O livro da minha vida: Vai aonde te leva o coração Susanna Tamaro

O livro de maior sucesso do século XX, publicado em 1994 e que já vendeu mais de 6 milhões de exemplares. O original está escrito em italiano e intitula-se Va’dove ti porta Il coure. Foi galardoado com o Prémio Donna Cittá di Roma. Em 1995, foi levado ao cinema pela realizadora Cristina Comencini, ano em que foi também feita a tradução em Lisboa, pela Editorial Presença. Queria apontar que o livro nasceu numa casa da Úmbria, onde a escritora passou anos de grande sofrimento e de imenso tormento interior.

Esta história é-nos testemunhada por uma avó, de oitenta anos, que mora sozinha pois a sua filha morreu e a neta trabalha nos Estados Unidos, que conta através de um diário íntimo, a vida de três gerações de mulheres da sua família: ela própria, a sua filha e a sua neta. Enquanto a neta está a trabalhar fora do país, a anciã fica doente e escreve uma espécie de diário para ser entregue à neta, quando voltasse a casa. Essas cartas revelam os fracassos, erros e interrupções destas três personagens e como esta mulher foi capaz de ceder ao amor, já à beira da morte.

Considero que é um livro extremamente sensível, que nos toca a todos como um retrato real da vida. É sem dúvida uma lição que se converteu em fenómeno social. Como a narradora bem aponta, o coração que aparece no título não é o coração por causa de um olhar, um encontro, portanto não tem nada a ver com intrigas sentimentais, mas com a totalidade mais verdadeira do homem, onde se juntam a razão e a emoção. É uma história que apela a que não atuemos como animais selvagens, a que não tenhamos medo do medo porque ele só existe para ser vencido e principalmente, a que façamos uma escolha consciente que construa o percurso das nossas vidas.

O diário exprime uma mensagem, que ajuda a compreender qual é o melhor caminho a seguir, seja em que domínio for, e reza assim: "E quando à tua frente se abrirem muitas estradas e não souberes a que hás de escolher, não metas por uma ao acaso, senta-te e espera. Respira com a mesma profundidade confiante com que respiraste no dia em que vieste ao mundo, e sem deixares que te distraia, espera e volta a esperar. Fica quieta, em silêncio, e ouve o teu coração. Quando ele te falar, levanta-te, e vai para onde ele te levar.”

A escolha foi feita pelo facto do livro construir um troço de estrada comum para todos nós, pela necessidade que temos de confronto, de acordar e dizer: a vida está aqui, agora, é tua, em vez de fugires, agarra-a. E fazer um convite para refletirmos sobre três palavras tão distantes do nosso consumo de tempo, três condições para atingir a felicidade: imobilidade, paciência e silêncio.