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PublicouHenrique Denis Alterado mais de 10 anos atrás
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UNIDADE II – ANTROPOLOGIA BRASILEIRA Tema: ‘O mito das três raças’
“A Ilha Brasil” A costa atlântica, por milênios, foi percorrida e ocupada por inúmeros povos indígenas; Nos últimos séculos, os índios de fala Tupi, se instalaram ao longo de toda a costa atlântica e pelo Amazonas; A ilha Brasil configurou-se desse modo. Não era uma nação, mas inúmeros povos tribais falando línguas do mesmo tronco; Com a chegada do europeu, o conflito se dá em todos os níveis:
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biótico: guerra bacteriológica;
ecológico: disputa de terítório; econômico e social: escravização do índio e mercantilização das relações de produção; étnico-cultural: gestação de uma etnia nova: o brasileiro; A Matriz Tupi: Os grupos indígenas encontrados no litoral pelo português eram principalmente de tronco Tupi; Somavam, talvez, um milhão de índios, divididos em dezenas de grupos tribais, cada um deles compreen- dendo um conglomerado de várias aldeias de 300 a 200 habitantes;
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Na escala de evolução cultural, os povos Tupi davam
os primeiros passos da revolução agrícola, superando a condição paleolítica, tal como ocorrera pela primeira vez há anos, com os povos do Velho Mundo; “...haviam domesticado diversas plantas, retirando- as da condição selvagem para a de mantimento de seus roçados”. (31) Entre eles, a mandioca, o milho, a batata-doce, o cará, feijão, amendoim, tabaco, abóbora, urucu, algodão, cuias e cabaças, pimentas, abacaxi, mamão, erva-mate, guaraná, entre muitas outras plantas;
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A agricultura lhes assegurava fartura, grande
variedade de matérias-primas, condimentos, venenos e estimulantes; Permaneciam, porém dependentes do acaso para obter outros alimentos através da caça e da pesca; Daí a importância dos sítios privilegiados, nos vales mais fecundos, esses aldeamentos excepcionais chegavam a alcançar pessoas; Eram pré-urbanos: aldeias agrícolas, indiferenciadas; Todos os moradores estavam compelidos à produção de alimentos, só liberando dela, alguns líderes religiosos (pajés, caraíbas) e uns poucos chefes guerreiros (Tuxáuas);
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Apesar da unidade lingüística, os índios do tronco
Tupi não se unificaram numa organização política devido à sua própria condição tribal; Em face do novo inimigo, o português, os Tupi só conseguiram estruturar efêmeras confederações regionais que logo desapareceram; Um bom exemplo foi a Confederação dos Tamóios, ensejada pela aliança com os franceses instalados na Baía de Guanabara: entre os anos de reuniu os Tupinambás (RJ), Carijós (planalto paulista), Goitacazes e Aimorés (Serra do Mar);
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Na guerra da Reforma x Contra-Reforma, franceses
e portugueses combatiam com exércitos indígenas de milhares de guerreiros, nos dois lados na batalha final do R.J. (1567); Ref. Carlos Dias (1981) Nessas guerras, como nas anteriores, os índios jamais estabeleceram uma paz estável com o invasor, exigindo de um esforço continuado, ao longo de décadas, para dominar cada região; A resistência indígena se explica pela própria singeleza de sua estrutura social igualitária: não possuíam estamentos superiores; Se vencedores, seus prisioneiros eram tomados para cerimonais de antropofagia;
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Se vencidos, fugiam e concentravam forças para
novos ataques; Quando muito dizimados, os sobreviventes fugiam para além das fronteiras da civilização; Ex.: hoje, Yanomani, na fronteira norte do Brasil; Cada núcleo Tupi vivia em guerra permanente contra as demais tribos alojadas em sua área de expansão e, até mesmo, contra seus vizinhos da mesma matriz cultural; ref. Fernandes, (1952) Disputas por sítios mais privilegiados ou antropofagia ritual; Quanto a este último, cerimônias de caráter cultural co-participado: quase imperativo capturar um guerreiro do próprio grupo Tupi, mesmo conjunto de
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valores, guerreiro altivo;
Ref. Hans Staden: não se comia um covarde; A antropofagia também expressa o atraso ‘relativo’ dos povos Tupi: um cativo rendia pouco mais do que consumia; Muitos outros povos indígenas tiveram papel na formação do povo brasileiro: Paresi: escravos preferenciais, por sua familiaridade com a tecnologia dos paulistas antigos; Bororo, Xavante, Kayapó, Kaikang, Tapuia: inimigos irreconciliáveis; O contraste maior se registrou entre os mamelucos e os Guaikuru (índios cavaleiros)
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“Guerreiros agigantados, mutíssimo bem proporcio-
nados”...(35); antes da chegada do europeu, os Guaikurus já impunham sua suserania sobre povos agrícolas Fizeram várias alianças com os espanhóis e rapida- mente aprenderam a praticar o escambo, preando escravos negros e também senhores e senhoras europeus e muitíssimo mamelucos, tantos quantos pudessem, para vender em Assunção; Os Guaikurus estiveram, alternativamente, aliados com espanhóis e com lusitanos, sem guardar fidelidade a nenhum deles
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A Lusitanidade: O invasor (português) representava “...a presença local avançada de uma vasta e vetusta civilização urbana e classista; Outro coordenador, era a Igreja Católica, junto ao Santo Ofício: “...ouvindo denúncias e calúnias na busca de heresias e bestialidades, julgava, condenava, encarcerava e até queimava vivos os mais ousados”; (38) “...a estrutura civilizatória que se impunha sobre o Brasil nascente...era uma conglomerado interativo de entidades equivalentes em ativa competição”... (38)
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Espanha, Inglaterra, Holanda, Roma, o Vaticano e a
Santa Sé, ‘centro de legitimação de qualquer empreendimento mundial’: “...estados mercantis armados, hostis entre si, mal e mal contidos pela regência papal”...(38) O complexo do poderio português vinha sendo ativado nas últimas décadas: revolução mercantil, nova tecno- logia, nau oceânica com velas de mar alto, leme fixo, bússola, astrolábio, canhões de guerra; Outros: tipografia (Gutemberg), ferro fundido (utensílios e apetrechos de guerra; Em síntese, a soma do espírito dominador com a ciência empírica dariam, como resultado, o processo civilizatório
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que, por sua vez, dera nascimento a dois Estados
Nacionais: Portugal e Espanha. “Não era assim, naturalmente, que eles se viam... eles se davam ao luxo de propor-se motivações mais nobres que as mercantis, definindo-se como os expansores da cristandade católica sobre os povos existentes e por existir no além-mar” (39) As Cruzadas Assim foi que o Vaticano legitimou, como antiormente o fizera com o continente Africano, a posse do Novo Mundo, por Portugal e Espanha, desde que fossem ‘subjugados’ à Fé Católica:
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“...por nossa mera liberalidade, e de ciência certa, e em
razão da plenitude do poder Apostólico, todas as ilhas e terras firmes achadas e por achar, descobertas ou por descobrir, para o Ocidente e o Meio-Dia, fazendo e construindo uma linha desde o pólo Ártico...quer sejam terras firmes e ilhas encontradas e por encontrar em direção a Índia, ou em direção a qualquer outra parte, a qual linha diste de qualquer das ilhas que vulgarmente são chamadas dos Açores e Cabo Verde cem léguas para o Ocidente e o Mei-dia...A Vós e a vossos herdeiros e sucessores (reis de Castela e Leão) pela autoridade do Deus onipotente a nós concedida em S. Pedro, assim como do vicariado de Jesus Cristo, a qual exercemos na terra, para sempre, no teor das presentes, vô-las doamos, concedemos e entregamos com todos os seus domínios, cidades, fortalezas, lugares, vilas,
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direitos, jusrisdições e todas as pertenças. E a vós e aos
sobreditos herdeiros e sucessores, vos fazemos, constituímos, e deputamos por senhores das mesmas, com pleno, livre e onímono poder, autoridade e jurisdição. ...sujeitar a vós, por favor da Divina Clemência, as terras firmes e ilhas sobreditas, e os moradores e habitantes delas, e reduzi-los à Fé Católica... (in Macedo Soares, 1939:25-8) ************************************ Ref. Bibliográfica: RIBEIRO, Darcy – “Matrizes étnicas” cap. 01 in O Povo Brasileiro, SP: C&a das Letras, 2005
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“Moinhos de gastar gente”
Os afro-brasileiros Os negros do Brasil foram trazidos principalmente da costa ocidental africana; Três grandes grupos: 1- Yoruba – Nagô 2- Dahomey – Gegê 3- Fanti-Ashanti – Minas E representantes de grupos menores da Gâmbia, Serra Leoa, Costa da Malagueta e Costa do Marfim O segundo grupo trouxe ao Brasil culturas africanas islamizadas, como exemplo os Peuhl, Mandinga, Haussa, do norte da Nigéria, identificados na Bahia como negros malê e no RJ como negros alufá.
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O terceiro grupo cultural africano era integrado por
tribos Bantu, do grupo congo-angolês, provenientes da área hoje compreendida pela Angola e a ‘Contra Costa’, que corresponde ao atual território de Moçambique; “tal como ocorrei aos brancos, vindos mais tarde a integrar-se na etnia brasileira, os negros, encontran- do já constituída aquela proto-célula luso-tupi, tiveram de nela aprender a viver, plantando e cozinhando os alimentos da terra, chamando as coisas e os espíritos pelos nomes tupis incorporados ao português, fumando longos cigarros de tabaco e bebendo cauim” (114)
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Os contingentes negros introduzidos no Brasil
possuíam diversidade lingüística, cultural e eram hostis entre si; Ficaram dispersos na terra nova e ... foram compeli- dos a incorporar-se passivamente no universo cultural da nova sociedade; Acabaram conseguindo aportuguesar o Brasil, além de influenciar de múltiplas maneiras as áreas culturais onde mais se concentraram, o Engenho (nordeste Açucareiro) e a Mina (centro do país); “O negro transita, assim, da condição de boçal – preso à cultura autóctone e só capaz de estabelecer uma comunicação primária...à condição de ladino –
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já mais integrado na nova sociedade e na nova
cultura” ;(116) Concentraram-se nas áreas de atividade mercantil e exerceram um papel decisivo na formação da sociedade local; Difundiram a língua do colonizador, ensinaram aos escravos recém-chegados as técnicas de trabalho, as normas e valores próprios da subcultura a que se viam incorporados; Ainda assim, exercem influência com o pouco que puderam preservar da herança cultural africana; Esta, não podia expressar-se nas formas de adaptação por diferir no plano ecológico e tecnológico – nem tampouco nos modos de associação, por estarem
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rigidamente prescritos pela estrutura da colônia como
escravos; Assim, a herança cultural africana sobrevivei princi- palmente, nas crenças religiosas e nas práticas mágicas; “Junto com esses valores espirituais, os negros retêm, no mais recôndito de si, tanto reminiscências rítmicas e musicais, como sabores e gostos culinários” ;(117) “essa parca herança africana – meio cultural e meio racial, associada às crencas indígenas, emprestaria entretanto, à cultura brasileira uma singular fisiono- mia cultural”; (117) “Conscritos nos guetos de escravidão é que os negros brasileiros participam e fazem o Brasil participar da civilização de seu tempo” (117)
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“De fato, era o Brasil que se construía a si mesmo
como corresponde à sua base ecológica, o projeto colonial, a monocultura e o escravismo, do que resulta uma sociedade totalmente nova” ;(118) “A empresa escravista, fundada na apropriação de seres humanos através da violência mais crua e da coerção permanente, exercida através dos castigos mais atrozes, atua como uma mó desumanizadora e deculturadora de eficácia incomparável. Submetido a essa compressão, qualquer povo é desapropriado de si, deixando de ser ele próprio, primeiro, para ser ninguém ao ver-se reduzido a uma condição de bem semovente, como um animal de carga; depois, para
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ser outro, quando transfigurado etnicamente na linha
consentida pelo senhor, que é a mais compatível com a preservação dos seus interesses”; (118) “Nenhum povo que passasse por isso como sua rotina de vida, através de séculos, sairia dela sem ficar marcado indelevelmente. Todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles pretos e índios supliciados. Todos nós brasileiros somos, por igual, a mão possessa que os supliciou”;(120) ******************************
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Os neo-brasileiros As comunidades neobrasileiras nascentes abrangiam maior número de membros do que as aldeias indígenas, liberando parcelas crescentes deles das tarefas de subsistência para o exercício das funções especializadas; Além disso, incorporaram “todos eles numa só identidade étnica, estruturada como um sistema socioeconômico integrado na economia mundial” (121) Apesar de alto grau de auto-suficiência, dependiam de artigos importados, tais como metal, sal, pólvora, etc. Exportavam, principalmente, o ‘paude-tinta’, depois o índio como escravo e, a produção de alguma
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mercadoria de exportação;
Durante muito tempo a população básica desses núcleos coloniais neobrasileiros exibiria uma aparên- cia muito mais indígena que negra e européia; O idioma tupi foi a língua materna de uso corrente até meados do séc. XVIII: nheengatu, língua geral, variante pouco diferenciada do guarani; Enorme área lingüística tupi-guarani(corresponde aos territórios atuais do Brasil, Paraguai e Uruguai); A língua portuguesa substituiu a língua geral dos brasileiros no curso do séc. XVIII; No Rio Negro, até o séc. XX se falava a língua geral.
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O mesmo processo de sucessão ocorre com a
tecnologia produtiva. Inicialmente só indígena, vai sendo substituída por técnicas européias: “ ...instrumentos de ferro, machados, facas, facões, foices, enxadas, anzóis -; das armas de fogo para a caça e para a guerra; de aparelhos mecânicos, como a prensa, que às vezes substituiu o tipiti indígena trançado de palha; do monjolo, grande morteiro de água onde se pila o milho; das moendas de espremer cana; da roda hidráulica, do carro de boi, da roda do oleiro, do tear composto, do descaroçador de algodão e, ainda, dos tachos e panelas de metal, que substituíam o torrador de cerâmica para o tratamento
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da farinha de mandioca; e, por fim, dos animais
domésticos – galinhas, porcos, bois, cavalos -, utiliza- dos para a alimentação, caça, transporte e tração”; (124) O modo de habitação também se modifica. No lugar da maloca indígena, surge a técnica de edificação com o emprego da taipa e do adobe cru, nas casas humildes e tijolos, pedras, cal e telhas para as senhoriais; Os elementos aglutinadores são um comando administrativo e político, representado localmente pelas autoridades seculares e eclesiásticas, e uma gerência sócio-econômica a cargo do empresariado de produtores e comerciantes;
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Estrutura de poder: componente rural e urbanos;
Subestrutura da rede metropolitana européia. ****************** Os brasileiros O nome Brazil geralmente identificado com o ‘pau- de-tinta’ é, na verdade, muito mais antigo. Velhas cartas e lendas do mar-oceano traziam registros de uma Ilha Brasil referida provavelmente por pescadores ibéricos que andavam à cata de bacalhau; Os mapas mais antigos da costa já a registram como ‘brasileira’ e os filhos da terra foram, também, desde logo chamados ‘brasileiros’; O uso do nome gentílico, só surgiria muito depois.
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“O gentílico se implanta quando se torna necessário
denominar diferencialmente os primeiros núcleos neobrasileiros, formados sobretudo, de brasilíndios e afro-brasileiros, quando começou a plasmar-se a configuração histórico-cultural nova, que envolveu seus componentes em um mundo não apenas diferente, mas oposto ao do índio, ao do português e ao do negro”; (127) “É bem provável que o brasileiro comece a surgir e a reconhecer-se a si próprio mais pela percepção de estranheza que provocava no lusitano, do que por sua identificação como membro das comunidades socio- culturais novas, porventura também porque desejoso de remarcar sua diferença e superioridade frente aos
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indígenas”; (127) “O primeiro brasileiro consciente de si, foi, talvez, o mameluco, esse brasilíndio mestiço na carne e no espírito, que não podendo indentificar-se com os que foram seus ancestrais americanos – que ele desprezava - , nem com os europeus – que o despre- zavam -, e sendo objeto de mofa dos reinóis e dos lusonativos, via-se condenado à pretensão de ser o que não era nem existia: o brasileiro” ;(128) Soma-se ao mameluco, o mulato: “Além de ajudar a propagar o português como língua corrente, esses mulatos, somados aos mamelucos, formaram logo a maioria da população que passaria, mesmo contra sua vontade, a ser vista e tida como a gente brasileira”
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“...enquanto neotupis é que os núcleos mamelucos
brasileiros opunham-se às outras matrizes indígenas – tratando-as genericamente como tapuias...” (130) “O Brasil é a realização derradeira e penosa dessas gentes tupis...latinos tardios de além-mar, amorena- dos na fusão com brancos e com pretos, deculturados das tradições de suas matrizes ancestrais, mas carregando sobrevivências delas que ajudam a nos contrastar tanto com os lusitanos”; (130) “O brasilíndio como o afro-brasileiro existiam numa tera de ninguém, etnicamente falando, e é a partir dessa carência essencial, para livrar-se da ninguendade de não-índios, não-europeus e não-negros, que eles se vêem forçados a criar a sua
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Própria identidade étnica: a brasileira”; (131)
“O surgimento de uma etnia brasileira, inclusiva, que possa envolver e acolher a gente variada que aqui se juntou, passa tanto pela anulação das identificações étnicas de índios, africanos e europeus, como pela indiferenciação entre as várias formas de mestiçagem, como os mulatos (negros com brancos), caboclos (brancos com índios) ou curibocas (negros com índios)”. (131) ************************ Ref. Bibliográfica: RIBEIRI, Darcy – “Moinhos de gastar gente”, capítulo 2, in O Povo Brasileiro – SP:C&a das Letras, 2005
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