PERDER-SE TAMBÉM É CAMINHO

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Transcrição da apresentação:

PERDER-SE TAMBÉM É CAMINHO CLARICE LISPECTOR PERDER-SE TAMBÉM É CAMINHO Professora Francisca Barros

Nasci na Ucrânia, terra de meus pais Nasci na Ucrânia, terra de meus pais. Nasci numa aldeia chamada Tchechelnik, que não figura no mapa de tão pequena e insignificante. Quando minha mãe estava grávida de mim, meus pais já estavam se encaminhando para os Estados Unidos ou Brasil, ainda não haviam decidido: pararam em Tchechelnik para eu nascer, e prosseguiram viagem. Cheguei ao Brasil com apenas dois meses de idade. "Sou brasileira naturalizada, quando, por uma questão de meses, poderia ser brasileira nata. Fiz da língua portuguesa a minha vida interior, o meu pensamento mais íntimo, usei-a para palavras de amor. Comecei a escrever pequenos contos logo que me alfabetizaram, e escrevi-os em português, é claro. Criei-me em Recife.[...] E nasci para escrever. Minha liberdade é escrever. A palavra é o meu domínio sobre o mundo.

Clarice Lispector dedicou-se à prosa de sondagem psicológica, à análise das angústias e crises existenciais, ou seja, dedicou-se à análise do mundo interior de suas personagens. Clarice rompeu com a linearidade da estrutura do romance, seus textos baseiam-se no fluxo de consciência (na expressão direta dos estados mentais), na memória. Tempo, espaço, começo, meio e fim deixaram de ser importantes. Segundo a própria autora “o importante é a repercussão do fato no indivíduo” e não o fato em si. Outra característica de Clarice Lispector é o freqüente uso do monólogo interior, técnica em que o narrador conversa consigo mesmo, como se estivesse divagando.

Fluxo de consciência e epifania O fluxo de consciência quebra os limites espaço-temporais que tornam a obra verossímil. Por meio dele, presente e passado, realidade e desejo se misturam. Como se fosse um painel de imagens captadas por uma câmera instalada no cérebro de uma personagem que deixa o pensamento solto, o fluxo de consciência cruza vários planos narrativos, sem preocupação com a lógica ou com a ordem narrativa.

O processo epifânico pode ser irrompido a partir de fatos banais do cotidiano: um encontrão, um beijo, um olhar, um susto. A personagem, mergulhada num fluxo de consciência, passa a ver o mundo e a si mesma de outro modo. É como se estivesse tido, de fato, uma revelação, e, a partir dela, passasse a ter uma visão mais aprofundada da vida, das pessoas, das relações humanas. De modo geral, esses momentos epifânicos são dilacerantes e dão origem a ruptura de valores, a questionamentos filosóficos e existenciais, permitindo a aproximação de realidades opostas, tais como nascimento e morte, bem e mal, amor e ódio, matar ou morrer por amor, seduzir e ser seduzido, etc.

Portanto, o ponto de partida da literatura de Clarice é o da experiência pessoal da mulher e o seu ambiente familiar. Contudo, a escritora extrapola os limites desse universo. Seus temas, no conjunto são essencialmente humanos e universais, como as relações entre o eu e o outro, a falsidade das relações humanas, a condição social da mulher, o esvaziamento das relações familiares e, sobretudo, a própria linguagem – única forma de comunicação com o mundo.

“Depois que descobri em mim mesma como é que se pensa, nunca mais pude acreditar no pensamento dos outros”.

Características de sua produção literária: sondagem dos mecanismos mais profundos da mente humana; técnica “impressionista” de apreensão dessa realidade interior (predominância de impressões, de sensações); ruptura com a seqüência linear da narrativa; predomínio do tempo psicológico e, portanto, subversão do tempo cronológico; características físicas das personagens diluem-se: muitas nem nome apresentam;

as ações passam a ter importância secundária, servindo principalmente como ilustração de características psicológicas das personagens (introspecção psicológica); metalinguagem; fusão de prosa e poesia, com emprego de figuras de linguagem: metáforas, antíteses (eu x não-eu, ser x não ser), paradoxos, símbolos e alegorias, aliterações e sinestesias;

Em carta às irmãs, em janeiro de 47, de Paris, Clarice expõe seu estado de inadaptação:"Tenho visto pessoas demais, falado demais, dito mentiras, tenho sido muito gentil. Quem está se divertindo é uma mulher que eu detesto, uma mulher que não é a irmã de vocês. É qualquer uma." 

J. C. "— Por que você escreve. C. L J.C. "— Por que você escreve? C.L. "— Vou lhe responder com outra pergunta: — Por que você bebe água?" J.C. "— Por que bebo água? Porque tenho sede." C.L. "— Quer dizer que você bebe água para não morrer. Pois eu também: escrevo para me manter viva."

Clarice aprofunda-se num caminho já percorrido por outros autores no início do movimento modernista, a literatura de caráter introspectivo e intimista. Clarice sempre foi muito mística e supersticiosa, tanto que em 1976, representou o Brasil num Congresso de Bruxaria, na Colômbia.

Renda-se, como eu me rendi Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.

“Algumas pessoas cosem para fora; eu coso para dentro”-

"[...] talvez porque para as outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós. É que não sei estudar. E, para escrever, o único estudo é mesmo escrever."

“também fiquei pensando qual seria o poema dessa manhã “também fiquei pensando qual seria o poema dessa manhã ... Ser mulher já é tão poético!!”