Epístola de Felipe, o Apóstolo

Felipe nasceu em Betsaida, na Galiléia, e foi um dos primeiros discípulos de Jesus, tendo sido, anteriormente, discípulo de João, o Batista. O seu nome ocupa sempre o quinto lugar nas listas dos apóstolos e é mencionado mais de uma vez no Evangelho.

Os evangelistas Mateus, Marcos e Lucas dão-nos, de Felipe, somente o nome e o lugar do nascimento, mas João oferece-nos maiores particularidades sobre a sua pessoa. Os poucos comentários nos Evangelhos nos permitem saber que Filipe era homem simples, aberto e sincero, que desfrutou da companhia espontânea com Jesus. Ele era da mesma cidade de Pedro e André, e era também pescador. As Sagradas Escrituras contam que Felipe, após ter sido chamado diretamente por Jesus, ao encontrar Natanael, mais tarde chamado de Bartolomeu, com entusiasmo lhe comunica a notícia: "Achamos aquele de quem Moisés escreveu na lei e que os profetas anunciaram: é Jesus de Nazaré, o Messias". Em outra passagem, João nos conta que foi Felipe quem perguntou a Jesus, no dia do milagre da multiplicação dos pães, como faria para alimentar tanta gente com tão poucos pães. Também, noutra ocasião, quando se aproximaram dos apóstolos, alguns gregos que queriam ver mais de perto Jesus e recorreram diretamente a Felipe. Então, junto com André, transmitiram o pedido a Cristo, que os atendeu com benevolência.

A última intervenção dele aconteceu durante a última ceia. Os apóstolos escutavam, atentos, as palavras de despedida do Mestre quando Filipe lhe pediu um esclarecimento: "Senhor, mostra-nos o Pai e isto nos basta". Jesus respondeu: "Felipe, há tanto tempo que convivo convosco e ainda não me conheceis? Quem me viu, viu o Pai. Não confias que eu estou no Pai e o Pai está em mim?". Segundo a tradição, ele foi enviado para pregar o Evangelho na Ásia Menor, onde vivenciou um fato prodigioso. Felipe teria sido obrigado a reverenciar o deus Marte, acendendo-lhe um incenso. Naquele instante, surgiu de trás do altar pagão uma cobra, que matou o filho do sacerdote-mor e mais dois comandados seus. Mas o apóstolo, com um gesto, os fez ressuscitar e matou a cobra. Esse e outros milagres de Felipe foram responsáveis pela conversão de muitos pagãos ao cristianismo. Felipe foi crucificado em Gerápolis, no tempo do imperador Trajano, aos oitenta e sete anos.

Sendo sábado, subiu Felipe e entrando onde estava o rei lhe disse: «¡Soberano!, reúne a todos os judeus desta cidade, que quero mostrar-te como pleiteio com eles em tua presença». O rei enviou seu exército até reunir a todos os judeus. Felipe pediu licença ao rei para subir ao mimbar e assim o fez. O rei fez entrar a todos os judeus e o apóstolo Felipe se pôs a discutir com eles; suas palavras eram dirigidas a todos os povos da cidade. E Felipe os atacou dizendo: «¿Onde está Ananías que se achava comigo depois de vir de Cesaréia e confiar no Senhor Jesus, o Messias?»; os judeus responderam dizendo-lhe: «¡Nós não somos os guardiães desse teimoso que renegou Moisés e acredita no Messias tergiversador!», e Felipe respondeu: «Em verdade, o profeta Isaías os tem aludido quando diz: "assassinos, filhos de assassinos!", porque quando Caim matou a seu irmão Abel, o Senhor, bendito seja Seu nome, disse: 'Onde está Abel, teu irmão?' Pensava que Deus não lhe havia visto e Caim respondeu a Deus tal como haveis dito: 'não sei onde está meu irmão Abel, sou eu seu guardião?' Então Deus, bendito seja Seu nome, disse: 'porque Eu tenho feito que o sangue de teu irmão clame por toda a Terra, maldita seja a Terra no momento em que abriu sua boca e recebeu o sangue de teu irmão por tua mão».

Felipe acrescentou: «Mostra-me onde está Ananías que eu pedirei a meu Senhor Jesus, o Messias, e Ele perdoará vossos pecados». Os judeus lhe responderam: «Já temos dito uma vez que não sabemos onde está nem o que tem sucedido com esse renegado da Lei». Então, lhe respondeu Felipe: «Fixem-se no que lhes digo e sabeis que não é a mim que mentis, senão ao Espírito Santo que habita em mim», e responderam, dizendo-lhe: «Se o Espírito Santo está em ti, que Te diga onde está, pois nós não sabemos onde se encontra o teimoso Ananías; tu és um mago tergiversador e por isso não sabes nada bom. Tuas palavras nos injuriam». Felipe acrescentou: «¿Se encontro a Ananías entre vós que respondereis?», e contestando-o disseram: «Se encontras Ananías entre nós, que nos dê morte e saberás dele, porém é necessário que sejamos mortos por Deus e por César, o soberano». Então, lhes disse Felipe: «Deus será vosso garantidor se não sabeis onde está Ananías, o que tem confiado no Senhor Jesus, o Messias». Os judeus lhe responderam dizendo: «¡Não, pelo Deus de nossos pais!, Abraão, quem retirou a Moisés, nós não sabemos o que está acontecendo com Ananías nem o que lhe haja passado».

Nisso, Felipe se encheu de forte indignação e movido pelo Espírito Santo disse aos povos que se encontravam presentes: «Aparta-os um pouco e sigam-me para que possais compreender o todo». O touro e a ressurreição de Ananías

Tão logo o apóstolo Felipe se virou, entrou um homem que vinha das aldeias dos arredores levando um touro que estava a ponto de morrer. Como seu dono se empenhava em vendê-lo ao sacrifício, antes que morresse, disse Felipe ao touro: «¡Touro necessitado de conhecimento, em nome de Nosso Senhor Jesus, o Messias, o Deus do universo!, quando receberes forças, vês a sinagoga dos judeus assassinos, vás até lá e clamando digas: "Ananías!, Felipe, o enviado do Messias, te diz: levanta-te e vem para que ponhamos em prova aos judeus que têm causado morte!"». O touro lançou seu dono ao solo e havendo recuperado as forças foi até a sinagoga dos judeus e berrou como um homem: «¡Ananías, Ananías! - três vezes -, Felipe o enviado de Deus, me disse que te diga: vem por em evidência aos que te tem matado». Naquele instante, a Terra se rachou, emergiu o morto, se sentou na sela e arrebatando o touro pela orelha, se pôs em marcha até chegar ao enviado do Messias, enquanto o dono do touro caminhava atrás deles. Quando chegaram ante o chefe, se ajoelharam em sua presença e Felipe disse a Ananías: «¡Irmão e amado meu!, de onde vens, mártir do Messias?». Ananías lhe respondeu dizendo: «Da sinagoga dos judeus assassinos que se acham diante de ti, os quais me deram morte e me enterraram por haver eu confiado em Nosso Senhor Jesus, o Messias».

Quando os judeus viram a Ananías, a confusão e o medo terrífico se apoderaram deles e baixaram a cabeça a terra sem pronunciar uma palavra ao ver ao touro, que também falava como os homens, e ao ver que Ananías, o assassinado, estava com vida. Então, Ananías disse a Felipe: «¡Enviado e discípulo do Messias, julga com direito entre mim e meus assassinos!», e Felipe respondeu: «¡Filhinho meu, amado meu, escuta o que está escrito!: não salves o teu espírito, que Eu te salvarei. E assim mesmo tem dito Nosso Senhor e Nosso Deus pela boca de Salomão: se teu inimigo está faminto, dá-lhe de comer e se está sedento, dá-lhe de beber, pois se faz isso com ele porás brasas de fogo sobre sua cabeça e Deus te recompensará. Também disse a Escritura: se tens um inimigo e tentas desviá-lo do Caminho, o senhor de teus atos se enfurecerá contigo e te consumirá na maldade e na ruína. O Santo Evangelho disse também: se perdoais serás perdoado - e acrescenta -: bem-aventurados os misericordiosos porque eles alcançarão misericórdia. No livro da Sabedoria de Sirá se diz: se perdoas a teu irmão de coração, obterás o mistério cada vez que peças clemência a Deus. Assim mesmo, Nosso Senhor, o Messias tem dito: sede misericordiosos como vosso Pai, que está no céu, é misericordioso. Assim, convém que ouçamos a palavra e a pratiquemos. Nosso Senhor tem dito também a Pedro: perdoa não só até sete vezes, senão até setenta vezes sete».

Então, disse o rei a Felipe: «Agora convém que estes morram, pois temos tido este assassinado entre eles». Felipe interpôs: «O Messias não me enviou para que dê morte aos filhos de Israel, senão que me tem enviado para reviver aos mortos que o demônio tinha desencaminhado para salvá-los da segunda morte». Então, o touro disse a Felipe: «¡discípulo do Messias ao que Deus seu Senhor escolheu, dá-me poder sobre estes judeus, que num só instante acabarei com eles sem espada!», e Felipe disse ao touro: «Não mates, nem dês chifradas, mas sim ficas em paz com teu dono e trabalhes com ele como trabalhavas no início, e Nosso Senhor, o Messias os guardará e os fortalecerá a ti e a teus donos». O touro e seu dono se ajoelharam ante o discípulo do Messias e regressaram à sua aldeia em paz.