UM SÓ CORAÇÃO E UMA SÓ ALMA PADRE, ESTE É O MEU FILHO. É O MEU HERÓI ! Padre Agostinho Cruz *

Na última quinta-feira, depois de um dia intenso de atividades, por perto das 20h, enquanto aguardava os homens que viriam para rezar o terço na paróquia, saí cumprimentando alguns que já se encontravam na igreja e estavam fazendo as suas orações pessoais. Me dirigi a um jovem que estava de cabeça baixa, no penúltimo banco. Por uma atitude de carinho lancei minhas mãos sobre sua cabeça e a afaguei. Ele, por ser portador de necessidades especiais, num jeito meio tresloucado, mas com muita alegria esboçou o mais belo sorriso que pôde. Fiquei olhando para ele, quando de repente uma jovem senhora apressou seus passos em nossa direção.

Confesso que estava pronto para perguntar-lhe o que ela fazia ali, se naquele horário a igreja é dos homens que vêm rezar o terço. Mal terminei de formular este pensamento, ela sorriu e suas palavras cortaram meu coração. Ela disse-me, apontando para o jovem que eu acabara de cumprimentar: "Padre, este é o meu herói!“.

Como alguém que está absorto em tantos pensamentos, não entendi nada, por isso retruquei-lhe: o que disse? Ela, com um contínuo sorriso, sem pestanejar repetiu a mesma frase, só que agora parecia mais melodiosa: "Padre, este é o meu herói! É meu filho!".

Num relance, coisa de momento, meu ser foi tomado de uma vergonha, eu que havia cumprimentado o jovem sem grandes interesses, apenas por conveniência, recebia daquela mulher de pequena estatura a maior lição que um ser humano pode abstrair da vida, que o amor é uma grande força que move-nos para amar. Sim, a razão do amor é amar.

Aquela mulher estava ali, numa hora em que todas as mulheres já tinham saído da Igreja, e que somente os homens, e não poucos, mais de 150, encontram-se para rezar, para simplesmente acompanhar o "herói" dela na oração do terço. Sim, ela veio de uma comunidade distante para trazer o seu herói para rezar com os outros homens, e como ele não tem autonomia, devido a suas necessidades, ela se faz, por amor, presente na vida dele, sendo para ele a força de um amor que é doação.

Confesso que aquela noite foi especial. Não pude deixar de pensar que eu estava fadigado e tenso do dia intenso na paróquia, mas aquela mulher e aquele jovem me devolveram a alegria, que por um pouco eu estava deixando esvair-se de minha vida sacerdotal, pelo cansaço. Pude, através deles, compreender, não por conjecturas e especulações, que o amor é sacrifício e renúncia. Eu vi o amor encarnado no sorriso de uma frágil mulher e nos gestos desconcertantes de um jovem especial, que estavam ali apenas para rezar.

A luz do testemunho de mãe e filho clareou minha alma ao ver que a jovem mãe diminui seu passo para acompanhar seu filho, curvava-se para escutá-lo, mas não deixava de sorrir, pois sentia-se segura no seu herói. Esse amor, não tenho dúvidas, é tão desconcertante que conserta-nos quando supomos, por pura vaidade, que ainda somos os melhores.

O melhor é aquele que ama, aquele que se abaixa para ficar na altura do outro, a fim de que o outro possa olhá-lo nos olhos. Nunca podemos esquecer que nos pequenos gestos está contido um grande amor. Eu vi isso no olhar daquela que tem um herói dentro de casa, e que ao contrário das fantasias, seu herói é finito, e por isso, ela tem presa em amá-lo e tê-lo da melhor maneira ao seu lado.

E você, tem algum herói na sua casa, alguém que faz com que você supere seu limite, que prove sua paciência, que exige de você renúncias, que faz com que você se canse? Se tem, não o despreze, pois nesses "heróis" estão contidas as forças que não temos; a gana de viver que só eles nos dão. Cada "herói" tem seus próprios poderes, quem sabe seu "herói" não tem a capacidade de fazê-lo sorrir, de lhe dar forças para viver, quando pensa que está tudo acabado; ou como aconteceu comigo, quando no gesto de amor entre o herói e sua fã, fui sanado de meu cansaço e puder terminar a lida do dia como o homem mais feliz, sabendo que a sina de minha história tornou-se mais plena por causa do amor que vi e vivi.

_ ________________________________________ (*)PADRE AGOSTINHO CRUZ - Pároco de São João Batista e Nossa Senhora das Graças, Icoaraci, Arquidiocese de Santa Maria de Belém do Grão-Pará, Amazônia do Brasil. Bacharelando em Teologia pela Faculdade Dehoniana (SP). Fonte: Jornal on-line Voz de Nazaré, edição 24 a 30 de junho A todas as mães e pais, que têm seus heróis em casa, deixo o testemunho de quem ganhou com este gesto de carinho.