A História dos Chineses em Moçambique

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1 Samora Moisés Machel Brad Wagenaar & Anya Raj May, 2015.
Transcrição da apresentação:

A História dos Chineses em Moçambique A Fênix e o Dragão Uma resumida memória da História dos Chineses em Moçambique, um legado para que não esqueçamos de nossas origens e como chegamos até Portugal e Brasil. São Paulo, 2010 Helder Leong

Epílogo Numa viagem a Hong-Kong descobri por acaso o livro “Colour, Confusion and Concessions – the History of the Chinese in South Africa”, de Melanie Yap e Dianne Leong Man. Foi com base neste fantástico documento que me interessei por escrever algo que contribuísse para descrever a História dos Chineses em Moçambique. Dedicamos este pequeno relato às gerações de nossos bisavôs, avós e pais, que com o seu espírito batalhador de trabalhadores e comerciantes, saíram da China e lutaram em suas vidas emigrando para África e depois para Europa/América, para que cada nova geração usufruísse de melhores condições de vida. Este documento foi escrito com base em pesquisa de artigos encontrados na Internet e no livro acima mencionado, havendo margem para erros. Agradeço se tiver algum comentário de correção ou alguma história e fotos que possa enriquecê-lo, que envie para leongh@yahoo.com.

A causa da emigração Na China do século 19, a decadente Dinastia Qing, a dominação estrangeira e calamidades naturais, levou os Chineses da província de Cantão (Guangdong) a procurar oportunidades fora após o Governo Chinês permitir a emigração a partir do primeiro quarto do Século 19. * Retirado de Colour, Confusion and Concessions – the History of the Chinese in South Africa”, Melanie Yap, Dianne Leong Man

De onde viemos? A maioria dos emigrantes Cantoneses se dispersaram por Hong-Kong, Estados Unidos, Canadá e Austrália. Os que emigraram para a África do Sul e Moçambique eram originários das regiões: Namhoi (Nanhai) Suntak (Shunde) Punyi (Panyu) * Retirado de Colour, Confusion and Concessions – the History of the Chinese in South Africa”, Melanie Yap, Dianne Leong Man

Porquê Sul da África? O objetivo principal era emigrar para São Francisco, “Gam Saan” ou Montanha Dourada na América, mas acidentalmente se confundiam com a África do Sul e Austrália, chamadas Nova Montanha Dourada, que também possuiam Minas de Ouro. As Ilhas Mauricio foram importantes porque eram um destino temporário dos Chineses que esperavam para obter visto para a África do Sul. * Retirado de Colour, Confusion and Concessions – the History of the Chinese in South Africa”, Melanie Yap, Dianne Leong Man

Porquê Moçambique? Lourenço Marques, a atual Maputo, era a Capital de Moçambique, ficava na rota comercial vinda da China e Índia. Era o Porto mais próximo da Província do Transvaal (Johannesburg) na África do Sul onde ficavam as Minas de Ouro. A maioria dos emigrantes com destino ao Transvaal, desembarcava ou embarcava pelo Porto de Lourenço Marques, alguns acabavam por ficar em Moçambique. * Retirado de Colour, Confusion and Concessions – the History of the Chinese in South Africa”, Melanie Yap, Dianne Leong Man

Os primeiros emigrantes No último quarto do Século 19, os primeiros emigrantes começaram a se assentar em Lourenço Marques e Beira. Em 1858 um navio português trouxe 30 operários Chineses, entre carpinteiros, pedreiros e ferreiros. Em 1893 eram 57 e em 1903 eram 287, surgindo artesãos, pintores, trabalhadores nas fazendas de cana de açúcar e construção dos caminhos de ferro. No auge a comunidade chegou a ter 3500 pessoas em Lourenço Marques e 4000 na Beira. * Retirado de Colour, Confusion and Concessions – the History of the Chinese in South Africa”, Melanie Yap, Dianne Leong Man Na foto acima, o Consul-Geral e sua filha em 1907, junto com alguns comerciantes.

A contrução da comunidade Após assegurarem condições financeiras para constituir e sustentar uma família, os homens regressavam à China para buscarem as suas esposas mediante casamentos arranjados. As esposas muitas vezes tinha de esperar anos até poderam se juntar a seus maridos, enfrentando uma viagem de barco muitas vezes em condições muito difíceis. Com a vinda das mulheres foi crescendo a Comunidade Chinesa com os casamentos e o nascimento da segunda geração. * Retirado de Colour, Confusion and Concessions – the History of the Chinese in South Africa”, Melanie Yap, Dianne Leong Man

O comércio Em terra desconhecida e sem falar a língua local, apenas munidos de sua determinação, pouco a pouco foram assentando suas vidas e melhorando as condições de vida, abrindo pequenos lojas de comércio local, alguns se tornando fazendeiros (“machambeiros”). A capacidade de comércio dos Chineses se desenvolve em Moçambique como os outros Chineses emigrados em qualquer parte do Mundo, se adaptando a qualquer cultura e ultrapassando todas a dificuldades. * Retirado de Kuan Ti, o protector, Paola Rolleta * Retirado de Colour, Confusion and Concessions – the History of the Chinese in South Africa”, Melanie Yap, Dianne Leong Man

A associação cultural O primeiro Pagode Chinês da Associação Chinesa de Lourenço Marques foi fundado em 1903 por Ja Assam, um carpinteiro-arquiteto, em um terreno por ele doado. O Pagode Chinês tinha como objetivos promover o bem-estar da comunidade através da educação, da organização de festas, bailes, jogos e a assistência social aos membros necessitados em caso de desemprego, doença, invalidez e morte. Na Beira em 1922 foi construido o Clube Chinês (Chee Kung Tong). * Fotos cedidas por António Leong, Maputo

A Escola Chinesa À medida que a comunidade foi crescendo, em 1938 foi criada a nova Escola Chinesa de Lourenço Marques, que sobreviveu até aos dias de hoje. Na foto abaixo, a inauguração liderada por Ja Assam. Professores eram trazidos da China para o ensino do Chinês Mandarim, várias turmas permanentes foram criadas. Na Beira, a Escola Chinesa foi inaugurada em 1950. * Fotos cedidas por António Leong, Maputo

Educação Chinesa A Escola Chinesa funcionou como escola permanente permitindo que as novas gerações mantivessem a educação e a cultura Chinesa (era ensinado o Mandarim). Com o passar do tempo as novas gerações sentiram dificuldades em progredir com suas vidas pela falta de aprendizagem do Português, pelo que as as familias começaram desistir da educação Chinesa e a optar pelo ensino Português para garantir que as os seus filhos pudessem desenvolver as suas atividades profissionais e negócios. * Fotos cedidas por António Leong, Maputo

Atividades Culturais Na Escola Chinesa eram apresentadas espetáculos de dança e música, peças de teatro, artes marciais e projeção de filmes de ópera chinesa. Os casamentos entre membros da comunidade eram realizados na Escola Chinesa, normalmente convidados praticamente toda a comunidade. Além dos comes e bebes, havia bandas de música ao vivo e projeção de filmes de Ópera Chinesa. * Fotos cedidas por António Leong, Maputo

Esportes O Basquete era muito popular entre as comunidades Chinesas. Em 1954 uma Equipe de Lourenço Marques chamada Tje-Lig (força própria) foi vencedora no Torneio de Johannesburg, tinha um estilo de jogar moderno e preciso. Na foto abaixo, jogadoras do Sporting de Lourenço Marques em 1958. * Retirado de Colour, Confusion and Concessions – the History of the Chinese in South Africa”, Melanie Yap, Dianne Leong Man * Retirado de Gazeta da Comunidade Chinesa de Moçambique, 1858 – 197 5, No 2 Verão 2003

Lourenço Marques antes de 1975 Praça Mouzinho de Albuquerque, e a Catedral Câmara Municipal

Lourenço Marques antes de 1975 Estação dos Caminhos de Ferro A Marginal, estrada para a praia.

Lourenço Marques antes de 1975 Avenida da República Restaurante Piri-Piri, camarões grelhados e galinha à cafrial

A Beira antes de 1975 O Centro O Grande Hotel

Estação dos Caminhos de Ferro A Beira antes de 1975 Aeroporto Estação dos Caminhos de Ferro

A Independência de Moçambique Em 1964 a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) iniciou uma guerra de guerrilha que se culminou na Independência de Moçambique em 25 de Junho de 1975, em seqüência à queda da Ditadura em Portugal em 25 de Abril de 1975. O abandono das Tropas Portugueses e a imposição de um regime Marxista-Leninista do Governo da Frelimo, fez com que a vida se tornasse impraticável para Comunidade Chinesa em Lourenço Marque e Beira e fugisse para Portugal e Brasil. * Centro de Documentação 25 de Abril Universidade de Coimbra

O fim de uma era O país próspero que permitiu a segunda e a terceira gerações de Chineses obterem a sua estabilidade e sucesso de suas vidas , se transformou em um pesadelo de regime comunista, destruindo a liberdade e a economia. Sem nenhuma perspectiva de continuação da vida em Moçambique após a perda de seus bens perante a nacionalização executada pelo regime da Frelimo, a partir de 1975 a maioria dos membros da comunidade Chinesa de Lourenço Marques fugiram do país se refugiaram em Portugal e no Brasil. Alguns foram para Macau e América do Norte. Algumas dezenas de famílias chegaram a pedir asilo na África do Sul, mas o regime do Apartheid rejeitou. Apenas algumas famílias decidiram ficar em Lourenço Marques, num total de menos cem pessoas. Na Beira quase a totalidade da comunidade fugiu restando apenas alguns indivíduos.

O Recomeço As vidas tiveram de ser reconstruídas do zero em países desconhecidos: No Brasil, os Chineses de Lourenço Marques escolheram São Paulo como sua nova residência, enquanto que os da Beira foram para Curitiba. O Brasil oferecia muitas oportunidades e tiveram sucesso em negócios de lanchonetes e restaurantes. Em Portugal a maioria se concentrou em Lisboa, salvo algumas exceções que escolheram outras cidades. Embora algumas famílias fossem bem sucedidas em negócios de restaurantes e lojas, muitos com a educação e o domínio da língua portuguesa conseguiram exercer atividades com sucesso como engenheiros, médicos, etc. As novas gerações se integraram completamente na sociedade portuguesa.

Moçambique Hoje De 1975 até hoje, Moçambique percorreu um percurso penoso de 35 anos com uma longa guerra civil, vendo o país destruído e deixado na miséria, chegando a se tornar um dos países mais pobres do Mundo. A paz trouxe de volta o país no caminho do desenvolvimento e trouxe o Turismo de volta para mostrar ao Mundo a sua beleza.

Moçambique Hoje Os Chineses que permaneceram em Maputo (ex-Lourenço Marques) desde a década de 70, hoje convivem com os Chineses vindos da China, que ao longo dos últimos anos constituem uma nova vaga de emigração. Em 2004 a Escola Chinesa foi devolvida à Comunidade Chinesa, desde então ela tem reativado as confraternizações e eventos. Nas fotos ao lado, a Festa Comemorati va do 5º Ano de Devolução do Pagode Chinês. * Fotos cedidas por António Leong, Maputo

A Catedral e o Hotel Rovuma (antigo Prédio Funchal) Lourenço Marques Hoje A Catedral e o Hotel Rovuma (antigo Prédio Funchal) Câmara Municipal * Fotos encontradas na internet, de Vitor Passos, Tony Nabais, Zêbê e Aníbal (2004).

Estação dos Caminhos de Ferro Estrada para a praia. Ao fundo o Viaduto Lourenço Marques Hoje Estação dos Caminhos de Ferro Estrada para a praia. Ao fundo o Viaduto * Fotos encontradas na internet, de Vitor Passos, Tony Nabais, Zêbê e Aníbal (2004).

Restaurante da Costa do Sol Caranguejo de Moçambique Lourenço Marques Hoje Restaurante da Costa do Sol Caranguejo de Moçambique * Fotos encontradas na internet, de Vitor Passos, Tony Nabais, Zêbê e Aníbal (2004).

Referências Colour, Confusion and Concessions – the History of the Chinese in South Africa”, Melanie Yap, Dianne Leong Man Kuan Ti, o protector, Paola Rolleta Gazeta da Comunidade Chinesa de Moçambique, 1858 – 197 5, No 1 Verão 2003 Gazeta da Comunidade Chinesa de Moçambique, 1858 – 197 5, No 2 Verão 2003 Gazeta da Comunidade Chinesa de Moçambique, 1858 – 197 5, No 3 Verão 2003