PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS – UEMS ‘VARIAÇÃO E DIVERSIDADE LINGUÍSTICA’ (06-27/05/2024) PROFA. DRA. CRISTIANE SCHMIDT CURSO DE LETRAS – UFMS DOCENTE.

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1 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS – UEMS ‘VARIAÇÃO E DIVERSIDADE LINGUÍSTICA’ (06-27/05/2024) PROFA. DRA. CRISTIANE SCHMIDT CURSO DE LETRAS – UFMS DOCENTE DO PPG EM LINGUÍSTICA - UNEMAT (cristiane_schmidt@ufms.br)

2 Referências propostas e temas: Sociolinguística e ensino; Contribuições da Sociolinguística para o ensino de línguas; Contribuições para a prática do professor-pesquisador

3 Retomando as noções de linguagem... 1.Linguagem como expressão do pensamento: esta concepção ilumina, basicamente, os estudos tradicionais. Se concebemos a linguagem como tal, somos levados a afirmações – correntes – de que as pessoas que não conseguem se expressar não pensam. 2.Linguagem como instrumento de comunicação: esta concepção está ligada à teoria da comunicação e vê a língua como código (conjunto de signos que se combinam segundo regras) capaz de transmitir ao receptador uma certa mensagem. 3.Linguagem como uma forma de interação: mais do que possibilitar uma transmissão de informações de um emissor a um receptor, a linguagem é vista como um lugar de interação humana. [...] (fonte: João Wanderley Geraldi. O texto na sala de aula. 1984).

4 Concepções de Linguagem: Implicações no Ensino de Língua “[...] de um lado há os que pretendem que a escola deva respeitar e preservar a variedade linguística das classes populares, e sua peculiar relação com a linguagem, consideradas tão válidas e eficientes, para a comunicação, quanto a variedade linguística socialmente privilegiada. Neste caso, a escola deveria assumir a variedade linguística das classes populares como instrumento legítimo do discurso escolar (dos professores, dos alunos, do material didático). Por outro lado, há os que afirmam a necessidade de que as classes populares aprendam a usar a variedade linguística socialmente privilegiada, própria das classes dominantes, e aprendam a manter, com a linguagem, a relação que as classes dominantes com ela mantém, porque a posse dessa variedade e dessa forma específica de relação com a linguagem é instrumento fundamental e indispensável na luta pela superação das desigualdades sociais” (SOARES, 1998, p. 74).

5 Sugestão de leitura: Soares. Magda. Linguagem e escola: uma perspectiva social. 17. ed. São Paulo: Ed. Ática, [1975] 2002, 95 p. Magda Soares critica o mito da deficiência linguística que parte da ideia preconceituosa e falsamente científica segundo a qual podem existir variedades linguísticas melhores que outras. Para a hipótese do déficit linguístico, crianças das camadas populares chegam à escola com uma linguagem deficiente assim impedindo de ter sucesso nas atividades, apresentam vocabulário pobre, não sabe o nome de objetos comuns, formulam frases incompletas, curtas, resumindo são crianças “deficitárias linguisticamente”. Os estudos sociolinguísticos mostram que todas as culturas e todas as línguas são igualmente válidas, sendo inaceitável se falar em culturas ou línguas superiores. O mesmo vale para as variedades de uma mesma língua usadas em uma mesma sociedade, como o nosso Português padrão e o Português popular. Um não é melhor do que o outro, já que os dois são adequados ao meio em que se utilizam. A linguagem das classes desfavorecidas é diferente, e não deficitária, em relação à linguagem padrão, usada pelas classes dominantes.

6 Concepções de Linguagem: Implicações no Ensino de Língua (In: Geraldi. O texto na sala de aula. 1984) Sobre o ensino de Português na escola (Sírio Posenti, 1984, p. 30): “As variações linguísticas: Todas as línguas variam, isto é, não existe nenhuma sociedade ou comunidade na qual todos falem da mesma forma. A variedade linguística é o reflexo da variedade social e, como em todas as sociedades existe alguma diferença de status ou de papel, essas diferenças se refletem na linguagem. Por isso, muitas vezes percebem-se diferenças na fala de pessoas de classe diferente, de idade diferente, de sexo diferente, de etnia diferente, etc”. Fatos linguísticos e fatos sociais (Sírio Posenti, 1984, p. 42): “Eventualmente, uma forma de uma variedade pode ter sido emprestada de outra, como há empréstimos de língua para língua e consequente adaptação. E é preciso dizer, com todas as letras, que todas as variedades são boas e corretas, e que funcionam segundo regras tão rígidas quanto se imagina que são as da “língua clássica dos melhores autores”. “As variedades não são erros, mas diferenças. Não existe erro linguístico. O que há são inadequações de linguagem, que consistem não no uso de uma variedade, em vez de outra, mas no uso de uma variedade em vez de outra numa situação em que as regras sociais não abonam aquela forma de fala”.

7 Ciência da Linguagem Linguística A linguística é uma ciência descritivo-explicativa: Um linguista é uma pessoa que estuda métodos de descrição de línguas e teorias que buscam entender e explicar os fenômenos linguísticos. Ele procura descrever, explicar os fenômenos linguísticos (O que são?; Como são? E por que são?). Trata-se da ciência que estuda os fenômenos relacionados à linguagem verbal humana, buscando entender quais são as características e os princípios que regem as estruturas das línguas do mundo. Aos linguistas cabe estudar e formular explicações acerca das estruturas e dos mecanismos da linguagem em geral. Os linguistas como uma comunidade científica se constitui num trabalho que irá produzir resultados novos e relevantes para o contexto sociocultural e linguístico. Regularidades de toda língua: “Os linguistas têm plena consciência da importância da norma-padrão para o ensino do português e reconhecem que o aprendizado ou não desse padrão tem implicações importantes no desenvolvimento sociocultural dos indivíduos” (Mário MARTELOTTA, 2011, p. 26).

8 Linguística como estudo científico “A Linguística tem por finalidade elucidar o funcionamento da linguagem humana, descrevendo e explicando a estrutura e o uso das diferentes línguas faladas no mundo”. (FIORIN, 2013, p. 37). Linguista “não condena certas maneiras de falar, não as declara inexistentes, não prescreve como se deve falar, mas procura descrever e explicar as construções e as formas linguísticas (p. 42). “A Linguística é uma ciência porque ela, ao contrário da gramática, não se pretende normativa (não tem por finalidade prescrever como se deve dizer), mas se quer descritiva e explicativa (tem por objetivo dizer o que a língua é e por que é assim). Assim como um químico não diz que uma reação é certa ou errada, um biólogo não declara que determinada espécie não deveria existir ou que ela é feia. Assim como um botânico não pode excluir, em suas descrições, por critérios estéticos, uma planta, um linguista não pode recusar um determinado uso”. (p. 56-58). “A linguística considera, pois, que nenhuma língua é intrinsecamente melhor ou pior do que outra, uma vez que todo sistema linguístico é capaz de expressar adequadamente a cultura do povo que a fala. Desse modo, uma língua indígena, por exemplo, não é inferior a línguas de povos considerados "mais desenvolvidos", como o português, o inglês ou o francês” (MARTELOTTA, 2011, p. 19).

9 Campo da Linguística e algumas Escolas Teóricas 1. Estruturalismo: (Ferdinand de Saussure -teoria saussuriana: ‘Curso de Linguística Geral’(1916) Língua é um sistema de signos(forma/estrutura/código): um conjunto de unidades que obedecem a certos princípios de funcionamento, constituindo um todo coerente. 2. Gerativismo: Idealização/Língua (Noam Chomsky: 1965): Falante/ouvinte ideal / comunidade homogênea/ língua é estática/invariável. 3. Sociolinguística: Realização/Língua (William Labov: 1960/1980): Falante/ouvinte com competências diferenciadas (real)/ comunidade heterogênea/ língua é uso/mutável/variável/variação. 3.1 Dimensões da variação na língua: as variações características de variedades linguísticas podem ser detectadas nos seguintes níveis: fonética/fonologia; sintaxe; morfologia; léxico; semântico. -Quem é responsável pela mudança? As pessoas de uma comunidade, no tempo e no espaço físico e social. -Logo: Língua e sociedade estão indissoluvelmente entrelaçados, uma influenciando a outra, uma constituindo a outra.

10  Princípios Gerais da Sociolinguística: 1. Heterogeneidade/Diversidade: A língua é dotada de heterogeneidade sistemática. “Todas as línguas apresentam um dinamismo inerente, o que significa dizer que elas são heterogêneas” (MOLLICA, 2003, p. 9). 2. Variação/Mudança: O sistema linguístico apresenta a existência de variedades, de diferentes possibilidades (duas ou mais formas ao mesmo tempo – variedade padrão e variantes). A sociolinguística parte do princípio de que a variação e a mudança são inerentes às línguas e que, por isso, devem ser levadas em conta na análise linguística (CEZARIO, VOTRE, 2009, p. 141). Os Estudos Sociolinguísticos enfatizam a conciliação das regras com o uso social. “Tarallo afirma que, na maioria das vezes, essas variantes coexistem em um mesmo período e até no mesmo espaço, portanto, o autor defende que a língua falada é caracterizada pela diversidade e pela heterogeneidade. [...] a heterogeneidade não necessariamente exclui a noção de sistema; ao contrário, sistematicidade e heterogeneidade equacionam-se entre si, em um tipo de relação 1 = 1” (TARALO, 1994, p. 81). A língua na perspectiva da Sociolinguística é composta por regularidades (estrutura/sistema) e por elementos que variam.

11 Tratamento dado à Variação Linguística (Abdelhak RAZKY; Marilucia Barros de OLIVEIRA, 2014). A variação linguística não é um fenômeno recente nas línguas. Antes mesmo de se propor o estudo sistemático da variação, ela acontecia abundantemente em vários momentos da história, em diferentes línguas. 1. Método Histórico-Comparativo: Os primeiros investimentos nesse estudo tinham como objetivo saber como uma dada língua se desdobrava em outras línguas, os fenômenos comuns às línguas no sentido de se conhecer os motivos que faziam com que as línguas variassem. Essa abordagem priorizou-se o estudo diacrônico – ou a descrição de uma língua ao longo de sua história. 2. A abordagem Estruturalista: Na perspectiva dos estruturalistas a mudança é necessária. Concepção da objeto de estudo como uma estrutura abstrata. Para os estruturalistas, a interpretação linguística tinha de se pautar sobre relações internas, fatores estruturais internos. Isso exclui o estudo do comportamento social, em outras palavras, o estudo da fala. O termo Sociolinguística surgiu em meados dos anos de 1960, em um congresso promovido na Universidade da Califórnia (Los Angeles): relação entre linguagem e sociedade, como: John Gumperz, Dell Hymes, John Fisher e William Labov.

12 Tratamento dado à Variação Linguística Os valores, assim como as diferenças que existem numa língua, não levam em consideração exatamente fatores linguísticos, mas sociais. É por isso que a língua ou variedade linguística de uma classe econômica favorecida na sociedade é considerada “boa” ou “correta”. Não é difícil entender como essa “valoração” se dá. Basta que observemos outros fenômenos como os relativos à moda, por exemplo. Em termos gerais, o “valor” atribuído à roupa, ao acessório, ao tipo de cabelo, ao feitio do calçado etc. – como “elegantes”, “atuais”, “bonitos” – também provêm de um grupo privilegiado economicamente. A língua é, como os demais fenômenos sociais, impregnada de “valor social”, fruto de “jogos de poder”. (Abdelhak RAZKY; Marilucia Barros de OLIVEIRA, 2014).

13 Como verificar a diversidade linguística e a variação/mudança linguística no campo da linguagem? Em quais contextos de usos reais/autênticos da língua? Será viável e produtivo tematizar isso no ensino de línguas? Se sim, como proceder na prática pedagógica? Quais encaminhamentos metodológicos são ou se revelam mais eficazes?

14 Línguas românicasLínguas românicas (Estudos Linguísticos –Método Histórico-Compativo,1878) Latim Pater noster, qui es in cælis: sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum quotidianum da nobis hodie, et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo. Amen. Português Pai Nosso, que estais nos Céus, Santificado seja o Vosso nome. Venha a nós o Vosso reino, Seja feita a Vossa vontade Assim na Terra como no Céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje. Perdoai-nos as nossas ofensas Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, E não nos deixeis cair em tentação Mas livrai-nos do mal. Amén. Espanhol Padre nuestro, que estás en el cielo / Santificado sea Tu nombre; Venga a nosotros Tu reino. Hágase Tu voluntad / En la tierra como en el cielo. Danos hoy nuestro pan de cada día. Perdona nuestras ofensas, Como también nosotros perdonamos a los que nos ofenden. Y no nos dejes caer en la tentación; líbranos de todo mal. [Porque Tuyo es el Reino, el Poder y la Gloria por siempre, Señor. Amén. Italiano Padre Nostro, che sei nei cieli, Sia santificato il tuo nome. Venga il tuo regno,Sia fatta la tua volontà,Come in cielo, così in terra. Dacci oggi il nostro pane quotidiano,E rimetti a noi i nostri debiti, Come noi li rimettiamo ai nostri debitori. E non ci indurre in tentazione,Ma liberaci dal male.Amen.

15 Línguas germânicas InglêsInglês Século XX Father, One in heaven,Your name is sacred.Your kingdom appear!Your purpose continue!About the Earth as it doesAbout heaven.Bring to us our daily bread,Send away our faults,As we send away our debtors.Bring us not to testing,But send evil out from us.[Amen] Alemão Vater unser im Himmel,geheiligt werde dein Name.Dein Reich komme.Dein Wille geschehe,wie im Himmel so auf Erden.Unser tägliches Brot gib uns heute.Und vergib uns unsere Schuld,wie auch wir vergeben unsern Schuldigern.Und führe uns nicht in Versuchung,sondern erlöse uns von dem Bösen. [Denn dein ist das Reich und die Kraft und die Herrlichkeit in Ewigkeit.Amen.] Luxemburguês Eise Papp am Himmel,däin Numm sief gehellégt.Däi Räich soll kommen,däi Wëll soll geschéienwéi am Himmel sou op der Äerd.Gëf äis haut eist deeglecht Brout,verzei äis eis Schold,wéi mir och dene verzeien,déi an eiser Schold sin.Féier äis nët an d'Versuchung,mä maach äis fräi vum Béisen.Amen. Fonte: http://dicionario.sensagent.com/Pai-nosso%20em%20v%C3%A1rias%20l%C3%ADnguas/pt-pt/http://dicionario.sensagent.com/Pai-nosso%20em%20v%C3%A1rias%20l%C3%ADnguas/pt-pt/

16 Diversidade linguística em textos literários – Oswald de Andrade (Modernismo brasileiro 1925) Pronominais Dê-me um cigarro Diz a gramática Do professor e do aluno E do mulato sabido Mas o bom negro e o bom branco Da Nação Brasileira Dizem todos os dias Deixa disso camarada Me dá um cigarro. Erro de Português Quando o português chegou Vestiu o índio Que pena! Fosse uma manhã de sol O índio teria despido O português O Gramático Os negros discutiam Que o cavalo sipantou Mas o que mais sabia Disse que era Sipantarrou.

17 Diversidade linguística em contextos de pesquisas- variação lexical Questionário Semântico-lexical (Projeto ALiB - Atlas Linguístico do Brasil: 25 capitais da rede de pontos do Projeto. https://alib.ufba.br) Questão 177 - Como se chama a pasta feita de frutas para passar no pão, biscoito? Geleia / chimia/michia/ Schmier/ Doce / Doce de abóbora (fruta) / musse /creme / (formas linguísticas = variantes lexicais ). A palavra chimia é ainda usada na linguagem do dia a dia dessas áreas de colonização alemã no em partes da Região Sul do Brasil como sinônimo de ‘mistura’; é um aportuguesamento de Schmier, conjugação do verbo alemão schmieren, que significa ‘passar [algo] [em outra coisa]’ (por exemplo, passar manteiga ou geleia em uma fatia de pão).Também é por vezes referida como schmia, chmia, chmier, ximíer, chimíer. Site: https://baggiosupermercado.co m.br/produtos/ https://baggiosupermercado.co m.br/produtos/ chimia-de-goiaba-bom- principio-400g/

18 Diversidade linguística em contextos sociais - variação lexical

19 Artigo que versa sobre a ideia da identificação da língua-mãe Revista Superinteressante (2017): A busca pela mãe de todas as línguas

20 Diversidade linguística em contexto de ensino.... para início de conversa! - Quais elementos (linguísticos, sociais, culturais, históricos, ideológicos...) podemos identificar nesses fragmentos textuais: poemas; oração do Pai Nosso em várias línguas; reportagem da Revista Veja; banner em espaço público paraense e na pesquisa do Atlas Linguístico do Brasil? - Esses textos podem (ou não) ser objeto de investigação da Sociolinguística no contexto de ensino? Como os professores de línguas percebem isso? Como essa diversidade linguística é tratada em ambientes de ensino/aprendizagem? = Esta perspectiva de entendimento/concepção da diversidade linguística/cultural coloca a escola como um local privilegiado de encontro com o outro, linguística e culturalmente diferente. Trata-se de uma educação para a diversidade linguística não só com o objetivo de incluir minorias, nem de um ensino isolado de línguas, mas de promoção dessa diversidade, por meio de abordagens de conscientização linguística e cultural. “[...] importa fazer dele também um lugar de promoção de atitudes positivas em relação à alteridade, isto é, a outras línguas e culturas” (MARTINS; ANDRADE; BARTOLOMEU, 2002, p. 107).

21 A diversidade de línguas na sociedade está intimamente ligada à diversidade cultural. O termo diversidade cultural tem recebido destaque nos últimos anos sendo também utilizado nos PCNS, na LDB, livros didáticos, diversos componentes curriculares e setores da sociedade no geral. Primeiramente o professor precisa refletir sobre a sua própria identidade (identidade de um indivíduo plurilíngue), caso contrário, a diversidade poderá ser concebida (e consequentemente tratada) de forma negativa, apenas como um problema, um desafio, causado pelos vários contextos culturais dos alunos, ao invés de fatores enriquecedores no ensino e aprendizagem tanto para alunos como professores. Esse entendimento/postura deve ser considerado na formação do professor de línguas não apenas como um desafio mas principalmente como uma parte enriquecedora do ensino e aprendizagem. Estratégias para reconhecimento/valorização da diversidade linguística no ensino: diagnóstico/mapeamento da diversidade linguística no contexto educacional ; flexibilização na gestão do currículo, etc. Diversidade linguística nas escolas: problema, desafio e/ou benefício? (BROCH, 2014)

22 Sugestão de leitura: Marcos Bagno: “Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística (2007, 238p. Estrutura - divisão em partes: 1ª parte: Variação, mudança e ensino -Por que tratar da variação linguística; -Mas o que é mesmo variação linguísitca?; -Por uma reeducação linguística; -A construção histórica de um abismo; -A variação linguísitca nos livros didáticos; -Certo ou errado? Tanto faz!; -Como uma onda. Marcos Bagno é professor do departamento de línguas estrangeiras da UNB; foco das pesquisas: campo da educação linguística; impacto da sociolinguística sobre o ensino. 2ª parte: Com a mão na massa: -Onde está o dito cujo?; -Camões falava “ingrês”!; - Para ler e refletir.

23 Ideias centrais/gerais do livro: - discute os principais conceitos da Sociolinguística: - variação e mudança linguística, variedade dialetais e suas implicações sociais, culturais, políticas e pedagógicas; - aborda o conceito de Sociolinguística(1960), quando decidiu-se que “não era possível estudar a língua sem levar em conta também a sociedade em que ela é falada”; - apresenta as diversas mudanças da educação brasileira e suas consequências em relação a variedade linguística; - apresenta os PCN’s, e explica a diferença que este documento fez na educação brasileira; - destaca os desafios da nova concepção de ensino; - reitera a heterogeneidade da língua e critica a chamada “democratização” do ensino brasileiro.

24 Por que tratar da variação linguística? (Cap.1) Mudança na concepção de ensino de língua - Os documentos educacionais oficiais reforçaram a necessidade de um ensino voltado para a tendência centrada na língua como interação social: os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) e a Base Nacional Comum Curricular (2017). - PCNs: impacto na política educacional, por uma ampla discussão da sociedade; inclusão das variedades linguísticas. “A Língua Portuguesa, no Brasil, possui muitas variedades dialetais. Identificam-se geográfica e socialmente as pessoas pela forma como falam. Mas há muitos preconceitos decorrentes do valor social relativo que é atribuído aos diferentes modos de falar: é muito comum considerar as variedades linguísticas de menor prestígio como inferiores ou erradas. O problema do preconceito linguístico disseminado na sociedade em relação às falas dialetais deve ser enfrentado, na escola, como parte do objetivo educacional mais amplo de educação para o respeito à diferença. A escola precisa livrar-se de alguns mitos: o de que existe um única forma de ‘certa’ de falar- a que se parece com a escrita” (BRASIL, 1998, p. 26).

25 Novos estudos da linguagem – pressupostos da Sociolinguística (anos 60): estudo da relação da língua com a sociedade na qual ela é falada; inclusão da temática da variação linguística. Transformação do perfil sociolinguístico e cultural: alunado falante difere das variedades urbanas usadas pelas camadas sociais prestigiadas; difere da norma-padrão/modelo de língua ‘correta’. ‘Democratização’ do ensino (anos 60): aumento quantitativo do n° de escolas X decréscimo qualitativo da educação; mudança do perfil dos professores (outros estratos sociais). Isso é um problema? Não, mas o problema é não saber lidar adequadamente com essas questões na prática pedagógica; lacunas na formação docente.

26 Mas o que é mesmo variação linguística? (Cap.2) - Língua (cf. as sociedades letradas) é um produto social, artificial, que não corresponde àquilo que a língua realmente é. = produto homogêneo/estável. - Língua (cf. sociolinguístas) é variável, múltipla e está em constante mutação como seu estado natural; atividade social/coletiva = heterogeneidade da língua. - Heterogeneidade Heterogeneidade linguística social - Língua e sociedade estão indissoluvelmente entrelaçados, uma influenciando a outra, uma constituindo a outra (objetivo central da Sociolinguística).

27 - Por uma reeducação sociolinguística? (Cap.3) -Dois pontos de vista: 1. discurso científico (noções de variação e mudança- teorias da Linguística moderna) 2. discurso do senso comum (noção de ERRO). -Noção de ‘erro’ nasceu no mundo ocidental, com as primeiras descrições sistemáticas da língua grega. - Normatizar significa criar um padrão uniforme e homogêneo, acima das diferenças regionais/sociais. -Gramática tradicional (III a.C....)- limita-se ao estudo da frase soltas e isoladas e na modalidade escrita literária; sendo que “O texto é que tem que ser o ponto de partida para qualquer estudo da linguagem humana em ação, em interação (p. 66). Formuladores da Gramática Tradicional perceberam a variação (no espaço) e a mudança (no tempo), porém de forma negativa = preconceito e exclusão social, visão pessimista da mudança (degeneração da língua). -Estigma/prestígio: toda grade de avaliação social não tem a ver com o fato linguístico em si, mas com os valores sociais atribuídos a quem fala o quê, onde, quando, como (juízos e valores sociais atribuídos aos falantes).

28 Como tratar o fenômeno da variação/mudança no ensino/aprendizagem de língua materna? Como lidar com isso na prática pedagógica? “Nada na Língua é por Acaso: por uma pedagogia da variação linguística” (BAGNO, 2007) desconsiderar as contribuições da linguística e insistir na noção de ‘erro’, gramática normativa e norma-padrão como única forma ‘certa’ de uso da língua; aceitar as contribuições da linguística e desprezar a noção de ‘erro’, substituindo-a pelos conceitos de variação/mudança; reconhecer que a escola é o lugar de interseção entre o saber erudito-científico e o senso comum, e que isso deve ser empregado em favor do aluno e da formação da cidadania.

29 A terceira opção, no posicionamento de Marcos Bagno, parece ser o tratamento mais sereno, equilibrado do relacionamento ente linguagem/sociedade/ensino. 1.Reeducação Sociolinguística: (proposta de pedagogia da variação linguística) - garantir o acesso dos alunos a outras formas de falar/escrever; aprender variantes linguísticas diferentes; ampliar o repertório comunicativo, usos de acordo com as necessidades de interação. 2.Desafio para a prática pedagógica: reconhecer a competência linguista dos alunos e ampliar essa competência – tarefa delicada, sofistica; exige mais do que a prática tradicional de reprimir os ‘erros’, de ‘zombar dos sotaques’ e de impor a norma-padrão. -Se a Sociolinguística tem um papel a desempenhar na educação linguística dos cidadãos brasileiros, esse papel é de reconhecimento da heterogeneidade intrínseca da sociedade brasileira e, portanto, da inescapável heterogeneidade da nossa realidade linguística. Falar de ‘erro’ na língua, no contexto pedagógico, é negar o valor das teorias científicas e da busca de explicações racionais para os fenômenos que nos cercam.

30 Referências BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso – Por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo: Parábola, 2007. 240p. BROCH, Ingrid Kuchenbecker. Ações de promoção da pluralidade linguística em contextos escolares. Porto Alegre, 2014, 265f. Tese (Doutorado em Estudos Linguagem) - Programa de Pós-Graduação em Letras, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre – RS, 2014. CEZARIO, Maria M; VOTRE, Sebastião. Sociolinguística. In: MARTELOTTA, Mário Eduardo. Manual da linguística. São Paulo: contexto, 2009. FIORIN, José Luiz (Org.). Linguística? O que é isso? São Paulo: Contexto, 2013. GERALDI, João Wanderley (Org.). O texto na sala de aula. Leitura e Produção. Cascavel: Assoeste, [1984]2005. LEROY, Maurice. As grandes correntes da linguística moderna. Trad. Izidoro Blikstein.5ª Ed. São Paulo: cultrix, 1971. MARTELOTTA, Mário Eduardo (org.). Manual de linguística. 2. ed. - São Paulo : Contexto, 2011. MOLLICA, Maria Cecilia. Introdução à Sociolinguística: o tratamento da variação. São Paulo: Contexto, 2003. POSSENTI, Sírio. Sobre o ensino de português na escola. In: GERALDI, W. O Texto na sala de aula. 1º ed. São Paulo: Ática, 2011. RAZKY, Abdelhak; OLIVEIRA, Marilucia Barros de. Disciplina Sociolinguística. Ediaedi, Belém-PA, 2014. SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica. 1998. TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolinguística. São Paulo, Ática, 1985.


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