇO - Acto 1º Palácio de Manuel de Sousa Coutinho, em Almada. Câmara antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa elegância portuguesa dos princípios do século XII. É, pois, um espaço sem grades, amplamente aberto para o exterior, onde as personagens ainda gozam a liberdade de se movimentarem guiadas pela sua vontade própria. Através das grandes janelas rasgadas domina-se uma paisagem vasta. – É o fim da tarde.

8 ESPAÇO - Acto 2º Palácio que fora de D. João de Portugal, em Almada, que agora pertença a D. Madalena. Salão antigo de gosto melancólico e pesado, com grandes retratos de família, muitos de corpo inteiro; estão em lugar de destaque o de el-rei D. Sebastião, o de Camões e o de D. João de Portugal. Portas do lado direito para o exterior, do esquerdo para o interior, cobertas de reposteiros com as armas dos Condes de Vimioso. Deixa de haver janelas e as portas, ainda no plural, são já mais destinadas a cercar as personagens que a deixá-las escapar.

9 ESPAÇO - Acto 3º Parte baixa do Palácio de D. João de Portugal, comunicando pela porta à esquerda do espectador, com a capela da Senhora da Piedade na Igreja de S. Paulo dos Domínicos de Almada: é um casarão sem ornato algum. Arrumadas às paredes, em diversos pontos, escadas, tocheiras, cruzes e outros objectos próprios para uso religioso. É alta noite.

10 Tratamento do espaço Progressão em termos negativos. Há um afunilamento quer a nível de luz, decoração ou amplitude. Ou seja, vai evoluindo no sentido da acção: vão surgindo acontecimentos que afectam a vida normal familiar e que culmina com a morte de Maria. A acção caminha no sentido da destruição, a par do tratamento que vai sendo dado ao espaço.

11 Espaço social (costumes e mentalidades da época)
Características do palácio de D. Manuel - família da aristocracia. Madalena lendo - mulher que usufrui de educação. A existência de Telmo, Miranda. Maria lendo “Menina e Moça” de Bernardim Ribeiro. D. João servia ao lado de D. Sebastião. A peste ataca população com más condições; a Almada não chega ( falta de comunicação). Os casamentos não eram feitos por amor - D. Madalena casa com D. João por obrigação. D. Madalena fica com tudo o que era de D. João - os casamentos eram feitos com base na partilha. Maria é uma filha ilegítima por ser filha de um segundo casamento. Más comunicações: um cativo na terra santa do qual não chegam notícias O marido funciona, muitas vezes, com pai da esposa, pois esta é muito mais nova que ele.

12 Personagens Relevo: - Principal / Secundária / Figurante
Formação da personagem: - Modelada / Plana - Tipo ( representa classe social)

13 Manuel de Sousa Coutinho (personagem principal e plana)
Nobre, cavaleiro de Malta. Construído segundo os parâmetros do ideal da época clássica. Racional. Bom marido e pai terno. Corajoso, audaz, decidido, patriota, nacionalista Valores: Pátria, família e honra. Excepções ao equilíbrio (momentos em que Manuel foge ao modelo clássico e tende para o romântico): cena do lenço de sangue / espectáculo excessivo do incêndio.

14 D. João de Portugal (personagem principal, plana e central)
Nobre (família dos Vimiosos). Cavaleiro. Ama a Pátria e o seu rei. Imagem da pátria cativa. Ligado à lenda de D. Sebastião. Nunca assume a sua identidade. Exemplo de paradoxo / contradição: personagem ausente mas que, no desenrolar da acção, está sempre presente.

15 · Telmo Pais (personagem principal)
Escudeiro e aio de Maria. Tem dois amos: D. João e Maria. Confidente de D. Madalena. Chama viva do passado (alimenta os terrores de D. Madalena). Provoca a confidência das três personagens principais . Considerado personagem modelada num momento: durante anos, Telmo rezou para que D. João regressasse mas quando este voltou quase que desejou que se fosse embora.

16 Frei Jorge Coutinho (personagem secundária e plana)
Irmão de Manuel de Sousa. Ordem dos Dominicanos. Amigo da família. Confidente nas horas de angústia. Testemunha as fraquezas de Manuel de Sousa.

17 · D. Madalena de Vilhena (personagem principal e plana)
Nobre e culta. Sentimental. Complexo de culpa (nunca gostou de D. João, mas sim de D. Manuel). Torturada pelo remorso do passado. Ligada à lenda dos amores infelizes de Inês de Castro. Apaixonada, supersticiosa, pessimista, romântica (em termos de época), sensível, frágil.

18 · D. Maria de Noronha (personagem principal e plana)
Nobre: sangue dos Vilhenas e dos Sousas. Precocemente desenvolvida, física e psicologicamente. Doente de tuberculose. Poderosa intuição e dotada do dom da profecia. Encarnação da Menina e Moça de Bernardim Ribeiro. Modelo da mulher romântica: a mulher-anjo. A única vítima inocente.

19 Etapas em “Frei Luís de Sousa”
1ª Etapa: D. João existe apenas no domínio psicológico das personagens (1º acto). 2ª Etapa: D. João torna-se visível no retrato (início do 2º acto). 3ª Etapa: D. João chega na forma de Romeiro (final do 2º acto). 4ª Etapa: Embora não esteja presente é D. João que provoca a morte das 3 personagens (3º acto). Em nenhuma altura temos D. João assumido como tal. ( Ninguém).

20 Características trágicas em Frei Luís de Sousa
Existência de personagens com o papel de confidentes (personagens que existem para que as outras personagens digam o que sentem) e coro (conjunto de pessoas que cantava um cântico pesado que ia interrompendo a acção para comentar o desenrolar da mesma e profetizar. Existência da regra das três unidades: tempo, espaço e acção. A tragédia tem como objectivo provocar a piedade (pelas vítimas) e terror nos espectadores.

21 Estrutura do desfecho:
Presságios Vários elementos, situações ou ditos das personagens que vão aumentando a tragédia: Fogo destrói a família e destrói o retrato). Leituras (“ Os Lusíadas” e “Menina e Moça”) Presença do Destino como castigo do amor de D. Madalena por D. Manuel: - força superior que transcende a vontade das personagens e perante a qual as personagens se tornam indefesas. Peripécia (momento em que o decorrer da acção é irremediavelmente invertido) à a chegada de alguém que traz notícias de D. João de Portugal. Revelação (segredo / identidade que se revela) - o revelar da identidade do romeiro. Catástrofe (morte violenta / final que vitima as personagens envolvidas) - morte figurada no caso de Manuel e Madalena e morte violenta de Maria.

22 Ananké: Destino que junta Manuel de Sousa e D. Madalena e mantém D
Ananké: Destino que junta Manuel de Sousa e D. Madalena e mantém D. João cativo 21 anos; é o destino que leva a família de Manuel de Sousa Coutinho a mudar-se para o palácio de D. João (Moira ou fatum: força do destino). Hybris: Desafio lançado aos deuses ou às autoridades (atitude de D. Madalena ao casar com D. Manuel sem ter a certeza absoluta da morte do seu primeiro marido; atitude de Maria, revoltada com a justiça divina e que, por isso, incita os pais a mentirem para ‘esconderem’ a sua ilegitimidade). Agón: Conflito psicológico, dilemas interiores (sobretudo Telmo, dividido entre a fidelidade a D. João e o amor por Maria, e D. Madalena, que se sente culpada por ter amado Manuel de Sousa Coutinho quando ainda estava casada com D. João). Anagnórisis: Reconhecimento ou constatação dos motivos trágicos (Romeiro que é identificado como D. João de Portugal). Peripéteia: Peripécia, mutação repentina da situação (aparecimento de D. João, na figura do Romeiro, o que torna ilegítimo o casamento de D. Madalena com Manuel de Sousa Coutinho e, por isso, que seja ilegítima a sua filha; daí também a ‘morte’ do casal para o mundo, refugiando-se num convento).

23 Clímax: Aumento da tensão emocional - progressivamente até ao final de cada acto, mas tendo um momento culminante no final do segundo acto. Phatos: Sofrimento crescente ligado à aflição, à angústia e à incerteza, devido à culpa (D. Madalena), à inconstância dos seus sentimentos (Telmo) e à dissolução (final) da família - sofrimento ligado ao clímax da acção através de uma precipitação de acontecimentos marcados por presságios. Katastrophé: Catástrofe, desfecho trágico (separação do casal, morte de Maria; Telmo esmagado pelo desgosto; para D. João, é encontrar a mulher casada com outro homem, na sua própria casa, e, sobretudo, já não ter lugar no mundo dos que conheceu e amou - daí o seu não-lugar final, a única personagem cujo destino fica em aberto, nem morto nem vivo?) Cathársis: Purificação, através do castigo (o casal que renuncia às paixões do mundo e se refugia num convento - ela adoptando um nome que evoca o seu martírio, ele purificando-se pela escrita; Maria morrendo de vergonha).

24      Leitura simbólica Tragédia – sexta-feira (dia de azar); a noite (parte do dia propícia a sentimentos de terror e parte escura do dia); os números: 7 - número de anos de busca. 14 - tempo de casamento (7 reforçado, 14=2x7). 21 - tempo da acção (7+14=21). 13 - número de azar, idade de Maria. 3 - número de elementos da família sujeitos à destruição, 3 retratos na sala dos retratos.

25 Pátria – atitudes de Manuel de Sousa que se podem resumir num protesto à tirania, defesa dos valores da pátria. Incêndio - símbolo patriótico. A família pode ser vista como a unidade da pátria, a destruição da família é a destruição da pátria governada pelos estrangeiros. Oposição entre D. Manuel e D. João – Oposição Portugal velho e ultrapassado e o novo e actual que se pretende (Manuel).

26 Características românticas
Narcisismo / hipertrofia do eu: personagens construídas a partir de uma projecção. Almeida Garrett transporta o seu problema de amor para D. Madalena (apaixona-se por Adelaide Pastor Deville quando ainda era casado com Luísa Midosi) e transporta o problema da filha ilegítima para Maria.   Preferência pelas horas sombrias: o desenrolar da acção passa-se essencialmente à noite ou de madrugada. Culto da mulher-anjo: na personagem de Maria. Nacionalismo / patriotismo: nas atitudes de Manuel de Sousa.   Preferência por personagens imperfeitas: D. Madalena que se apaixonou ainda casada. Religiosidade. Mitos (sebastianismo) / superstição. Infracção e pecado. Individualismo versus sociedade: Manuel de Sousa Coutinho decide o que há-de fazer porque a sociedade aponta Maria como filha do pecado. Liberdade versus destino: Ao escolher o amor, D. Madalena comete uma infracção à religião e costumes e o destino castiga essa acção. Será então o homem livre ou será dominado pelo destino e por ele castigado?

27 Tempo e Espaço Papel no desenrolar trágico da acção
O tempo vai caminhando para uma concentração no momento do clímax. É como que uma preparação para aquele momento. O espaço é cada vez mais escuro e tem relação directa com o desfecho da acção que será no altar. Caminha-se de um espaço amplo para um espaço reduzido. Caminha-se de objectos confortáveis para objectos que são alusões cada vez mais nítidas à catástrofe. Do profano ao religioso e da vida à morte. Telmo cada vez faz mais agoiros. As personagens vão anunciando o aparecimento de um terror qualquer. Terrores e medos de D. Madalena que contribuem para um ambiente mais tenso; Maria que conta o que lê, o que sonha, o que pensa. Vão surgindo previsões do que se irá passar.

28 Substracto cultural e literário na génese da obra
Memória ao Conservatório Real (Memória lida em conferência do Conservatório Real de Lisboa, em 6 de Maio de Frei Luís de Sousa foi representado pela primeira vez, no Teatro da Quinta do Pinheiro, em 4 de Julho de 1843): “Há muitos anos, discorrendo um Verão pela deliciosa beira-mar da província do Minho, fui dar com um teatro ambulante de actores castelhanos fazendo suas récitas numa tenda de lona no areal da Póvoa de Varzim - além de Vila do Conde. Era tempo de banhos, havia feira e concorrência grande; fomos à noite ao teatro: davam a Comédia famosa não sei de quem, mas o assunto era este mesmo de Frei Luís de Sousa. Lembra-me que ri muito de um homem que nadava em certas ondas de papelão, enquanto num altinho, mais baixo que o cotovelo dos actores, ardia um palaciozinho também de papelão... era o de Manuel de Sousa Coutinho em Almada!” “... Lendo a célebre Memória do sr. Bispo de Viseu D. Francisco Alexandre Lobo, e relendo, por causa dela, a romanesca mas sincera narrativa do padre Frei António da Encarnação pela primeira vez atentei no que era de dramático aquele assunto.”

29 Substracto cultural e literário na génese da obra
“Há dois anos, (...) quando ouvi ler (...) o drama O Cativo de Fez, é que eu senti como um raio de inspiração nas reflexões que ali [relatório da comissão] se faziam sobre a comparação de aquela fábula engenhosa e complicada com a história tão simples do nosso insigne escritor.” “não [me] julguei obrigado a ser escravo da cronologia nem a rejeitar por impróprio da cena tudo quanto a severa crítica moderna indigitou como arriscado de se apurar para a história. Eu sacrifico às musas de Homero não às de Heródoto: e quem sabe, por fim, em qual dos dois altares arde o fogo de melhor verdade!” [Aém da Memória do sr. Bispo de Viseu,] “colacionei todas as fontes de onde ele derivou e apurou seu copioso cabedal de notícias e reflexões; mas não foi para ordenar datas, verificar factos ou assentar nomes, senão para estudar de novo (...) caracteres, costumes, as cores do lugar e o aspecto da época, aliás das mais sabidas e averiguadas.” “Dai-lhe [ao povo] a verdade do passado no romance e no drama histórico, - no drama e na novela da actualidade oferecei-lhe o espelho em que se mire a si e ao seu tempo, a sociedade que lhe está por cima, abaixo, ao nível - e o povo há-de aplaudir , porque entende: é preciso entender para apreciar e gostar.

30 Leitura biográfico-psicológica: a ficcionalização de um caso pessoal
As obras devem ser consideradas em si mesmas e não em função do seu autor ou da sua época, mas alguns autores fizeram desta peça uma leitura biográfica e psicológica baseada no caso pessoal de Garrett, valorizando o drama íntimo da figura de D. Madalena, que amou ilicitamente o segundo homem da sua vida, Manuel de Sousa Coutinho, estando ainda casada com o primeiro - este facto atormenta a consciência desta mulher, confessando-o dolorosamente ao velho Telmo Pais. O regresso inesperado, mas sempre temido, do primeiro marido desfaz a nova família, tornando ilegítima a filha desta relação (Maria de Noronha). Sobretudo para D. Madalena, ao crime do adultério de pensamento, sucedeu o castigo da desagregação familiar, da morte da filha e da morte para o mundo (solução religiosa, tipicamente romântica). Separado da primeira esposa, Luísa Midosi, mas casado com ela aos olhos da Igreja, Almeida Garrett conhecera e mantivera uma relação com a jovem Adelaide Deville Pastor, de quem tivera uma filha, Maria Adelaide. Porém, esta mulher morrera inesperadamente em 1841, deixando o amargurado escritor com uma filha ilegítima nos braços, face aos olhos da sociedade conservadora do tempo. Neste caso, ler o drama como a transposição de um caso particular, perante a situação concreta da morte de Adelaide Pastor e da peculiar situação da filha, significa que o autor teria o desejo de suscitar a piedade e a sua reabilitação aos olhos da sociedade, o que faria de Maria de Noronha a personagem central: Com esta morte de dor e de vergonha antes da cerimónia religiosa, despertava-se o terror e a piedade, e expiava-se a culpa dos seus progenitores, através da noção cristã de pecado e respectivo remorso (catástrofe moral).

31 Leitura religiosa A angustiante consciência do pecado, manifestada desde a cena inaugural: Atormentada pelos fantasmas do passado e pela sua consciência, D. Madalena vive em constante e profunda ansiedade. A desafiadora revolta protagonizada pela jovem Maria de Noronha nos instantes que precedem a sua morte por tuberculose (III, 11), num longo e patético monólogo, contra a falta de humanidade de um Deus justiceiro e vingador, que assim lhe rouba os seus legítimos pais. O dramaturgo suscita assim a piedade para a única vítima inocente. As razões e os valores religiosos, sobretudo a indissolubilidade do casamento (ordem divina), vencem crua e desumanamente as razões do coração e o fruto de uma união apaixonada (plano humano). O mesmo sentimento de aguda revolta de Maria fora momentaneamente partilhado pelo seu pai. Com efeito, no início do derradeiro Acto, aparece-nos um Manuel de Sousa profundamente transtornado pela dor, invocando Deus na sua desgraça, dominado apenas por um doloroso sentimento: a perdição de sua filha no ‘abismo da vergonha’, vítima inocente do drama familiar. Recebe, então, os conselhos de resignação e acatamento dos desígnios da divina Providência, por parte do irmão, Frei Jorge, que lhe recomenda o abandono do mundo. Depois da interrupção da cerimónia religiosa por Maria, a peça termina justamente com um sentimento misto de resignação e esperança cristãs: ao pecado do adultério de pensamento e à ilicitude da relação matrimonial, impõe-se a solução religiosa, como forma de repor a desejada ordem moral – ao crime sucede a expiação.

32 Leitura genológica: drama romântico ou tragédia clássica?
Os dois primeiros actos são de índole mais trágica, ao passo que o terceiro e último, sobretudo com a melodramática morte de Maria, é compreensivelmente mais sombrio e patético. Nos dois primeiros, cuja sobriedade trágica culmina na anagnórisis final do II Acto, sobressai um crescente clima de medo, em que uma família é ameaçada pelo pecado e ensombrada pela figura do ausente/presente D. João de Portugal, encarnação de um Destino fatal; diferentemente, no terceiro, mais declamatório, é o cristianismo romântico que impõe a morte de Maria, como uma espécie de expiação. Isto mesmo foi salientado, entre outros críticos, por Manuel Antunes: "Até aqui – final do segundo acto – o Frei Luís de Sousa aparece-nos como peça altamente trágica, se não sempre pelos personagens, ao menos, sem dúvida alguma, pelo ambiente. No terceiro acto, porém, o clima surge-nos de drama, predominantemente de drama. De drama romântico pronunciado. Garrett sacrificou à moda do tempo". Por conseguinte, podemos afirmar que, o Frei Luís de Sousa é formalmente um drama romântico, servido por um enredo nacional de inegável fundo trágico.

33 Leitura político-sociológica
A peça pode também ser vista como uma censura mais ou menos velada e simbólica, mas nem por isso menos eficaz, da situação político-social portuguesa, vivida sob o governo conservador e autoritário de Costa Cabral (o cabralismo). Não surpreende, por isso, que a censura cabralista chegue a questionar os perigos do exaltado patriotismo da peça, amputando-lhe os actos ou falas de bravura revolucionária diante da tirania castelhana (incêndio do palácio de Manuel de Sousa Coutinho), argumentando com as consequências para as relações diplomáticas entre os dois estados peninsulares. Aliás, terão sido as ideias políticas mais revolucionárias de Almeida Garrett que, exonerado dos cargos públicos ligados directamente à reforma do teatro português, impediram, durante algum tempo, a representação do Frei Luís de Sousa. Está subjacente no Frei Luís de Sousa a ideológica exploração da similitude entre duas épocas históricas: o moderno autoritarismo cabralista, sob a aparência de um regime liberalista, assemelha-se à despótica ocupação castelhana. Neste sentido, a obra de Garrett não deixa de ser uma crítica mais ou menos velada à política vigente, ressaltando a revolta e sublevação de um homem (Manuel de Sousa) contra a tirania de um regime imposto, e em prol do elevado valor da liberdade e da independência ideológica. Imagem ficcional do empenhamento político-ideológico do próprio Garrett, o heroísmo de Manuel de Sousa deve ser interpretado como um significativo acto de vontade, por parte de um homem que preza a liberdade contra todas as formas de tirania.

34 Leitura psicocrítica: o conflito e a psicologia profunda
O dramatismo intensifica-se quando o velho Telmo, que para António José Saraiva é a verdadeira personagem central do drama, se consciencializa da passagem do tempo, dando-se conta de que a antiga veneração ou culto por D. João, que vive apenas na sua "lembrança mumificada", é substituída por uma sentida afeição bem real e viva pela jovem Maria de Noronha. Este é o cerne do conflito interior de Telmo Pais, aquele que lhe opõe a antiga "fidelidade de escudeiro" e nova afeição por Maria. Mudam-se os tempos e as circunstâncias, mudam os corações, e a pretendida coerência de sentimentos torna-se impossível. Perante este dilema interior, o velho aio acaba por transformar-se no anunciador da "morte do impostor" (D. João de Portugal). Essa morte do passado é-lhe solicitada expressamente pelo antigo amo, mas esse pedido estava já entranhadamente sentido no perturbado coração de Telmo. Resumidamente, o Frei Luís de Sousa pode e deve ser visto como "um drama do eu, na parte em que respeita a Telmo Pais", no sentido em que o dramaturgo desenvolveu nesta personagem a temática da unidade e coerência do homem, e da sua relação com o seu destino.

35 Leitura mítico-cultural: o sebastianismo
Para Garrett, desencantado com o rumo da nação, umbilicalmente ligado a um passado quinhentista, e vivendo à sombra de uma pesada memória, o Portugal de Oitocentos só teria futuro libertando-se dessa persistente, infrutífera e mortal nostalgia passadista. Para Eduardo Lourenço, a peça garrettiana é uma obra política, e não um drama sentimental, por isso não faz sentido ler a obra de Garrett como "tragédia sentimental e psicológica", perspectiva hoje "quase ininteligível" e pouco consistente. Contudo, continua a afirmar-se como admirável tragédia inconsciente de um destino colectivo. Neste âmbito, o sentido das personagens e da fábula trágica reside na sua inegável carga simbólico-ideológica. O drama de Garrett fala de Portugal, um país que vive um presente hipotecado, à sombra de um obcecado sentimento de saudade passadista e sebastianista. Neste sentido, é uma peça assombrada, habitada por dois fantasmas – um quase fantasma (D. João de Portugal) e um outro fantasma mítico (D. Sebastião). O simbolismo alegórico que une os dois personagens está bem representado no nome do primeiro: o primeiro nome (D. João) remete-nos para alguns monarcas da História de Portugal; e no sobrenome (de Portugal), está cristalizado o próprio nome da Nação, num momento crucial da sua História. É preciso matar ou exorcizar o passado, para que Portugal possa ter futuro. Nesta ordem de ideias, a jovem e regeneradora Maria de Noronha representa o sacrifício necessário para exorcizar os fantasmas do passado, e definir o futuro de Portugal. Só assim teria sentido o absurdo castigo-expiatório de Maria, culpada de não ter culpa, que morre, romanticamente, de excesso e de vontade. Assim sendo, mais do que drama romântico, como propõe uma interpretação literária, o Frei Luís de Sousa deve ser lido, em termos mítico-culturais, como o drama do anacronismo de Portugal.


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