Na antiguidade, as carpideiras eram mulheres contratadas para comparecer aos velórios e chorar, gemer e gritar pelos mortos e era normal as famílias.

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3 Na antiguidade, as carpideiras eram mulheres contratadas para comparecer aos velórios e chorar, gemer e gritar pelos mortos e era normal as famílias se pouparem de todo aquele berreiro, porque seus mortos eram pranteados e homenageados pelas carpideiras; para as pessoas deste século parece estranho esse costume da Grécia e Roma antigas.

4 Nos velórios modernos, o que se vê são pessoas reunidas conversando, rindo e aproveitando a boca livre, porque comida e bebida não pode faltar, mas tristeza legitima dificilmente se encontra, porque as famílias dos mortos choram pouco, se contendo para não gritar, porque está fora de moda exagero de lagrimas gritos, desmaios, não é elegante.

5 Na cidade de Santana da Misericórdia as carpideiras não teriam o que fazer, porque Joana Chorona morava lá e era freqüentadora assídua de velórios e sua presença resolvia o pouco choro, como as chuvas de Março resolvem a pouca água dos rios; quando morre alguém as pessoas olham aflitas para a porta da casa, para ver se a Chorona está chegando.

6 O alivio é geral com a chegada da mulher, porque ela entra solenemente vestida de preto, enrolada em um enorme chale se aproxima do falecido, se benze e começa a rezar e a chorar, derrama litros de lagrimas e todos os presentes familiares ou não choram junto com ela e assim o morto é pranteado como se deve, porque morrer e ninguém chorar é triste.

7 Chorar demais é coisa perigosa, porque pode-se desidratar, mas Joana era cautelosa e de vez em quando se dirigia a cozinha, onde comia e bebia de tudo que encontrasse com um excelente apetite, tomava um digestivo de Vinho do Porto se o morto fosse abonado, ou uma modesta cachacinha se o falecido fosse pobre e voltava ao choro.

8 Durante a noite toda, ela cumpria seu ritual de choro, orações e muita comida e bebida e agüentava até o falecido ser enterrado muito bem lamentado por ela, pela família e amigos; ela se despedia da família enlutada, que agradecia sua inestimável presença e se retirava em passos vagarosos para se preparar para o próximo falecimento na cidade de Santana da Misericórdia.

9 Créditos Texto de Vó Fia Formatação de Vó Fia Música-Aranjuez mom amour Nepomuceno Minas Gerais Brasil

10 Nesse momento são 05:43 e hoje é sábado, 9 de julho de 2016.