Parnasianismo.

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R O S A Composição : Pixinguinha Canta : Francisco Petrônio FORMATAÇÃO: acnnassif slides Janeiro de 2012.
Transcrição da apresentação:

Parnasianismo

PORTUGUÊS, 2º ANO PARNASIANISMO O Parnasianismo é uma Escola da Literatura Brasileira ou um Movimento Literário essencialmente poético, contemporâneo ao Realismo-Naturalismo. Um estilo de época que se desenvolveu na poesia a partir de 1850, na França, e que chegou ao Brasil a partir de 1880 aproximadamente, convivendo com movimentos do século XX. O vocábulo Parnaso está relacionado à figura mitológica que dá nome a uma montanha na Grécia, onde, segundo a lenda, moravam musas e o deus Apolo e era frequentemente visitada pelos poetas em busca de inspiração.

PORTUGUÊS, 2º ANO PARNASIANISMO

Origens Surgiu na França em 1896, com a publicação da revista Le Parnasse Contemporain (que também deu origem ao nome da Escola), e nela se destacavam poetas como Baudelaire e Théophile Gautier. Em Portugal, esta corrente só começou a ser sentida na segunda metade do séc. XIX e nunca chegou a ser assumida de verdade. As ideias novas chegaram ao nosso país tardiamente. O Parnasianismo foi colidindo com o Realismo, com o Simbolismo, tendo como aspecto comum a todos eles a renúncia ao sentimentalismo e ao egocentrismo românticos.

Manifestações em Portugal Eça de Queirós e Antero de Quental chamavam a atenção, nesta altura, para o papel intervencionista do escritor, com a função de interagir na cultura e no pensamento da população, como uma missão social que lhe é atribuída. Como parnasianos genuínos, temos a considerar João Penha (1838 - 1919) que fez coexistir a observação do real cotidiano com o rigor rimático e que, como diretor da revista “A Folha”, reuniu, em Coimbra, alguns escritores, quer parnasianos, quer realistas, que formaram o primeiro grupo de parnasianos, tais como: Gonçalves Crespo, Guerra Junqueiro, Antero de Quental, Teófilo Braga, entre outros. Imagem: CIA World Factbook / domínio público

Contextualizando na Europa Consolida-se a Segunda Revolução Industrial, período em que ocorre a formação de conglomerados empresariais e a aliança entre as indústrias e a ciência. Há um enorme processo de urbanização e dos serviços públicos. Há, ainda, um deslocamento da produção manual para a mecânica que avança, aumentando o número de operários. Acirram-se as lutas de classes entre patrões e trabalhadores, amplia-se a participação dos Sindicatos e dos Partidos Políticos nas relações sociais. Uma parcela da burguesia busca mais conforto material e incentiva a Ciência a novas descobertas na área da tecnologia, como o telefone, o cinema e a eletricidade. O encantamento faz nascer a “Bele Époque”, e a “Art Nouveau”. Imagem: Eduarda7 / Creative Commons Attribution-Share Alike 3.0 Unported

Contextualizando no Brasil No Brasil , a segunda metade do século XIX é marcada pela Abolição da Escravatura, em 1888, e pela Proclamação da República, em 1889. Observa-se crescimento econômico pela produção do café, intensificação do poder político na região Sudeste e célere desenvolvimento da urbanização. Abertura ao crescimento da Aristocracia, ao culto ao luxo e ao requinte, tornando os cafeicultores os maiores consumidores de produtos de arte do período, transformando-os em objetos raros e preciosos. Nesse formato, a Poesia Parnasiana e sua proposta preciosista se ajustam facilmente e dão margem à reflexão sobre uma Instituição que organize a expressão artística. Em 1897, cria-se a Academia Brasileira de Letras, fundada pela elite dos escritores da época. Imagem: CIA World Factbook / domínio público

PORTUGUÊS, 2º ANO PARNASIANISMO

Parnasianismo O Parnasianismo é a manifestação poética da época do Realismo, embora ideologicamente se distancie da prosa dos realistas e naturalistas. É a estética da “arte pela arte”, ou da “arte sobre a arte”, que mantém seus poetas à margem das grandes transformações do final do século XIX e início do XX. A nova estética se manifesta a partir do final da década de 1870, prolongando-se até a Semana de Arte Moderna (em alguns casos chegou mesmo a ultrapassar o ano de 1922, isso sem considerar o Neoparnasianismo). .

A poética parnasiana, numa postura anti-romântica, baseava-se no binômio objetividade temática / culto da forma. A objetividade temática surge como negação ao sentimentalismo romântico, numa tentativa de atingir a impassibilidade e a impessoalidade. Opunha ao subjetivismo decadente o universalismo – daí resultar uma poesia carregada de descrições objetivas e impessoais. Retoma-se a Antiguidade Clássica e seu racionalismo e formas perfeitas. Surge a poesia de meditação, filosófica, mas artificial. . O traço mais característico da poética parnasiana é o culto da forma: a forma fixa dos sonetos, a métrica dos versos alexandrinos (12 sílabas poéticas) e decassílabos perfeitos, a rima rica, rara e perfeita.

Os escritores desse período defendiam a ideia da arte literária como ofício, procurando objetivar a experiência íntima num plano mais universalista, para que a técnica não sucumbisse ao sentimentalismo excessivo dos românticos. Fiéis a esse ideário, os parnasianos procuraram – pela última vez de maneira tão intencional na História da Literatura – os ideais clássicos de beleza, antropocentrismo, equilíbrio, harmonia, materialismo, objetividade e contenção emocional, com a finalidade de atingir o universalismo platônico, ou seja, de que uma verdade é tanto mais verdadeira quanto mais pessoas acreditarem nela. (Literatura sem segredos, volume 7, Clenir Bellezi de Oliveira, Escala Educacional, São Paulo, 2007 – 1ª edição)

Arte pela arte

Preferência pelo soneto clássico

Métrica regular

Metrificar ou escandir um verso é fazer sua divisão fonológica, ou seja, pelo som. Observe:

Texto I Canção do Exílio (fragmento) Mi nha te rra tem pal mei (ras) on de can tao sa bi á as a ves quea qui gor jei (am) não am co mo lá Gonçalves Dias

Para fazer a escansão de um poema, basta utilizarmos dois procedimentos: : 1. Contar somente até a última sílaba tônica; ; 2. Unir as vogais (quando uma palavra termina por vogal (ou é uma vogal) e a palavra seguinte inicia-se – ou é – uma vogal).

Medidas mais conhecidas 5 sílabas – redondilha menor medidas 7 sílabas – redondilha maior populares 10 sílabas – decassílabo (heróico) 12 sílabas – dodecassílabo (alexandrino) 13 ou mais – bárbaro Obs.: Versos livres são aqueles que não possuem metrificação regular }

Note que a metrificação é utilizada ainda hoje, a fim de garantir o ritmo de músicas contemporâneas e populares.

Seu Jorge Burguesinha

Texto II Burguesinha Vai no cabeleireiro No esteticista Malha o dia inteiro Pinta de artista Saca dinheiro Vai de motorista Com seu carro esporte Vai zoar na pista Final de semana Na casa de praia

Só gastando grana Na maior gandaia Vai pra balada Dança bate estaca Com a sua tribo Até de madrugada Burguesinha, burguesinha Burguesinha, burguesinha Burguesinha... Só no filé

Burguesinha, burguesinha Burguesinha, burguesinha Burguesinha Burguesinha, burguesinha Burguesinha, burguesinha Burguesinha... Tem o que quer Burguesinha, burguesinha Burguesinha, burguesinha Burguesinha... Do croissant Burguesinha, burguesinha Burguesinha, burguesinha Burguesinha... Suquinho de maçã Seu Jorge

Chico Buarque Construção

Texto III Construção Amou daquela vez como se fosse a última Beijou sua mulher como se fosse a última E cada filho seu como se fosse o único E atravessou a rua com seu passo tímido Subiu a construção como se fosse máquina Ergueu no patamar quatro paredes sólidas Tijolo com tijolo num desenho mágico Seus olhos embotados de cimento e lágrima Sentou pra descansar como se fosse sábado Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe

Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago Dançou e gargalhou como se ouvisse música E tropeçou no céu como se fosse um bêbado E flutuou no ar como se fosse um pássaro E se acabou no chão feito um pacote flácido Agonizou no meio do passeio público Morreu na contramão atrapalhando o tráfego Amou daquela vez como se fosse o último Beijou sua mulher como se fosse a única E cada filho seu como se fosse o pródigo E atravessou a rua com seu passo bêbado Subiu a construção como se fosse sólido Ergueu no patamar quatro paredes mágicas

Tijolo com tijolo num desenho lógico Seus olhos embotados de cimento e tráfego Sentou pra descansar como se fosse um príncipe Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo Bebeu e soluçou como se fosse máquina Dançou e gargalhou como se fosse o próximo E tropeçou no céu como se ouvisse música E flutuou no ar como se fosse sábado E se acabou no chão feito um pacote tímido Agonizou no meio do passeio náufrago Morreu na contramão atrapalhando o público Amou daquela vez como se fosse máquina Beijou sua mulher como se fosse lógico Ergueu no patamar quatro paredes flácidas

Sentou pra descansar como se fosse um pássaro E flutuou no ar como se fosse um príncipe E se acabou no chão feito um pacote bêbado Morreu na contramão atrapalhando o sábado Chico Buarque

Vocabulário culto

Referência à Antiguidade clássica e à mitologia grega

Enjambement ou Cavalgamento

Analogias do ato de escrever a outras formas de arte

Metalinguagem

Inversões sintáticas

Descritivismo

Contenção emocional

Afastamento de questões políticas, sociais, religiosas,...

Principais autores Olavo Bilac Alberto de Oliveira Raimundo Correia

Nasceu no Rio de Janeiro, em 1865. Olavo Bilac Nasceu no Rio de Janeiro, em 1865. Bilac foi um poeta brilhante. Aliou uma destreza técnica de perito à sutileza de espírito, ao olhar lírico dos grandes poetas. Apesar de ter escrito poemas absolutamente parnasianos, na maior parte de sua produção o que se vê é o rigor formal aliado a uma sensibilidade quase em tudo romântica. Em muitos momentos, ele questiona a eficiência da palavra para expressar os estados da alma. Morreu em 1918. Olavo Bilac foi um dos mais louvados poetas de seu tempo, e ainda hoje tem prestígio. Foi um artífice da palavra, sabendo conjugar o rigor formal parnasiano com grande expressividade, obtendo efeitos imagéticos e ritmos interessantes, depositando no último terceto de seus sonetos a síntese de suas ideias, a chamada “chave de ouro”.

Seus temas mais frequentes são: Amor sensual: vazado em um erotismo que oscila entre o explícito e o requintando; essa sensualidade não vulgariza o amor, que sempre aparece como sentimento nobre e transcendente. O nacionalismo: em que o autor revela seu conservadorismo; episódios da história do Brasil e suas personagens são frequentes nessas poesias. A mitologia greco-latina: assiduamente abordada pelo poeta. A metalinguagem: eleição da própria poesia como tema poético, está entre as preferências de Bilac. O índio: aparece em sua obra como um eco romântico tardio. Um certo decadentismo da vida e das coisas é também uma das tônicas de sua poesia.

Nasceu em Palmital de Saquarema, Rio de Janeiro, em 1857. Alberto de Oliveira Nasceu em Palmital de Saquarema, Rio de Janeiro, em 1857. Em seu primeiro livro, Canções Românticas, a influência do Romantismo é nítida, mas, apesar disso, nota-se que ele prioriza o rigor formal e já apresenta certa contenção emocional; a partir de Meridionais, abraça o ideário parnasiano ao qual se manteria fiel, e há algumas notas simbolistas em suas obras finais. Isso não impediu que ele fosse tido pela crítica como o mais radical dos nossos parnasianos. Morreu em Niterói, em 1937.

Raimundo Correia Nasceu no Maranhão (baía de Mongúcia), em 1860. Seu livro de estreia, Primeiros Sonhos, traz poemas sentimentais, ainda sob influência romântica. A partir do segundo, Sinfonias, Raimundo Correia rendeu-se aos ideais da estética parnasiana, tornando-se um de seus melhores representantes em língua portuguesa, não apenas pelo apurado requinte formal, mas também pela profundidade com que desenvolveu seus temas. Soube driblar a impessoalidade proposta pelo Parnasianismo e atingir o universalismo, desenvolvendo temas sociais e, sobretudo, filosóficos: a busca de uma verdade essencial e imorredoura, os conflitos da condição humana, etc. Seus poemas têm uma suavidade e uma melancolia acalentadas pela influência de Schopenhauer, pensador alemão que acreditava que a arte é a sublimação da dor, e o sofrimento é inerente à condição humana. Morreu em Paris, em 1911, de problemas renais.  

Texto IV Profissão de fé (fragmento) Invejo o ourives quando escrevo: Imito o amor Com que ele, em ouro, o alto relevo Faz de uma flor. Torce, aprimora, alteia, lima A frase; e, enfim, No verso de ouro engasta a rima, Como um rubim. Quero que a estrofe cristalina, Dobrada ao jeito Do ourives, saia da oficina Sem um defeito:

E horas sem conto passo, mudo, O olhar atento, A trabalhar, longe de tudo O pensamento. Porque o escrever - tanta perícia, Tanta requer, Que ofício tal... nem há notícia De outro qualquer. Assim procedo. Minha pena Segue esta norma, Por te servir, Deusa serena, Serena Forma! Olavo Bilac

Texto V A um poeta Longe do estéril turbilhão da rua, Beneditino, escreve! No aconchego Do claustro, na paciência e no sossego, Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua! Mas que a forma se disfarce o emprego Do esforço; e a trama viva se construa De tal modo, que a imagem fique nua, Rica mas sóbria, como um templo grego.

Não se mostre na fábrica o suplício Do mestre Não se mostre na fábrica o suplício Do mestre. E, natural, o efeito agrade, Sem lembrar os andaimes do edifício. Porque a Beleza, gêmea da Verdade, Arte pura, inimiga do artifício, É a força e a graça na simplicidade. Olavo Bilac

Texto VI Via Láctea - Soneto XIII "Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto... E conversamos toda a noite, enquanto A via-láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo. Que conversas com elas Direis agora: "Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?" E eu vos direi: "Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas". Olavo Bilac

Texto VII Oficina irritada Eu quero compor um soneto duro como poeta algum ousara escrever. Eu quero pintar um soneto escuro, seco, abafado, difícil de ler. Quero que meu soneto, no futuro, não desperte em ninguém nenhum prazer. E que, no seu maligno ar imaturo, ao mesmo tempo saiba ser, não ser.

Esse meu verso antipático e impuro há de pungir, há de fazer sofrer, tendão de Vênus sob o pedicuro. Ninguém o lembrará: tiro no muro, cão mijando no caos, enquanto Arcturo, claro enigma, se deixa surpreender. Carlos Drummond de Andrade

Texto VIII Soneto Penicilina puma de casapopéias Que vais peniça cataramascuma Se partes carmo tu que esperepéias Já crima volta pinda cataruma. Estando instinto catalomascoso Sem ter mavorte fide lastimina És todavia piso de horroroso E eu reclamo – Pina! Pina! Pina!

Casa por fim, morre peridimaco Martume ezola, ezole martumar Que tua para enfim é mesmo um taco. E se rabela capa de casar Estrumenente siba postguerra Enfim irá, enfim irá pra serra. Millôr Fernandes

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Texto VIII Rosa Tu és Divina e graciosa Estatua majestosa Do amor Por Deus esculturada E formada com o ardor Da alma da mais linda flor De mais ativo olor Que na vida É preferida pelo beija-flor Se Deus Me fora tão clemente Aqui neste ambiente De luz Formada numa tela Deslumbrante e bela O teu coração Junto ao meu, lanceado, pregado E crucificado Sobre a rósea cruz Do arfante peito teu Tu és A forma ideal Estatua magistral Oh! Alma perenal Do meu primeiro amor Sublime amor Tu és De Deus a soberana flor Tu és De Deus a criação Que em todo coração Sepultas o amor O riso, a fé e a dor Em sândalos olentes Cheios de sabor Em vozes tão dolentes Como um sonho em flor És Láctea estrela És mãe da realeza És tudo enfim que tem de belo E todo resplendor Da santa natureza

Perdão Se ouso confessar-te Eu hei de sempre amar-te Oh! Flor Meu peito não resiste Oh! Meu Deus quanto é triste A incerteza de um amor Que mais me faz penar Em esperar Em conduzir-te um dia ao Pé do altar Jurar Aos pés do onipotente Em preces comoventes De dor E receber a unção De tua gratidão Depois, de remir, meus desejos Em nuvens de beijos Hei de te envolver Até meu padecer De todo o fenecer