Um testamento de amor.
Minhas posses materiais não são muitas, mas deixo tudo pra você.
Uma coleira mastigada em uma das extremidades, uma desajeitada cama de cachorro e uma vasilha de água que se encontra rachada na borda.
Deixo pra você a metade de uma bola de borracha, uma boneca rasgada que está embaixo da geladeira, um ratinho de borracha sem o apito que está atrás do fogão, e uma porção de ossos enterrados no canteiro de rosas e sob o assoalho da minha casinha.
Além disso, deixo pra você as lembranças que, aliás, são muitas...
Deixo pra você as lembranças de dois meigos e enormes olhos marrons, de uma cauda que balançava cada vez que te via, de um focinho molhado e de uma choradeira atrás da porta...
Deixo pra você uma mancha no tapete da sala de estar, junto à janela quando nas tardes de inverno eu me apropriava daquele lugar, como se fosse meu, e me enrolava feito uma bolinha pra pegar um pouco de sol...
Deixo pra você um tapete esfarrapado enfrente a sua cadeira favorita, o qual nunca foi consertado com a cor da linha certa... Eu o mastiguei todinho quando tinha cinco meses de idade, lembra?
Deixo também, só pra você, a lembrança do barulho que eu fazia ao sair correndo sobre as folhas de outono quando passeávamos pelo bosque...
Deixo, ainda, a lembrança de momentos pelas manhãs, quando saíamos juntos, pela margem do riacho, e você me dava aqueles biscoitos de baunilha...
Deixo-lhe como herança minha devoção, a minha simpatia, meu apoio quando as coisas não iam bem, meus latidos quando você levantava a voz para me repreender, e a minha frustração por você ter brigado comigo...
Eu nunca fui a igreja e nunca escutei sermão . No entanto, mesmo sem falar sequer uma palavra, em toda minha vida, deixo pra você o meu exemplo de amor, paciência e compreensão.
E sua vida foi mais alegre, porque eu estive ao seu lado!!!
E te amei da forma mais pura e sempre fiz questão de demonstrar o quanto te amava!!!
Apresentação e arranjos: Maria Salete Elizio de Carvalho Cacoal-RO