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Capítulo IV De Virgulino a Lampião   “Mas o destino impiedoso,

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Apresentação em tema: "Capítulo IV De Virgulino a Lampião   “Mas o destino impiedoso,"— Transcrição da apresentação:

1 Capítulo IV De Virgulino a Lampião “Mas o destino impiedoso, Foi cruel para comigo. E a sorte caprichosa Me impôs este castigo. Quando eu não esperava Nem em tal coisa pensava Tinha terrível inimigo!” Lampião

2 Pelo ano de 1894 apareceu na ribeira do Pajeú, em Pernambuco, à procura de trabalho, um rapaz de cor branca e bem apresentável. A sua idade devia orçar pelos 25 ou 26 anos. De estatura pouco acima da mediana, era homem musculoso e possante. Tinha um olhar comunicativo e penetrante qual águia, e vivacidade que denunciava uma indomável energia. Chamava-se José Ferreira da Silva. Caboclo resoluto estava ali! Ativo e trabalhador de gênio expansivo e folgazão, estava ele sempre disposto, pronto a acorrer solícito em auxílio de quem quer que lhe pedisse os seus préstimos. Tempos depois José Ferreira constituiria família, contraindo núpcias com uma jovem da localidade, Maria Lopes, tendo-se revelado sempre bom e zeloso chefe da numerosa prole que lhe dera o matrimônio. Teve nove filhos: Antônio, Livino, Virgulino, Virtuosa, João, Angélica, Ezequiel, Maria (conhecida como Mocinha) e Anália. A sua propriedade denominava-se Passagem de Pedras, um pedaço de terra desmembrado da fazenda Ingazeira, pertencente a Manuel Ferreira de Lima, às margens do Riacho São Domingos, situado no município de Vila Bela, Pernambuco.

3 Homem diligente e trabalhador incansável, em poucos anos conseguiu transformar, com sacrifício, sua sitioca num aprazível logradouro em que botou prosperação: umas trinta reses, alguns animais, roçados de algodão-mocó e de legumes, e sobretudo uma tropa de doze fortes burros, bem arreados, de almocrevar. Além de bom peão, exímio vaqueiro e agricultor, cumulava também a profissão de almocreve.1 É a almocrevia mais uma das formas que os desventurados habitantes daquelas plagas longínquas, relegadas por governos e regimes ao mais criminoso olvido e abandono, desenvolveram a fim de garantir a sobrevivência. Essa rude e penosa tarefa era desempenhada por ele e por seus filhos chegando a cobrir distâncias de trezentos a quatrocentos quilômetros por cidades, vilas e povoados para vender as mercadorias que levavam, viagem cuja duração é indefinida podendo ser de quinze dias a um mês, tangendo burros que carregavam fardos de aproximadamente 80 quilos com um ganho miserável!

4 Seus vizinhos eram, de um lado, Manuel Ferreira de Lima e, de outro, João Nogueira. O primeiro era completamente diferente do segundo. Este, soberbo e ambicioso, queria ser o maior fazendeiro daquela ribeira e com pretensões à chefança política da mesma. E se mordia de inveja e despeito diante da crescente prosperidade de Manuel Ferreira, incansável empreendedor cuja fazenda crescia nas vistas e se avantajava das mais em toda a ribeira, e com quem jamais pôde brigar, dado o bom senso e tenência do próprio Manuel Ferreira de Lima.  Pegada com a Ingazeira, pelo lado do norte, estava a fazenda Pedreira, acrescida com a fazenda Maniçoba. Pertencera ao finado Saturnino Alves de Barros, casado com D. Alexandrina, “D. Xanda”. De seus dois filhos, um se tornaria célebre: José Alves de Barros, conhecido por Zé Saturnino. Indubitavelmente, servindo também de instrumento à inveja e ambição daquele que veio a se tornar seu sogro, João Nogueira, foi ele o causador da transformação do vaqueiro-almocreve Virgulino no cangaceiro Lampião.

5 Alto, magro, “esperto”, mas segundo testemunhos fidedignos de familiares seus e de quem com ele lidaram, era Zé Saturnino “prepotente e arreliado, gostava de provocar e afrontar os mais”, “de pisar no cangote”. “De maus bofes, era odiento e vingativo. Encanecido e pisado pelo tempo e pelas lutas, por remorsos e pavores, se traiu no ódio sopitado e insatisfeito contra os irmãos Ferreiras, depois de mais de quarenta anos já mortos! A questão, começada e sustentada por Zé Saturnino contra os Ferreiras, não se originou de uma causa única como afirmam alguns historiadores, mas de uma longa série de causas ou co-causas que se encadearam num entrecho crescente até o rompimento definitivo com suas funestas conseqüências para toda a região do Nordeste. Além da já mencionada causa oculta, íntima e estimulante, ou seja, a incontrolável inveja e ambição de João Nogueira, houve uma causa primeira para o início das desavenças entre Zé Saturnino e os Ferreiras.

6 Cultivei a minha paixão Amei uma flor mimosa Filha lá do meu sertão
Quando no viço de seus dezessete anos, gostara Virgulino de uma jovem, Santina Lopes da Silva, a quem ele chamaria de Flor Mimosa do Sertão em formosos versos de fina sensibilidade amorosa. Tive até meus amores Cultivei a minha paixão Amei uma flor mimosa Filha lá do meu sertão Sonhei de gozar a vida Bem junto à prenda querida A quem dei meu coração. O porém da história foi ter aparecido um rapaz da mesma idade de Virgulino e parente de Zé Saturnino, o qual se tomou de paixão encegueirada pela mesma donzela, apesar de não correspondido e até mesmo repudiado por ela. Num dia de sol ipiaça, arado pela roedeira do ciúme, foi o tal esperar Virgulino que ia em caminho do bebedouro da fazenda.

7 Todo raposeiro, fez-lhe perguntas ciumentas, desafiando-o e arrepiando-se amolestado para cima de Virgulino. No entanto, não teve sorte nem sustança na empreitada: apanhou muito. Por esse motivo, ficaram os parentes do moço apanhado queixosos, ressentidos, abafados. Os recalques sertanejos se acentuam pelo isolamento em que vivem. Seu campo de imagens é reduzido ao pequeno e invariável mundo que os cerca, donde a facilidade de fixação de lembranças, principalmente dos fatos quentes. Não se esquecem de nada, seja o mal, seja o Bem. De uma faúlha tudo pode ser fatível. Mesmo de dentro da cinza podem ser gerados incêndios. Questão de oportunidade, somente. De início estabeleceu-se a má vizinhança. De quando em vez, nas terras dos Ferreiras apareciam cabras surradas, bodes de orelhas cortadas, ovelhas com pernas quebradas ou simplesmente o sumiço de bodes e cabras. Daí sucederam-se, desavenças, insultos, provocações e brigas que a cada dia faziam aumentar ainda mais a tensão entre as partes adversas, passando as hostilidades a ter um caráter ostensivo, de atritos pessoais numa progressão perigosa e imprevisível de conseqüências.

8 Houve então uma causa determinante que transformaria Virgulino em Lampião. Zé Saturnino, já de caso pensado para uma invasão e tomada da fazenda Ingazeira (dos Ferreiras), construiu uma cerca para situar um roçado sobraçando bons pedaços de terra daquela fazenda. Os Ferreiras, certos de seu direito de propriedade, desmancharam a cerca. Nisso, o gado da Ingazeira, pastoreando por essa fronteira aberta, invadiu a área de Zé Saturnino. Este ordenou a um cabra seu, Olímpio Benedito: “Quando os Ferreira vinhé, junta o gado na broca, chame o Chico Morais Arves (outro cabra) e infinque bala neles. O rifle tá aqui no canto cum a cartucheira”. No dia seguinte, 13 de outubro de 1917, pelas seis da manhã, os três irmãos, encourados em trajes de vaqueiro e desarmados, chegaram para rever o gado e na mesma hora Olímpio deu garra do rifle e deu três tiros com o objetivo de atingir os rapazes, só não conseguindo porque era a primeira vez que atirava com aquele tipo de arma. Em 14 de outubro houve troca de tiros, e no dia 15 rompeu um tiroteio violento e rápido, que durou de dez a quinze minutos, ficando, de início, Antônio Ferreira, o primogênito, ferido com um balaço que lhe pegou na região do apêndice. Retiraram-se os Ferreiras sem que os inimigos tivessem coragem de lhes seguir no encalço.

9 Pela primeira vez na vida Lampião atirava em gente! Contava ele dezenove anos. José Ferreira tomou um burro e foi à cidade dar parte e instaurar processo contra as sucessivas ameaças e provocações de Zé Saturnino, culminadas com o baleamento de seu filho. Ora, a “justiça”, subalterna ao mais “forte”, sempre fugira de atender a um justo reclamo de sua alçada e que poderia dar cabo de tais malquerenças e estabelecer a paz em definitivo.2 Diante do fracasso, voltou José Ferreira para casa, humilhado, desfazido, sofrido, e sem tino para encontrar solução. “A besta-fera se soltou” – exclamava D. Jacosa. Foi quando os Ferreiras compreenderam que tinham diante de si um “terrível inimigo”, o inimigo número um: Zé Saturnino. Na estrofe, sincera e sentida, que abre este capítulo, Lampião lamentou as imposições do destino.

10 Tamanha era a maldade e a insistência do terrível vizinho, tão vis os ultrajes à dignidade e tão baixos os insultos que aquele lhes desferia, que era difícil suportar tudo aquilo sem uma reação violenta, e só mesmo com muito amor ao sossego e vontade grande de viver em paz! José Ferreira, homem eminentemente pacífico, ponderou seriamente a precariedade de sua situação: os adversários apatacados, muito numerosos, com todo o apoio político, cheios de império, rancorosos e vingativos. Do seu lado, conhecia de sobejo a natureza de seus filhos, puxados à mãe, do sangue quente dos Lopes, indômitos e terríveis nas reações contra quem tentasse espezinhá-los, a ponto de lhe ser difícil, a ele, pai, contê-los, apesar de serem muito respeitosos e obedientes. Achou por bem sacrificar os seus precatos e mudar-se, mesmo na aventura da incerteza, para distante, esperando assim obter, dos antagonistas, a paz e o direito de trabalhar e viver como cristão.

11 Por iniciativa de Cornélio Soares, um amigo, para dar compensação de garantia a José Ferreira, estabeleceu-se um acordo mútuo entre as partes litigantes – os três irmãos Ferreira e Zé Saturnino com João Nogueira e seus dois filhos, Zé e Neneco - de não irem às ribeiras uns dos outros. Nenhuma restrição aos demais membros das famílias. Um leve sereno de esperança e paz parecia cobrir de refrigério o espírito de José Ferreira e de toda a gente daqueles esquisitos. Nos começos de janeiro de 1918, José Ferreira, com grandes prejuízos, vendia sua parte na Ingazeira, mais uns tantos terrenos e bichos. Além do sinal, nada mais o velho Zé Ferreira recebeu! Pela derradeira vez, circunvagueou o olhar marejado em volta, fazendo cera na contemplação daqueles chãos que traziam o sinal e as marcas de seu coração: sua primeira propriedade, o início de sua vida independente, o recanto de suas labutas e sonhos, o berço de seus amores representados por sua esposa e seus nove filhos...

12 Casa onde nasceu Lampião
Rumou a família para Poço do Negro, distrito de Floresta. No caminho, cada batida das apragatas era uma pancada no coração. Ali, numa pequena casa de taipa se instalaram enquanto se faziam urgentes reparos na bastante destiorada casa de alvenaria de tijolo da fazenda. Virgulino, com sua inteligência e habilidade para tudo, tomou parte nos consertos, improvisando-se de pedreiro. Retomaram, José Ferreira e seus filhos, o ritmo normal de trabalho: campo e almocrevia. Contudo, cultivavam os Ferreiras a alegria de viver. Gente boa e amiga, promoveram festas e casaram Virtuosa, todos anchos de felicidade, porque era o primeiro casamento na família Casa onde nasceu Lampião

13 No mês de julho, houve festa em Poço do Negro em homenagem ao Senhor São João, dentro dos sentimentos religiosos de devoção e das folganças tradicionais. Parentes, amigos, convidados, chegando e recebidos, nos alegrados dos cumprimentos de praxe, pelo anfitrião José Ferreira: “Têja a gosto. Faça de conta qui tá na sua própria casa”. As donzelas, com vestidos de chita estampada e flocados de babados e fitas, rescendendo a água de cheiro, flor no cabelo e rosto empoado, dengo no olhar e graça no sorriso brejeiro, se divertiam na arte da galantaria e dos namoriscos com a rapaziada garrida e aromada, de camisa listrada e chapéu de palha, a malinagem mucicando a natureza.

14 “Cantemo e lovemo. Apois é o que Deus qué, Sinhô São João Batista.
Na sala de visitas da casa, encostado na parede, ornada com flores de papel de seda de mistura com ramos de melindre e festões de bambu e alfinete, via-se o pequeno santuário de cedro, com o quadro de vidro emoldurado, do Senhor São João Batista, todo enfeitado de fita de cores variadas e de flores naturais: angélicas, cravos e beneditas. Às sete da noite, enquanto lá fora espoucavam, a intervalos, os foguetes de três bombas, dentro da sala, acendidas as velas de cera, deu-se início à reza da “Novena” tirada pela voz forte e segura da “puxadeira” Tia Jacosa: terço, ladainha cantada em honra a Nossa Senhora, responsos, orações e cânticos. Tudo arrespondido no “fino” e no “grosso”, arrastado, longo, repetido, sonolento. “Cantemo e lovemo. Apois é o que Deus qué, Sinhô São João Batista. Ele é fio de Isabé, Tombém de Zacaria, É primo de Jesus E subrinho de Maria...”3

15 Em seguida, era a cerimônia da Beijação, na qual, acompanhada de música característica Zabumba4, em movimentos combinados e conservando o ritmo do passo, todos, um a um – observados pelos circunstantes em volta, respeitosos apreciando – se ajoelhavam diante do oratório, beijavam o Santo, recebiam um “relique” (fita com a medida do Santo) e depositavam sua esmola no prato ao lado, como tributo espontâneo de auxílio, enquanto o coro, cantando, disciplinava: “De um a um, Ao pé do artá Se ajoei premero Pra pudê beijá Sinhô São João Nossa proteção”.

16 Atiradores, na banda de fora da casa, papoucavam o oco do mundo, com as descargas medonhas de seus bacamartes e reúnas para despertar o Senhor São João no céu! Findo o ritual religioso, enquanto a fogueira pegava, os convivas provavam das tradicionais canjica e pamonha, do milho cozinhado e do café, fumegante e cheiroso, torrado no caco e adoçado com rapadura. No borralho da fogueira, crepitando e alumiando mais a madrugada, assavam-se espigas de milho, enroladas na própria palha e batata doce com casca. Estrondavam os foguetões de bomba anunciando o princípio da festa! Primeiro a quadrilha.5 O tocador de harmônico, acompanhado de triângulo, reco-reco e maracá, dera o sinal para começar. marcas eram tiradas por Virgulino, o grande animador de toda festa, lá no francês dele: “anarriê” (en arrière), “alevantú” (elevez tous), “chãdidama”, (Chantez, dames!) “outrefuá” (autre fois)... Os pares avançavam, recuavam, girando e girando no balancê embriagante da animação.

17 O melhor da festa, além do baião, era dança do coco de roda, formada de pares em torno da fogueira. Vez por outra, o próprio Virgulino, ao mesmo tempo em que fazia o fole gemer nas suas hábeis mãos, tirava no repente as loas, bolindo com os presentes, que respondiam em coro, sapateando e batendo palmas com as mãos encovadas para dar som grave, no movimento gingado do passo e furta-passo. (Vale dizer que Virgulino era vigoroso e fluente nos “repentes” da poesia improvisada, a qual requer grande agilidade mental, prontidão de espírito e inteligência viva. Naquele tempo, como depois do cangaço, ocasiões houve em que ele manteve longas conversas em versos no repente, enquanto seu interlocutor falava em prosa!)

18 Eram assim os Ferreiras: gente sociável, boa e amiga, cultuando a alegria de viver, sobressaindo-se Virgulino, que mais tarde no cangaço, transformaria seu bando em guerrilheiros alegres, tocando, xaxando e cantando até nos combates: “Meu rifle atira cantando Em compasso assustador. Faz gosto brigar comigo Porque sou bom cantador. Enquanto meu rifle trabalha Minha voz longe se espalha Zombando do próprio horror!”

19 Porém, a distância em que estavam em relação a Zé Saturnino era muito curta para não sofrerem a influência peçonhenta de seu ódio. Assim, os irmãos Ferreiras em Nazaré eram considerados forasteiros, não eram vistos com bons olhos porque tinham vindo de brigas e no ar pairavam desconfianças, na verdade, resultantes de venenos destilados pelo inimigo, que não perdia ocasião para mansiná-los. Essas más inculcas lhes sabotavam contatos e a formação de amizades. Enfim, Zé Saturnino, inconformado com a modesta recuperação dos Ferreiras, muito embora através do trabalho honesto, não manteve o compromisso firmado de não mais os perseguir. - Qual o quê! Trato com cabras ruim não vele nada... – sempre repetia ele.

20 E num dia de feira, no mês de setembro, acompanhado de uns cabras e armado até os dentes, invadiu Zé Saturnino a cidade de Nazaré com o pretexto de cobrar um tal de Agripa Eusébio o pagamento de um cavalo, que o mesmo lhe comprara fiado. Nisto, vem chegando Virgulino para a feira. Desse dia em diante fechou-se o tempo e novos tiroteios tiveram vez entre os inimigos, sempre, até então, com os Ferreiras na defensiva e, do outro lado, um despotismo cruel num disparate de tiros que despejavam sem nenhum motivo. Depois desses acontecimentos, compreendeu Virgulino para onde o destino irresistível o empurrava: “a prevalência do destino”, conforme ele chamava. O terrível inimigo não queria deixá-los viver em paz, nem mesmo viverem somente. Teria de enfrentá-los para não se acabar. A aturação passara da conta, e era ele, como todo sertanejo, paciente, mas não era tolerante não! Iria mostrar que onça não se cutuca com vara curta. Não ficaria mais na defensiva, nem na desvantagem, a bem dizer, sozinho, com seus dois manos. O inimigo tinha pessoal numeroso, era cheio de recursos e tinha o apoio da política.

21 José Ferreira, perdidas de vez as esperanças de paz, vivia apreensivo e sem atinar no rumo dos avexamentos e perseguições de volta. E agora piores, se intensificando. Sentia também, ia enfraquecendo a autonomia para conter e controlar o ardor dos filhos inconformados, já virando a cabeça. Zé Saturnino, segundo tudo indicava, estava resolvido a desgraçá-los de qualquer maneira embora fosse tão grande o mundo, e isso porque considerava incômoda a existência deles para a expansão dos seus “domínios”. Diz Tolstoi que a miserabilidade do espírito humano pode mudar a máscara quantas vezes entender, mas nunca esses disfarces conseguirão alterar o aspecto do focinho imundo, que será sempre o mesmo em toda parte. Homens como Saturnino, egoístas, invejosos, insuportavelmente insistentes e maus, costumam não lembrar-se de que quando se faz a desgraça dos outros ela pode os alcançar de ricochete.6 Zé Saturnino

22 Admitia, enfim, José Ferreira, que tinha um inimigo irreversível, o qual, abertamente declarava, queria fosse ele com toda a família para muito longe. Mas, para onde? Com que recursos? Os negócios se esmilingüindo naqueles tempos ruins, prejuízos crescendo, aperturas de vida, e pior de tudo, a doença da querida esposa. Desde os choques emotivos provenientes de atentados e emboscadas contra a vida de seus filhos, tendo saído ferido o primogênito Antônio, começaram a aparecer nela umas agonias estranhas, os primeiros sintomas de graves distúrbios cardíacos. 1919: ano repleto de acontecimentos trágicos. O Pajeú pegando fogo! Renhidos combates entre os Pereiras e os Carvalhos, experiências dos irmãos Ferreiras no cangaço, perseguições à família Ferreira, grande seca, miséria e fome. Ano marcante na história do Vale.

23 Em dias de janeiro, Virgulino, simulando acompanhar seus irmãos numa viagem de almocrevia, rumeou no destino da vila de São Francisco para uma visita a Sinhô Pereira, famoso cangaceiro e chefe de numeroso grupo. Dentro de seus novos planos estava o de obter o apoio de Sinhô Pereira e de conhecer, na observação e convivência, a vida do cangaço. Logo de chegada, aqueles dois jovens, de evidentes afinidades, mesma compleição e quase da mesma idade, se compreenderam e afeiçoaram. Ambos naturais daquelas ribeiras carrasquentas, secas e sempre conflagradas. Sebastião Pereira, nascido de uma família em contendas políticas cruentas e delas participando, era um belígero. Virgulino, nascido e vivido no trabalho, conhecia apenas de longe, através de narrações e literatura de cordel, a vida e façanhas do cangaço. Ambos com o futuro e os ideais de vida retalhados em plena juventude por questões de intrigas com os mesmos inimigos rastejando à sombra sinistra de João Nogueira. Estavam ligados, pois, seus corações na amizade e nos destinos.

24 Diariamente, danças e serenatas em homenagem festiva ao prazeroso visitante. De golpe e de vez, conquistou a admiração geral dos mais todos, principalmente em dois fatos revelantes de sua inteligência e habilidade, pontaria e agilidade: 1: O pulo. Apostava, no ato de pular uma janela, e através de um único pulo rápido, quem seria capaz de dar cinco tiros de rifle acertando numa estaca a sete braças na frente colocada. Uma cumandita de cabras (mais de sessenta) experimentou. Apenas um conseguiu três tiros, assim mesmo à toa, fora da mira, esbandaiados. Os demais, um ou dois tiros a esmo. Virgulino era um gato na ligeireza. Fazia carreira, encolhia-se no salto pela janela, o rifle apontando em riste e disparava cinco tiros no alvo certo, caindo de cócoras do outro lado, pernas abertas e firmes, com outra imediata descarga fincada no mesmo ponto marcado! “Visse? – dirigia-se a todos Sinhô Pereira examinando a estaca perfurada – não errou um tiro!” O pulo...

25 2: O nome “Lampião”. Botou-se Virgulino, pela primeira vez, para consertar armas de fogo defeituosas, destioradas. Desmontava e remontava os fechos, raspava e areava as porções enferrujadas, fazia retumbamento, substituía as partes desgastadas por outras que, naquelas precárias condições, conseguia ele próprio fabricar, untando tudo com azeite de carrapato a modo de ficarem doces no manejo. Um perfeito armeiro. Nessas operações aprendeu o mecanismo acionador das armas de repetição. Não conhecia as automáticas, inexistentes naquela época no Nordeste. Foi aí então que se evidenciou a inteligência criadora e engenhosa de Virgulino ao descobrir por um meio tão simples – um lenço! – o jeito de tornar o rifle uma arma de maior rendimento. É, a famosa peia, invento seu.

26 Com o lenço prendia Virgulino a tecla do gatilho à alavanca de manejo, unindo-os de modo que, em cada movimento da alavanca, o pino do percutor (agulha), liberto, picotava a cápsula fulminante, por si mesmo, sem necessidade de se acionar a tecla. Transformou, deste modo, o rifle (cruzeta ou papo amarelo) de repetição em arma semi-automática, isso porque não dispensava o manejo da alavanca para colocar o cartucho na câmara. Virgulino manejava com tanta rapidez a alavanca do rifle assim peiado que os tiros se sucediam formando uma tocha na boca do cano. Ora, contam-se os tiros pelos clarões sucessivos na boca do cano. Impossível contar os de Virgulino. Era um clarão só, aturado, permanente! Sem nenhuma falsa modéstia, Lampião com toda a convicção disse: “Meu rifle não nega fogo!”. Sinhô Pereira replicou: “Que é isso, Virgulino, rifle que não nega fogo não é rifle, é lampião”.

27 Algazarra da cabroeira toda em torno de Virgulino, que, cheio de entusiasmo mas sem nada dizer, deu início à nova demonstração. Um dos cabras, Fiapo, embasbacado, deixara cair do beiço o cigarro que fumava, e gritou: “Acende de novo o lampião para eu achar meu cigarro”. E o nome pegou. Do rifle para Virgulino. Ao deixar a vila levava a alcunha. “Meu nome é Virgulino. Apelido: Lampião”. Vivia José Ferreira aperriado com a danação da seca, das questões e da doença em casa. Via o seu mundo, que criara com tanto sacrifício, honestidade e amor, ir desabando inexoravelmente. Sua esposa dia a dia se mostrando mais cansada, chegando a ela umas gasturas e ardumes estranhos com agonias de dar cuidado. A almocrevia, esteio de sua economia familiar, afracada.

28 As praças de negócios mais avantajadas, Vila Bela e Triunfo, estavam com os caminhos impraticáveis pela sanha perseguidora e avara de inimigos implacáveis e pelo compromisso assumido pelos irmãos Ferreiras de não se achegarem nas terras dos mesmos. No entanto, nas viagens de almocrevia por outros caminhos, os três irmãos – Antônio, Livino e Virgulino - eram sempre atacados em emboscadas, com trocas de tiros... O clima para os Ferreiras em Nazaré ficava cada vez mais difícil. A propósito de tudo isso e coberto de desgostos, dizia José Ferreira: “Meus filhos, vejam que aqui não posso viver”. E depois aconselhou a não tomarem vingança: “Isso não dá certo. O importante é a vida!” A partir de então, começou a desfazer-se de seus resistentes burros de carquejar. E foi vendendo também o gado, as criações, as miunças antes que se desacabassem à mingua.

29 No mês de novembro do mesmo ano, houve novo convite de Sinhô Pereira e novas experiências no cangaço para Virgulino, desta vez acompanhado de seus dois irmãos. Participou ele, durante um mês, de cinco combates contra as volantes do Capitão José Caetano de Melo. Nessas ocasiões se mostrou exímio, como sempre e em tudo. Sobretudo exímio combatente! Parecia um veterano no cangaço. Lutava com denodo e sustança. Os inimigos temiam, sem saber de quem partiam aqueles precisos tiros, sua excelente pontaria. Era o último a correr nos combates. Se fora ali receber lições, também estava dando as suas. Marcando ascendência, cativando simpatias, liderando... E os cabras já o tratavam pela alcunha de “Sinhô Lampião”. No momento do retorno, Sinhô Pereira, ante o valor de Virgulino, insistiu para que continuasse no grupo, juntamente com seus irmãos. Por si e por seus manos lhe respostou Virgulino: “Ainda tenho pai. Não quero matar meu pai de desgosto”.

30 Na despedida calorosa de toda aquela cabroeira diante do pesar da partida dos valorosos companheiros e tão bons filhos, Sinhô Pereira, apontando com o indicador da mão direita para o alto, inda augurou a Virgulino: “Tenho fé em Deus você voltar com seus irmãos e com seu apelido!” E com o afastamento de todas as famílias Ferreiras, cada vez mais anchos e cônscios de seu poderio ficaram os inimigos. Ainda em 1919, novas invasões aconteceram, rompendo definitivamente o compromisso assumido por parte dos inimigos, e cada vez mais com o apoio tácito de muitos nazarenos, com o quê se indignava Virgulino. E assim, a cada dia mais hostilidades e maior o número de inimigos provocadores em Nazaré, para maior tensão e desgosto para toda a família Ferreira. No primeiro fogo contra os nazarenos, Livino sai ferido com um tiro no braço saindo a bala pelo ombro. Levaram-no preso para Nazaré, donde, foi levado para Floresta e ali tratado, durante quinze dias, com cuidado e competência, pelo padre José Kehrle, vigário da freguesia.

31 Antônio Boiadeiro, homem de preceito e muito cordato, reprovou o erro do incompetente Delegado Américo em prender o moço. Não havendo culpa formada contra o prisioneiro e querendo apaziguar os espíritos, propôs um acordo com Livino e seus parentes ali, sem demora, chegados para solução do caso. O acordo: evitar-se-ia processo criminal com a condição de Livino e seus dois irmãos irem embora, deixando Floresta em paz. Tudo aceito, embora fosse tributo pesado para o pacífico José Ferreira. José Ferreira era homem de palavra, dada e cumprida, qualidade essa de caráter de quem Virgulino muito puxou. Nos conformes do acordo firmado em Floresta tratou logo de retirar seus três filhos do município. Somente que iria também com eles, retirando toda a sua família, mesmo com grandes prejuízos, mais uma vez. Nos primeiros dias de janeiro de 1920, viajaram logo na frente, Virgulino e Antônio. Durante a viagem, Virgulino admitiu que, do modo como iam as coisas, com perseguições e injustiças, não havia outra saída senão o cangaço.

32 Chegando em Tacaratu, Virgulino ficou trabalhando como alugado na propriedade Baltazar, nos misteres da agricultura. Que diferença Virgulino sentiu, dos tempos de antes atrás quando era dono de sua terra e do que era seu, negociando por conta própria nas feiras e a prosperidade lhe sorrindo!... Agora, ali, naquela derrota! A inquietude inquizilava e ardia no espírito de Virgulino. Embirrava no pensamento de tudo o que acontecera em quatro anos de perseguição continuada e dentro de toda versidade de modo. Não podia ficar por isso mesmo, não. Não lhe dizia sempre sua mãe “Não tenho filho para guardar no baú” ? Certo dia, disse ele: “Seu Juca, estou bem aqui, mas preciso tomar umas desforras. Me dê as contas”. Enquanto isso, em Floresta, com a partida dos dois irmãos, as autoridades do município deram liberdade a Livino que, ainda convalescente chegou ao Poço do Negro. O pai logo tratou de arrumar os picuás para a sua segunda mudança ou fuga, forçado pela desdita. Otimista, mesmo naquelas vicissitudes, sonhava José Ferreira com essa coisa que, sem ele perceber, lhe fugira de vez: a paz!

33 Em começos de fevereiro, uma comitiva deixou Poço do Negro, donde ficou somente D. Jacosa com seu filho Manuel. Montada de silhão num burro manso e puxado por José Ferreira, ia D. Maria Lopes. Escanchada na garupa, a sua caçula Anália de oito anos de idade. Ezequiel de dez, e Mocinha, de quatorze anos, iam de escancho noutro burro, ora puxado por João, de dezoito anos, ora tangido por Livino, o braço esquerdo na tipóia. No final, ia o terceiro burro, chamado Condave, que fora o primeiro burro comprado para a almocrevia e muitos serviços prestara. Hoje, estava um caco velho, mas sempre na estimação. Encangalhados nele dois caçuás contendo as “arrumação” ou troços: coisas de arranjos domésticos, isto é, tudo aquilo a que ficara reduzida a de antes bem arremediada família de José Ferreira. Ele, que fora dono de um sítio e sucessivamente de duas boas situações, com suas casas e agregados, que possuía uma tropa de doze burros bem arreados e com cangalhas e apetrechos para carcarejar, que criara mais de trinta reses, vários animais e um ror de criação, estava agora tangido pelo destino, despatriado e decadente!

34 Condave era tangido, a relho, pelo agregado, esse um de toda confiança, Luís Gameleira, que com outros ia no xaxo da apragata. Sacrificoso o espiche dessa retirada de mais de vinte léguas, cheias de travessias, até o momento de esbarrar no destino. A marcha ia segura, mas não podia ser solta na pisada, a modo de não incomodar D. Maria Lopes, e também por causa da quentura do dia alto e do ar duro, mormacento. Mais vantagem e deleitoso viajar no de noite, principalmente sendo clara e doce como vinha sendo. Despaireciam os viandantes diante da contemplação, se sucedendo e sempre de poesia, das paisagens do sertão. Depois de vários dias, perto de Espírito Santo do Moxotó, foram, na surpresa, atacados por gente de Zé Saturnino. Segundo informações posteriores, vinham com partes de querer passar a mão nos burros. A comitiva que seguisse a pé pela estrada tirana, a matalotagem na cabeça...

35 Gameleira, cabra ditriminado, sobrando coragem até para mamar em onça, assumiu a defesa, ripostando com seguridade na troca encarrilhada de bala por bala. Com dificuldade, Livino atirava de pistola com a mão direita. José Ferreira, enquanto pelas rédeas continha os espantos do burro em que estava sua esposa montada, levantando a voz indignado com tamanha covardia gritava os nomes que lhe vinham na hora: Miserave! Miserave! Amolestado da bexiga! Bando de covardes! Satanás!... O outro burro, dos meninos, João dominava. De repente, Condave, assustando-se, desembestou no chouto pela catinga a dentro. Repelidos os atacantes, correu Gameleira atrás dele, pegando-o onde ele parara enganchado pelo cabresto. Recompôs a carga e voltando, pôs-se novamente em marcha a comitiva, vez em vez olhando para trás.

36 Somente no fim da viagem, quando do desarreio dos caçuás, é que se deu fé da falta de um saco, precisamente o que continha a véstia de vaqueiro de Virgulino. Véstia confeccionada a capricho por ele próprio, debruada, cheia de bordaduras coloridas e com suas iniciais VFS bem vistosas no peitoril. Obra-prima sertaneja de beleza e acabamento! Na carreira do burro assustado o saco caíra, e fôra percebido pelos assaltantes, que logo o furtaram. Enfim, depois de sobressaltada e vagarosa viagem, chegaram a Alagoas, à fazenda Olho d’Água de Fora, pertencente a Manuel Francelino. Com alegria e a abraços foram recebidos por Virgulino e Antônio. “Agora espero viver em paz!” – foi a primeira frase do otimista José Ferreira. No entanto, deu vontade a Virgulino de desiludir o pai de tão espevitada crença, mas se teve.

37 Ali fizeram arranchação, ocupando casa de taipa, piso de terra batida, apertada e escura. Alguns dias depois, sem descoroçoar um nada, José Ferreira alugou dois burros, formando com os seus uma tropa de cinco, e mandou seus três filhos almocrevarem. Fizeram algumas viagens sob a proteção do Coronel José Abílio, entretanto, só puderam dar poucas viagens, aliás com bom rédito e lucro. Logo, novos insultos, perseguições e ataques. Os ordeiros irmãos Ferreiras careciam do delegado de Água Branca, Tenente Pedro Nolasco, permissão por escrito a modo de andar armados. Conseguiram, não porém dentro da cidade, o que para eles não constituía dificuldades, pois já costumavam fazer assim. O inimigo porém, não dormia... Não somente os soldados não tomaram as armas, como vergonhosamente apanharam dos valentes e ágeis irmãos Ferreiras. Foram todos os Ferreiras proibidos de entrar na cidade, pouco importando o pretexto sob pena de prisão. Diante de todos esses maus acontecidos provocados pela incessante perseguição de Zé Saturnino, resolveram Antônio Matilde e os irmãos Ferreira dar-lhe uma lição adequada, quebrando-lhe o rabicho pelo cotoco.

38 Depois de cinco anos aturados só na defensiva iriam agora tomar a ofensiva, atacar para acabar, na bala e na ponta da faca, com aquela infernização. Juntando Virgulino os seus e mais cinco cabras, dos bons, que conseguiu com Sinhô Pereira, formou um grupo de quinze homens fortemente armados. Dentro de um plano fulminante traçado por ele, foram arrasadas as fazendas Serra Vermelha, de João Nogueira, Pedreira, de Zé Saturnino, e Mutuca, de Venâncio Barbosa, derrubadas as cercas e depois incendiadas, com as casas, os roçados e o mato. Grossos novelos de fumaça, subindo de uma danação de fogo desparramado, turbava a vista do sol. Nos currais queimados e nos campos crepitando amontoavam-se reses e criações, mortas a tiro ou sangradas, esquartejadas e tostadas, uma carnificina dos diabos, dentro de um inferno de urros e berros de bichos, sofrentes nos estertores e braiados aos gritos e hurras dos atacantes em fúria!

39 No ar o cheiro insuportável da chamusca. Desgraceira completa!...
Arrasados e inconformados os inimigos, iniciaram-se novas batalhas, tiroteios, ferimentos, agora com o apoio total da polícia. Num daqueles dias, havia necessidade de uma mezinha urgente para um dos filhos de Virtuosa, netinho de José Ferreira, doente de dor de ouvido. Não havia outro jeito senão enviar João a Água Branca para comprar na botica. Era ele apenas um rapazote. De certo respeitariam. Assim que João chegou na rua, foram mais logo uns espias dar conhecimento ao delegado que, no mesmo contenente, mandou prendê-lo, sob dito e alegação que, burlando as autoridades, tinha ido, sim, para comprar munição. Depois, certo o Comissário Amarílio de que viriam os corajudos irmãos Ferreiras buscar o preso, ajuntou gente e foi botar emboscada no caminho mais para perto da casa deles. Na casa de José Ferreira todos viam as horas passando e nada de João chegar. Preocupados, queriam os três irmãos ir buscá-lo. O pai não deixou.

40 As horas correndo, apreensivo e angustioso, chegou a tarde e nada do menino. Perderam os três irmãos a paciência e resolveram ir atrás de João, desse no que desse. Ao se achegarem bem próximo da emboscada, descobriu Virgulino o inimigo ensubacado e avisou aos companheiros: “Estamos emboscados”. Num vupe, rompeu tiroteio feroz. Ao cabo de duas horas de fogo, o delegado azoretado e contando goga – que era homem, que fazia isto e aquilo – pisou na poeira! Virgulino e seus quatro, logo após a fuga do comissário, voltaram para casa, quase sem munição. No dia seguinte, valeram-se os irmãos do prestígio dos amigos para a liberdade do prisioneiro. Virgulino, entretanto, enviou um ultimatum ao delegado: “Se até à boca da noite meu irmão não chegar, vou buscar ele de qualquer modo”.

41 Às cinco da tarde, João foi solto
Às cinco da tarde, João foi solto. Pela estrada vinha ele correndo como podia, aperriado e trôpego nos disconformes dos passos, apavorado com o esgüelamento sofrido durante horas, a cabeça zanzando, a goela ardendo de sede, a barriga torcendo de fome, o corpo moído dos maus-tratos. Passara ele trinta e quatro horas preso, injustamente e cruelmente maltratado, sem comer nem beber. E teve a sorte de não ter sido sangrado por um soldado de sorriso insosso e maligno que lambia a faca na sua frente!... À boca da noite, resolveu José Ferreira mudar-se para a fazenda denominada Engenho. Já havia ele falado com o proprietário, o velho Fragoso, e conseguido uma casa desocupada de morador. Verdade é que ficava perto, mas tinha a vantagem de ser em outro município, Mata Grande, cujo delegado era amigo.

42 Em 21 de maio de 1920, ainda madrugada, entre o primeiro e o segundo canto dos galos, reuniu José Ferreira a família e seus haveres, tão poucos! - uma pequena trouxa para cada um. Assim partiram, de mudança pela terceira vez os Proscritos! No arrasto da vida e do destino escuros, quiném aquela noite impenetrável, arrastava José Ferreira a família e a miséria. Caminhava devagar como vagaroso era o seu maginar e raciocinar diante da prepotência do destino nos enigmas das ditriminações divinas. Já perto de chegar, voltou-se consolador para sua esposa e disse com resignação e fé: “Maria, é preciso aceitar a vontade de Deus!”. Ela continuava sempre amurrinhada, desacabando a saúde e a vida. Não se adomava a natureza sua a uma vida assim acuada por toda parte. Sentia-se desinfeliz, sem poder viver. Inda ali não chegara e já as perseguições já recomeçavam. Não tinha vindo para ali fugida delas? E ei-las de novo! Sempre injustas e agora grumitadas pela “autoridade”.

43 Nessas aflições todas, teve D
Nessas aflições todas, teve D. Maria Lopes durante o dia dois passamentos. Botaram-lhe até vela na mão, maldando tivesse nas últimas e não resistisse mais. José Ferreira, também agoniado, com as mãos apertando a cabeça e sem encontrar canto para aquietar o juízo, exclamava: “Não! Não é possível viver aqui! Não passo mais um dia nessa terra. Vou falar com o delegado de Mata Grande, que é meu amigo, para poder ficar por lá”. Diante da melhora, súbita e surpreendente, da esposa, andando embora devagarinho, comendo e conversando alegre – não sabia ninguém que era a “visita da saúde” precedendo a morte! – resolveu José Ferreira, de madrugada, selar dois burros e com seu filho João ir logo à Mata Grande trazer remédios e falar com o delegado, seu amigo. Os três filhos mais velhos continuavam ocultos no mato por causa da polícia.

44 Aproveitando a manhã, alegre e de esperança, daquele dia 22 de maio, conduziram as filhas a mãe para fora, no terreiro da frente da casa, a modo de ela despairecer, tomar um arzinho e uns esquentes do sol brando. Não demorou muito tempo, deu-lhe nela inexplicável cansaço seguido de sonolência. Naquele momento instante, as três filhas notaram que a mãe, de repente, pendia a cabeça de lado e virava os olhos para cima, enquanto o queixo afrouxava entreabrindo a boca. Compreenderam a evidência do desenlace... Num sufragante, Virtuosa segurou a mãe pelas costas, levantando-a um pouco para Angélica tirar a cadeira. Ali mesmo foi ela deitada. Ezequiel e Anália agarraram-se ao regaço da mãe, chorando e chamando: “Mamãe! Querida mamãe!” Talvez para sua consolação, nesse instante derradeiro, tenha ela ouvido dos lábios infantis de seus caçulas essa doce palavra que traduzia inteiramente tudo o que ela fora na vida: mãe!

45 O semblante sereno, o olhar fugidio para a eternidade, tendo diante de si a imagem do Senhor Crucificado apresentado por Angélica, que a custo repetia entre soluços: “Meu Jesus, misericórdia”, entregou seu espírito ao Criador. “Sem o mínimo estremeço a modo de um passarim!”. Mocinha apagou a vela. Soprava uma aragem macia e refrescante aliviando aqueles corações transpassados de dor... Uma poeira de luz emoldurava aquele quadro de tragédia em terra estranha e de exílio. Lá para o meio-dia chegaram José Ferreira e João, simultaneamente com os três chamados de seus esconderijos. Encontraram a morta deitada numa cama de vento, amortalhada, com os lábios sorrindo para a morte, de vez que há muito deixara de sorrir para a vida!...

46 Na dor e na lágrima lamentaram por demais a desdita
Na dor e na lágrima lamentaram por demais a desdita. Os três filhos perseguidos, às pressas colheram cravos amarelos e bugaris, enfeitaram o leito da mãe defunta e se esconderam de novo. Não podiam ficar velando. Somente de madrugada, assim mesmo cismados e precavidos, voltariam para o velório. A família e vizinhos entre soluços inteiraram a noite fazendo sentinela com os cânticos lúgubres das incelenças e o ofício das almas. No dia seguinte domingo, pela manhã, conduzida numa rede pelos filhos, que se revezavam, foi feito o enterro, estrada a fora rezando, e sepultada numa cova do cemitério do povoado de Santa Cruz do Deserto, após lhe terem o esposo e filhos beijado o rosto frio. Três coroas, lembranças do esposo, dos filhos e dos parentes, além de muitos buquês levados pelos acompanhantes, floriam a sepultura, que mais parecia um canteiro de festa e de vida.

47 O pobre José Ferreira, com tanta coisa amarga e trágica sem trégua se sucedendo, ficou desatinado, abatido, sem gosto pra nada na vida, curtindo os penares da dor e da saudade e os sobressaltos de uma desgraça ameaçadora e iminente. No dia 28 de junho de 1920 chamou os três filhos que continuavam ocultos, e lhes disse: “Vocês aqui não podem mais ficar. Vão para Pernambuco que depois eu tomo o mesmo caminho”. Não podia, de súbito, se afastar de perto da sepultura da finada esposa. Seguiram os três filhos para Espírito Santo do Moxotó, onde ficaram trabalhando na propriedade de seu Terto. José Ferreira vendeu os dois burros para comprar roupa de luto para todos de casa...

48 Cartas do delegado de Água Branca – comprado por Zé Saturnino – ao Chefe de polícia de Alagoas, falseando e carregando nas tintas os assucedidos mais recentes sobre os “perigosos bandidos” que cometeram “muitos crimes” alarmou o Governo que resolveu cortar pela raiz aqueles males. Para tal, determinou ao delegado, 2º Tenente José Lucena, famoso por excessos de severidade, fazer uma diligência por aquelas bandas conflitadas. Na casa de José Ferreira, só tristeza. Tinha ele ido ao cemitério e não compreendia por que desta vez chorara muito mais do que das anteriores. Revelara aos filhos o que dissera à falecida, já na cova enterrada, que não havia mais sentido para ele continuar a viver. Queria ir para de junto dela. Repassou, de minúcia, os bons tempos de antanho, de paz e ternura. Recordou particularmente a última festa, do Senhor São João, há dois anos atrás, em que a finada, tão bonita e saudável, tão vistosa e alegre, dançara com ele... Hoje, era ele mais morto do que ela morta!

49 No dia seguinte, precisamente 38 dias depois da morte de D. Maria Lopes, de manhãzinha, ele com mais João e as três meninas fora adjutorar, como alugados, os trabalhos de um roçado vizinho, a modo de trazer para casa alguma coisa de ganho para o de-comer carecente. Voltara logo José Ferreira para casa, cansado e escanchado em Condave, trazendo dependurados de cada lado das ancas do velho burro, dois sacos contendo quatro mãos de milho. Ao chegar no terreiro de frente da casa, bem perto do lugar em que a esposa falecera, apeiou-se. Correram pressurosos e choramingando de fome os dois menores e lhe tomaram a bênção. Abraçou-os o pai, afetuoso e longamente, acarinhando e beijando. Em seguida tirou os sacos e derramou as espigas num balaio e de cócoras começou a tirar a palha para facilitar o trabalho das meninas de prepararem o angu, o qual, dessa vez não seria comido puro. Tinha ele comprado um bom taco de carne de bode e um litro de farinha. O almoço seria sustancioso.

50 Estava José Ferreira dessa maneira entretido quando, de repente, viu sua casa cercada de soldados. A uma distância de três braças gritou Lucena para o velho José Ferreira: “Cadê os seus três filhos bandidos?” Ferido em seus brios e honra, José Ferreira retrucou, com todo desassombro e altivez, alto, firme e pausadamente: “Não, sinhô! Bandidos, não! Meus filhos não são bandidos. Querem forçar eles a ser. Mas eles são é home!”... “É assim que se responde a um oficial, velho malcriado, cachorro da mulesta” – revidou furioso Lucena. E sem mais, descarregou ele próprio a pistola no peito daquele pobre velho, pacífico e indefeso, que caiu, de chofre e de bruços, por estranha coincidência, ali, no mesmo chão onde falecera sua esposa.

51 Ao tomarem conhecimento, todos da família, da tragédia naquele quadro desumano de miséria e barbaridade, reuniram-se em casa, e sentaram-se os filhos naquele mesmo chão fatídico do terreiro. João e as irmãs relataram o drama. Todos choraram muito. E depois de permaneceram bastante tempo em silêncio, Virgulino falou: - “Bem, nada mais nos resta a perder. O único bem que a gente tinha, e o mais precioso de todos, os nossos pais, foram assassinados, ela de choque, ele de bala: os dois no coração!” Silenciou um momento. Levantou-se. E, de repente, traduzindo, num assombro inesperado e imprevisível de atitude, os processos íntimos de uma grande decisão, elaborada daquela situação, desvestiu os dois irmãozinhos de suas roupas de luto e pediu a João e irmãs que tirassem e lhe entregassem as roupas de preto e pesar que vestiam. De tudo fez uma ruma no terreiro e tocou fogo. Os irmãos estarrecidos!

52 Em seguida segurando o rifle e o punhal em cada mão e levantando os braços para cima, a cabeça erguida, fitando os longes do sertão na linha de todos os seus quadrantes, exclamou cadenciado e bem alto: -“De hoje em diante o luto é o rifle e o punhal! Vingar até morrer!” Desceu os braços e apontando insinuante para Antônio e Livino: - “Ainda é tempo para uma escolha. Quem não tiver natureza para isso que siga com João, as manas e as crianças”. Antônio e Livino responderam que estavam no mesmo propósito de vingar até morrer. Por coincidência, o sol, como que atemorizado, se agachou e se escondeu, se incrisou naquele momento, deixando imensa mancha vermelha de agouro nos céus do sertão... Profeticamente, o padre Epifânio Moura, vigário de Água Branca, ao saber do triste acontecido, exclamou: “Esse crime vai trazer muita desgraça para o sertão.” E de fato, tão revoltante crime lançou Virgulino e seus irmãos no cangaço. Criou Lampião!

53 Tem muito de parecente essa dramática decisão de Virgulino com os gestos espetaculares dos grandes conquistadores da História. Desde quando Virgulino se decidia a alguma coisa, levava ele sua execução ao máximo na distinção, excelência e perfeição! Criança, tirava enxu cru, montava carneiro dador, liderava as brincadeiras; jovem, desbravejava marruá e poldro bravio, pagava boi no escuro, confeccionava, pra não se botar reparo, artefatos de couro; agora, como cangaceiro, iria continuar fazendo o mesmo. Seria até Rei! Sim, “triste vida” essa uma que abraçava, sem tranqüilidade, cheia de perigos à base de lutas, vinganças e ódios... Mesmo assim, seria eminente! Mesmo assim, jogado fora da “lei”, que não a quiseram fosse para ele, seria Rei! Não eram chegados os tempos das profecias? Sim, o sertão e o mundo haveriam de fazer pausa de vírgula –Virgulino - de parar de assombro diante do Rei do Cangaço!

54 Lampião e seu irmão Antonio Ferreira
De vez que os três irmãos mais velhos se bandaiaram para o cangaço, caberia a João a responsabilidade das irmãs e do irmão caçula. Ordenou-lhe Virgulino se retirassem em viagem logo de manhãzinha, porque – “mais cedo do que se pensa – afirmou – essa terra onde se derramou o sangue inocente, vai começar a ser ensopada com o sangue dos assassinos...” Pungente, ao quebrar da barra, a despedida. A família ali se dividia. Os irmãos choravam de dor e amargura pela morte recente dos pais, de saudade pelos irmãozinhos cujo destino dali por diante seria incerto, e de apreensão pela sorte ignorada dos três no cangaço abraçados. Beijaram-se, abraçaram-se, longa e afetuosamente entre lágrimas e partiram separados, dando-se adeus, tomando rumos diversos... Lampião e seu irmão Antonio Ferreira

55 Virgulino e seus irmãos Antônio e Livino dirigiram-se ocultamente ao cemitério de Mata Grande. Enquanto um cabra, disfarçadamente, montava sentinela no portão do cemitério, os três irmãos entraram e, de joelhos diante da sepultura do pai, rezaram debulhados em lágrimas. Levantaram-se, conservando o olhar fixo na cova. É quando, ladeado por seus irmãos, estufado de consciente altivez, o pensamento buscando nos espaços do futuro uma nova cosmovisão de vida, fortemente bateu Virgulino o punho fechado no próprio peito e exclamou: “Eu sou Lampião!...” Nesse momento se acendera um novo luzeiro iluminando todo o sertão do Nordeste! A folhinha marcava 5 de julho de 1920, terça-feira. Data significativa anunciando a realização da profecia do nascimento de Lampião por Antônio Conselheiro7. E a abertura de uma nova era na história dos sertões: a Era de Lampião!

56 Contava ele apenas vinte anos de idade. Virgulino nascera e fora educado para o trabalho, o bem, o amor, a poesia... Pegara em armas, não se definindo para o cangaço, mas para substituir, com os recursos da vingança, as recusas de uma justiça falha... Perseguições irreversíveis e injustiças gritantes o despojaram de tudo. O sertão – o seu mundo – tinha se perdido para ele!... Iria, então, reconquistá-lo a ferro e fogo: durante cerca de vinte anos estenderia seu Império... Os militares se assombrariam com suas táticas de insuperável guerrilheiro; os coronéis se encolheriam nos pactos e conveniências, submissos a seu poder; os inimigos desarvorados criariam aquele tipo de valentia do desespero e do medo. Os cabras reconheceriam o seu valor de chefe, líder e guia supremo. Os pobres e necessitados seriam compreendidos, estimados e favorecidos. A justiça se exerceria com eqüidade. E o mundo inteiro ficaria abismado diante de suas legendárias gestas cangaceirescas!...

57 Anos mais tarde, Virgulino Ferreira da Silva, Lampião, celebraria em famosa endecha, poesia épica, de sua lavra, do que fora essa sua grande decisão:

58 “Por minha infelicidade entrei nessa triste vida
Não gosto nem de contar a minha história sentida A desgraça enche o meu rosto Em minha alma entra o desgosto Meu peito é uma ferida. Aí peguei nas armas Para a vida defender Perseguido, aperriado, Vi que era feio correr, Vi a desgraça no meu rosto Então senti-me disposto Matar para não morrer. Hoje sei que sou bandido Como todo mundo diz Porém já fui venturoso Passei meu tempo feliz Quando no colo materno Gozei o carinho terno De quem tanto bem eu quis.”

59 Notas 1. O almocreve trabalha na condução de tropas de burros e jumentos que transportam mercadorias de uma localidade a outra, por mando e paga dos comerciantes das cidades vizinhas e donos de fazendas. São muito freqüentes em Minas, Bahia, Maranhão, Goiás, Piauí e Mato Grosso, onde as tropas costumam percorrer, não raro e regularmente, distâncias de trezentos quilômetros. O almocreve é um trabalhador especializado no terreno das atividades da vida rural. Conhece e percorre a pé todos os caminhos e “atalhos”; conhece a primitiva veterinária para a cura de bicheiras, dos sestros, dos estrepes e das “picaduras” que a “cangalha” e seus adornos provocam nas longas caminhadas. Ademais, “advinha” chuvas, presença de onça e é um rastreador tão eficiente como o vaqueiro. O seu aprendizado é longo, pois, em geral, o almocreve se inicia muito cedo, a partir de nove ou dez anos de idade. É nessa fase que o menino aprende a fazer cordas, peias, arrochos, nós, cabrestos e a jogar laços.      Vida difícil e miserável a do almocreve. Os salários que recebe são ínfimos e nada representam diante do sacrificado trabalho que realiza e da responsabilidade que assume na condução de uma tropa de dez ou vinte burros, carregada de mercadorias “preciosas”. É o responsável pelos burros, pelas mercadorias e pelo prazo de entrega. E tudo isso para ganhar uma miséria. Essa miséria que lhe acompanha a vida toda não lhe permite as mais modestas condições de sobrevivência humanas: atravessa a sua existência descalço e reduzido a uma calça e camisa de pano rústico. Quando repousa, o relento é o seu leito: o fogo ou o “borralho” lhe protege do frio e das cobras. Passa sede e fome com freqüência e quando pode, quase sempre se alimenta da “paçoca” ou farofa com carne seca, o que lhe definha a saúde e o expõe às avitaminoses e a inúmeras enfermidades.

60 2. “A Paz é Fruto da Justiça” (Pio XII).
Notas 2. “A Paz é Fruto da Justiça” (Pio XII). Houvesse “justiça” e não haveria Lampião... Das instituições humanas é a mais falha, quando deveria ser a mais perfeita, porque básica e fatal. “A lei a gente espicha como quer!” – dizia um certo juiz de direito. A justiça – sempre com letra minúscula porque maiúscula só a Divina – é jogo de esgrima: vence o advogado mais atilado. Para libertar criminoso, a que chamam de “constituinte”, não tem escrúpulo o causídico de empregar a mentira. Isto porque a falta de consciência não lhe traz remorsos. A corrupção e a subserviência de determinados “íntegros”, escudados na intocabilidade, transformam o título das peças e processados jurídicos em farsa. Se não se justifica a atitude de Lampião em fazer justiça com as próprias mãos, a carência de justiça, entretanto, a explica. 3. Do cancioneiro religioso nordestino. 4. É a “música de couro” popular e folclórica do sertão. Entra em todas as festas sertanejas, aliás, quase todas religiosas. Festa sem zabumba não presta. O conjunto original é formado de dois pifeiros (tocadores de pifes ou pífanos, espécie de flauta de taquara ou bambu), bombo e caixa, tudo em construção rústica e no local. Em certos conjuntos acrescentam-se harmônico (fole, sanfona ou modernamente acordeão), rebeca, triângulo.

61 Notas 5. Quadrilha, popular contradança de salão, típica da época de São João e São Pedro. Os vários pares se defrontam uns com os outros. O “marcador” tira as marcas da coreografia, num “francês” característico. 6. Falar de Saturnino A profecia: “Dentro de 50 anos, haverá de surgir, no sertão, um homem que, apesar de religioso, será cangaceiro e dará muito trabalho aos governos!...” Antônio Conselheiro. 7. Esta profecia realizou-se literalmente – quanto ao tempo, quanto à pessoa e quanto aos fatos – em Virgulino Ferreira da Silva – Lampião – o guerrilheiro místico.

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