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História completa e fechada como um ovo.

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Apresentação em tema: "História completa e fechada como um ovo."— Transcrição da apresentação:

1 História completa e fechada como um ovo.
Conto História completa e fechada como um ovo.

2 Conto Uma célula dramática, um só conflito, uma só ação.
Poucas e estáticas são as personagens em decorrência das unidades de ação, tempo e lugar. O conto se semelha a uma tela em que se fixasse o ápice de uma situação humana. Por outro lado, o conto é um gênero literário que apresenta uma grande flexibilidade, podendo se aproximar da poesia e da crônica.

3 Características É essencialmente objetivo.
Foge do introspectivismo para a realidade viva, presente, concreta. Divagações são escusadas. Todas as palavras hão de ser suficientes e necessárias e devem convergir para o mesmo alvo. A imaginação, necessariamente presente, é que vai conferir à obra o caráter estético. Prende–se à realidade concreta. Daí nasce o realismo, a semelhança com a vida.

4 Linguagem objetiva. Dentre os componentes da linguagem do conto, o diálogo é o mais importante de todos. O diálogo é a base expressiva do conto: diálogo direto, indireto e interior. A trama é linear, objetiva. A cronologia do conto é a relógio, de modo que o leitor vê os fatos se sucederem numa continuidade semelhante à vida real. O conto, ao começar, já está próximo do epílogo. A precipitação domina o conto desde a primeira linha.

5 Enredo O enredo do conto deve apresentar em linhas gerais, as seguintes fases: Apresentação; Complicação ou evolução; Clímax; Solução ou desfecho.

6 Dicas para escrever um bom conto
Prender o interesse do leitor; evitar ser chato. Usar, se possível, frases curtas. Capítulos e parágrafos curtos, para o leitor poder respirar. Trama/enredo/tema ou estilo original. Se possível usar ironia, humor, graça e ser verossímil. Ler, de preferência, os clássicos.

7 Gênero híbrido que oscila entre a literatura e o jornalismo.
Crônica Gênero híbrido que oscila entre a literatura e o jornalismo.

8 Crônica É, em geral, curto;
Trata de problemas do cotidiano; assuntos comuns, do dia a dia; Traz as pessoas comuns como personagens, sem nome ou com nomes genéricos. As personagens não têm aprofundamento psicológico; são apresentadas em traços rápidos; É organizado em torno de um único núcleo, um único problema; Tem como objetivo envolver, emocionar o leitor.

9 Dicas para escrever uma boa crônica
Inicie o texto com uma frase curta e objetiva, deixando claro ao leitor sobre o que você pretende escrever. Texto, seja qual for, deve ter começo, meio e fim. O tamanho da crônica depende do espaço que o autor dispõe para escrevê-la. Mas, de modo geral, em quatro ou cinco breves parágrafos, você consegue escrever uma boa crônica sem provocar a paciência do leitor. Ao fazer citações, referente a nomes ou acontecimentos, investigue as fontes e confirme os dados. Não existe meia informação. Na dúvida, evite. Há sempre um outro modo de se dizer ou se referir à mesma coisa. Ao terminar de escrever o texto, leia-o e releia-o. E corrija-o se necessário. E se necessário ainda, despreze-o e faça outro.

10 Conto X Crônica

11 Conto X Crônica Conto Crônica
Narração falada ou escrita. 2. História ou historieta imaginadas. 3. Fábula. 4. Mentira inventada para iludir indivíduos rústicos; engodo, embuste. Conto é a forma narrativa, em prosa, de menor extensão (no sentido estrito de tamanho), ainda que contenha os mesmos componentes do romance. Narração histórica, por ordem cronológica. 2. Seção ou coluna, de jornal ou revista, consagradas a assuntos especiais. Crônica é o único gênero literário produzido para ser veiculado na imprensa, seja nas páginas de uma revista, seja nas páginas de um jornal.

12 Conto Crônica Entre suas principais características, estão a concisão, a precisão, a densidade, a unidade de efeito ou impressão total: o conto precisa causar um efeito singular no leitor; muita excitação e emotividade. A crônica é o relato de um flash, de um breve momento do cotidiano de uma ou mais personagens. Na crônica, geralmente não há desfecho, esse fica para o leitor imaginar e, depois, tirar suas conclusões. Ela é feita com uma finalidade utilitária e pré-determinada: agradar aos leitores dentro de um espaço sempre igual e com a mesma localização. No conto, as ações transcorrem num tempo maior: dias, meses, até anos. No conto, a personagem é analisada e/ou caracterizada, há maior densidade dramática e freqüentemente um conflito, resolvido em desfecho.

13 Exemplos de crônicas

14 Recado ao Senhor 903 “Vizinho,
Quem fala aqui é o homem do Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal – devia ser meia-noite – e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito a repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no Ou melhor; é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito a Leste pelo 1005, a Oeste pelo 1001, ao Sul pelo Oceano Atlântico, ao Norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 – que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos: apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul.

15 (Rubem Braga. "Para gostar de ler". São Paulo: Ática, 1991)
Prometo. Quem vier à minha casa (perdão: ao meu número) será convidado a se retirar às 21h45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois as 8h15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará ate o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada: e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas – e prometo silêncio. [...] Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: ‘Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou’. E o outro respondesse: ‘Entra vizinho e come do meu pão e bebe do meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e a cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela’. E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.” (Rubem Braga. "Para gostar de ler". São Paulo: Ática, 1991)

16 Dois amigos e um chato Os dois estavam tomando um cafezinho no boteco da esquina, antes de partirem para as suas respectivas repartições. Um tinha um nome fácil: era o Zé. O outro tinha um nome desses de dar cãibra em língua de crioulo: era o Flaudemíglio. Acabado o café o Zé perguntou: — Vais pra cidade? — Vou — respondeu Flaudemíglio, acrescentando: — Mas vou pegar o 434, que vai pela Lapa. Eu tenho que entregar uma urinazinha de minha mulher no laboratório da Associação, que é ali na Mem de Sá. Zé acendeu um cigarro e olhou para a fila do 474, que ia direto pro centro e, por isso, era a fila mais piruada. Tinha gente às pampas. — Vens comigo? — quis saber Flaudemíglio. — Não — disse o Zé: — Eu estou atrasado e vou pegar um direto ao centro. — Então tá — concordou Flaudemíglio, olhando para a outra esquina e, vendo que já vinha o que passava pela Lapa: —Chi! Lá vem o meu... — e correu para o ponto de parada, fazendo sinal para o ônibus parar. Foi aí que, segurando o guarda-chuva, um embrulho e mais o vidrinho da urinazinha (como ele carinhosamente chamava o material recolhido pela mulher na véspera para o exame de laboratório...), foi aí que o Flaudemíglio se atrapalhou e deixou cair algo no chão.

17 O motorista, com aquela delicadeza peculiar à classe, já ia botando o carro em movimento, não dando tempo ao passageiro para apanhar o que caíra. Flaudemíglio só teve tempo de berrar para o amigo: — Zé, caiu minha carteira de identidade. Apanha e me entrega logo mais.  O 434 seguiu e Zé atravessou a rua, para apanhar a carteira do outro. Já estava chegando perto quando um cidadão magrela e antipático e, ainda por cima, com sorriso de Juraci Magalhães, apanhou a carteira de Flaudemíglio.  — Por favor, cavalheiro, esta carteira é de um amigo meu —disse o Zé estendendo a mão.  Mas o que tinha sorriso de Juraci não entregou. Examinou a carteira e depois perguntou: — Como é o nome do seu amigo?  — Flaudemíglio — respondeu o Zé.  — Flaudemíglio de quê? — insistiu o chato.  Mas o Zé deu-lhe um safanão e tomou-lhe a carteira, dizendo: — Ora, seu cretino, quem acerta Flaudemíglio não precisa acertar mais nada! Stanislaw Ponte Preta

18 Exemplos de contos

19 Um Apólogo Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha: — Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo? — Deixe-me, senhora. — Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça. — Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros. — Mas você é orgulhosa. — Decerto que sou. — Mas por quê? — É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu? — Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu, e muito eu? — Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados... — Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e mando...

20 — Também os batedores vão adiante do imperador. — Você imperador
— Também os batedores vão adiante do imperador. — Você imperador? — Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto... Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha: — Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima... Machado de Assis

21 A carteira …DE REPENTE, Honório olhou para o chão e viu uma carteira
A carteira …DE REPENTE, Honório olhou para o chão e viu uma carteira. Abaixar‑se, apanhá‑la e guardá‑la foi obra de alguns instantes. Ninguém o viu, salvo um homem que estava à porta de uma loja, e que, sem o conhecer, lhe disse rindo: — Olhe, se não dá por ela; perdia‑a de uma vez. — É verdade, concordou Honório envergonhado. Para avaliar a oportunidade desta carteira, é preciso saber que Honório tem de pagar amanhã uma dívida, quatrocentos e tantos mil‑réis, e a carteira trazia o bojo recheado. A dívida não parece grande para um homem da posição de Honório, que advoga; mas todas as quantias são grandes ou pequenas, segundo as circunstâncias, e as dele não podiam ser piores. Gastos de família excessivos, a princípio por servir a parentes, e depois por agradar à mulher, que vivia aborrecida da solidão; baile daqui, jantar dali, chapéus, leques, tanta cousa mais, que não havia remédio senão ir descontando o futuro. Endividou‑se. Começou pelas contas de lojas e armazéns; passou aos empréstimos, duzentos a um, trezentos a outro, quinhentos a outro, e tudo a crescer, e os bailes a darem‑se, e os jantares a comerem‑se, um turbilhão perpétuo, uma voragem. — Tu agora vais bem, não? dizia‑lhe ultimamente o Gustavo C…, advogado e familiar da casa. — Agora vou, mentiu o Honório.

22 A verdade é que ia mal. Poucas causas, de pequena monta, e constituintes remissos; por desgraça perdera ultimamente um processo, cm que fundara grandes esperanças. Não só recebeu pouco, mas até parece que ele lhe tirou alguma cousa à reputação jurídica; em todo caso, andavam mofinas nos jornais. D. Amélia não sabia nada; ele não contava nada à mulher, bons ou maus negócios. Não contava nada a ninguém. Fingia‑se tão alegre como se nadasse em um mar de prosperidades. Quando o Gustavo, que ia todas as noites à casa dele, dizia uma ou duas pilhérias, ele respondia com três e quatro; e depois ia ouvir os trechos de música alemã, que D. Amélia tocava muito bem ao piano, e que o Gustavo escutava com indizível prazer, ou jogavam cartas, ou simplesmente falavam de política. Um dia, a mulher foi achá‑lo dando muitos beijos à filha, criança de quatro anos, e viu‑lhe os olhos molhados; ficou espantada, e perguntou‑lhe o que era. — Nada, nada. Compreende‑se que era o medo do futuro e o horror da miséria. Mas as esperanças voltavam com facilidade. A idéia de que os dias melhores tinham de vir dava‑lhe conforto para a luta. Estava com, trinta e quatro anos; era o princípio da carreira: todos os princípios são difíceis. E toca a trabalhar, a esperar, a gastar, pedir fiado ou emprestado, para pagar mal, e a más horas. A dívida urgente de hoje são uns malditos quatrocentos e tantos mil‑réis de carros. Nunca demorou tanto a conta, nem ela cresceu tanto, como agora; e, a rigor, o credor não lhe punha a faca aos peitos; mas disse‑lhe hoje uma palavra azeda, com um gesto mau, e Honório quer pagar‑lhe hoje mesmo. Eram cinco horas da tarde. Tinha‑se lembrado de ir a um agiota, mas voltou sem ousar pedir nada. Ao enfiar pela Rua. da Assembléia é que viu a carteira no chão, apanhou‑a, meteu no bolso, e foi andando.

23 Durante os primeiros minutos, Honório não pensou nada; foi andando, andando, andando, até o Largo da Carioca. No Largo parou alguns instantes, — enfiou depois pela Rua da Carioca, mas voltou logo, e entrou na Rua Uruguaiana. Sem saber como, achou‑se daí a pouco no Largo de S. Francisco de Paula; e ainda, sem saber como, entrou em um Café. Pediu alguma cousa e encostou‑se à parede, olhando para fora. Tinha medo de abrir a carteira; podia não achar nada, apenas papéis e sem valor para ele. Ao mesmo tempo, e esta era a causa principal das reflexões, a consciência perguntava‑lhe se podia utilizar‑se do dinheiro que achasse. Não lhe perguntava com o ar de quem não sabe, mas antes com uma expressão irônica e de censura. Podia lançar mão do dinheiro, e ir pagar com ele a dívida? Eis o ponto. A consciência acabou por lhe dizer que não podia, que devia levar a carteira à polícia, ou anunciá‑la; mas tão depressa acabava de lhe dizer isto, vinham os apuros da ocasião, e puxavam por ele, e convidavam‑no a ir pagar a cocheira. Chegavam mesmo a dizer‑lhe que, se fosse ele que a tivesse perdido, ninguém iria entregar‑lha; insinuação que lhe deu ânimo. Tudo isso antes de abrir a carteira. Tirou‑a do bolso, finalmente, mas com medo, quase às escondidas; abriu‑a, e ficou trêmulo. Tinha dinheiro, muito dinheiro; não contou, mas viu duas notas de duzentos mil‑réis, algumas de cinqüenta e vinte; calculou uns setecentos mil réis ou mais; quando menos, seiscentos. Era a dívida paga; eram menos algumas despesas urgentes. Honório teve tentações de fechar os olhos, correr à cocheira, pagar, e, depois de paga a dívida, adeus; reconciliar‑se‑ia consigo. Fechou a carteira, e com medo de a perder, tornou a guardá‑la. Mas daí a pouco tirou‑a outra vez, e abriu‑a, com vontade de ontar o dinheiro. Contar para quê? era dele? Afinal venceu‑se e contou: eram setecentos e trinta mil‑réis. Honório teve um calafrio. Ninguém viu, ninguém soube; podia ser um lance da fortuna, a sua boa sorte, um anjo… Honório teve pena de não crer nos anjos…

24 Mas por que não havia de crer neles
Mas por que não havia de crer neles? E voltava ao dinheiro, olhava, passava‑o pelas mãos; depois, resolvia o contrário, não usar do achado, restituí‑lo. Restituí‑lo a quem? Tratou de ver se havia na carteira algum sinal. “Se houver um nome, uma indicação qualquer, não posso utilizar‑me do dinheiro,” pensou ele. Esquadrinhou os bolsos da carteira. Achou cartas, que não abriu, bilhetinhos dobrados, que não leu, e por fim um cartão de visita; leu o nome; era do Gustavo. Mas então, a carteira?… Examinou‑a por fora, e pareceu‑lhe efetivamente do amigo. Voltou ao interior; achou mais dous cartões, mais três, mais cinco. Não havia duvidar; era dele. A descoberta entristeceu‑o. Não podia ficar com o dinheiro, sem praticar um ato ilícito, e, naquele caso, doloroso ao seu coração porque era em dano de um amigo. Todo o castelo levantado esboroou‑se como se fosse de cartas. Bebeu a última gota de café, sem reparar que estava frio. Saiu, e só então reparou que era quase noite. Caminhou para casa. Parece que a necessidade ainda lhe deu uns dous empurrões, mas ele resistiu. “Paciência, disse ele consigo; verei amanhã o que posso fazer.” Chegando a casa, já ali achou o Gustavo, um pouco preocupado. E a própria D. Amélia o parecia também. Entrou rindo, e perguntou ao amigo se lhe faltava alguma cousa. — Nada. — Nada? — Por quê? — Mete a mão no bolso; não te falta nada? — Falta‑me a carteira, disse o Gustavo sem meter a mão no bolso.

25 Sabes se alguém a achou. — Achei‑a eu, disse Honório entregando‑lha
Sabes se alguém a achou? — Achei‑a eu, disse Honório entregando‑lha. Gustavo pegou dela precipitadamente, e olhou desconfiado para o amigo. Esse olhar foi para Honório como um golpe de estilete; depois de tanta luta com a necessidade, era um triste prêmio. Sorriu amargamente; e, como o outro lhe perguntasse onde a achara, deu‑lhe as explicações precisas. — Mas conheceste‑a? — Não; achei os teus bilhetes de visita. Honório deu duas voltas, e foi mudar de toilette para o jantar. Então Gustavo sacou novamente a carteira, abriu‑a, foi a um dos bolsos, tirou um dos bilhetinhos, que o outro não quis abrir nem ler, e estendeu‑o a D. Amélia, que, ansiosa e trêmula, rasgou‑o em trinta mil pedaços: era um bilhetinho de amor.


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