No terreiro, na eira, no silêncio, Entre os sons dos batuques e no caldo das ladainhas, No fundo de um vale onde as agruras te condenam A ser tu mesmo, por onde quer que andes... Faz festa! No quente bolorento do teu quarto de abandonado, À lareira adormecida do teu riso sem destino, Na floresta ensombrada dos teus sonhos e pesadelos, Na mansão dos vivos entre as memórias dos que partiram... Faz festa!
Toca a cítara, o obué, a flauta, a harpa, Dança o cadomblé, o tango, o fandango, Rima amor e paz e traz outro amigo também, Junta os que nunca vieram e os que nunca faltam... Faz festa! Cita de cor as cores todas do arco-íris e pinta, Lançando mãos cheias de fantasia ao olhar cínico Dos que nunca sentiram a força dos sonhos, E rebola no chão, sentindo a textura da terra mansa... Faz festa!
Esgueira-te do sufoco de te sentires transparente e oco Na profusão dos chamamentos que te lançam! Quem porfia e quer canta, dança, chora, ri, ressuscita... Cresce dentro de si até ser flor e néctar do infinito! A sede não mata quem se prostra a olhar o horizonte, De onde escorre a luz e a centelha de vida que anula As distâncias e une o desconhecido, tornando farta A mesa de quantos teimam viver sem temer a morte! Façamos festa! É o que nos resta!
Poema: PAULO CÉSAR Formatação: Paulo César Imagens: Google Música: Vira Velho, by Júlio Pereira (1983) (Viola Braguesa e Cavaquinhos) Torre da Marinha (Portugal), 24.ago.2012