Vinicius de Moraes Antologia Poética.

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Transcrição da apresentação:

Vinicius de Moraes Antologia Poética

Vinicius de moraes (1913-1980) Poeta significativo da 2ª geração modernista; foi também compositor muito popular; um dos fundadores, na década de 1950, da Bossa Nova; integra o grupo dos poetas religiosos das décadas de 1930 e 1940.

Modernismo - 2ª fase Cenário mundial 1929: “Crack” (quebra) da Bolsa de Nova Iorque – abalo do mercado financeiro mundial, instabilidade; 1939: Hitler invade a Polônia; 1939-1945: Segunda Guerra Mundial: bomba atômica; destruição em massa; campos de concentração; barbárie, intolerância, preconceito, desejo desmedido de poder – perversidade humana.

Modernismo - 2ª fase Cenário nacional Brasil: realidade desigual, diversidade regional e cultural; crise do café: preço despenca em virtude da queda do consumo mundial; Revolução de 1930: políticos e militares contra as oligarquias cafeeiras; Getúlio Vargas sobe ao poder; Revolução Constitucionalista (1932): paulistas se revoltam com a perda de poder político e são derrotados; Constituição de 1934: consolidação de Vargas no poder; ALN: união da esquerda contra a centralização do poder; Lei de Segurança Nacional: poderes para o Estado perseguir a esquerda; 1937: o Congresso Nacional é fechado; Estado Novo: Vargas assume poderes ditatoriais, inspirado no fascismo europeu; DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda): órgão do governo especializado na repressão à oposição (Luís Carlos Prestes).

Modernismo - 2ª fase Projeto literário Poesia brasileira: atinge sua fase áurea por volta de 1930 (Alguma poesia, Drummond); segue rumos diferentes do romance de 30: regionalismo x abordagem mais universal; a fase do nacionalismo crítico e do combate à poesia acadêmica é superada; as conquistas da 1ª fase estão consolidadas, os autores da 2ª fase livram-se do compromisso de combater o passado; período de instabilidade social e política: gera a reflexão sobre o sentido de “estar no mundo”; mantém-se a preocupação com a renovação da linguagem da fase anterior; atrocidades da 2ª Guerra: necessidade de resgatar a crença de que nossa espécie possa ser realmente “humana”;

Espiritualidade: dificuldade de compreender Deus e a humanidade diante das atrocidades da guerra; momento de crise: relações entre indivíduo e sociedade, análise do ser humano e suas angústias no contexto da época; introspecção: a arte torna-se intimista, busca respostas para as dúvidas desencadeadas pelo cenário de horror e destruição com a experiência da guerra; presente nos textos a reflexão sobre os acontecimentos da época, para os quais buscam uma explicação; poetas: reflexão sobre o mundo contemporâneo; dimensão social: contexto sociopolítico define o foco para a poesia do momento; uso da palavra: carregado do sentido da modernidade e da contemporaneidade.

Modernismo – 2ª fase Linguagem Liberdade para explorar todo tipo de recurso formal; seleção das palavras: opção pela simplicidade; estrutura sintática dos versos: mais elaborada; complexidade sintática: equivalente ao momento em que a humanidade está diante de questões complicadas; liberdade formal: versos livres e brancos convivem com versos rimados e de métrica fixa; formas poéticas fixas, como o soneto, são retomadas pelos autores.

Vinicius de moraes características gerais Lirismo: tom sentimental, subjetivo, revelação de estados de alma; presença da natureza, principalmente do mar e da praia; musicalidade sempre presente; preocupação com a forma dos poemas.

Vinicius de moraes – 1ª fase Forma: versos longos, linguagem abstrata e alegórica; temas: poesia transcendental, religiosa, com influências simbolistas; espiritualidade católica e visionária.

Vinicius de moraes – 2ª fase Forma: linguagem simples, vocábulos do cotidiano; poesia sensual: aproximação do mundo material, temas cotidianos e forte erotismo; recriação do soneto: à moda de Camões e Shakespeare, trata das contradições do amor e da vida; poesia social: linguagem simples e direta.

1ª fase Agonia No teu grande corpo branco depois eu fiquei. Tinha os olhos lívidos e tive medo. Já não havia sombra em ti – eras como um grande deserto de areia Onde eu houvesse tombado após uma longa caminhada sem noites. Na minha angústia eu buscava a paisagem calma Que me havias dado tanto tempo Mas tudo era estéril e monstruoso e sem vida E teus seios eram dunas desfeitas pelo vendaval que passara. Eu estremecia agonizando e procurava me erguer Mas teu ventre era como areia movediça para os meus dedos. Procurei ficar imóvel e orar, mas fui me afogando em ti mesma Desaparecendo no teu ser disperso que se contraía como a voragem. Depois foi o sono, o escuro, a morte. Quando despertei era claro e eu tinha brotado novamente Vinha cheio do pavor das tuas entranhas. Rio de Janeiro, 1935

Agonia Linguagem alegórica: o corpo da mulher é comparado a um deserto, os seios são dunas, o ato sexual é a peregrinação do eu lírico por esse deserto; sugestividade simbolista: “corpo branco”, “escuro”; musicalidade: assonâncias e aliterações; desejo e gozo sexual identificados à agonia; ato sexual: identificado ao pecado e à morte.

1ª fase Ausência Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto. No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz. Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado. Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo [da noite Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado. Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada. Rio de Janeiro, 1935

ausência Angústia do eu lírico: desejo e amor vistos como pecado; amor platônico e misticismo: recusa de ter a mulher amada; mulher amada vista de maneira idealizada; lembranças finais: identificadas aos elementos da natureza, de maneira que se tornem infinitas.

1ª fase A música das almas   "Le mal est dans le monde comme un esclave qui fait monter l’eau." Claudel Na manhã infinita as nuvens surgiram como a Ioucura numa alma E o vento como o instinto desceu os braços das árvores que [estrangularam a terra Depois veio a claridade, o grande céu, a paz dos campos... Mas nos caminhos todos choravam com os rostos levados para o alto Porque a vida tinha misteriosamente passado na tormenta. Rio de Janeiro, 1935

A música das almas Poema simbolista: sugestões musicais a partir do título; elementos da natureza: manhã, nuvens, ventos, árvores, terra, céu, campos; sugestividade: elementos da natureza representam fases da vida.

2ª fase Marina Lembras-te das pescarias Nas pedras das Três-Marias Lembras-te, Marina? Na navalha dos mariscos Teus pés corriam ariscos Valente menina! Crescia na beira-luz O papo dos baiacus Que pescávamos E nas vagas matutinas Chupávamos tangerinas E vagávamos... Tinhas uns peitinhos duros E teus beicinhos escuros Flauteavam valsas Valsas ilhoas! vadio Eu procurava, no frio De tuas calças E te adorava; sentia Teu cheiro a peixe, bebia Teu bafo de sal E quantas vezes, precoce Em vão, pela tua posse Não me saí mal... Deixavas-me dessa luta Uma adstringência de fruta De suor, de alga Mas sempre te libertavas Com doidas dentadas bravas Menina fidalga! Foste minha companheira Foste minha derradeira Única aventura? Que nas outras criaturas Não vi mais meninas puras Menina pura.

marina Versos rimados e de forma fixa (redondilhas maiores e menores); forte conteúdo erótico; perde-se a noção de pecado em relação à sensualidade e ao ato sexual; presença de vocábulos mais simples para descrever também um cenário mais singelo; elementos do mundo material, cotidiano.

2ª fase Soneto do maior amor Maior amor nem mais estranho existe Que o meu, que não sossega a coisa amada E quando a sente alegre, fica triste E se a vê descontente, dá risada. E que só fica em paz se lhe resiste O amado coração, e que se agrada Mais da eterna aventura em que persiste Que de uma vida mal-aventurada. Louco amor meu, que quando toca, fere E quando fere vibra, mas prefere Ferir a fenecer – e vive a esmo. Fiel à sua lei de cada instante Desassombrado, doido, delirante Numa paixão de tudo e de si mesmo. Oxford, 1938

Soneto do maior amor Soneto tradicional: versos decassílabos e rimas alternadas; vocabulário despojado e simples; tema cotidiano: vicissitudes do relacionamento a dois; tematiza as contradições do eu lírico em face do amor.

2ª fase A rosa de Hiroxima Pensem nas crianças Mudas telepáticas Pensem nas meninas Cegas inexatas Pensem nas mulheres Rotas alteradas Pensem nas feridas Como rosas cálidas Mas oh não se esqueçam Da rosa da rosa Da rosa de Hiroshima A rosa hereditária A rosa radioativa Estúpida e inválida A rosa com cirrose A anti-rosa atômica Sem cor sem perfume Sem rosa sem nada

A rosa de hiroxima Rimas toantes e versos pentassílabos; conteúdo social, voltado aos acontecimentos do seu tempo; metáfora da bomba: rosa, mas vista de maneira negativa (estúpida, inválida, sem cor, sem perfume); função social da poesia: alertar para os horrores da guerra; questionamento acerca dos rumos que toma a humanidade, a partir da experiência da guerra.