Tendo em casa a presença viva de gêneros textuais apresentados de forma dinâmica em contação de histórias e poesias, procurei, desde o início do meu magistério, levar um pouco do que se incorporou em mim a meus alunos.

Nunca comecei minhas aulas com chamada ou sermão para que ficassem quietos. Desenhava no canto esquerdo do quadro de giz uma bonequinha com um pensamento significativo para aquele dia. Subia em uma cadeira e olhava-os nos olhos contando uma história ou declamando uma poesia, quase sempre compostas por mim. Essa motivação provocava neles vontade de ler e escrever, de pesquisar, de querer saber mais. Minhas aulas eram planejadas contando com vários livros, jornais, e na época, com retroprojetor.

Fico analisando hoje, com a tecnologia à disposição, aulas prontas para download, mecanismos que possibilitam um atrativo maior para se efetivar o processo ensino- aprendizagem, por que muitos alunos não aprendem? Não gostam da Disciplina de Língua Portuguesa?

Lembro-me com emoção de um texto que levei à sala de aula: “Apólogo da Casa”. Inspirei-me em uma casa vizinha que estava há quatro meses vazia de humanos. Falei da saudade que ela sentia do barulho das crianças, da cachorrinha preta com pintinhas brancas, do burburinho provocado pela relação marido/mulher/filhos e esse animalzinho tão especial. Comentei sobre os atuais moradores: roedores, insetos e aracnídeos. A sala escolhida foi 7º Ano B, por ser a considerada bagunceira pela maioria dos professores.

Li o apólogo e todos ficaram admirados, primeiramente porque ninguém conhecia um texto intitulado Apólogo (Nada mais que desenhos animados em forma de texto impresso). Após, entreguei os textos para que de dois em dois lessem e pontuassem os aspectos principais pela visão da dupla

Quando terminaram, disse: - Agora, é com vocês. Pensem em um objeto atrativo pela equipe e deem vida a ele, como se tivessem sentimentos humanos. Ufa!!! Escreveram tanto!!! Era telefone que chorava quando o açougueiro tocava-o com as mãos sujas de sangue; era El Ninõ fazendo arruaças e se arrependendo; era o lápis que falava com a caneta e a borracha...

Quando fui para a leitura, quase não acreditei... os meus alunos se transformaram em escritores!!! Fizemos um concurso com prêmio e tudo. Ganhou o Apólogo que a aluna Luciana escreveu, intitulado: El Ninõ.

Hoje, tanto tempo depois... embaixo das folhas de uma árvore, reflito: Que marcas deixei em meus alunos? Sempre procurei deixar a beleza, a imaginação, a criatividade como fontes para qualquer leitura, qualquer livro, qualquer texto em criação.

Formatação, texto e produção Slides Elaine Poeta