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AS MULHERES NO PERÍODO APOSTOLICO
ALOÍSIO A.COLUCCI MÓDULO II – AULA 09
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OBJETIVOS Mostrar que com Jesus se inicia um nova era para as mulheres destacando a dedicação delas a Ele; Fazer uma relação entre a evolução e a conquista do sentimento harmonizado entre nós.
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ABORDAGENS Isabel. Maria de Nazaré e a Sublimação.
A mulher Cananéia e a sua consciência espiritual. Maria de Magdala e a Reforma Íntima. Marta e Maria e a Livre Escolha. A mulher adúltera e a transformação moral. Lívia e a resignação.
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INTRODUÇÃO AS MULHERES DA CASA DO CAMINHO
A vinda de Jesus em missão de amor à terra e seus filhos teve a presença marcante das mulheres que o escutavam com o coração, para então dedicarem-se ao serviço de anunciar a Boa Nova. Maria, mãe zelosa e dedicada que enfrentou os desafios com amor e coragem, auxiliando-o em sua tarefa com compreensão, sabendo ouvir, esperar, agir com prudência, participando ativamente da seara bendita de luz, semeando esperança e amor nos corações aflitos. Jesus Cristo veio modificar os velhos conceitos da supremacia do homem sobre a mulher, ao estabelecer no seio do Cristianismo, condições de igualdade, relembrando o 1º mandamento. Foi assim que aquelas sociedades cristãs primitivas viram emergir em seu próprio ambiente, as associações de mulheres piedosas, cujas principais atividades eram as de serviços de amor ao próximo.
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INTRODUÇÃO As seguidoras de Jesus, sendo que primeira dessas congregações surgiu na Galileia, e era composta principalmente de mulheres oprimidas : simples, do povo: adúlteras, ou de vida duvidosa, viúvas, escravas... Essas associações de mulheres acompanhavam Jesus em seus deslocamentos, e davam-lhe suporte assistencial nas vezes em que as aglomerações de pessoas se tornavam imensas. Nesses momentos elas atendiam os mendigos, pedintes, coxos, aleijados, com auxílios de amparo e de solidariedade. Na crise do Calvário, que culminou na morte de Jesus, as mulheres galileias tiveram posição destacada, e estiveram presentes em todos os seus lances, amenizando o quanto possível a crueza daqueles momentos. Ao descerem o corpo de Jesus da cruz, foram elas que primeiramente o receberam em seus braços. Fora também elas que ataviaram com linhos brancos o sepulcro onde depositaram o corpo do Mestre.
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INTRODUÇÃO As mulheres que tinham vindo da Galileia com Jesus, lideradas por Maria Madalena, seguindo-o, viram o túmulo e como o corpo fora ali depositado. Então se retiraram para preparar aromas e bálsamos. (Lucas 23:55 a 56). O testemunho daquele punhado de mulheres piedosas da Galileia exemplificou publicamente, e determinou para sempre, naquela hora, a consciência de amor ao próximo, que foi o fulcro de todo o ensinamento que Jesus Cristo deixou aos homens, e ajudou a decidir, com certeza, sobre o futuro vitorioso do Cristianismo . Quando Jesus percebeu que seus discípulos já estavam possuídos de uma fé sincera e ativa, partiu para sua esfera de onde continua o seu labor em prol de nosso crescimento espiritual. Seu Mestre tornara-as livres. E essa liberdade elas haveriam de preservar e testemunhar contra as injunções do mundo. (Atos 6,1). “
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ISABEL Maria, já grávida, visita sua prima Isabel - O anúncio do nascimento de Jesus foi feito a Maria, mulher de José, pelo mesmo anjo Gabriel, que lhe comunicou a gravidez de sua prima Isabel, pessoa sabidamente estéril. Maria dirigiu-se então a Judá, onde residiam Zacarias e Isabel, para visitá-los. Aconteceu, no entanto, que, ao ouvir Isabel a saudação de Maria, a criancinha saltou no seu ventre e Isabel foi cheia do Espírito Santo e exclamou com grande voz, dizendo: “Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre. E de onde me provém isto a mim, que venha visitar-me a mãe do meu Senhor? Pois eis que, ao chegar aos meus ouvidos a voz da tua saudação, a criancinha saltou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada a que creu, pois hão de cumprir-se as coisas que da parte do Senhor lhe foram ditas”. Maria respondeu-lhe: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador; porque atentou na baixeza de sua serva; pois eis que desde agora todas as gerações me chamarão bem-aventurada, porque me fez grandes coisas o Poderoso; e santo é o seu nome. E a sua misericórdia é de geração em geração sobre os que o temem. Com o seu braço agiu valorosamente; dissipou os soberbos no pensamento de seus corações. Depôs dos tronos os poderosos, e elevou os humildes. Encheu de bens os famintos, e despediu vazios os ricos. Auxiliou a Israel seu servo, recordando-se da sua misericórdia; como falou a nossos pais, para com Abraão e sua posteridade, para sempre”. (Lucas, 1:26 a 1:55.)
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MARIA DE NAZARÉ E A SUBLIMAÇÃO
A história da mãe de Cristo, para muitos, é cercada de mistérios desde o período que antecede seu próprio nascimento no plano físico. Maria de Nazaré é certamente uma das figuras mais emblemáticas e importantes da era cristã, não somente por receber a missão de trazer ao mundo Jesus, mas também, pela forma com a qual conduziu o Mestre, sempre demonstrando amor, fé e sabedoria, mesmo durante o calvário de seu filho. Boa parte dos cristãos enxergam Maria como uma santidade, outros, apenas a mulher que trouxe ao mundo o Messias, em comum, há no mínimo um grande respeito pela personalidade mariana. Através de diversas manifestações de fé e religiosidade pelo mundo, Maria recebeu diferentes nomes, e é lembrada de diversas formas, tornando- a um grande vulto do cristianismo.
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A HISTÓRIA DE MARIA Segundo os registros contidos no evangelho de Tiago, Maria era filha de Joaquim, um judeu de posses que vivia na região de Nazaré, o qual sempre oferecia doações aos pobres e oferendas aos templos. Tiago narra que em certa feita, um sacerdote chamado Ruben proibiu Joaquim de realizar doações, pois o mesmo não havia gerado nenhum rebento em Israel, o que contrariava as leis judaicas. Joaquim diante das circunstâncias, caiu em profunda tristeza e decidiu jejuar por 40 dias e 40 noites em uma montanha deserta, dizendo a si mesmo: "Não voltarei ao lar nem pra comer ou beber, até que o senhor venha visitar-me. As minhas orações me servirão de bebida e comida aqui no deserto". Enquanto isso, em sua casa, Ana chorava a ausência do marido, dividida entre a dúvida da viuvez e a culpa da esterilidade. Até que um dia, em meio a suas súplicas, Ana recebe a visita de um "anjo" que disse-lhe: "Ana, Ana, o senhor ouviu as tuas preces. Eis que conceberás e darás a luz a um filho. E o fruto do teu ventre será conhecido em todo mundo".
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A HISTÓRIA DE MARIA No mesmo dia, Joaquim ainda sobre a montanha, avista dois mensageiros de Deus que lhe dirigiram a palavra: "Joaquim, o senhor ouviu tuas preces, desces daqui e vai a Ana, tua mulher, porque ela conceberá em seu ventre". Desta forma, Joaquim retornou ao lar e pouco tempo depois, Ana engravidou e deu a luz a uma menina a qual recebeu o nome de Maria. Ao completar 3 anos, Maria é levada por seus pais ao templo judaico e lá permanece sob a tutela dos sacerdotes até os 12 anos, idade em que deveria ser retirada do templo, antes do período de sua menarca. O problema é que, nessa época, Maria já havia se tornado órfã. Foi então que os sacerdotes reuniram os viúvos da região e através da orientação de um "anjo", escolheram José para recebê-la. Segundo o apócrifo atribuído a Tiago, José era um homem idoso, portanto, bem mais velho que Maria. Seu dever era proteger a jovem, que era considerada pelos representantes do judaísmo uma enviada de Deus, portanto, a mesma permaneceu intocada.
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CONCEPÇÃO DE MARIA – 2º A TRADIÇÃO
O maior mistério atribuído a Maria, pelo menos para os mais religiosos, indubitavelmente é o que diz respeito a concepção virginal. Os evangelhos canônicos de Lucas e Mateus, contam que Maria manteve-se virgem e que Jesus fora concebido pelo "Espírito Santo", ou seja, a fecundação de Maria aconteceu de forma "milagrosa", sem a participação de um pai natural. De acordo com as escrituras sagradas, Maria recebeu a visita do anjo Gabriel, o qual anunciou à jovem sua concepção através da intervenção do "Espírito Santo". A partir de então, Maria fora acolhida por sua prima Isabel, mãe de João Batista, pois José tivera que se ausentar por um período para trabalhar. Ao retornar, o marido de Maria se deparou com a mesma, já no sexto mês de gravidez, não acreditando na fidelidade da virgem. Então, José é visitado por uma entidade angelical que lhe esclarece a situação. Depois deste evento, a mãe de Jesus segue tranquilamente sua gestação até o nascimento do enviado de Deus, que ocorreu através de um parto fisiológico, conforme a história que todos conhecem.
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CONCEPÇÃO DE MARIA – 2º O ESPIRITISMO
O Espiritismo é uma ciência de observação e ao mesmo tempo uma doutrina filosófica de consequências religiosas, que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos e de suas relações com a vida material. Além disto, a Doutrina Espírita nos convida a desenvolver uma fé raciocinada, analisando os fatos de forma coerente, buscando compreender a razão daquilo que acreditamos. Allan Kardec defende que a religião deve caminhar em consonância com a ciência, de modo que a primeira não ignore a última e vice versa. E é baseado nesses princípios que analisaremos a questão proposta neste artigo.
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CONCEPÇÃO DE MARIA – 2º O ESPIRITISMO
Para algumas religiões, a concepção de Maria é tida como um milagre, através da ação do "Espírito Santo". Este fato, explicaria uma fecundação assexuada. Já segundo a Doutrina Espírita, não existem milagres, todos os acontecimentos fazem parte da Lei Natural, criada por Deus em sua infinita perfeição, desta forma, não há a necessidade de o Criador realizar milagres para provar sua grandiosidade. A questão dos milagres para o espiritismo é elucidada em "A Gênese", no tópico, "Faz Deus milagres?": "Não sendo necessários os milagres para a glorificação de Deus, nada no Universo se produz fora do âmbito das leis gerais. Deus não faz milagres, porque, sendo como são, perfeitas as suas leis, não lhe é necessário derrogá-las. Se há fatos que não compreendemos, é que ainda nos faltam os conhecimentos necessários. "
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CONCEPÇÃO DE MARIA – 2º O ESPIRITISMO
O fato de Jesus ter sido gerado de forma milagrosa, contraria as vias normais de reprodução, e para o espiritismo esta é uma questão relevante, uma vez que a reprodução humana faz parte das Leis Naturais de Deus. A doutrina codificada por Allan Kardec não nega a participação do "Espírito Santo" na concepção de Jesus, até porque sua reencarnação foi minimamente planejada pela espiritualidade superior (aqui entra a participação do "Espírito Santo"), entretanto, a fecundação de Maria se deu por vias normais, através de relação sexual entre ela e José, como acontece entre todos os casais. Mas então, como surgiu o mito da virgindade de Maria? Acredita-se que a igreja tenha disseminado essa tese, afim de diminuir a promiscuidade entre as pessoas. A prática sexual naquela época, era permitida apenas com o intuito de procriação, isso para não provocar a extinção da raça humana. Quanto menor fosse a relação sexual entre os casais, menor seriam os seus pecados.
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CONCEPÇÃO DE MARIA – 2º O ESPIRITISMO
Jesus com o passar do tempo tornou-se uma figura mitológica e, como sendo um Deus, não poderia ter nascido do pecado original cometido por Adão e Eva. Apesar dessas considerações, o Novo Testamento utiliza o termo "O Filho do Homem" 88 vezes. Esse termo refere-se a Jesus como um ser humano, e como tal, seu nascimento só poderia ter acontecido de forma natural. Nas epístolas de Paulo, que são os registros mais antigos contidos na bíblia, não há evidências da virgindade de Maria, o apóstolo refere-se a ela apenas como a mãe de Jesus. Os evangelhos bíblicos reforçam ainda que Maria e José tiveram outros filhos, não podendo persistir a virgindade de Maria: "Não é este o filho do carpinteiro? Não é Maria sua mãe? Não são seus irmãos Tiago, José Simão e Judas?" (Mateus 13, 55) A grande diferença em tudo isso é que o espiritismo não interpreta o ato sexual como um pecado. O que torna o sexo imoral, é como as pessoas o praticam. Não devemos viver para a pratica sexual, mas o sexo é importante para gerar a vida, sendo um mecanismo natural do ser humano.
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A VISÃO DO ESPIRITISMO SOBRE MARIA
É certo que Maria faz parte de um grupo de espíritos evoluídos que vieram para preparar a chegada de Jesus. É um espírito tão puro, que recebeu a missão nobre de conduzir o governador da Terra, modelo e guia da humanidade. Maria é sinônimo de amor, prova disto foi a sua resignação ao presenciar o sofrimento de seu filho, em nome da salvação da humanidade. E é por isso que este espírito desperta tanta simpatia e admiração entre as pessoas. Há quem acredite que, pedir a intercessão de Maria é o método mais eficaz de se chegar a Jesus, pois um filho não negaria o pedido de uma mãe. Na literatura espírita, encontramos vários registros sobre Maria na espiritualidade. O livro Memórias de um Suicida, descreve as atividades da Legião dos Servos de Maria, um grupo de espíritos especializados no resgate de suicidas nas zonas inferiores, após o socorro dos réprobos, os mesmos são encaminhados ao Hospital Maria de Nazaré. “ “
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A VISÃO DO ESPIRITISMO SOBRE MARIA
Esta instituição é dirigida pela mãe de Jesus. Camilo Cândido Botelho, autor espiritual desta obra, relata que a tarefa de cuidar de espíritos suicidas não poderia ser desempenhada por outro espírito a não ser Maria, por ela ser a referência de amor e dedicação fraternal. Além disso, milhares de fiéis pelo mundo todo, dedicam sua fé e devoção a Maria, em virtude disso, existem espíritos abnegados que trabalham em seu nome, recebendo os pedidos e as orações e auxiliando aqueles que sofrem. É importante ressaltar que a Doutrina Espírita alimenta um profundo respeito a qualquer forma de convicção religiosa, mesmo posicionando-se de forma diferente. E sabemos que Maria é um espírito de luz e trabalha ao lado de Jesus em benefício da humanidade. “
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A MULHER CANANÉIA – CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL
E partindo Jesus dali, foi para as partes de Tiro e de Sidom. E eis que uma mulher cananeia, que saíra daquelas cercanias, clamou, dizendo: Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de mim, que minha filha está miseravelmente endemoninhada. Mas ele não lhe respondeu palavra. E os seus discípulos, chegando ao pé dele, rogaram-lhe, dizendo: Despede-a, que vem gritando atrás de nós. E ele, respondendo, disse: Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel. Então, chegou ela e adorou-o, dizendo: Senhor, socorre-me. Ele, porém, respondendo, disse. Não é bom pegar o pão dos filhos e deitá-lo aos cachorrinhos. E ela disse: Sim, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores. Então, respondeu, Jesus e disse-lhe: Ó mulher, grande é a tua fé. Seja isso feito para contigo, como tu desejas. E, desde aquela hora, a sua filha ficou sã. Mateus, 15:
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A MULHER CANANÉIA – CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL
A mulher cananeia simboliza todas as nações da Terra que um dia acorrerão a abraçar o Evangelho. Jesus pregou o Evangelho aos Israelitas e assim mesmo a uma diminuta parte deles. Ele veio plantar a semente do Evangelho; outros se encarregariam de cuidar dela, até que se tornasse uma árvore generosa, a cuja sombra descansaria a Humanidade. Por isso é que ele diz que foi enviado somente às ovelhas perdidas da casa de Israel. A ida para “as partes de Tiro e de Sidon” sugere atendimento circunstancial, realizado pelo Mestre e que passaria à História como exemplo. Parece que não havia intenção, por parte de Jesus, em pregar naquela região específica, constituída por povos de tradições culturais e religiosas tão diversas, que ainda não possuíam consciência da ideia de Deus Único. Dai ele responder aos discípulos que lhe pediram para dispensar a solicitante: “Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel”.
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A MULHER CANANÉIA – CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL
O aprendiz do Evangelho, entretanto, deve estar suficientemente esclarecido, mantendo-se atento aos acontecimentos que surgem espontaneamente, em sua caminhada evolutiva. Deve considerar que, independentemente dos planejamentos, das diferenças religiosas, do nível de entendimento espiritual, assim como das circunstâncias, pessoas e locais, a necessidade de auxiliar o próximo se revela como prioridade maior da existência. Em geral, é exatamente nesses acontecimentos que se manifesta a vontade do Pai. À primeira vista, parece que Jesus não tinha se apiedado da mulher cananeia, cuja filha estava obsidiada. Tal não era, porém, o pensamento do Mestre, cujo coração pulsava em uníssono com os corações dos sofredores que o chamavam. Com sua palavra, que parece envolver uma recusa, quis Jesus provar se aquela mulher tinha fé suficiente para merecer a graça que pedia.
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A MULHER CANANÉIA – CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL
Importante atentar-se para a forma como o fato é narrado: “eis que uma mulher cananeia, que saíra daquelas cercanias, clamou, dizendo”. Está claro que se tratava de um Espírito portador de cultura espiritual pouco abrangente, ainda preso aos campos da evolução natural. Saindo daquelas “cercanias” indica a sua origem. O verbo “sair”, presente na frase, sugere que, nada obstante seus parcos conhecimentos espirituais, ela já revelava possuir alguma informação, não se mantendo presa às orientações da prática politeísta. A mulher cananeia foi atraída por uma fonte vibracional diferente, plena de amor e de energias positivas, consubstanciada na figura de Jesus que, eventualmente, por ali se movimentava.
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A MULHER CANANÉIA – CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL
Jesus, em sua passagem pelo Planeta, foi a sublimação individualizada do magnetismo pessoal, em sua expressão substancialmente divina. As criaturas disputavam-lhe o encanto da presença, as multidões seguiam-lhe os passos, tocadas de singular admiração. Quase toda gente buscava tocar-lhe a vestidura. D’Ele emanavam irradiações de amor que neutralizavam moléstias recalcitrantes. Produzia o Mestre, espontaneamente, o clima de paz que alcançava quantos lhe gozavam a companhia. Por outro lado, o pedido da mulher extrapolava as meras necessidades de ordem física, revelando o desejo sincero de libertar do sofrimento um ente querido, ainda que a súplica pedisse misericórdia para si mesma: “Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de mim, que minha filha está miseravelmente endemoninhada”. O pedido de socorro, na verdade, era para um ser amado, preso ao doloroso processo obsessivo da subjugação. Nessas condições, as circunstâncias são alteradas pela força do amor, cujo poder é inestimável. Só o amor consegue totalizar a glória da vida. Quem vive respira. Quem trabalha progride. Quem sabe percebe. Quem ama respira, progride, percebe, compreende, serve e sublima, espalhando a felicidade.
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A MULHER CANANÉIA – CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL
Informa, contudo, o versículo 23 de Mateus que: “Mas ele não lhe respondeu palavra. E os seus discípulos, chegando ao pé dele, rogaram-lhe, dizendo: Despede-a, que vem gritando atrás de nós”. Trata-se de uma situação especial em que o silêncio é a melhor resposta, a forma mais prudente de agir, diante de pessoas que demonstram pouco entendimento da realidade dos fatos, ou que se encontram sob o impacto de forte emoção. É medida de bom senso silenciar e aguardar o trabalho do tempo. Por outro lado, é possível que os discípulos tenham interpretado equivocadamente o silêncio de Jesus, por isto disseram ao Senhor: “Despede-a, que vem gritando atrás de nós”. Esta colocação provocou a manifestação de Jesus por meio destas palavras, constantes do versículo 24: “Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel”. Quer isto dizer que, a despeito de sua mensagem ser destinada a todos os povos do Planeta, do passado, presente e futuro, naquele momento específico recordava que, primordialmente, era preciso semeá-la, com proveito, no meio onde oferecia melhores condições: os judeus, os quais possuíam base monoteísta firme, a despeito dos desvios religiosos e dos equívocos existentes.
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A MULHER CANANÉIA – CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL
Os povos gentílicos seriam objeto de atendimento especial, posteriormente. Era preciso, antes de conhecer o Evangelho, ter noção de Deus único. De acordo com as orientações espíritas, as “ovelhas perdidas da casa de Israel” referem-se a um grupo de Espíritos, vindos de Capela, cujo aproveitamento dos ensinamentos superiores foi praticamente nulificado, a despeito da crença monoteísta que possuíam. Renasceram na Terra para reparar erros cometidos contra a Lei de Deus. Degredados no nosso orbe, assumiram o compromisso de cooperarem no progresso da Humanidade terrestre, transmitindo-lhe a ideia de Deus Único. Ao mesmo tempo, reajustavam-se perante a Lei Divina. Emmanuel esclarece a respeito desses degredados no nosso mundo:
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A MULHER CANANÉIA – CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL
Foi assim que Jesus recebeu, à luz do seu reino de amor e de justiça, aquela turba de seres sofredores e infelizes. Com a sua palavra sábia e compassiva, exortou essas almas desventuradas à edificação da consciência pelo cumprimento dos deveres de solidariedade e de amor, no esforço regenerador de si mesmas. Mostrou-lhes os campos imensos de lutas que se desdobravam na Terra, envolvendo-as no halo bendito da sua misericórdia e da sua caridade sem limites. Abençoou lhes as lágrimas santificadoras, fazendo-lhes sentir os sagrados triunfos do futuro e prometendo-lhes a sua colaboração cotidiana e a sua vinda no porvir. Então, chegou ela e adorou-o, dizendo: Senhor, socorre-me. Ele, porém, respondendo, disse. Não é bom pegar o pão dos filhos e deitá-lo aos cachorrinhos. E ela disse: Sim, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores. Então, respondeu, Jesus e disse- lhe: Ó mulher, grande é a tua fé. Seja isso feito para contigo, como tu desejas. E, desde aquela hora, a sua filha ficou sã. (Mct. 15:25-28).
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A MULHER CANANÉIA – CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL
A mulher sirofenícia não se deixa abater pelo silêncio de Jesus nem com as palavras dos discípulos. Persiste no seu propósito de receber o auxílio, implorando e argumentando com o Senhor. Alimentada pela força do amor que devotava à filha e pela confiança em Jesus, o mensageiro celestial, multiplicou as forças íntimas, prostrando-se junto ao Mestre, dizendo com mais convicção: “Senhor, socorre-me”. Há algo mais na postura dessa mulher: ela depositou toda a sua esperança, alimentada pela fé inarredável na pessoa do Senhor. Os verbos: “chegou” e “adorou-o” definem o alto grau de segurança e de humildade dessa criatura. Fica evidente também que ela realmente possuía muito mais informações sobre os poderes de Jesus, do que usualmente um sirofenício teria. Mesmo assim, em nenhum momento agrediu, revoltou-se ou insurgiu-se de qualquer maneira. Simplesmente, disse: “Senhor, socorre-me”. Temos, assim, o valor da humildade associado à fé.
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A MULHER CANANÉIA – CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL
O acontecimento ficou preso no tempo, mas o ensinamento permanece e se irradia pelos séculos. Jesus não pronunciou qualquer palavra, no primeiro momento. Entretanto, um diálogo inarticulado foi instaurado, que culminou com o pedido de socorro daquela mulher confiante e esperançosa, que soube submeter-se ao amparo da misericórdia do Senhor. O Mestre, entretanto, ao ouvir o segundo apelo, lhe responde: “Não é bom pegar o pão dos filhos e deitá-lo aos cachorrinhos”. A interpretação literal deste versículo 26 é totalmente imprópria. Aliás, esta afirmativa costuma escandalizar alguns aprendizes mais desavisados. A expressão é direta, mas acentuadamente afetiva, respeitosa, considerando o sentido didático da lição que o Mestre estava produzindo. Existiu uma razão para Jesus pronunciar aquelas palavras: era preciso que ela, a mulher sirofenícia, recordasse a sua origem de “ovelha perdida da casa de Israel”, renascida, naquela existência, no seio de um povo politeísta. Ela é o símbolo de alguém que renega a sua origem divina (tal como aconteceu ao filho pródigo) para entregar-se às sensações e aos prazeres da vida material. Preferiu Mamon a Deus. Entretanto, os reflexos da sua escolha infeliz se faziam presentes. Por isso ela buscou Jesus com tanta veemência.
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A MULHER CANANÉIA – CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL
Por outro lado, importa considerar que o Mestre testou a fé que ela, aparentemente, revelava possuir, a fim de que a lição ficasse clara para o aprendiz do Evangelho: “seria ela uma ovelha perdida que desejava voltar ao redil?” ou “seria alguém que, por ser informada dos prodígios operados por Jesus, desejava se ver livre de um problema que lhe atormentava a existência?” Apesar da incipiente base de conhecimento espiritual que ela recebeu naquela existência expiatória, o Mestre a reconheceu (“ovelha perdida da casa de Israel”), de imediato, de forma que o diálogo que se seguiu, foi para revelar quem ela era e de onde ela vinha. Condição que ficou plenamente demonstrada não só porque a cananeia busca e adora Jesus, reconhecendo-o como o Benfeitor Maior, mas, também, pela lucidez do diálogo que com ele estabelece.
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A MULHER CANANÉIA – CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL
Quando Jesus responde-lhe que “não é bom pegar no pão dos filhos e deitá-lo aos cachorrinhos” não a estava humilhando, comparando-a com os filhotes de cães. A palavra “cachorrinhos” tem o sentido de “criancinhas” que, no texto, simbolizava o pouco conhecimento espiritual dos sirofenícios que, por serem politeístas, ainda se encontravam no estágio inicial dos processos que levam à compreensão de Deus Único. Os “filhos” simbolizavam os judeus, monoteístas por natureza, isto é, Espíritos que se encontravam um passo à frente, em termos de entendimento espiritual, a despeito das distorções religiosas existentes. Dessa forma, o alimento espiritual destinado aos seres humanos, simbolizados como “filhos”, deveria ser diferente do que era fornecido aos “cachorrinhos” — animais fiéis, muito próximos dos homens — ou “filhotes” que, por representarem crianças espirituais, requisitavam uma alimentação menos consistente, apropriada à idade infantil.
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A MULHER CANANÉIA – CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL
Cairbar Schutel complementa a lição com estas explicações: A mulher sirofenícia, embora não fosse da “casa de Israel”, era uma dessas ovelhas. A sua intuição de procurar a Jesus, o seu gesto de prostrar-se a seus pés, o seu modo decisivo e claro de falar-lhe, a sua insistência na rogativa dirigida ao Mestre, mostra bem claramente que se tratava de uma pessoa que não podia deixar de ter afinidade espiritual com Jesus. Para afirmar mais ainda a sua fé, e certamente porque aquela mulher havia cometido a grande falta do “desgarramento” do seu rebanho em anterior encarnação, Jesus propositadamente tratou-a com severidade, pois assim despertaria nela fundas intuições de haver abandonado o Mestre e ela se firmaria ainda mais no dever de reparar a falta […]. Já não era somente a cura de sua filha que ela desejava; queria também, embora “como um cachorrinho”, comer uma migalha daquele pão da Vida que Jesus estava distribuindo tão fartamente e com tanto amor, para os deserdados da sorte. Aberto o Espírito para as coisas divinas e publicamente proclamada a fé e a crença resoluta que ela mantinha, Jesus não se fez mais rogado, e, satisfazendo-lhe o desejo, frisou bem: “Por esta palavra vai-te, faça-se contigo como queres. Mulher, grande é a tua fé!” E daquela hora em diante a sua filha ficou sã.
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MARIA DE MAGDALA E A REFORMA ÍNTIMA
Maria de Magdala ouvira as pregações do Evangelho do Reino, não longe da vila principesca onde vivia entregue a prazeres, em companhia de patrícios romanos, e tomara-se de admiração profunda pelo Messias. Que novo amor era aquele apregoado aos pescadores singelos por lábios tão divinos? Até ali, caminhara ela sobre as rosas rubras do desejo, embriagando-se com o vinho de condenáveis alegrias. No entanto, seu coração estava sequioso e em desalento. Jovem e formosa, emancipara-se dos preconceitos férreos de sua raça; sua beleza lhe escravizara aos caprichos de mulher os mais ardentes admiradores; mas seu espírito tinha fome de amor. O Profeta nazareno havia plantado em sua alma novos pensamentos. Depois que lhe ouvira a palavra, observou que as facilidades da vida lhe traziam agora um tédio mortal ao espírito sensível. As músicas voluptuosas não encontravam eco em seu íntimo, os enfeites romanos de sua habitação se tornaram áridos e tristes.
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MARIA DE MAGDALA E A REFORMA ÍNTIMA
Maria chorou longamente, embora não compreendesse ainda o que pleiteava o profeta desconhecido. Entretanto, seu convite amoroso parecia ressoar lhe nas fibras mais sensíveis de mulher. Jesus chamava os homens para uma vida nova. Decorrida uma noite de grandes meditações e antes do famoso banquete em Naim, onde ela ungiria publicamente os pés de Jesus com os bálsamos perfumados de seu afeto, notou-se que uma barca tranquila conduzia a pecadora a Cafarnaum. Dispusera-se a procurar o Messias, após muitas hesitações. Como a receberia o Senhor, na residência de Simão? Seus conterrâneos nunca lhe haviam perdoado o abandono do lar e a vida de aventuras. Para todos, era ela a mulher perdida que teria de encontrar a lapidação na praça pública.
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MARIA DE MAGDALA E A REFORMA ÍNTIMA
Sua consciência, porém, lhe pedia que fosse. Jesus tratava a multidão com especial carinho. Jamais lhe observara qualquer expressão de desprezo para com as numerosas mulheres de vida equívoca que o cercavam. Além disso, sentia-se seduzida pela sua generosidade. Se possível, desejaria trabalhar na execução de suas ideias puras e redentoras. Propunha-se a amar, como Jesus amava, sentir com os seus sentimentos sublimes. Se necessário, saberia renunciar a tudo. Que lhe valiam as joias, as flores raras, os banquetes suntuosos se, ao fim de tudo isso, conservava a sua sede de amor? Envolvida por esses pensamentos profundos, Maria de Magdala penetrou o umbral da humilde residência de Simão Pedro, onde Jesus parecia esperá-la, tal a bondade com que a recebeu num grande sorriso. A recém-chegada sentou-se com indefinível emoção a estrangular lhe o peito.
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MARIA DE MAGDALA E A REFORMA ÍNTIMA
Vencendo, porém, as suas mais fortes impressões, assim falou, em voz súplice, feitas as primeiras saudações: Senhor, ouvi a vossa palavra consoladora e venho ao vosso encontro! Tendes a clarividência do Céu e podeis adivinhar como tenho vivido! Sou uma filha do pecado. Todos me condenam. Entretanto, Mestre, observai como tenho sede do verdadeiro amor!... Minha existência, como todos os prazeres, tem sido estéril e amargurada. As primeiras lágrimas lhe borbulharam dos olhos, enquanto Jesus a contemplava, com bondade infinita. Ela, porém, continuou: Ouvi o vosso amoroso convite ao Evangelho! Desejava ser das vossas ovelhas, mas será que Deus me aceitaria? O Profeta nazareno fitou-a, enternecido, sondando as profundezas de seu pensamento, e respondeu, bondoso: Maria, levanta os olhos para o céu e regozija-te no caminho, porque escutaste a Boa Nova do Reino e Deus te abençoa as alegrias!
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MARIA DE MAGDALA E A REFORMA ÍNTIMA
Acaso, poderias pensar que alguém no mundo estivesse condenado ao pecado eterno? Onde, então, o amor de nosso Pai? Nunca viste a primavera dar flores sobre uma casa em ruínas? As ruínas são as criaturas humanas; porém, as flores são as esperanças em Deus. Sobre todas as falências e desventuras próprias do homem, as bênçãos paternais de Deus descem e chamam. Sentes hoje esse novo sol a iluminar- te o destino! Caminha agora, sob a sua luz, porque o amor cobre a multidão dos pecados. A pecadora de Magdala escutava o Mestre, bebendo lhe as palavras. Homem algum havia falado assim à sua alma incompreendida. Os mais levianos lhe pervertiam as boas inclinações, os aparentemente virtuosos a desprezavam sem piedade.
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MARIA DE MAGDALA E A REFORMA ÍNTIMA
Engolfada em pensamentos confortadores e ouvindo as referências de Jesus ao amor, Maria acentuou, levemente: No entanto, Senhor, tenho amado e tenho sede de amor! Sim, redarguiu Jesus, tua sede é real. O mundo viciou todas as fontes de redenção e é imprescindível compreenda que em suas sendas a virtude tem de marchar por uma porta muito estreita. Geralmente, um homem deseja ser bom como os outros, ou honesto como os demais, olvidando que o caminho onde todos passam é de fácil acesso e de marcha sem edificações. A virtude no mundo foi transformada na porta larga da conveniência própria. Há os que amam os que lhes pertencem ao círculo pessoal, os que são sinceros com os seus amigos, os que defendem seus familiares, os que adoram os deuses do favor.
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MARIA DE MAGDALA E A REFORMA ÍNTIMA
O que verdadeiramente ama, porém, conhece a renúncia suprema a todos os bens do mundo e vive feliz, na sua senda de trabalhos para o difícil acesso às luzes da redenção. O amor sincero não exige satisfações passageiras, que se extinguem no mundo com a primeira ilusão; trabalha sempre, sem amargura e sem ambição, com os júbilos do sacrifício. Só o amor que renuncia sabe caminhar para a vida suprema! Maria o escutava, embevecida. Ansiosa por compreender inteiramente aqueles ensinos novos, interrogou: Só o amor pelo sacrifício poderá saciar a sede do coração? Jesus teve um gesto afirmativo e continuou: Somente o sacrifício contém o divino mistério da vida. Viver bem é saber imolar-se. Acreditas que o mundo pudesse manter o equilíbrio próprio tão- só com caprichos antagônicos e por vezes criminosos dos que se elevam à galeria dos triunfadores?
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MARIA DE MAGDALA E A REFORMA ÍNTIMA
Toda luz humana vem do coração experiente e brando dos que foram sacrificados. Um guerreiro coberto de louros ergue os seus gritos de vitória sobre os cadáveres que juncam o chão; mas apenas os que tombaram fazem bastante silêncio, para que se ouça no mundo a mensagem de Deus. O primeiro pode fazer a experiência para um dia; os segundos constroem a estrada definitiva na eternidade. Na tua condição de mulher, já pensaste no que seria o mundo sem as mães exterminadas no silêncio e no sacrifício? Não são elas as cultivadoras do jardim da vida, onde os homens travam a batalha? Muitas vezes, o campo enflorescido se cobre de lama e sangue; entretanto, na sua tarefa silenciosa, os corações maternais não desesperam e reedificam o jardim da vida, imitando a Providência Divina, que espalha sobre um cemitério os lírios perfumados de seu amor !
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MARIA DE MAGDALA E A REFORMA ÍNTIMA
Maria de Magdala, ouvindo aquelas advertências, começou a chorar, a sentir no íntimo o deserto da mulher sem filhos. Por fim, exclamou: Desgraçada de mim, Senhor, que não poderei ser mãe! Então, atraindo-a brandamente a si, o Mestre acrescentou: E qual das mães será maior aos olhos de Deus? A que se devotou somente aos filhos de sua carne, ou a que se consagrou, pelo espírito, aos filhos das outras mães? Aquela interrogação pareceu despertá-la para meditações mais profundas. Maria sentiu-se amparada por uma energia interior diferente, que até então desconhecera. A palavra de Jesus lhe honrava o espírito, convidava-a a ser mãe de seus irmãos em humanidade, aquinhoando-os com os bens supremos das mais elevadas virtudes da vida.
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MARIA DE MAGDALA E A REFORMA ÍNTIMA
Experimentando radiosa felicidade em seu mundo íntimo, contemplou o Messias com olhos nevoados de lágrimas e, no êxtase de sua imensa alegria, murmurou comovidamente: Senhor, doravante renunciarei a todos os prazeres transitórios do mundo, para adquirir o amor celestial que me ensinastes! Acolherei como filhas as minhas irmãs no sofrimento, procurarei os infortunados para aliviar-lhes as feridas do coração, estarei com os aleijados e leprosos. Nesse instante, Simão Pedro passou pelo aposento, demandando o interior, e a observou com certa estranheza. A convertida de Magdala lhe sentiu o olhar glacial, quase denotando desprezo, e, já receosa de um dia perder a convivência do Mestre, perguntou com interesse: Senhor, quando partirdes deste mundo, como ficaremos?
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MARIA DE MAGDALA E A REFORMA ÍNTIMA
Jesus compreendeu o motivo e o alcance de sua palavra e esclareceu: Certamente que partirei, mas estaremos eternamente reunidos em espírito. Quanto ao futuro, com o infinito de suas perspectivas, é necessário que cada um tome sua cruz, em busca da porta estreita da redenção, colocando acima de tudo a fidelidade a Deus e em segundo lugar, a perfeita confiança em si mesmo. Observando que Maria, ainda opressa pelo olhar estranho de Simão Pedro, se preparava a regressar, o Mestre lhe sorriu com bondade e disse: Vai, Maria!... Sacrifica-te e ama sempre. Longo é o caminho, difícil a jornada, estreita a porta, mas a fé remove os obstáculos... Nada temas: é preciso crer somente! Mais tarde, depois de sua gloriosa visão do Cristo ressuscitado, Maria de Magdala voltou de Jerusalém para a Galileia, seguindo os passos dos companheiros queridos. A mensagem da ressurreição espalhara uma alegria infinita.
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MARIA DE MAGDALA E A REFORMA ÍNTIMA
Após algum tempo, quando os apóstolos e seguidores do Messias procuravam reviver o passado junto ao Tiberíades, os discípulos diretos do Senhor abandonaram a região, a serviço da Boa Nova. Ao disporem-se os dois últimos companheiros a partir em definitivo para Jerusalém, Maria de Magdala, temendo a solidão da saudade, rogou fervorosamente lhe permitissem acompanhá-los à cidade dos profetas; ambos, no entanto, se negaram a anuir aos seus desejos. Temiam-lhe o pretérito de pecadora, não confiavam em seu coração de mulher. Maria compreendeu, mas lembrou-se do Mestre e resignou-se. Humilde e sozinha, resistiu a todas as propostas condenáveis que a solicitavam para uma nova queda de sentimentos. Sem recursos para viver, trabalhou pela própria manutenção, em Magdala e Dalmanuta.
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MARIA DE MAGDALA E A REFORMA ÍNTIMA
Foi forte nas horas mais ásperas, alegre nos sofrimentos mais escabrosos, fiel a Deus nos instantes escuros e pungentes. De vez em quando, ia às sinagogas, desejosa de cultivar a lição de Jesus; mas as aldeias da Galileia estavam novamente subjugadas pela intransigência do Judaísmo. Ela compreendeu que palmilhava agora o caminho estreito, onde ia só, com a sua confiança em Jesus. Por vezes, chorava de saudade, quando passeava no silêncio da praia, recordando a presença do Messias. As aves do lago, ao crepúsculo, vinham pousar, como outrora, nas alcaparreiras mais próximas; o horizonte oferecia, como sempre, o seu banquete de luz. Ela contemplava as ondas mansas e lhes confiava suas meditações.
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MARIA DE MAGDALA E A REFORMA ÍNTIMA
Certo dia, um grupo de leprosos veio a Dalmanuta. Procediam da Iduméia aqueles infelizes, cansados e tristes, em supremo abandono. Perguntavam por Jesus Nazareno, mas todas as portas se lhes fechavam. Maria foi ter com eles e, sentindo-se isolada, com triplo direito de empregar a sua liberdade, reuniu-os sob as árvores da praia e lhes transmitiu as palavras de Jesus, enchendo-lhes os corações das claridades do Evangelho. As autoridades locais, entretanto, ordenaram a expulsão imediata dos enfermos. A grande convertida percebeu tamanha alegria no semblante dos infortunados, em face de suas fraternas revelações a respeito das promessas do Senhor, que se pôs em marcha para Jerusalém, na companhia deles. Todo o grupo passou a noite ao relento, mas sentia-se que os júbilos do Reino de Deus agora os dominavam.
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MARIA DE MAGDALA E A REFORMA ÍNTIMA
Todos Interessavam pelas descrições de Maria, devoravam-lhe exortações, contagiados de sua alegria e de sua fé. Chegados à cidade, foram conduzidos ao vale dos leprosos, que ficava distante, onde Madalena penetrou com espontaneidade de coração. Seu espírito recordava as lições do Messias e uma coragem indefinível se assenhoreara de sua alma. Dali em diante, todas as tardes, a mensageira do Evangelho reunia a turba de seus novos amigos e lhes dizia o ensinamento de Jesus. Rostos ulcerados enchiam-se de alegria, olhos sombrios e tristes tocavam-se de nova luz. Maria lhes explicava que Jesus havia exemplificado o bem até à morte, ensinando que todos os seus discípulos deviam ter bom ânimo para vencer o mundo. Os agonizantes arrastavam-se até junto dela e lhe beijavam a túnica singela. A filha de Magdala, lembrando o amor do Mestre, tomava-os em seus braços fraternos e carinhosos.
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MARIA DE MAGDALA E A REFORMA ÍNTIMA
A sua epiderme apresentava, igualmente, manchas violáceas e tristes. Ela compreendeu a sua nova situação e recordou a recomendação do Messias de que somente sabiam viver os que sabiam imolar-se. E experimentou grande gozo, por haver levado aos seus companheiros de dor uma migalha de esperança. Desde a sua chegada, em todo o vale se falava daquele Reino de Deus que a criatura devia edificar no próprio coração. Os moribundos esperavam a morte com um sorriso ditoso nos lábios, os que a lepra deformara ou abatera guardavam bom ânimo nas fibras mais sensíveis. Nas despedidas, seus companheiros de infortúnio material vinham suplicar-lhe os derradeiros conselhos e recordações. Envolvendo-os no seu carinho, a emissária do Evangelho lhes dizia apenas: Jesus deseja intensamente que nos amemos uns os outros e que participemos de suas divinas esperanças, na mais extrema lealdade a Deus!
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MARIA DE MAGDALA E A REFORMA ÍNTIMA
Dentre aqueles doentes, os que ainda se equilibravam pelos caminhos lhe traziam o fruto das esmolas escassas e as crianças abandonadas vinham beijar-lhe as mãos. Sentindo-se ao termo de sua tarefa meritória Maria de Magdala desejou rever antigas afeições de seu círculo pessoal, que se encontravam em Éfeso. Lá estavam João e Maria, além de outros companheiros dos júbilos cristãos. Adivinhava que as suas últimas dores terrestres vinham muito próximas; então, deliberou pôr em prática seu humilde desejo. Na fortaleza de sua fé, a ex-pecadora abandonou o vale, através das estradas ásperas, afastando-se de misérrimas choupanas. A peregrinação foi-lhe difícil e angustiosa. Para satisfazer aos seus intentos, recorreu à caridade, sofreu penosas humilhações, submeteu-se ao sacrifício.
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MARIA DE MAGDALA E A REFORMA ÍNTIMA
Observando as feridas pustulentas que substituíam sua antiga beleza, alegrava-se em reconhecer que seu espírito não tinha motivos para lamentações. Jesus a esperava e sua alma era fiel. Realizada a sua aspiração, por entre dificuldades infinitas, Maria achou-se, um dia, às portas da cidade; invencível abatimento lhe dominava os centros de força física. No justo momento de suas efusões afetuosas, quando o casario de Éfeso se lhe desdobrava à vista, seu corpo alquebrado negou-se a caminhar. Modesta família de cristãos do subúrbio recolheu-a a uma tenda humilde, caridosamente. Madalena pôde ainda rever amizades bem caras, consoante seus desejos. Entretanto, por largos dias de padecimentos debateu-se entre a vida e a morte. Uma noite, atingiram o auge as profundas dores que sentia. Sua alma estava iluminada por brandas reminiscências e, não obstante seus olhos se acharem selados pelas pálpebras intumescidas, via com os olhos da imaginação o lago querido, os companheiros de fé, o Mestre bem-amado.
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MARIA DE MAGDALA E A REFORMA ÍNTIMA
Seu Espírito parecia transpor as fronteiras da eternidade radiosa. De minuto a minuto, ouvia-se lhe um gemido surdo, enquanto os irmãos de crença lhe rodeavam o leito de dor, com as preces sinceras de seus corações amigos e desvelados. Em dado instante, observou-se que seu peito não mais arfava. Maria, no entanto, experimentava consoladora sensação de alívio. Sentia-se sob as árvores de Cafarnaum e esperava o Messias. As aves cantavam nos ramos próximos e as ondas sussurrantes vinham beijar-lhe os pés. Foi quando viu Jesus aproximar-se, mais belo que nunca. Seu olhar tinha o reflexo do céu e o semblante trazia um júbilo indefinível. O Mestre estendeu-lhe as mãos e ela se prosternou, exclamando, como antigamente: Senhor! Jesus recolheu-a brandamente nos braços e murmurou: Maria, já passaste a porta estreita! Amaste muito! Vem ! Eu te espero aqui!
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MARTA E MARIA E A LIVRE ESCOLHA
E aconteceu que, indo eles de caminho, entrou numa aldeia; e certa mulher, por nome Marta, o recebeu em sua casa. E tinha esta uma irmã, chamada Maria, a qual, assentando-se também aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra. Marta, porém, andava distraída em muitos serviços e, aproximando-se, disse: Senhor, não te importas que minha irmã me deixe servir só? Dize-lhe, pois, que me ajude. E, respondendo Jesus, disse-lhe: Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada. (L.c. 10:38-42). As irmãs, Marta e Maria, recebem a bênção da visita de Jesus na intimidade do lar, oportunidade em que manifestam entusiasmo pela presença do Mestre, na forma que lhes é própria, consoante o temperamento, necessidades e entendimento espirituais. Maria, cujo nome aparece citado em Lucas, 10:38-42 e em João, 11:2; 28-32 e 12:3, prostra-se aos pés de Jesus, ouvindo, embevecida, suas narrações e ensinamentos. Naquele momento, nada mais lhe era importante, tudo se tornou secundário, a não ser acomodar-se e escutar o Mestre. Reconhece-se nesta ação de Maria uma espontânea demonstração de devoção ao Salvador.
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MARTA E MARIA E A LIVRE ESCOLHA
Marta, porém, interpreta equivocadamente o comportamento da irmã, pedindo auxílio ao Mestre: “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe servir só? Dize-lhe, pois, que me ajude”. O Senhor, porém, faz-lhe suave advertência, esclarecendo-lhe para não valorizar em demasia as coisas materiais, ainda que importantes, como a alimentação e o conforto da hospedagem, por serem bens passageiros. Por isto, afirma: “Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada”. “Ela não era menos devotada a Jesus do que Maria, mas não percebeu o caminho certo para recebê-lo, aquele que mais o agradaria.” A lição é inestimável, e deve nos conduzir a reflexões mais aprofundadas. O mundo moderno, com as suas contínuas requisições, pode colocar o ser humano à deriva, se ele não tomar cuidado. É importante, à semelhança da atitude de Maria, fazer uma pausa e não deixar passar uma feliz oportunidade de melhoria espiritual, por excesso de zelo ou apego às ações cotidianas.
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MARTA E MARIA E A LIVRE ESCOLHA
Maria escolheu a boa parte porque concedeu o valor preciso às necessidades de hospedagem e alimentação. A maior parte do seu tempo, os esforços e energias foram canalizados para o essencial. O Cristo encontrava-se presente em sua casa, por algumas horas. Talvez, não mais o visse naquela reencarnação. Assim, por que perder esses instantes, tão especiais, para se dedicar mais tempo às coisas materiais, ainda que estas fossem importantes? “Busquemos o lado melhor das situações, dos acontecimentos e das pessoas. “Maria escolheu a boa parte, que não lhe será tirada” — disse- nos o Senhor. Assimilemos a essência da divina lição. Quem procura a “boa parte” e nela se detém, recolhe no campo da vida o tesouro espiritual que jamais lhe será roubado.” “Uma só coisa é necessária”, asseverou o Mestre, em sua lição a Marta, cooperadora dedicada e ativa. Jesus desejava dizer que, acima de tudo, compete-nos guardar, dentro de nós mesmos, uma atitude adequada, ante os desígnios do Todo-Poderoso, avançando, segundo o roteiro que nos traçou a Divina Lei. Realizado esse “necessário”, cada acontecimento, cada pessoa e cada coisa se ajustarão, a nossos olhos, no lugar que lhes é próprio. Sem essa posição espiritual de sintonia com o Celeste Instrutor, é muito difícil agir alguém com proveito.
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MARTA E MARIA E A LIVRE ESCOLHA
Entre saber e fazer existe singular diferença. Quase todos sabem, poucos fazem. Todas as seitas religiosas, de modo geral, somente ensinam o que constitui o bem. Todas possuem serventuários, crentes e propagandistas, mas os apóstolos de cada uma escasseiam cada vez mais. Há sempre vozes habilitadas a indicar os caminhos. É a palavra dos que sabem. Raras criaturas penetram valorosamente a vereda, muita vez em silêncio, abandonadas e incompreendidas. É o esforço supremo dos que fazem. Há outro ponto a considerar, útil na análise do comportamento das duas irmãs: a liderança de Marta se justifica, no sentido de fornecer condições de boa hospedagem, por indicar, segundo a tradição judaica, que ela era a dona da casa — casada com certo Simão, o leproso — e a irmã mais velha, a quem cabia as iniciativas de dirigir as atividades diárias, no lar.
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MARTA E MARIA E A LIVRE ESCOLHA
Em relação às unções a Jesus, o Evangelho relata que ocorreram duas: uma administrada por uma pecadora penitente, na Galileia (Cl 7:37,38), outra pela piedosa Maria de Betânia, indicada neste Roteiro. Em ambas as situações, o sentido é o mesmo: devoção, atenção, cuidados, reverência ao Senhor. A ação de ungir apresentava caráter sagrado para os judeus. Tratava-se de uma prática considerada santa. Além disso, a unção simbolizava o “derramamento” do Espírito de Deus sobre a criatura ungida. Assim, era comum ungir os doentes com azeite (Tg 5:14) para que este recebesse benefícios de Deus, o doador da vida.
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A MULHER ADÚLTERA E A TRANSFORMAÇÃO MORAL
São João narra no Capítulo VIII (V. l a 11) o caso da mulher adúltera. Instado a julgar a mulher, Jesus, que via o coração daqueles homens como um livro aberto e conhecendo os seus torpes propósitos, deu uma resposta que além de demonstrar a superioridade imensa da sua inteligência, é ao mesmo tempo um ensinamento sublime, que serviu para eles, como serve para nós : “O que de vós está sem pecado, seja o primeiro que lhe atire a pedra”. Ao dizer isto, Cristo não estava achando correto o que a mulher havia feito. Não estava apoiando o adultério ou qualquer outro erro. Tanto é verdade, que com a retirada de todos os acusadores (nenhum se achou limpo) Jesus disse à adultera : “Mulher, onde estão os que te acusam? Ninguém te condenou ? Ela respondeu: Ninguém, Senhor. Então disse Jesus: Nem eu te condenarei; vai, e não peques mais”. Vejam bem: “Vai, e não peques mais”. Isto significa que não estava de acordo com o pecado e instava com a mulher para que não mais trilhasse caminhos errados. Apontar m erro e pedir para alguém não mais pratica-lo, é obra de caridade. Condenar já não o é. Vamos usar as pedras que aparecerem em nosso caminho para edificar e jamais para atirá-las em outrem, porque afinal de contas nenhum de nós somos completamente limpos. “
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A MULHER ADÚLTERA E A TRANSFORMAÇÃO MORAL
Na passagem evangélica da Mulher Adúltera, a narrativa de João Evangelista resume-se até a absolvição dela. O espírito Amélia Rodrigues, em o livro Pelos Caminhos de Jesus, pela psicografia de Divaldo Franco, nos conta que naquela mesma noite a mulher procurou o Mestre para mais elucidações. Abriu seu coração relatando-Lhe suas fraquezas, o abandono do marido que se entregara às noitadas junto dos amigos e da tentação de que não fora capaz de suportar. Reconhecia que nada desculpava sua atitude, o que denotava arrependimento. Continuava sua exortação preocupada, pois não poderia contar com ninguém já que fora levada a execração pública. Nem com a ajuda de seu pai, tampouco de seu marido. Todos a abandonaram.
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A MULHER ADÚLTERA E A TRANSFORMAÇÃO MORAL
O Mestre lhe indicou a necessidade de uma mudança, pois em Jerusalém não haveria espaço para um recomeço, tendo em vista tudo o que aconteceu. Ela sentiu nas entrelinhas que deveria buscar novos ares, onde pudesse viver sem a sombra do erro cometido. Na despedida, Jesus a confortou: “Há sempre um lugar no rebanho do amor para ovelhas que retornam e desejam avançar. Onde quer que vás estarei contigo e a luz da verdade no archote do bem brilhará à frente, clareando o teu caminho”. DIVULGADORA DA BOA NOVA Dez anos transcorreram e vamos encontrar nossa personagem em Tiro, em casa humilde, onde recebia companheiros enfermos e abandonados. Um pouso de amor ela erguera. Não esquecera jamais a passagem com o Messias. Tornara-se uma divulgadora da Boa Nova alentando almas, enquanto limpava as chagas dos corpos doentes. Encontramos aí sua expiação. Através dos trabalhos redentores se redimia perante a Lei de Causa e Efeito. Mas faltava a reparação final: faltava-lhe apagar totalmente de sua consciência o ato praticado dez anos atrás àquele que ofendera com o adultério. Faltava compensar o ofendido.
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A MULHER ADÚLTERA E A TRANSFORMAÇÃO MORAL
Continua Amélia Rodrigues informando que durante uma tarde, trouxeram-lhe um homem desfalecido. Ela tratou de suas chagas, deu- lhe alimento revigorante que lhe aliviou as dores. Em seguida lhe ofereceu mensagem falando de Jesus. Emocionado, o homem confessa que conhecera o Doce Rabi em um fatídico dia em Jerusalém e desde então nutrira amargo sentimento pelo Mestre Jesus. Guardava terrível raiva, pois o Mestre salvara a esposa adúltera, porém, para com ele não guardara nenhuma palavra de consolo. Confessara então que o tempo o fez meditar como se equivocou em seu julgamento em Jerusalém. Buscava encontrar a companheira e a procurou em muitos lugares sem êxito, até que a doença lhe visitara o corpo, consumindo-lhe as energias. Embargada pelas emoções se recordara a mulher de todo o fato. Reconheceu o companheiro do passado e sem revelar-lhe quem era, disse-lhe: “Deus é amor, e, Jesus, por isso mesmo nunca está longe daqueles que O querem e buscam”.
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A MULHER ADÚLTERA E A TRANSFORMAÇÃO MORAL
A CURA DA ALMA Encontramos nesta bela narrativa, a afirmação de que o amor liberta definitivamente, cura todas as chagas de nossas almas, inclusive as feridas causadas pelos nossos irmãos de jornada. Mas, devemos seguir o exemplo da mulher adúltera e transpormos as barreiras do passado, buscarmos firmes através das lutas do cotidiano as oportunidades para o reajustamento definitivo. Ressaltamos também que o decurso de tempo é necessário neste processo, aliado ao esclarecimento através do Evangelho exemplificado pelo Mestre Jesus, aprofundado com os ensinamentos da Doutrina dos Espíritos. A necessidade de renovação íntima e moral, e também de que em toda infração cometida à Lei de Deus, nascem o arrependimento, expiação e reparação.
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LÍVIA E A RESIGNAÇÃO Emmanuel
Por volta de 79 a.C. viveu Públio Lentulus Sura, um cônsul, um homem de muito poder e impiedoso. Sura foi contemporâneo de Caio Júlio César, Marco Túlio Cícero, além de aliado político do temível Sérgio Lúcius Catilina. A personalidade do cônsul aparece claramente como a de um homem que se acreditava destinado a governar Roma e que o teria feito se tivesse sido vitorioso na famosa rebelião que participou como figura exponencial. Enganado por uma profecia sobre três Cornelius governando Roma, imaginou-se como sucessor de seus parentes distantes. Um pouco mais tarde, Tertuliano o condenou a morte, estrangulado, em 5 de dezembro do ano de 63 a.C. Depois de se passarem aproximadamente 94 anos reencarna como senador do Império Romano, agora como Públio Lentulus Cornelius, bisneto de Públio Lentulus Sura, sua reencarnação anterior. Públio Lentulus era um homem orgulhoso, mas nobre. Casou-se com uma excepcional mulher, Lívia, que ele tanto amou, mas que também, trouxe- lhe grande revolta e sofrimento por haver abraçado o Cristianismo.
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LÍVIA E A RESIGNAÇÃO Tinham dois filhos, Flávia Lentúlia e Marcus. Sua filha fora atacada pelo mal da lepra, Hoje conhecido como hanseníase. Como Flávia estava muito doente, Públio Lentulus recebeu do Imperador Tibério a designação para alto cargo público na Palestina, onde havia um clima muito mais ameno para que a menina pudesse de alguma forma se restabelecer. Foi desta forma que ele teve a grande oportunidade de encontrar Jesus. Sua esposa Lívia, que já houvera ouvido falar do Nazareno, implorou-lhe que pudesse procurar o profeta na esperança de uma cura definitiva para a pequenina, visto o grande número de comentários do povo naquela época sobre as curas operadas por Jesus. O senador aquiesceu ao pedido da esposa amada, dizendo-lhe, porém, que iria à procura do Messias, mas que não chegaria ao cúmulo de abordá-lo pessoalmente. Na cidade de Cafarnaum, na Galileia, quando as horas mais movimentadas do dia se escoram e o crepúsculo começou a se fazer visível, o senador então se colocou a caminho indo em direção a um lago da cidade. Depois de mais de uma hora de expectativa, deu-se então o encontro de Públio Lentulus com Jesus. Diante de seus olhos ansiosos, estava uma personalidade inconfundível e única.
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LÍVIA E A RESIGNAÇÃO Lágrimas ardentes rolaram-lhe dos olhos, que raras vezes haviam chorado, e força misteriosa e invencível fê-lo ajoelhar-se na relva lavada em luar. Desejou falar, mas tinha o peito sufocado e opresso. Foi quando, então, num gesto doce e de soberana bondade, o meigo Nazareno caminhou para ele, era como se aquela visão fosse a visão concretizada de um dos deuses de suas antigas crenças, e, pousando carinhosamente a destra em sua fronte, exclamou em linguagem encantadora, que Públio entendeu perfeitamente, dando-lhe inesquecível impressão de que a palavra era de espírito para espírito, de coração para coração. O senador quis falar, mas a voz estava embargada pela emoção e por profundos sentimentos. Desejou retirar-se, porém, nesse momento, notou que o Profeta de Nazaré se transfigurava de olhos fixos no céu.. Aquele lago, o Lago de Genesaré, deveria ser um santuário de Suas meditações e de Suas preces, no coração perfumado da natureza. Lágrimas copiosas Lhe lavaram o rosto, banhado, então por uma claridade branda, evidenciando a Sua beleza serena e indefinível melancolia…
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LÍVIA E A RESIGNAÇÃO Quais consequências desse encontro com o Divino Mestre? A cura de sua filha, Flávia. Lívia, esposa do senador, que era uma dama patrícia, torna-se cristã. E ele, que fora convidado pelo mestre a segui-lo, entre as opções que lhe foram apresentadas, de servir Deus ou a Mamon, escolheu servir a Mamon, ao mundo. Retornou às lides políticas e recusou-se a admitir ser Jesus o autor do restabelecimento da menina. No dia em que Jesus foi julgado e condenado à morte o patrício romano esteve ao lado de Pôncio Pilatos, mas nada disse ou fez em benefício do nazareno. Somente mais tarde, Públio Lentulus viera compreender e aceitar o evangelho de Jesus nos derradeiros tempos de sua romagem terrestre, quando regressou de Jerusalém para sua residência em Pompéia. Após anos de cegueira, ele desencarnou na polvorosa erupção do Vesúvio, em agosto do ano 79 da nossa era, entre chuvas de cinza e pedra, explosões ensurdecedoras, relâmpagos, ondas de lama, num espetáculo de horror..
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FONTES DE PESQUISA Primícias do Reino, RODRIGUES, Amália,
Boa Nova, CAMPOS, Humberto de. – Cap. 2,15,20,22. Elucidações Evangélicas, pág. 458. Maria de Nazaré, Miramez. Caminho, Verdade e Vida – Lição 92. Há Dois Mil Anos – Emmanuel – Cap. IV e V. Maria de Magdala, JACINTO, Roque. Pão Nosso – Lição 93. As Mulheres da Casa do Caminho, A Concepção de Maria Segundo o Espiritismo, Espiritismo em Cristo, A Mulher Sirofenícia, Religião à Luz do Espiritismo, Harmonia Espiritual, CAMPOS, Humberto de., em Marta e Maria, Bíblia do Caminho, em Emmanuel, Fraternidade de Estudos Espíritas Allan Kardek, em
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