Literatura Prof. Henrique Parnasianismo
Origem: Parnaso : Local consagrado ao deus da beleza, Apolo Retorno a mitologia e ao ideal clássico Arte pela Arte Perfeição formal da poesia Afastamento das questões mundanas Artista = esteta, ideal de viver pela Arte e na Arte
Parnasianismo Perfeição formal: Rimas raras Vocabulário erudito Temática clássica Valorização do soneto Descritivismo Objetos da Antiguidade
Parnasianismo Perfeição formal: Artista = Artífice, Escultor Poesia = trabalho artesanal, raro, sofisticado Impessoalidade : Poesia não deve expressar as emoções do poeta, mas apenas a perfeição técnica de sua construção
Parnasianismo Olavo Bilac Medicina e Direito, sem concluir Jornalismo, crônica e poesia Preso no governo Floriano Peixoto Republicano e ativo defensor de campanhas cívicas Serviço militar, “bota-abaixo” Inspetor escolar Fundador da Academia Brasileira “príncipe dos poetas brasileiros”
Parnasianismo para o crítico João Adolfo Hansen, "o mestre do passado, do livro de poesia escrito longe do estéril turbilhão da rua, não será o mesmo mestre do presente, do jornal, a cronicar assuntos cotidianos do Rio, prontinho para intervenções de Agache e a erradicação da plebe rude, expulsa do centro para os morros" Agache, arquiteto do XIX, apelido dado ao “bota-abaixo” do prefeito Pereira Passos
Parnasianismo “alvo” predileto dos modernistas Mário de Andrade: “melodia ultrapassada”, “uma fase destrutiva da poesia”. Oswald de Andrade, em Serafim Ponte Grande, afirma: “o mal foi eu ter medido o meu avanço sobre o cabresto metrificado e nacionalista de duas remotas alimárias, Bilac e Coelho Neto.” Manuel Bandeira: Os Sapos, críticas aos parnasianos.
Parnasianismo Salve lindo pendão da esperança! Salve símbolo augusto da paz! Tua nobre presença à lembrança A grandeza da Pátria nos traz. Refrão: Recebe o afeto que se encerra em nosso peito juvenil, Querido símbolo da terra, Da amada terra do Brasil! II. Em teu seio formoso retratas Este céu de puríssimo azul, A verdura sem par destas matas, E o esplendor do Cruzeiro do Sul. Refrão: Recebe o afeto que se encerra Em nosso peito juvenil, Querido símbolo da terra, Da amada terra do Brasil! Olavo Bilac Hino a Bandeira, 1906 (trecho)
Parnasianismo "Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muitas vezes desperto E abro as janelas, pálido de espanto... E conversamos toda a noite, enquanto A via-láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: "Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?“ E eu vos direi: "Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas." Olavo Bilac Via Láctea
Parnasianismo Não quero o Zeus Capitolino Hercúleo e belo Talhar no mármore divino com o camartelo Que outro - não eu! - a pedra corte para, brutal, erguer de Atene o altivo porte descomunal. Mais que esse vulto extraordinário, que assombra a vista, seduz-me um leve relicário de fino artista.... Olavo Bilac Profissão de Fé
Parnasianismo... Invejo o ourives quando escrevo: imito o amor com que ele, em ouro, o alto-relevo faz de uma flor. Imito-o. E, pois, nem de Carrara a pedra firo: o alvo cristal, a pedra rara, o ônix prefiro. Por isso, corre, por servir-me Sobre o papel a pena, como em prata firme corre o cinzel... Olavo Bilac Profissão de Fé
Parnasianismo... Corre : desenha, enfeita a imagem, a idéia veste: cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem azul-celeste Torce, aprimora, alteia, lima a frase: e, enfim, No verso de ouro engasta a rima, Como um rubim. Quero que a estrofe cristalina Dobrada ao jeito Do ourives, saia da oficina Sem um defeito. Olavo Bilac Profissão de Fé
Parnasianismo Última flor do Lácio, inculta e bela, és a um tempo, esplendor e sepultura: ouro nativo, que na ganga impura a bruta mina entre os cascalhos vela...(...) Olavo Bilac
Parnasianismo Defende-te a ti próprio: é cheio o mundo de venenos de um gosto tão sutil que só se sente o mal chegando ao fundo. Acha um amigo entre inimigos mil! tens um resfriado? Não terás segundo: defende os teus pulmões! toma BROMIL Olavo Bilac
Parnasianismo Raimundo Correa Direito, SP Juiz Falece em Paris Crônicas, crítica literária Perfeccionismo literário Às vezes, pessimismo, temas sombrios, quase simbolista
Parnasianismo Vai-se a primeira pomba despertada... Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas De pombas vão-se dos pombais, apenas Raia sanguínea e fresca a madrugada... E à tarde, quando a rígida nortada Sopra, aos pombais de novo elas, serenas, Ruflando as asas, sacudindo as penas, Voltam todas em bando e em revoada... Também dos corações onde abotoam, Os sonhos, um por um, céleres voam, Como voam as pombas dos pombais; No azul da adolescência as asas soltam, Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam, E eles aos corações não voltam mais... Raimundo Correa As Pombas
Parnasianismo Num recesso da selva ínvia e sombria, Estrelada de flores, vicejante, Onde um rio entre seixos, espumante, Cursando o vale, túrgido, fluía; A coma esparsa, lívido o semblante, Desvairados os olhos, como fria Aparição dos túmulos, um dia Surgiu de Hamlet a lacrimosa amante; Símplices flores o seu porte lindo Ornavam... como um pranto, iam caindo As folhas de um salgueiro na corrente... E na corrente ela também tombando, Foi-se-lhe o corpo alvíssimo boiando Por sobre as águas indolentemente Raimundo Correa Ofélia
Parnasianismo Esbraseia o Ocidente na agonia O sol... Aves em bandos destacados, Por céus de oiro e de púrpura raiados Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia... Delineiam-se, além, da serrania Os vértices de chama aureolados, E em tudo, em torno, esbatem derramados Uns tons suaves de melancolia... Um mundo de vapores no ar flutua... Como uma informe nódoa, avulta e cresce A sombra à proporção que a luz recua... A natureza apática esmaece... Pouco a pouco, entre as árvores, a lua Surge trêmula, trêmula... Anoitece Raimundo Correa Anoitece
Parnasianismo Alberto de Oliveira RJ, Farmácia, Medicina, sem concluir, professor Após a morte de Bilac, seu amigo pessoal desde a Faculdade de Medicina, ocupa o posto de “príncipe dos poetas brasileiros” pela revista Fon-Fon Temas: natureza mulher brasileira Objetos antigos = descritivismo
Parnasianismo Estranho mimo, aquele vaso! Vi-o, casualmente, uma vez, de um perfumado contador sobre o mármore luzidio, entre um leque e o começo de um bordado. Fino artista chinês, enamorado, nele pusera o coração doentio em rubras flores de um sutil lavrado, na tinta ardente, de um calor sombrio. Mas, talvez por contraste à desventura- quem o sabe?-de um velho mandarim também lá estava a singular figura. Que arte em pintá-la! A gente acaso vendo-a, sentia um não sei quê com aquele chim de olhos cortados à feição de amêndoa. Alberto de Oliveira Vaso Chinês
Parnasianismo Era um hábito antigo que ele tinha: entrar dando com a porta nos batentes — "Que te fez esta porta?" a mulher vinha e interrogava... Ele, cerrando os dentes: — "Nada! Traze o jantar." — Mas à noitinha calmava-se; feliz, os inocentes olhos revê da filha e a cabecinha lhe afaga, a rir, com as rudes mãos trementes. Uma vez, ao tornar à casa, quando erguia a aldrava, o coração lhe fala — "Entra mais devagar..." Pára, hesitando... Nisso nos gonzos range a velha porta, ri-se, escancara-se. E ele vê na sala a mulher como doida e a filha morta. Alberto de Oliveira A Vingança da porta