Oração pela Civilização que queremos Léo Konzen

S enhor, no início deste século e milênio, vimos agradecer-te porque nos fizeste capazes de construir o mundo e de fazer história. Obrigado pelos progressos da inteligência humana.

L ouvores a ti pela maravilha que é o ser humano. Graças te sejam dadas pelo amor de que somos capazes. Glória a ti pela capacidade que nos deste de acolher-te e de espelhar-te.

Perdão, no entanto, pela nossa incapacidade de partilhar com justiça e fraternidade os frutos das conquistas feitas com o suor e a participação de toda a comunidade humana.

Tem piedade de nós, porque fortalecemos com os avanços da ciência e da tecnologia os mais poderosos e tornamos os fracos ainda mais frágeis e marginalizados.

Converte, Senhor, nossas organizações políticas que também andam sucumbindo à lógica do capital e do lucro.

Dá-nos de novo a capacidade de sonhar. Sim, desperta em nós a memória do que somos capazes e do que podemos ser.

Acorda-nos do feitiço que nos amordaça até o fundo da alma com sua palavra terrível: “O mundo é assim mesmo! Não há o que fazer!”

Sim, faze-nos sonhar de novo.

Alimenta em nós a “utopia da democracia e da civilização humana. Que as transformações econômicas, sociais e éticas em andamento não nos amedrontem, mas nos ponham em alerta.

Que elas nos despertem a consciência dos riscos de uma epidemia: a epidemia da “anemia de humanidade”.

E nos façam crer nas mulheres e nos homens, outra vez.

Senhor, fecha nossos ouvidos aos que nos gritam, e nossos olhos aos que nos enchem com imagens fantásticas de fórmulas, produtos e crenças da economia do mercado.

Abre, porém, nossa boca e move nossos pés e nossas mãos para participar dos manifestos por uma economia com sentido humano e social. Dá-nos coragem de discordar quando na TV enchem a boca os profetas do grande ídolo.

Olha para nossas crianças e nossos jovens, Senhor. Não permitas que caiam na tentação de serem a geração Nike ou Mc Donalds. Recorda-nos, Senhor, a caminhada do teu povo, Israel.

Mostra-nos, de novo, suas opções políticas e econômicas - que são também sempre opções espirituais e teológicas. Ensina-nos a espiritualidade do caminho, também nas lutas sociais e políticas.

Se é pela perseverança que seremos salvos, educa-nos, Senhor, na e para a persistência e na proposição de caminhos participativos na fé e na política.

Que reencontremos o sentido revolucionário das torres de nossas igrejas apontando teimosamente para o alto. Que aprendamos de novo, Senhor, a investir o melhor de nosso trabalho na construção de comunidades humanas com referenciais éticos - e por que não? - religiosos que aproximem as pessoas humanas do verdadeiro Deus.

Só assim teremos vida - e vida em abundância, como nos ensinou teu Filho Jesus de Nazaré. Revista Trimestral do Instituto Missioneiro de Teologia - junho/2001 E que a saudade dos “bons tempos” se transforme em sonho. Amém