Aspectos da Sintaxe das Orações Subordinadas Adverbiais do Português

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Transcrição da apresentação:

Aspectos da Sintaxe das Orações Subordinadas Adverbiais do Português Maria Lobo Universidade Nova de Lisboa 2003 Quid Novi? 2004

Objectivos gerais Que estruturas cabem na designação de ‘orações subordinadas adverbiais’? Que propriedades têm? Que posições estruturais ocupam? Que papel desempenham os seus conectores? Como dar conta das propriedades das orações adverbiais sem conectores? Que propriedades as aproximam e as distinguem das orações finitas e infinitivas?

Estrutura da dissertação Introdução Definição das estruturas a considerar: o que cabe na subordinação adverbial? As orações adverbiais introduzidas por conectores: orações finitas e infinitivas As orações adverbiais sem conectores: orações gerundivas e participiais Conclusão

O que cabe na subordinação adverbial? Classificação da tradição gramatical portuguesa: orações subordinadas substantivas (completivas) orações subordinadas adjectivas (relativas) orações subordinadas adverbiais (circunstanciais) temporais, causais, finais, condicionais, concessivas, comparativas, consecutivas orações coordenadas copulativas, disjuntivas, adversativas, explicativas, conclusivas

Propriedades das orações subordinadas adverbiais do português: são estruturas não subcategorizadas (adjuntos ao nível oracional) admitem a anteposição não admitem a extracção podem ser coordenadas são introduzidas por conectores que ligam tipicamente constituintes oracionais manifestam tipicamente a próclise (orações finitas)

Estruturas excluídas das ‘subordinadas adverbiais’ (I) Adversativas e explicativas (assim como todas as outras estruturas coordenadas) não são coordenáveis ex: a) *o Rui foi à praia, mas estava a chover e mas era tarde b) *os marinheiros não foram para o mar, pois estava mau tempo e pois era tarde não são anteponíveis ex: a) *mas estava a chover, o Rui foi à praia b) *pois estava mau tempo, os marinheiros não foram para o mar manifestam tipicamente a ênclise ex: a) *o Rui deitou-se tarde mas se levantou cedo a’) o Rui deitou-se tarde mas levantou-se cedo b) *os marinheiros não foram para o mar pois se levantou um temporal b’) os marinheiros não foram para o mar pois levantou-se um temporal

Estruturas excluídas das ‘subordinadas adverbiais’ (II) Comparativas e consecutivas não são anteponíveis ex: a) *do que o Paulo, o João é mais alto b) *que ficou enjoado, o João comeu tanto Temporais pospostas com função narrativa resistem à anteposição ex: a) estava a entrar para o comboio, quando subitamente me lembrei que não tinha comprado bilhete b) *quando subitamente me lembrei que não tinha comprado bilhete, estava a entrar para o comboio

Estruturas excluídas das ‘subordinadas adverbiais’ (III) Orações finitas não conjuncionais com inversão sujeito-verbo a oração principal pode ser introduzida por uma conjunção de coordenação ex: a) tivesse eu menos vinte anos, (e) tudo seria diferente b) *se eu tivesse menos vinte anos, e tudo seria diferente Construções condicionais com propriedades coordenativas não são anteponíveis ex: a) irei à tua festa, mas só se convidares os meus amigos b) *mas só se convidares os meus amigos, irei à tua festa

Orações adverbiais introduzidas por conectores: orações finitas e infinitivas Breve descrição de propriedades sintácticas e semânticas de vários tipos e subtipos semânticos de orações finitas e infinitivas classificáveis como adverbiais Propriedades dos conectores (valores semânticos, categoria morfológica, complexidade morfológica...) Tipologia sintáctico-discursiva das orações adverbiais e sua relação com propriedades dos conectores Posição estrutural das orações adverbiais (nas suas diversas posições)

Tipologia sintáctica de orações adverbiais Fenómenos testados: posição não marcada clivagem escopo da negação escopo de operadores de foco resposta a interrogativas-Qu interrogativas alternativas negativas alternativas

Adverbiais periféricas vs. não periféricas: diferentes propriedades Adverbiais periféricas (de frase): (causais com como, já que, uma vez que..., finais de enunciação, condicionais com desde que, contanto que, a não ser que..., concessivas, condicionais-concessivas, conformativas) adverbiais periféricas ‘pressuposicionais’ ex: como está a chover, o piquenique foi adiado adverbiais periféricas ‘de enunciação’ ex: para ser sincero, essa atitude não me agradou nada Adverbiais não periféricas (de predicado): (temporais, causais com por e porque, finais de evento, algumas condicionais com se, caso..., orações de modo, de circunstância negativa) ex: os meninos foram para a cama porque tinham sono

Adverbiais periféricas vs. não periféricas exs: a) uma vez que está a chover, vamos cancelar o piquenique. a’) vamos cancelar o piquenique, *(#) uma vez que está a chover. b) *é uma vez que está a chover que vamos cancelar o piquenique c) *não vamos cancelar o piquenique uma vez que está a chover d) * só vamos cancelar o piquenique uma vez que está a chover e) *por que vão cancelar o piquenique?/ uma vez que está a chover f) *vão cancelar o piquenique uma vez que está a chover ou uma vez que há poucas inscrições?

Adverbiais periféricas vs. não periféricas Adverbiais não periféricas exs: a) porque está a chover, vamos cancelar o piquenique a’) vamos cancelar o piquenique, (#) porque está a chover b) é porque está achover que vamos cancelar o piquenique c) não vamos cancelar o piquenique porque está a chover d) só vamos cancelar o piquenique porque está a chover e) por que vão cancelar o piquenique?/ porque está a chover f) vão cancelar o piquenique porque está a chover ou porque há poucas inscrições?

Conectores, estrutura e interpretação Adverbiais periféricas = [+ pressuposição] / [+ ‘conforme às expectativas’] = conectores mais opacos Ex: (1) uma vez que havia greve dos transportes, o Pedro chegou atrasado Adverbiais não periféricas = ‘neutras’ = conectores mais transparentes (2) o Pedro chegou atrasado porque havia greve dos transportes

Hipótese - o estatuto sintáctico-discursivo das adverbiais finitas e infinitivas é parcialmente determinado por traços lexicais dos seus conectores - projecção de Tempo actua como fronteira no mapeamento de constituintes com diferentes estatutos discursivos

Posição estrutural das adverbiais não periféricas à direita Complementos? cf. Larson 1988, 1990... Especificadores ou adjuntos à esquerda, seguindo-se movimento do predicado ou da proposição mais para a esquerda? cf. Barbiers 1995; Cinque 1999; Bianchi 2000... Adjuntos à direita? cf. Williams 1994, Ernst 2000... Outras propostas: cf. Nilsen 2000, Uriagereka 2001

Fenómenos testados: fenómenos de escopo: operadores de foco; negação de foco dependências referenciais do sujeito da subordinada relativamente ao sujeito e ao objecto da oração principal (teoria da ligação) testes de constituência: clivagem e anteposição de predicado simples e complexo escopo semântico relativo dos diversos adjuntos

Posição estrutural das adverbiais não periféricas à direita Posição baixa relativamente ao sujeito da matriz e a operadores de foco a) o João não abriu a janela quando o Paulo entrou b) o João só abriu a janela quando o Paulo entrou c) *ele/pro abriu a janela quando o João entrou Posição alta relativamente ao objecto d) *este médico só lhe contou que o Zé já estava muito doente d’) este médico só o tratou quando o Zé já estava muito doente d’’) este médico só o tratou porque o Zé estava muito doente Posição ambígua relativamente ao predicado e) [abrir a janela] o João fê-lo certamente quando o Paulo entrou e’) [abrir a janela quando o Paulo entrou] o João fê-lo certamente Um constituinte independente do objecto f) foi [a televisão] que o Zé ligou quando chegou a casa f’) foi [quando chegou a casa] que o Zé ligou a televisão f’’) *foi [a televisão quando chegou a casa] que o Zé ligou Conclusão:  adjunção à direita a VP (ou a outra projecção relativamente baixa)

Adverbiais não periféricas à direita  adjunção à direita a VP (ou a outra projecção relativamente baixa)

Posição estrutural das adverbiais à esquerda Adjuntos ou Especificadores? múltiplos adjuntos ex: uma vez que todos estão de acordo, embora seja já muito tarde, vamos continuar a reunião ordem não rígida ex: embora seja já muito tarde, uma vez que todos estão de acordo, vamos continuar a reunião posição variável ex: a) uma vez que o Rui não se consegue levantar sozinho, quem fica a dormir com ele? b) a Ana acha que, uma vez que o Rui não se consegue levantar sozinho, alguém deve ficar a dormir com ele c) uma pessoa qualquer, uma vez que o Rui não se consegue levantar sozinho, deverá ficar a dormir com ele  Adjuntos

Posição estrutural das adverbiais à esquerda Geração na base ou Movimento? diferentes interpretações em posição inicial e final ex: a) quando os pais chegaram, as crianças adormeceram b) as crianças adormeceram quando os pais chegaram (Quando é que as crianças adormeceram?/O que aconteceu quando os pais chegaram?) ausência de efeitos de reconstrução com negação ex: a) quando eu cheguei, a Ana não abriu a porta  b) a Ana não abriu a porta quando eu cheguei

Posição estrutural das adverbiais à esquerda (II) Geração na base ou Movimento? impossibilidade de estabelecer dependências a longa distância ex: a) quando eu cheguei, a Ana disse que as crianças foram para a cama  b) a Ana disse que, quando eu cheguei, as crianças foram para a cama possibilidade de sujeito pleno da adverbial ser referencialmente dependente do sujeito pronominal da oração principal ex: a) quando a Ana chegou, pro sentou-se no sofá b) *pro sentou-se no sofá quando a Ana chegou  Geração na base

Orações adverbiais sem conectores: orações gerundivas e participiais Orações adverbiais vs. estruturas predicativas Orações periféricas vs. não periféricas

Gerundivas e participiais Orações adverbiais vs Gerundivas e participiais Orações adverbiais vs. estruturas predicativas gerundivas: - não podem ocorrer predicados estativos ‘não faseáveis’ nas gerundivas predicativas ex: a) *o João viu o Zé estando a viver em Paris b) *o João chegou a casa estando doente c) ?o João soube a notícia estando a viver em Paris d) estando a viver em Paris já há dez anos, o João tem algumas interferências do francês - alternância com <a + inf.> só é possível nas gerundivas predicativas ex: a) o João viu o ladrão a arrombar a porta b) o João chegou a casa a coxear c) *os ladrões entraram em casa a arrombar a porta com um maçarico d) *a arrombar a porta com um maçarico, os ladrões conseguiriam entrar participiais: valores aspectuais; posição; clivagem; escopo da negação...

Gerundivas e participiais Orações periféricas vs. não periféricas diferentes comportamentos: valores semânticos posição não marcada clivagem respostas a interrogativas-qu escopo da negação matriz interrogativas e negativas alternativas

Distribuição de gerundivas e participiais adverbiais orações periféricas: participiais; gerundivas causais, concessivas, condicionais-concessivas, de tempo anterior orações não periféricas: gerundivas de modo, meio, tempo simultâneo

Como derivar o estatuto sintáctico de gerundivas e participiais na ausência de conectores? Estruturas com T defectivo T defectivo quando no domínio de T matriz é obrigatoriamente temporalmente dependente deste Restrições à ocorrência de participiais e de gerundivas de causa, tempo anterior... em domínios mais baixos é uma consequência de propriedades morfológicas de T subordinado e incompatibilidades de natureza semântica Conectores podem bloquear a relação de dependência entre T subordinado e T matriz

Outras questões contempladas Ausência de conectores em gerundivas e participiais Restrições internas em gerundivas não periféricas e em participiais Estatuto categorial de gerundivas e participiais Estatuto do sujeito nulo de gerundivas e participiais Legitimação do sujeito em absolutas Ordem de palavras em construções absolutas do português vs. outras línguas Papel das diferentes categorias funcionais