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LIBERTOU-SE O MENINO
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Livre. Finalmente o pequeno menino negro aprisionado no corpo do astro pop deformado e ensandecido pode voar para a sua Neverlândia imaginária, agora real.
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O pequeno prodígio havia sido aprisionado naquele corpo por causa do seu talento. Meio século de insuportável prisão.
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O ícone da pós-modernidade, rei do pop, o insuperável, inimitável e inatingível astro sufocou na angústia do seu pequeno ser, ainda tão inocente, tão bonito, tão angelical quanto antes.
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O ícone da pós-modernidade, rei do pop, o insuperável, inimitável e inatingível astro, sufocou na angústia do seu pequeno ser, ainda tão inocente, tão bonito, tão angelical quanto antes.
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Michael foi vitimado pela sua própria perfeição e morreu de fadiga, na insana tentativa de superar o insuperável, ou seja: ele mesmo. O pequeno príncipe havia sido engolido pelo próprio astro em que vivia.
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Agora, está finalmente livre o menino.
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O que o mundo vela em Los Angeles é a fétida carcaça zumbi do rei do pop; do ídolo amalgamado pelas deformidades insanas da humanidade consumista.
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O menino não está mais lá.
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Jaz um corpo disforme, alvejado e plastificado pelo insaciável monstro capitalista, ele mesmo um zumbi que se nega a morrer.
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O que enterramos não tem mais uma única gota de sangue, de vida, de dignidade. Tudo, absolutamente tudo, foi avidamente sugado do seu interior.
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O menino Michael se foi, para fazer a alegria dos celestes corais de anjos infantes.
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Agora, além de cantar glória a Deus, eles dançam sobre as nuvens nos passos do moonwalker.
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E se riem da tragédia que foi este meio século daquele menino negro, agora entre eles. Riem-se também dos milhões que continuam brincando com o zumbi morto e dele ainda irão recolher incontáveis sacolas dos dólares que continuarão jorrando como rios do seu interior.
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Elvis não morreu. Michael também não morrerá
Elvis não morreu. Michael também não morrerá. O astro-monstro sabe disso.
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O que se foi é o menino. Livre!
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Liberto para viver num lugar digno na memória de gerações.
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Como no “Retrato de Dorian Gray”, ao lado do quadro de um lindo menino negro de cabelo Black-power jaz agora o decrépito corpo de um astro pop, deformado e envelhecido. Podem colocá-lo no formol, porque o menino não está mais nele.
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Vai em paz, Michael!
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Finalmente estás Livre!
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Texto: Clóvis H. Lindner
Formatação: Nair Adelaide Bunn Thives
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