PESCA EM ÁGUAS PROFUNDAS LXIX EVANGELIZAÇÃO NO TERCEIRO MILÊNIO EM ALENQUER, CONVERSANDO COM DEUS NO IGAPÓ

Este escrito é fruto de uma das conversas que tive com Deus. Sim, com Deus, o Criador de todas as coisas!... Aliás, tem gente que acha que alguém dizer que conversa com Deus é loucura e que, se verdade for, a conversa tem de ser mantida em segredo. Segredo? Será que Deus quer manter-se desconhecido, inacessível?... Então, como se comportam duas pessoas que se amam, não fazem questão que todo mundo saiba que são amantes, íntimas? Como essa intimidade foi adquirida? Claro, com os dois interagindo, conversando, convivendo, conhecendo-se... Ora, Deus é o primeiro a querer tornar-se conhecido entre seus filhos!...

Todo mundo sabe que o maior ideal do homem é tornar-se íntimo de Deus e fazer da conversa com Ele um hábito - Jesus Cristo era um mestre nessa arte, tanto que aproveitava qualquer tempinho livre para conversar com o Pai e nos ensinou a conversar com Ele - pois este hábito nos torna mais humano-divino. Quando assim me comporto tudo mim fica iluminado e harmonioso. Coitado de quem não conversa com Deus, vive no escuro dentro de si às turras com as coisas do mundo!...

Voltando ao escrito, escrevi-o num sítio em Alenquer, Pará, minha terra natal na Amazônia do Brasil, hoje, terrivelmente maltratada pelos políticos mesquinhos e administradores insanos, onde me encontrava de férias escolares e do trabalho, acho que na década de setenta do século passado. A convivência no sítio com meus pais e irmãos ensinou-me a admirar a natureza, por isso, gosto do ar puro, do silêncio e ruído naturais, cânticos de passarinhos, mugir de gado no campo, aroma de flores silvestres e campestres, frescor vindo das águas dos lagos, igarapés, e Alenquer é tudo isso para mim, o ninho da natureza.

Apesar de ter tudo o que supunha para ser feliz, sentia-me vazio, sem nada dentro e tudo fora, sufocado por um cotidianismo descorado, quase sem nexo se não fosse minha família. Queria algo que preenchesse minha vida, me fizesse espiritualmente cheio, denso, forte, enfim que me livrasse do mecanicismo imposto pela vida da cidade grande. Que horrivel esse vazio! Queria ter um objetivo de vida acima das minhas possibilidades, ser verdadeiramente útil aos meus próximos, à sociedade, e concluí em minhas reflexões, que esta satisfação só Deus podia dar-me...

Naquele dia no igapó, sentado debaixo de um marissarreiro à margem do igarapé Itacarará, sentia a presença de Deus nas mínimas coisas, por exemplo, na persistência da formiguinha com um pedaço de folha às costas em comunhão com inúmeras outras caminhando em fila rumo ao formigueiro; no farfalhar das folhas das árvores sob a voracidade do vento que ora aumentava e ora diminuía de intensidade; nos gorjeios alegres da passarinhada livre pulando pelo arvoredo; no pirarucu que boiava no capinzal do rio para tomar ar no tempo certo...

Deus ficava evidente para mim em tudo, até mesmo, veja só, no ruído que uma rãzinha fazia saltando nas folhas secas no chão ao meu lado. Envolvido por este ambiente, falei entusiasmado:

Senhor, sei que estás me vendo e ouvindo porque sinto a tua presença em toda parte deste lugar, até mesmo no colóquio amoroso da borboleta que pousou na flor que acabou de desabrochar, por isso, quero declarar para todo mundo saber que creio em ti e te amo com toda força de minha alma e do meu coração!...

Calado, tudo observava ao redor, atento a qualquer detalhe estranho. Chamou- me a atenção o silêncio imediato e rápido tão logo acabei de falar, parece que tudo ficou mudo, e vi algo maravilhoso no meio do igarapé, um cardume de botos passando... A seguir os gorjeios dos passarinhos voltaram, a zoada do vento nas folhas... Coração disparado, continuei falando em alta voz, que chegava a fazer os passarinhos calarem:

Sim, Senhor, acredito que estás aqui... Acredito firmemente que também estão contigo o Filho e o Espírito Santo, porque és Uno em Três pessoas e Eles são os Dois que Te completam na Trindade divina. Ora, meu Senhor, como és o Rei do universo e um rei nunca está só, está sempre acompanhado de sua Corte, então, aqui também estão tua Mãe, teus santos e santas, teus anjos...

Mas, meu Senhor e meu Deus, se neste momento estás aqui neste igapó de Alenquer ouvindo-me declarar-te meu amor, significa que estou sendo um elo entre o teu reino celestial e o terreno! Não é maravilhoso? Por isso, quero que todos saibam que te amo!...

FELICIDADE

Estou feliz, Senhor, completo. Completíssimo, porque estás aqui comigo neste igapó encharcado de vida e beleza e, contigo, te acompanhando, tua mãe, a Virgem Maria; os pais dela e teus avós, São Joaquim e Santa Ana; Santo Antônio, o padroeiro de Alenquer, e todos os teus santos e santas, quem sabe, também meus pais Luiz e Maria e minha irmã Zelina; enfim teus exércitos angélicos sob o comando de Miguel, Gabriel, Rafael... Quanta felicidade neste momento sublime de comunhão! Por isso, meu Senhor e meu Deus, creio que é possível nesta geração, Céu e Terra conviverem como um só reino no ideal da vida eterna como Jesus já viveu entre nós!...

Gosto de observar a tua Criação, que é um jardim farto. Contemplo tudo o que nele existe, pois imprime em meu coração um sentimento de paz, felicidade, unidade, como agora.

Tem plantas de todas as espécies. Plantas que dão flores e frutos e plantas que só dão flores, todas diferentes entre si, mostrando tua infinita criatividade...

Tem plantas exuberantes, como aquela da qual foram tiradas as toras para a cruz que teu Filho carregou para ser pregado nela, e plantas que, de tão pequeninas que são, quase não são vistas, mas são tão importantes como as grandes, pois no teu Plano nenhuma é mais do que a outra, cada qual com função específica de importância, nós é que as discriminamos... Tem plantas que vivem no galho de outras, sugando suas seivas para sobreviverem, e plantas que se protegem com espinhos, como aquela da qual ramos foram tirados para a coroa de teu Filho... Tem plantas que a casca é remédio, outras que dão frutos doces, azedos, leitosos, amargos, arghhhh... Mais outras que se enchem de ninhos de passarinhos e algumas que de passarinhos só são poleiros...

Teu jardim é lindíssimo porque nele tudo criaste com amor. Exala puro e agradável aroma. Delicio-me com as infindas combinações das cores em todas as tonalidades de suas folhas e flores, nas matas e nos campos...

Gosto de contemplar teu jardim, pois nele vejo a objetividade e a beleza do teu trabalho, a simplicidade e o esplendor da tua magnificência, a infinitude do teu amor, pois tudo criaste pensando em nos agradar, teus filhos...

Certo dia, meu Senhor e meu Deus, apossei-me de uma semente e com ela nas mãos quis saber o que tinha dentro dela, mas consegui dominar este desejo, não a parti para ver o que havia, coloquei-a num vaso... Dias depois, passando junto do vaso vi uma plantinha brotando da semente, era uma mangueira. Hoje, está grandinha enfeitando o quintal de casa em Belém, brevemente estará dando sombras e frutos!...

Nesse processo mostravas-me que tudo no mundo, desde os primórdios da Criação, é a Vida que tem importância, por menor que seja a semente. Esta importância é única em cada indivíduo. Fiquei imaginando a quantidade de serzinhos, inclusive humanos, que são abortados insensivel e caprichosamente pela terra inteira... Meu Senhor, quanta insanidade o maligno espalha entre os homens!...

Sim, sei, a Vida não nasce por acaso, inicialmente está em tua Mente e, no momento preciso, a transplantas para o ventre feminino, a Criação, ou melhor, o Jardim, onde germina, floresce, frutifica, prolifera, tudo conforme os princípios que elaboraste pacientemente como ciclo vital, pois ninguém nasce já pronto, a não ser a alma que nos faz tua imagem e semelhança. Assim criaste o homem, animal entre os animais, mas superior a todos os seres!...

Meu Senhor e meu Deus, é tão bom e honroso ser tua imagem e semelhança!...

Portanto, Pai querido, que germinem, floresçam, frutifiquem e proliferem as nossas virtudes para que todos os que nos vêem contemplem tua obra rumando para o seu supremo objetivo, a Vida verdadeira no teu Reino. Meu Senhor e meu Deus, tu és o nosso Jardineiro, pois cada homem é também uma planta do teu jardim, a Humanidade, que tratas carinhosa e pacientemente. Sinto-me felicíssimo em ser uma das plantas do teu jardim, ó Criador de todas as coisas!... Eliezer de Oliveira Martins Diácono da Arquidiocese de Belém, Pará, Amazônia do Brasil Obs: Este texto é uma adaptação de O JARDINEIRO E AS PLANTAS já publicado pelo autor em Arquivos em Power Point do