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PublicouGilberto Rui Belo Lagos Alterado mais de 8 anos atrás
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Pensamento IPUB-UFRJ Iraneide Castro de Oliveira
Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicopatologia e Subjetividade IPUB-UFRJ
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O que é o pensamento? Por que pensamos? Aonde se localiza o pensamento? Para onde vai o pensamento? Pensamento voa?
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O cérebro pode conceber alguma coisa?
Ele tem opinião? Raciocina?
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O cérebro não é o locus do pensamento
Edelman e Tononi – Consciousness: How matters becomes imagination A localização do evento “pensar um certo pensamento” é o lugar onde a pessoa está quando aquele pensamento ocorreu para aquela pessoa. Na aula, na biblioteca, no cinema, andando na rua... Os pensamento podem ser encontrados nos textos, mas não na cabeças dos seres humanos. Eles podem ser expressos pelos seres humanos, mas não pelos cérebros.
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Evidentemente que se não possuirmos as atividades neurais
específicas não poderemos pensar. Igualmente, sem as atividades neurais específicas não poderemos andar ou falar, porém ninguém diz que caminhamos e falamos com nossos cérebros. (Bennett, M. R.; Hacker, P. M. S. “Philosophical Foundations of Neuroscience”, 2003)
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Teoria Enatista e Neurofenomenologia
Francisco Varela (1996) Embodied Mind – inclusão corporal da mente. Caráter necessariamente corporal da constituição da experiência Mental. Ação corporificada – A cognição depende dos tipos de experiências resultantes do fato de possuirmos um corpo com capacidade sensório-motora que estão embasadas num contexto biológico/ psicológico e cultural mais amplo. Mente e corpo emergem simultaneamente como resultado de interação recíproca entre organismo e meio. Neurofenomenologia – abordagem fenomenológica para experimen- tação científica. Integra a análise fenomenológica da experiência, teoria de sistemas dinâmicos, experimentação empírica em sistemas biológicos.
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Uma melhor concepção de cérebro, corpo e ambiente seria a de sistemas mutuamente enraizados em vez de interna e externamente localizados com relação uns aos outros. Elementos neurais, somáticos e ambientais provavelmente interagem para produzir processos globais organismo-ambiente, os quais por sua vez afetam os seus elementos constituintes (Thompson & Varela, 2003).
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Como se constitui o pensamento?
Imagem do corpo Subjetividade/ intersubjetividade Experiência Sense of agency Esquema corporal Corpo vivido - Leib Corpo objeto – Korper Corpo Anatomia fisiologia Objetividade identidade Narrativa Intersubjetividade/ subjetividade Imagem do corpo
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Como se constitui o pensamento?
Narrativa, experiência e corpo fornecem substrato para o processo de pensar: imagens perceptivas representações
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nitidez; corporeidade; estabilidade; extrojeção; ininfluencibilidade
imagens perceptivas : nitidez; corporeidade; estabilidade; extrojeção; ininfluencibilidade voluntária; completitude representações: pouca nitidez; pouca corporeidade; instável; introjeção; incompletude
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Quais são os elementos constitutivos do pensamento?
As operações intelectuais se classificam em: conceito (idéia) juízo (julgamento) raciocínio (encadeamento lógico) Aristóteles (384 – 322 a.C.)
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conceito (conceptu = concipere: reunir)
É o elemento estrutural do pensamento. Se expressa na linguagem sob a forma de palavras. São formados a partir das representações. Não têm elemento de sensorialidade. São cognitivos, intelectivos. Em lógica, eles são uma forma de pensamento pelo qual se exprimem os caracteres essenciais de um objetos. Por seu intermédio apreendemos o significado das coisas. O conceito lógico tem como características: 1. a capacidade de formar um sistema de relações 2. ser universal.
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juízos: formar juízos é o
processo que conduz ao estabelecimento de relações entre os conceitos básicos. Se expressam na linguagem sob a forma de proposições. Podem expressar a verdade ou o erro conforme correspondam ou não à realidade. O único critério de verdade é a sua consonância com a realidade objetiva. “O céu é azul”, “as folhas das arvores são verdes” Em sua estrutura, o juízo consta de dois termos interligados: 1. O sujeito – que é de quem se afirma ou se nega alguma coisa 2. O predicado – o que se afirma ou se nega do sujeito
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É a função que relaciona os juízos. No raciocínio
lógico a articulação dos juízos conduz à chamada conclusão. É a operação mental que nos permite aproveitar os conhecimentos adquiridos através da prática social, combiná-los logicamente, para alcançar uma forma superior de conhecimento. O raciocínio humano é uma cadeia infinita de representações, conceitos e juízos. A fonte de todo esse processo é a experiência sensorial. (Paim, 1993)
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Quais são as dimensões do processo de
pensar? curso forma conteúdo
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curso – é o modo como o pensamento flui. A sua
velocidade e ritmo ao longo do tempo. forma – é a sua e estrutura básica, a sua “arquitetura”, preenchida pelos mais diversos conteúdos e interesses. conteúdo - definido como o que dá substância ao pensamento, os seus temas predominantes, o assunto em si.
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princípio da identidade
Princípios básicos do pensamento lógico-formal princípio da identidade (se A é A; e B é B; logo A não pode ser B) princípio da causalidade (se A é causa de B, então B não pode ser ao mesmo tempo causa de A) lei da parte e do todo (se A é parte de B, então B não pode ser parte de A)
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Pensamento oriental – escola Madhyamika do budismo tibetano Mahayana
Nagarjuna – sec II d.C. Via negativa: porque a linguagem é dualística e relacional, qualquer afirmação ou negação só pode ter sentido em relação ao seu oposto, ou seja, qualquer ponto de vista tem necessariamente um carater autocontraditorio. “Reductio ad absurdum”. Qualquer proposição a respeito da realidade incidirá em quatro categorias: Sendo (ou X) Não-sendo (não-X) Sendo e Não-sendo ao mesmo tempo (X e não-X ao mesmo tempo) Nem sendo nem Não-sendo (nem X nem não-X). A rejeição pelo Madhyamika de todas as alternativas lógicas - as quatro categorias, demonstra que a razão dualistica que trabalha com conceitos e suas expressoes de linguagem, não abarca toda a realidade.
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O que caracteriza o pensamento “normal”
é ser regido pela lógica formal, bem como orientar-se segundo a realidade e os princípios de racionalidade da cultura na qual o indivíduo se insere.
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Alterações dos elementos constitutivos do
pensamento Alterações dos elementos constitutivos do pensamento
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Alterações dos conceitos
Desintegração dos conceitos: quando os conceitos sofrem um processo de perda do seu significado original. Observa-se que o sujeito passa a utilizar as palavras de forma totalmente pessoal e idiossincrática. É característica da esquizofrenia e observa-se nas síndromes demenciais. 2. Condensação dos conceitos: ocorre quando dois ou mais conceitos são fundidos, o sujeito de maneira involuntária condensa duas ou mais idéias em um único conceito que se expressa por uma nova palavra. Ex: “vela a vapor” (combina barco a vapor com barco a vela), “tristel” (triste e cruel). A condensação dos conceitos se manifesta na formação de neologismos
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Alterações dos juízos juízo deficiente ou prejudicado: É um juízo falso devido ao prejuízo da elaboração dos juízos pela deficiência intelectual, pela pobreza cognitiva. Os conceitos são inconsistentes e o raciocínio é pobre e defeituoso. Não são persistentes e irredutíveis, mudam com facilidade e variam em sua temática Alterações do juízo de realidade: São muito importantes em psicopatologia – delírio primário ou idéias delirantes verdadeiras; delírio secundário ou idéias deliróides
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Tipos alterados de pensamento
Pensamento mágico – fere os princípios da lógica formal e não respeita os indicativos e imperativos da realidade. Segue os desígnios dos desejos, fantasias e temores. Pres- supõe que uma relação subjetiva de idéias corresponda a uma associação objetiva de fatos.
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Cont. Pensamento concreto ou concretismo – Não ocorre a
distinção entre uma dimensão abstrata e simbólica e uma dimensão concreta e imediata dos fatos. O indivíduo não utiliza metáforas. Em deficientes mentais, esquizofrênicos graves e em pacientes com demências.
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Carta de M. H. T., epilética, de 28 anos à sua mãe.
“Querida mãe: encontro-me muito enjoada porque não me vens ver. Não sei o que te acontece que não venhas ver-me. Tampouco me vieram ver o tio João nem a tia Francisca. Já não me quereis ver, apesar de eu sim os querer ver. Vamos ver si vireis ver-me sabendo que os quero ver. Diga ao tio João e à tia Francisca que quero vê-los e que não deixem de vir ver-me. No domingo quando vierdes, si vierdes ver-me, traga-me as meias que me prometestes, aquelas meias que me comprastes na feira no dia em que tiraram pus da perna do tio João. Já sabes que são amarelas e a costura é muito fina. Peço-te as meias porque aqui as meias que eu tenho já estão muito rasgadas e como não quereis vir ver-me e não me trazeis as meias amarelas que vos peço ... Não te esqueças pois , das meias que te peço. Já sabes que são amarelas ... Vem ver-me tu, o tio João e a tia Francisca. Não deixeis de vir pois sabeis já que quero vê-los. Vem. Abraça-te tua filha M. (E. Mira Y Lopez)
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Pensamento prolixo: O paciente não chega a qualquer
conclusão sobre o tema que está tratando. Dá longas voltas ao redor do tema. Falta capacidade de síntese. Tangencialidade e circunstancialidade são tipos de pensamento prolixo.
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Pensamento deficitário (ou oligofrênico)– Tem uma estrutura
pobre e rudimentar. Tende ao raciocínio concreto. Pouca flexibilidade na aplicação dos conceitos e regras. Pensamento demencial – O empobrecimento é desigual. Pode-se observar resquícios de conceitos abstratos e de raciocínios diferenciados. Pensamento confusional – Ocorre em estados de turvação da consciência. É um pensamento incoerente, tortuoso. O indivíduo não consegue processar seu raciocínio de forma adequada. Nas síndromes confusionais agudas.
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Pensamento desagregado: É uma forma típica de
“Um consumo de óperas e, portanto, dois idiomas sem tradução difícil como sua musica, tomando esta ao pé da letra e a letra ao pé desta, então os que se acreditaram capazes para construir uma Grande Vitoria, alguns, sobretudo os que não tiveram até nem honra, assim haviam fundido fazendo e compondo em cada país e ...”, Pensamento desagregado: É uma forma típica de pensamento radicalmente incoerente, no qual os conceitos e juízos não se articulam minimamente de forma lógica.“salada de palavras”. Nas formas graves e avançadas de esquizofrenia.
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“se eu pegar nas coisas que a minha ex-namorada me deu,
Pensamento obsessivo – Predominam representações ou idéias que, apesar do conteúdo absurdo ou até repulsivo para o indivíduo, impõem- se à consciência de modo persistente e incontrolável. Voltam de forma recorrente à consciência. O esforço para baní-los gera um estado emocional de angústia constante. Apesar do sofrimento, o individuo tem critica quanto a sua falsidade e caráter absurdo. “se eu pegar nas coisas que a minha ex-namorada me deu, fica tudo contaminado, daí não posso mais pegar em nada que tenho que jogar fora...”
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Alterações do processo de pensar:
I - Curso do pensamento Aceleração do pensamento: o pensamento flui de forma muito acelerada, as idéias se sucedem rapidamente. Mania, estados de ansiedade intensa, em psicoses tóxicas,etc. Lentificação do pensamento: O pensamento progride lentamente, de forma dificultosa. Há latência entre as perguntas formuladas e as respostas. Nas depressões graves, em estados de rebaixamento de consciência, etc.
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Bloqueio ou interceptação do pensamento:
cont. Bloqueio ou interceptação do pensamento: verifica-se uma brusca e repentina interrupção do curso associativo e pensamento se interrompe sem qualquer motivo aparente. O paciente relata que sem saber por que “o pensamento pára”. Na esquizofrenia. “ ... eu não tenho consciência do meu pensamento... vozes espirituais no corpo e na voz fala-se.. um espírito muito forte que me impede de ter voz espiritual... eu sei até quem são... invocar os santos e evocar os mortos é muito difícil definir... É! Parou a memória! ... como dizem as vozes de longe que já fui ... a diversos lugares, hoje eu sei quem é o demônio, quem é Deus...”
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cont. Roubo do pensamento: É uma vivência freqüentemente associada ao bloqueio de pensamento. O indivíduo tem a sensação nítida de que o pensamento foi roubado de sua mente. É típico da esquizofrenia.
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II – Forma do pensamento
Fuga de idéias: é uma alteração da estrutura do pensamento secundária a uma acentuada aceleração do pensamento. Caracteriza-se pela variação rápida e incessante do tema e uma incapacidade absoluta de levar o raciocínio a uma conclusão. Há um progressivo afastamento da idéia alvo. As associações entre palavras passam a ocorrer por assonância associando-se mais pela presença de estímulos externos contingentes. É muito característica das síndromes maníacas. “ Boa tarde! Sim, boa tarde, se a vida e tão doce quanto o mel. Gosta também de açúcar? ... Fabrica de açúcar, a cana e a corda ... não quer enforcar-se?... você, assassino ... o colarinho ... o colarinho da camisa ... branca como a neve e a inocência ... ah, a ingênua inocência! ... moela... pata, pata de cachorro, pata de gato ... língua de gato ... que tem o gosto de chocolate de hospício... onde estão os loucos...”
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cont. Afrouxamento das associações: Embora ainda se
observe uma concatenação lógica entre as idéias, já se nota um afrouxamento dos enlaces associativos. Fases iniciais da esquizofrenia e em transtornos de personalidade. Descarrilhamento do pensamento: O pensamento extravia- se do seu curso normal, toma atalhos, desvios, retornando eventualmente ao seu curso original. Associado à marcante distraibilidade. Observado nas esquizofrenias e sindromes maníacas. “ Fim de semana foi péssimo... Meu sobrinho comeu todos os bombons da geladeira ... Gosto de estudar mas dizem que não posso porque sou maluca..., feia, horrorosa, metida... Banana prá ela. Bati na boca dela... Qualquer dia vou embora... Viro mendiga... Sou taurina ... Eles querem me ver no buraco ...”
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cont. Desagregação do pensamento: Profunda e radical perda
dos enlaces associativos, da coerência do pensamento. Ha a formação de associações novas, incompreensíveis, Irracionais e extravagantes. “Sobram” pedaços de pensamentos. Ocorre na esquizofrenia, no delirium e nos quadros demenciais, eventualmente na agitação maníaca.
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III -Conteúdo do pensamento (temática)
Principais conteúdos que preenchem os sintomas psicopatológicos: Perseguição; depreciativos; religiosos; sexuais de poder, riqueza ou grandeza; de ruína ou culpa; conteúdos hipocondríacos.
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Bibliografia: Bennett, M. R.; Hacker, P.M.S. – Philosophical Foundations od Neuroscience – Blackwell Publishing, USA, 2007 Chenieaux, E. Manual de Psicopatologia, Ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2002 Dalgalarrondo, P. - Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais – Artmed, Porto Alegre, 2000 Mira y Lopes, E – Manual de Psiquiatria. Editora Scientifica – Rio de Janeiro,1944. Paim, I. - Curso de Psicopatologia – Editora Pedagógica e Universitária São Paulo, 1993 Serpa Junior, O. Da Fenomenologia à Psicopatologia – a construção da clínica. Aula disciplina Psicopatologia Geral. Varela, F; Thompson, E. A mente incorporada, 1996.
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