Sou Lázara (promessa de uma bisavó) Dulce (igual a avó paterna) Ribeiro(que também poderia ter sido Coutinho ou Rezende, dos meus familiares paternos)

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Transcrição da apresentação:

Sou Lázara (promessa de uma bisavó) Dulce (igual a avó paterna) Ribeiro(que também poderia ter sido Coutinho ou Rezende, dos meus familiares paternos) Papandrea (adquirido com o matrimônio). Sou formada em História e já lecionei por dez anos consecutivos. Atualmente curso Teoria Literária na UFJF. Sou mineira de Pouso Alegre e vivi vários anos no nordeste. Hoje moro em Juiz de Fora e trabalho com vendas na área de alimentos. Tenho a oportunidade de conviver diariamente com a gente simples do meu povo e neles encontro encanto e poesia. Escrevo porque necessito escrever. É minha terapia.

O silêncio de onde vim Vim de um silêncio de bocas verdes recendentes a jasmim. De pastagens de orelhas e ruídos de bois. Vim de um silêncio de manhãs de barrigas abertas, que berravam incendiárias do alto da serra. Um silêncio de terra virgem e de terra-terra, pisada de homens e mulas. De mato assustado e sabiá assanhada nos laranjais. De flor de goiabeira e bicho de goiaba. Um silêncio de mato e de brejo E tardes repletas de pássaros! Vim de um silêncio de vento em pelo e cavalo bravo. De boca riscada e céu arisco. Toda a boiada morava neste silêncio. Um silêncio de vida e de morte. Um silêncio forte de campo e de sertão! Um silêncio de corte afiado de foice [sangue jorrando no pé] E de coice de cavalo na barriga curado à salmora e vinagre. Um silêncio de lagoa e bagre e ferrão de bagre atravessado na sola do pé. Um silêncio de buraco no céu e vara de chacoalhar estrelas só para vê-las azuis, vermelhas e amarelas em ciscos-piscos no olho dos vagalumes. Um silêncio de cantar a vida inteira uma saudade também inteira da serra onde nasci!

Mineira Manhã Das minha mineiras manhãs trago uma reza. Café com queijo. Muitas promessas. E nenhuma pressa. Trago o vento da noite [que amansei no pasto]. Um casto orvalho. E o canto deste galo amanhecido e rouco. Trago um pouco do cheiro de casa varrida a alecrim. O gosto de carne de porco. E o rangido sem fim do carro de boi passeando por mim. Das minhas mineiras manhãs trago caminhos escarpados. Um anjo barroco bem vivo. O tropejar das mulas com seus fardos. Um pouco de ouro antigo. Históricas ruas. E o eco dos sinos a desnudarem montanhas já nuas! Das minhas mineiras manhãs Trago uma braçada de enfeite. Doce-de-leite derretido. Arroz-doce com cravo. Memórias cimentadas no terreiro. Uma boa dose de afago. E meu precavido beijo mineiro

Vestimentas Em minhas roupas, silêncios. Antigos medos Vestimentas Em minhas roupas, silêncios. Antigos medos. Lonjuras que não adentrei! Cheiros guardados na narina do tempo. E guardados onde nem sei! Em minhas roupas a casa amarela à espera dos botões que faltam. O jardim. O portão. Dobradiças. Quartos. Saudades! Em minhas roupas os dedos lisos de minha mãe à cata de linhas e ilusão. Verdades! O passado encardido que não lavei. Uma rosa sem cheiro a escorrer canteiros do que não vivi! Em minhas roupas um espatifado de vento sem rumo. Sem sentido! Grãos de tarde indo cedo. E o medo revisitado tantas vezes por outros medos! Em minhas roupas, as reses e o curral. Cheiros de Minas. E liberdade de Minas! Oficinas de sonhos. Vento. Pastos. Alagados. Várzeas inteiras de solidão!

Inusitado Os bois pastavam a serra com avidez E para minha surpresa ela não lhes era indigesta! A serra cabia todinha no olho e na barriga daqueles bois. Só sobrava a tarde como fresta. Eles comiam a serra e cuspiam pedaços da tarde pelos olhos!

Nas lonjuras, lá onde a infância Cenário antigo Nas lonjuras, lá onde a infância corria pétalas de formiga, em andança, pelos roseirais lá onde a sabiá bulia, folhas secas e jornais! lá, nas lonjuras do nunca mais minha avó cuspia silêncios na boca do fogo e aprisionava arrulhos para o café da manhã estranho arremedo que logo morria no chão encardido da cozinha mesa posta vida arredia! Minha avó era retrato e nem ela sabia!

Travessia Vou. com um pé de cada vez e um calo [de silêncio ] em cada mão. Esvazio-me. Quando for de novo tempo esqueço em outro lugar esta vontade de lírio retratada em solidão! Vou e vou-me a fino, a cansar-me de ir enquanto uma qualquer saudade já se atropela de mim!

Desconexo escrevo verrugas na pele do tempo como quem tatua vento nas dunas escrevo mansamente runas mortas, mesmo que a chuva arruíne as portas que adentro escrevo vida e assopro intentos pelo corpo do céu escrevo lindo escrevo ao léu! não lido, não sei lidar com o infinito O azul frito em mel me desespera! Grito! escrevo nua em pelo para me livrar do aflito desta espera selo condições, nas pedras! corto à foice as celas que habito À janela furo poros no papel do ar envidro-me enlevo-me com o vácuo da vida!

Quase solidão Abocanho o muro, a praça, o sonho Quase solidão Abocanho o muro, a praça, o sonho. Varo a tarde em silêncio e venho sentar-me à varanda do tempo [Ainda do teu lado] Meus olhos pulam de contentamento. Pouco sabem da quietude de hoje! E hoje... Ainda nem tentei um poema [não é o momento!] Só cisquei umas palavras estéreis que não valem o vento, a pena nem o papel. Abocanho o muro, a praça, a cena, o sonho [E o céu do sonho!] Estou a entardecer a palavra para não chorar! Sou quase solidão!

De gostos   Gosto de quem se gosta De quem se enrosca na vida Dos eloquentes! Daqueles que voam rente às estrelas. Que ardem em centenas de chamas em breves segundos. Daqueles que fazem cócegas no fundo do céu com as sobrancelhas do mundo Que lavam os imundos panos da vida no meio das ruas E estendem no varal a nudez de suas almas Daqueles que sabem que descalço não é só sem sapato Que boca não é só beijo E que beijo não é só ato Gosto dos que batem palmas Dos que desejam sem medo. Desejam de fato! Daqueles que sabem que não há mal algum em se lambuzar de ilusões e rasgar os sonhos no asfalto Que se partem em mil pedaços só para se recompor Que trazem os olhos gastos, de amor! Gosto de quem se gosta sem omissões Daqueles que aprendem fácil Daqueles que veem a chuva cair colorida Que sabem banhar em desejos o corpo da vida!

Borboletas brancas Da casa brancura de tigela de leite que o gato Mandruf sorvia no canto da sala a derramar miados longos pelo corredor. Mandruvás escorriam pela parede o langor de suas latências pré-borboletas, para desespero de Maria, que gritava e balouçava as tetas de onde vinha o leite de Mandruf O coqueiro, insensível aos exageros de Maria, lançava larvas e sombras más na brancura do alpendre O avô ria escondido um riso de vento e de gente e seus dentes eram ralos e poucos como o bigode de Mandruf e tão brancos como o leite da teta de Maria. Ria de si mesmo um riso insano onde viviam bichanos e mandruvás. Sonhava que Maria lambia a tigela e o leite derramava lagartas na parede enquanto o gato, tecia das folhas, redes para pousar a teta farta. Da casa, passaram-se os dias de lagarta. Os dentes do avô e os seios de Maria estão enterrados ao pé do coqueiro. Mandruvás escorrem paredes brancas o tempo inteiro pela boca de Mandruf Os dias da casa já voaram nas asas brancas de uma borboleta O gato ainda procura uma tigela-teta para alimentar suas sete-vidas. São lívidas as asas do sonho!

  Atropelei uma galinha Isso mesmo! Vinha distraída, numa estrada vicinal, quando ela voou para debaixo do carro.Acredito que foi suicídio.(se fosse galinha eu também me suicidaria). Só deu para ver um esvoaçar de asas, uma espécie de grito e mais nada. Em instantes tudo que havia sido uma galinha: penas, bico, asas...jazia estraçalhado no asfalto quente.  Fiquei triste de verdade, tivesse eu mais cuidado e a pobre, pobre não: pobrezinha. (Não existe adjetivo mais perfeito para uma galinha, ainda mais para uma galinha morta) teria escapado de morte tão inoportuna.         Mas, o que me espantou mesmo foi a indiferença do galo. Nada contra o galo! Sei tratar-se de um ser belo, imponente, eloquente. Parece até que anda de terno e gravata.Veio ao mundo para ser admirado pela sua postura e cantoria nas madrugadas.         Porém, aquele galo não se mexeu, nem olhou para a cena macabra, continuou tranquilamente, como se nada, mas nada mesmo tivesse acontecido.        As outras galinhas fizeram um certo rebuliço, uma espécie de fuxico entre elas, e ficaram a observar a companheira morta assim  meio que desconcertadas e conformadas ao mesmo tempo.       Entretanto, aquele galo era um galo-robô, programado para não sentir. Disso eu tenho absoluta certeza. Nem um último canto à sua companheira ele ensaiou. Tivesse eu mais ânimo e ele estava enrolado! Juro que preferia tê-lo atropelado.       Acontece que quem se encontrava ali estendida e decomposta era a galinha. Parecia até restos de despacho da noite anterior.  Eis uma angustiante função da galinha: Servir de oferenda  para a macumba. Alguém aí já viu galo de pescoço cortado, colocado na encruzilhada acompanhado de cachaça, flores e velas?       Dou-me conta que não existe nenhuma outra disparidade maior entre os sexos no mundo animal como  a que há entre o galo e a galinha.

A galinha não vale nada. Já veio ao mundo desprezada, desvalorizada A galinha não vale nada. Já veio ao mundo desprezada, desvalorizada. Uma galinha é considerada um serzinho à toa. Até uma boa "Galinhada", (prato apreciadíssimo por esses lados,) tem um sentido meio pejorativo. E ainda tem mais:O galo é o promíscuo e a galinha é quem leva a fama. Mulher-galinha é um adjetivo usado para designar pessoas do sexo feminino que trocam de parceiro assim como quem troca de roupa. Injustamente usado! Deveria se dizer mulher-galo, pois, quem se deleita com uma troca impressionante de parceiras é o galo.       Só tem uma coisa  na  qual galinha é imbatível: O ovo... Eis o grande mistério da galinha!       Depois de passada a confusão retomo meu caminho ainda meio chateada com o ocorrido e penso que jamais queria ser galinha. Seria qualquer coisa: vaca, tartaruga...Até lesma eu seria. Mas... galinha é de doer!       Apesar do desprezo que se tem ,em geral, pelas galinhas decidi que pelo menos esta galinha não será apenas uma galinha a mais. Ela merece um poema:

"Voas. Em penas. Em bico. Asas em sangue "Voas. Em penas. Em bico. Asas em sangue. És miserável até na hora da morte. Fosses outro ser terias tido melhor sorte. Mas, és galinha. Foste galinha desprevenida. Solta no tempo. No seu tempo de ser. Fosse eu mais contida. Terias uns dias a mais. Uma fração de tempo a mais. Faria diferença? Sempre faz!"

Escapa-me a palavra com a qual eu revestia as cavas do ontem Escapa-me a palavra com a qual eu revestia as cavas do ontem. A menina que brincava com a rosa viajou [e não me perguntem para onde foi] Escapa-me a palavra de dizer saudade e inocência E só digo oi. A vida vela esta ausência de onde escorre-me o indecifrável. A oca língua da infância nesta fuga azul e impalpável faz chover o céu da boca . Faz chorar o impermeável! fim FIM