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A cidade mais fria do mundo.

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Apresentação em tema: "A cidade mais fria do mundo."— Transcrição da apresentação:

1 A cidade mais fria do mundo.
YAKUTSK A cidade mais fria do mundo. Uma reportagem de Shaun Walker

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3 A 5ºC negativos o frio pode ser refrescante.
A 20ºC negativos a humidade no nariz congela-se e fica difícil não tossir. A 35ºC negativos a pele exposta ao ar fica dormente e a necrose é um risco. Aos 45ºC negativos até usar óculos fica muito complicado. As lentes estalam e o metal cola no rosto e nas orelhas e rasga pedaços de pele quando você decide tirá-los. Sei disso porque acabo de chegar a Yakutsk, lugar onde os amistosos nativos me alertaram para não usar óculos ao ar livre.

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5 Yakutsk é uma cidade remota da Sibéria Oriental, com uma população de 200 mil habitantes, sendo famosa por aparecer no clássico jogo de tabuleiro Risk (na versão do War) e por deter a fama de ser a cidade mais fria da Terra.

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7 Em Janeiro a média fica em torno dos 40ºC negativos
Em Janeiro a média fica em torno dos 40ºC negativos. A névoa que cobre a cidade restringe a visibilidade a 10 metros. Os moradores, em pesados casacos de pele, passam pela praça central, adornada com uma Árvore de Natal congelada e uma estátua de Lenine.

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9 Depressa descobri que, ali, temperaturas na casa dos 40ºC negativos são descritas como “frio”, mas não como “muito frio”. Em seguida, algumas pessoas aguardando o ónibus, aparentemente sem grande frio.

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11 Sendo assim, antes de me aventurar pela primeira vez nas ruas de Yakutsk, encapotei-me com toda uma mala de roupas. Eis o que estou vestindo: um par de meias de algodão com um par de meias térmicas por cima; um par de botas (São botas de pele de animais); ceroulas térmicas; uma calça jeans; uma camisa térmica; uma camisa de mangas compridas; um sueter justo de caxemira; um abrigo desportivo; um casaco acolchoado de Inverno com capuz; um par de luvas finas (para não expor a pele quando tiro fotos; um par de luvas de lã; um cachecol de lã; e um boné, também revestido de lã.

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13 Saindo do quarto como se fosse o boneco da Michelin, e já suando por causa do sistema de aquecimento do hotel, decido que estou pronto para encarar Yakutsk. Caminho porta fora e… bem… não acho assim tão ruim.

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15 A pequena fresta do meu rosto que está exposta regista o ar frio, mas no geral a sensação é boa … até agradável. Desde que você esteja vestido correctamente, penso eu, não é assim tão ruim. Em poucos minutos, porém, o clima gélido passa a impor-se. A pele exposta ao ar começa a dar pontadas e depois fica adormecida, o que aparentemente é perigoso, porque significa que o fluxo sanguíneo para o local parou. Então o frio penetra pela dupla camada de luvas e congela os meus dedos. O boné e o capuz tampouco são abrigo suficiente para os 43ºC negativos e as minhas orelhas começam a pingar. Em seguida as pernas sucumbem.

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17 Finalmente vejo-me com dores agudas pelo corpo todo e tenho de voltar rapidamente a um ambiente fechado. Olho para o relógio (o vidro ainda não quebrou, pois encontra-se bem abrigado). Fiquei ao ar livre durante 13 minutos.

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19 Yakutsk é a capital da Yakutia, região que abrange mais de 2,6 milhões de quilómetros quadrados e onde vivem menos de 1 milhão de pessoas. A cidade fica a 6 fusos horários de Moscovo, mas a viagem leva 6 horas num precário avião Tupolev. A passagem custa pelo menos 1,8 mil RS, ida e volta, uma enorme quantia num país em que o salário médio é de 930 RS mensais.

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21 Em Yakutsk a maioria dos carros são importados, em segunda mão, do Japão, pois que aparentemente resistem melhor ao frio do que os veículos russos tradicionais. Ainda assim os moradores costumam deixar o motor a trabalhar quando fazem uma paragem de apenas meia hora, mas alguns deixam o motor a trabalhar o dia inteiro, durante o expediente de trabalho, para lhes garantirem uma temperatura minimamente tolerável na volta para casa. A fumaça dos escapes dos motores contribui para a névoa que paira sobre a cidade.

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23 Lenin e Stalin foram dois dos presos políticos exilados em Yakutsk.
A região foi inicialmente conquistada pelos russos na década de No século XIX era usada como prisão aberta para dissidentes políticos. Anton Chekhov, na sua Jornada de 1890 pela Sibéria, pintou um quadro sombrio da vida dos prisioneiros que ali se encontravam. “Eles perderam todo o calor que já tiveram” escreveu. “As únicas coisas que lhe restam na vida são vodka, vagabundas, mais vagabundas, mais vodka… Não são mais seres humanos, mas bestas selvagens”. Lenin e Stalin foram dois dos presos políticos exilados em Yakutsk.

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25 A região é rica em ouro e diamantes, razão pela qual os soviéticos decidiram transformar Yakutsk num importante centro regional, primeiro com o sistema de trabalho forçado do Gulag, depois colonizando a região com milhares de voluntários em busca de aventura, melhores salários e a chance de construir o socialismo no gelo.

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27 A mega-empresa Alrosa, responsável por 20% da oferta mundial de diamantes brutos, tem a sua sede na região. Com o tempo Yakutsk transformou-se numa cidade de verdade, com hotéis, cinemas, uma ópera, universidades, entrega de pizzas e até um jardim zoológico.

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29 Apesar dos nativos manterem estoicamente os seus afazeres e de as crianças brincarem na neve da praça central, percebo que preciso de um táxi para continuar a minha exploração. Os 13 minutos que passei ao ar livre deixaram-me sem fôlego, praguejando e cheio de dores, o meu rosto está tão vermelho que parece que acabo de voltar de uma semana no Caribe.

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31 Desabo na cama do hotel e preciso de meia hora para voltar a sentir o meu corpo. A parte mais desagradável começa 15 minutos depois, quando as pernas, de volta à temperatura habitual do hotel, sentem uma cãibra quente sendo irradiada de dentro para fora, e todo o corpo começa a coçar. Vou ao mercado, cheio de gente vendendo peixe, porcos e coração de cavalo, tudo congelado. “É claro que faz frio, mas você acostuma-se”, diz Nina, uma yakut que passa 8 horas por dia de pé na sua banca de peixes. “Os seres humanos acostumam-se com qualquer coisa”. Mas ainda assim o nível de resistência daquela gente é difícil de compreender.

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33 Os operários continuam trabalhando na construção civil até aos 50ºC negativos (com temperaturas mais baixas o metal torna-se quebradiço) e as aulas só são suspensas quando o termómetro cai abaixo de 55ºC negativos (embora o Jardim de Infância encerre quando se atingem os 50ºC negativos).

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35 Quase sem excepção, as mulheres cobrem-se da cabeça até pés com peles de animais, muitas delas produzidas ali mesmo. Naquele clima a ética pouco importa. Diz Natasha, uma moradora de Yakutsk que veste um casaco de pele de coelho e um encantador chapéu de raposa ártica, “Vi na televisão que na Europa existem lunáticos que dizem que não é legal usar peles porque eles amam os animais. Deveriam vir para cá, para ver se ainda se preocupavam tanto com os animais. Aqui você tem mesmo que vestir peles se quiser sobreviver”.

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37 Shaun Walker escreveu esta reportagem para o jornal britânico “The Independent, para a “Revista da Semana” e para o “Neo Seganet Reporter”. S. N.


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