Eça de Queirós
E toda a poesia do Natal está justamente nessas janelas resplandecendo na noite nevada. Felizes aqueles para quem essas portas difíceis se abrem!
Dos grandes lustres balança-se o ramo simbólico do mistletoe, o ramo do amor doméstico….
E por corredores e salas, as crianças, os bebés, com os cabelos ao vento, vestidos de branco e cor-de-rosa, correm, riem…
Também, como eles o adoram, o bom Claus!
Mas destes personagens que aparecem pelas consoadas, o meu predilecto é Father Christmas – o papá Natal.
… Santo Claus é um democrata, e, se enche os seus alforges para os ricos, gosta sobretudo de os ver esvaziados no regaço dos pobres.
… pensando bem, se nas cabanas houve mais algum conforto, e se se não tiritou toda a noite entre quatro farrapos, é perfeitamente indiferente que nos castelos as damas bocejassem.
Os filósofos afirmam que isto há-de ser sempre assim: o mais nobre de entre eles, Jesus, cujo nascimento estamos exactamente celebrando, ameaçou-nos, numa palavra imortal, que teríamos sempre pobres entre nós.
Deus tem só uma medida a tomar com esta humanidade inútil: afogá-la num dilúvio… … nós hoje gozaríamos a felicidade inefável de não sermos…