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PublicouCristiana de Mendonça Aldeia Alterado mais de 9 anos atrás
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A HORA E A VEZ DE AUGUSTO MATRAGA
João Guimarães Rosa
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Augusto Matraga no cinema
A hora e a vez de Augusto Matraga , dirigido por Roberto Santos, venceu o festival de Brasília de Houve ainda peças teatrais sobre o conto.
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A travessia Assim como em diversos contos de Rosa, A hora e a vez de Augusto Matraga aborda a questão da travessia, que a princípio pode parecer simples viagens e andanças, mas, que têm uma significação muito maior, uma metáfora das transformações existenciais.
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A história se divide em três momentos
O pecado A penitência A redenção
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Muricí : O leilão atrás da igreja é o lugar concreto onde tudo começa, ou pelo menos, onde se desencadeia os acontecimentos posteriores.
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1º momento: O pecado Aí o povareu aclamou, com disciplina e cadência:
- Nhô Augusto leva a Sariema! Nhô Augusto leva a Sariema! O capiauzinho ficou mais amarelo. A Sariema começou a querer chorar. Mas Nhô Augusto, rompente, alargou no tal três pescoções: - Toma! Toma! E toma!...Está querendo?... Ferveram faces. (pag. 366)
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A chácara do Major Consilva:
A fim de tirar satisfações de seus ex- empregados com o major, Nhô Augusto cai numa emboscada e é brutalmente espancado e marcado com ferro quente como gado. Momento de expiação de todos os seus atos, especialmente dos cometidos naquele dia, no leilão da igreja,
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o que pode ser comprovado na cantiga que o capiau que gostava da Sariema entoa:
Sou como a ema, Que tem penas e não vôa... (pag. 330) O capiauzinho parece querer que Nhô Augusto saiba o porquê está passando por tudo aquilo ao fazer referência ao que ele e Sariema tiveram que passar por causa dele.
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1º momento: O pecado Em consequência de suas atitudes:
Em poucas horas torna-se chefe de família sem família, proprietário sem propriedades, comandantes sem comandados, macho traído pela mulher, caçador caçado, valentão espancado (BENEDETTI, 2008, p.228)
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O abismo Nhô Agusto se safa caindo num abismo, os capangas, ao verem urubus sobrevoando algo pensam se tratar do corpo de Matraga, mas se tratava apenas de um bezerro, o qual cumpre um papel no conto de vicário: Vigário vem de vicário que é “ algo substitutivo” assim como o bezerro que estava no abismo que teve o papel de vicário, pois os outros olharam e acharam que era Matraga morto.
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Quando todos acham que ele está morto, ele renasce literal e simbolicamente. O abismo representa o pior momento do protagonista, quando ele se vê humilhado de corpo e alma, mas é a partir daí que, ele começará sua transformação interior.
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A casa dos pretos: A violência da primeira etapa dá lugar ao afeto que une o casal de negros ao heroi. A velocidade dos acontecimentos e a estridência daquela etapa são substituídas pelo ritmo lento, pelo silêncio e pelo sussurro, soando como o adagio de uma sinfonia, em contraste com o allegro barbaro da primeira etapa. O conto como que adormece, conforme sugerido pela cantiga de Quitéria: “As árvores do Mato Bento/Deitam no chão p’ra dormir”. Tudo se passa como se a vida de Nhô Augusto recomeçasse da origem e renascesse para uma nova jornada. (BENEDETTI, 2008, pag. 237)
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2º momento: A penitência
… Mas os pretos cuidavam muito dele, não arrefecendo na dedicação. - Se eu pudesse ao menos ter absolvição dos meus pecados!... Então eles trouxeram, uma noite, muito à escondida, o padre, que o confessou e conversou com ele, muito tempo, dando-lhe conselhos que o faziam chorar. (pag. 379)
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2º momento: A penitência
- Eu vou p'ra o céu, e vou mesmo, por bem ou por mal!... E a minha vez há de chegar... P'ra o céu eu vou, nem que seja a porrete!... E os negros aplaudiram, e a turminha pegou o passo, a caminho do sertão. (pag. 381)
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De Muricí a Tombador: Na viagem de Murici para Tombador assemelha-se ao episódio bíblico da fuga para o Egito (Mateus, 2, ), uma vez que tanto Jesus e seus pais terrenos quanto Matraga e seus pais adotivos se afastam de seus locais de nascimento para fugirem de um homem poderoso – Herodes e Consilva, respectivamente – e, dessa forma, ficarem aptos para a execução do empreendimento que o futuro lhe reserva.
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Quando se considera a maneira radical pela qual era abordada a questão racial no mundo, na época em que a obra foi escrita, a atitude Matraga de adotar como pais o casal de negros adquire maior significado: “o negro e negra eram agora pai e mãe de Nhô Augusto.” (p. 343). Nesse trecho está implícito que Matraga se desligou de seus pais de sangue e adotou outros, com os quais se ligou pela fé – condição que remete à passagem bíblica de Mateus, 12,
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Nesse interim Nhô Augusto passa por diversas provações, uma delas é a chegada de um conhecido, o Tião da Thereza, que o vê numa situação que pode ser considerada humilhante se levada em conta sua antiga posição.
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Ainda em Tombador: Chega, casualmente, no povoado um bando de uns oito homens, cujo líder:
... Era o homem mais afamado dos dois sertões do rio: célebre do Jequitinhonha à Serra das Araras, da beira do Jequitaí à barra do Verde Grande, do Rio Gavião até nos Montes Claros, de Carinhanha até Paracatú; maior do que Antônio Dó ou Indalécio. O arranca-tôco, o treme- terra, o come-brasa, o pega-à-unha, o fecha-trêta, o tira-prosa, o parte-ferro, o rompe-racha, o rompe-e- arrasa: Seu Joãozinho Bem-Bem. (pag. 344)
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Novas tentações aparecem, visto que o líder do bando simpatiza-se com Nhô Augusto e o convida a estar com seu grupo, o que se assemelha às tentações de Cristo pelo diabo no deserto: ... Não quero especular coisa de sua vida p’ra trás, nem se está se escondendo de algum crime. Mas, comigo é que o senhor havia de dar sorte! Quer se amadrinhar com meu povo? Quer vir junto? - Ah, não posso! Não me tenta, que eu não posso, seu Joãozinho Bem-Bem... (pag. 350)
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A caminho de Rala-Côco: Quando decide deixar o povoado de Tombador, Nhô Augusto segue sem destino num jumento cedido por um ex-vizinho (Tal como Jesus). No caminho encontra um cego guiado por um bode. Na simbologia cristã, o bode representa luxúria, impureza, na Idade Média, era a própria representação do diabo. Mas quero chamar atenção para o cego, numa perfeita metáfora da cegueira do próprio protagonista:
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Em sua vida de pecados, Nhô Augusto orientou-se por falsas verdades e, como o cego, acreditou estar vendo coisas que não poderia ver e prevendo que veria o que nunca poderá ser visto. A Bíblia possui um sem-número de passagens em que “cego” e “cegueira” denotam cegueira espiritual. Nhô Augusto em sua vida pecaminosa, não enxergava o perigo que corria sua alma e é esta sua cegueira. (BENEDETTI, 2008, pag. 242)
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Entrando em Rala-Côco: Deixando-se guiar pelo jumento, Nhô Augusto chega ao arraial do Rala-Côco, onde imediatamente conhece que a jagunçada de Joãozinho Bem-Bem estava por ali. Novas tentações aparecem, pois o chefe dos jagunços faz novos convites ao protagonista: - Não se ofenda, mano velho, deixe eu dizer: eu havia de gostar, se o senhor quisesse vir comigo para o norte... Já lhe falei e torno a falar: é convite como nunca fiz a outro e o senhor não vai se arrepender! Olha: as armas do Juruminho estão aí, querendo dono nôvo... (pag. 359)
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Os convites de Joãozinho Bem-Bem para que Matraga se junte ao seu bando são as outras tentações a que é submetido o protagonista; assemelham-se ás tentações de Cristo pelo diabo no deserto, conforme Mateus 4, 1-11: “- Mas comigo é o senhor havia de dar sorte! Quer se amadrinhar com meu povo? Quer vir junto?” (p. 354)
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3º momento: A redenção Vencendo as tentações: Joãozinho Bem-Bem era, no fundo, tudo o que Matraga poderia e deveria ter sido, o primeiro era violento e mal, mas havia critério no que ele fazia, havia um código de honra que fazia dele um homem honrado, já o segundo em sua primeira fase (o pecado) matava e maltratava a seu bel-prazer. Joãozinho Bem-Bem tem critério até mesmo naquela fatídica hora em que tem que matar a família do velho para vingar a morte do seu jagunço, além de ele deixar o pai escolher qual dos filhos iria morrer não faz questão
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de participar do estupro das moças.
A morte dos dois homens, um pela mão do outro sintetiza a vitória de Matraga, que como ele mesmo disse, “entraria no ceu nem que fosse a porrete”, mas deixa uma lacuna quanto a Joãozinho Bem-Bem, que embora tenha sido cruel agiu conforme um código de honra, mas tendo agido conforme um código de honra não deixou de ser cruel.
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Honra do homem guerreiro X Honra do homem de fé
Nobreza e clero: Embora em outros tempos compartilhassem muitos valores, do ponto de vista de uma ideia reguladora, a nobreza tem por valor principal uma afirmação de si, e o clero, o desprendimento e a entrega a Deus. Há, portanto, um enfrentamento constante entre dois conjuntos de valores, um que preza este mundo, outro que estima o Além, um que se gaba, outro que se humilha – e por aí vai.
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Intertextualidade com a Bíblia
A trilogia mítica de iniciação – morte, renascimento e vida- reaparece na forma cristã de pecado, penitência e redenção ou na de inferno, purgatório e paraíso. Segundo Galvão, a vida de Matraga se assemelha com a vida de Cristo aumenta à medida que o conto vai chegando ao fim. Ele chega a ser chamado de “O Homem do Jumento” e no final, experimenta a alegria do mártir que reconhece que a integração com Deus passa pelo sacrifício do corpo.
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O nome Matraga “Matraga” tem semelhança fônica com termo francês “matraque”, sinônimo de “porrete”, que aparece na frase repetida pelo heroi. Por outro lado, Galvão associou esse nome com “tragos” está na raiz da palavra “tragédia”, esta última, literalmente, “canto do bode”. A figura do bode que conduz o cego cria instigador entrelaçamento entre Matraga, bode e porrete.
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SIMBOLOGIA DOS NÚMEROS
O conto é permeado de simbologias numéricas. A quantidade de anos que Nhô Augusto passa no momento de penitência até a hora de sua morte soma sete anos. E assim se passaram pelo menos seis ou seis anos e meio, direitinho desse jeito... (pag.338) E assim nêsse parado Nhô Augusto foi indo muito tempo, se acostumando com os novos sofrimentos, mais meses. (pag. 342)
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SIMBOLOGIA DO Nº 7 O símbolo gráfico sagrado e perfeito (segundo Pitágoras) de qualquer manifestação do Divino na Terra como no Cosmos. Temos: os 7 dias da Criação do Mundo, os 7 Raios da Luz Sem Fim, o “7º Céu”, os 7 Arcanjos do Trono de Deus, os 7 degraus da Escada de Jacob referidos na Bíblia que representam os 7 Planetas Sagrados com Aura astro-etérea de ascenção astrológica por onde temos de passar até chegar á Perfeição…
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SIMBOLOGIA DO Nº 7 Na Terra temos: as 7 cores do Arco-Iris, os 7 dias da semana, as 7 notas musicais, as 7 artes, os 7 ‘chakras’ do corpo humano, os setes grupos de vértebras, os 7 orifícios no crânio, as 7 virtudes humanas, os 7 pecados capitais, os 7 anos de idade para cada fase da mudança de personalidade, etc.. Se estiveres atento verás que…, tudo se processa no Universo dentro dum ritmo Septenário. -significado-do-numero-%E2%80%9C7%E2%80%9D/
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Simbologia da marca de gado
Nhô Augusto é marcado com um símbolo do gado do Major, um triângulo inscrito numa circunferência.
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Simbologia da marca de gado
Triângulo: Segundo Galvão (1978) o triângulo equilátero é figura de perfeição. De ponta para cima representa o princípio masculino, de ponta para baixo, o feminino; se sobrepostos, como na estrela de Davi, a união de dois princípios.
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Simbologia da marca de gado
Círculo: A circunferência e o círculo significam conceitos amplos e abstrato como a eternidade a divindade e a perfeição, alguns dos quais compartilhados pelo triângulo. O círculo etá presente na estrutura circular da narrativa – Matraga retorna para o mesmo lugar de onde saiu. O que indica que ele é predestinado e cumprirá o que estava previsto em sua marca.
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Simbologia da marca de gado
O triângulo é simbolizado no conto pelas referências ao número três: a personagem central tem três nomes, Nhô Augusto é parte de trios de personagens em vários momentos: com a Sariema e o capiau por ela apaixonado, com Dinóra e Mimita, com o casal de negros, com o Joãozinho Bem-Bem e o velho no desfecho do conto.
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Visão fatalista da vida
Influenciado pelo casal Matraga torna-se penitente e se sente feliz. Nesse momento Tião da Thereza aparece, a primeira das grandes tentações a que Matraga será submetido. Tião traz notícias de Dinóra, Mimita e da morte de Quim Recadeiro.
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Visão fatalista da vida
Como o leiloeiro da Igreja de Muricy e o vaqueiro Tião da Thereza têm o mesmo nome, estabelece-se uma relação casual entre dois acontecimentos distantes no tempo e no espaço: de um lado, a cantiga “Mariquinha é como a chuva, etc.” que prevê a chegada da graça com as chuvas e é entoada na ocasião em que Nhô Augusto dá as rédeas a seus instintos, e, de outro, a situação oposta, em que o herói luta desesperadamente para conter os instintos que o levarão à conquista da graça, que será anunciada pela chuva em poucos meses. (BENEDETTI, 2008, p. 239)
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Visão fatalista da vida
As aves em bando movem-se na mesma direção na ilustração, o que também ocorre no conto: tanto as aves e o bando de Joãozinho Bem-Bem rumam para o sul. Sob esse prisma de interpretação, conclui-se que a ilustração, inserida antes do correspondente momento narrado, tem a conotação de premonição da chegada de Joãozinho Bem-Bem a Tombador e da viagem a esmo de Matraga sobre o burrinho, inspirada pelo vôo das maitacas; por conseguinte, denota que a vontade divina está dirigindo os passos da personagens. (BENEDETTI, 2008, p. 240)
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Linguagem - Maitacas E mesmo, de vez em quando, discutindo, brigando, um casal de papagaios ciumentos... Mas o que não se interrompia era o trânsito das gárrulas maitacas. Um bando grazinava alto, risonho, para o que ia na frente: - Me espera!... Me espera!... – E o grito tremia e ficava nos ares, para o outro escalão , que avançava lá atrás.
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Linguagem – Joãozinho Bem-Bem
Pela lógica duas negações formam uma afirmação, mas o contrário não acontece, ou seja, duas afirmações (bem-bem) não formariam uma negação (mal?) ou será que formaria? Acreditamos que não, já que, vimos que Joãozinho Bem-bem é melhor caracterizado como um homem honrado (a seu modo- ao modo de sua cultura) do que como um homem essencialmente mal. Mas vimos ainda, que embora seja um homem de caráter não deixa de
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e, nesse ponto o seu nome revela ironia, um homem mal com o sobrenome “Bem” ao quadrado.
Há ainda a questão do diminutivo, Joãozinho, um homem com as características do chefe dos cangaceiros jamais combinaria com esse nome. Talvez Rosa, com seu trabalho perito com a linguagem, tenha colocado esse nome para alcançar um equilíbrio entre o homem mal e o homem de caráter que habitam em um só ser.
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Referências Rosa, João Guimarães. Sagarana: ed. Rio de Janeiro (RJ): José Olympio, p. Benedetti, Nildo Maximo. O burrinho pedrês; A hora e a vez de Augusto Matraga. In: _______. Sagarana: o Brasil de Guimarães Rosa f. Tese (Doutorado em Literatura Brasileira) – FFLCH, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. lia. Acesso em 11/05/2012, às 12:00. Acesso em 13/05/2012, às 17:30.
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