OS DA MINHA RUA ONDJAKI Maio/2011.

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Transcrição da apresentação:

OS DA MINHA RUA ONDJAKI Maio/2011

ONDJAKI, pseudônimo de Ndalu de Almeida, escritor angolano nascido em 1977. Estudou sociologia em Luanda, capital da Angola e cinema em Nova Iorque. Produziu o documentário “Oxalá cresçam pitangas”, que mostra o cotidiano de 10 jovens da periferia de Luanda. Em 2010, ganhou o Prêmio Jabuti, um dos mais importantes prêmios literários brasileiros. Atualmente, reside no Rio de Janeiro.

PLURALIDADE LINGUÍSTICA LUANDA Maior cidade e capital da Angola. Apenas 20% da cidade têm água e saneamento básico e apenas 30% das casas têm água corrente. Independência de Portugal: apenas em 1975. PLURALIDADE LINGUÍSTICA Língua oficial: PORTUGUÊS. Mais faladas: umbundu; kimbundu; kikongo; ibinda; chocué; kwanyama e nhaneca.

Entrevista com o autor: Como caracterizaria a sua infância? Foi uma infância muito feliz, muito tranquila, apesar de algumas dificuldades. Uma coisa é a infância dentro de casa, outra é a infância fora de casa. Eu tive uma infância fora de casa, com todos os episódios que isso acarreta. Apesar de tudo, Luanda não estava propriamente dilacerada com a guerra, era uma cidade relativamente tranquila.

“É necessário resistir, ainda que tudo convide ao desânimo...” O livro 22 histórias autobiográficas. Pré-adolescência do país e do autor. Infância vivida em um período de insuficiências materiais. Infraestruturas destruídas Precariedade a cada passo “É necessário resistir, ainda que tudo convide ao desânimo...”

para os da minha casa para a tia rosa. para o tio chico. para o avô aníbal. para a avó júlia. para os camaradas professores ángel e maría. para o avô mbinha. para a avó agnette. para os da minha infância. para a ray. “A vida às vezes é como um jogo brincado na rua: estamos no último minuto de uma brincadeira bem quente e não sabemos que a qualquer momento pode chegar um mais velho a avisar que a brincadeira já acabou e está na hora de jantar. A vida afinal acontece muito de repente (...). Nós, as crianças, vivíamos num tempo fora do tempo, sem nunca sabermos dos calendários de verdade.”

O Voo do Jika O Jika era o mais novo da minha rua. Assim: o Tibas era o mais velho, depois havia o Bruno Ferraz, eu e o Jika. Nós até às vezes lhe protegíamos doutros mais-velhos que vinham fazer confusão na nossa rua. O almoço na minha casa era perto do meio-dia. Às vezes quase à uma. Ao meio-dia e quinze, o Jika tocava à campainha. - O Ndalu tá? – perguntava à minha irmã ou ao camarada António. - Sim, tá. - Chama só, faz favor. Eu interrompia o que estivesse a fazer, descia. - Mó Jika, come? - Ndalu, vinha te perguntar uma coisa. - Diz. - Hoje num queres me convidar pra almoçar na tua casa? - Deixinda ir perguntar à minha mãe. Entrei. O Jika ficou ansioso na porta, aguardando a resposta. Quase sempre a minha mãe dizia sim. Só se fosse mesmo maka de pouca comida, ou muita gente que já estava combinada para o almoço. Se a avó Chica viesse, ia trazer também a Helda, e assim já não ia dar. Mas normalmente a minha mãe dizia “sim” mesmo. E ficava a rir

- A minha mãe disse que podes. - Ah é? – ele pareceu surpreendido. – E a que horas é que vocês vão almoçar? - Ao meio-dia e meia, Jika. - Então vou pedir a minha mãe. Deixei a porta aberta. O Jika devia voltar sem demora quase nenhuma. Gritou contente, cá de baixo, na direcção da janela do quarto da mãe dele: - Maaaaãe, a tia Sita me convidou pra almoçar na casa dela. Posso? - Podes. Mas vem mudar essa camisa suada. O Jika deu uma esquindiva, fingiu que já tinha mudado, veio a correr numa transpiração respirada. Contente. Olhos do miúdo que ele era. Fosse o melhor programa da semana dele. E eu, mesmo miúdo candengue, fiquei a pensar nas razões do Jika não gostar nada de almoçar na própria casa dele. O Jika estava habituado a muita gasosa. Nesse tempo, se houvesse gasosa na minha casa era para dividir. Como nós éramos três, eu e duas irmãs, quando o Jika vinha almoçar, até a divisão corria melhor. Ele por vezes queria fugir desse ritual:

- Tia Sita, posso beber uma gasosa sozinho? - Sozinho, bebes na tua casa – a minha mãe respondeu. – Aqui divide-se. Depois do almoço, o Jika disse que ia à casa dele buscar uma coisa; Eu fiquei à espera, no portão aberto. Prometeu não demorar. Voltou com a tal coisa escondida debaixo do braço, e entrámos rapidamente na minha casa. Subimos ao primeiro andar, fomos até ao quarto da minha irmã Tchi, e saltámos da varanda para uma espécie de telhado. Aproximámo-nos da berma. Lá em baixo estava a relva verde do jardim. O Jika abriu um muito, muito pequenino guarda-chuva azul. - Põe a mão aqui – ensinou-me. – Agora podemos saltar - Tens a certeza? – olhei para baixo Saltámos. A infância é uma coisa assim bonita: caímos juntos na relva, magoamo-nos um bocadinho, mas sobretudo rimos. O Jika teve outra ideia. - Calma só, mô Ndalu. Vou na minha casa buscar um maior. - Não, Jika, desculpa lá. Vais saltar sozinho, eu já num vou saltar mais de guarda-chuva.

- Posso te perguntar uma coisa? - Diz, Jika. - Nem num bem grande que tenho, daqueles da praia, anti-sol e tudo, colorido tipo arco-íris? - Nem esse! O Jika ficou desanimado. Sem outras propostas para brincadeiras perigosas, decidiu ir para casa. Ao cruzar o portão, falou ainda: - Posso te perguntar uma coisa? - Diz, Jika. - Amanhã num queres me convidar pra almoçar na tua casa?