A vida é liturgia
A vida é liturgia… Quando as pessoas trabalham para ganhar a vida e para melhorar o mundo, estão continuando o ato de amor pelo qual Deus iniciou a Criação.
Somos convidados a fazer do nosso trabalho um serviço a Deus e ao povo. Neste sentido, todo trabalho é coisa de Deus, todo “ofício” é “divino”, toda a nossa vida é liturgia.
Como todo amor supõe expressões, a relação com Deus pede para ser celebrada. Por isso, muitas pessoas sentem necessidade de tirar uma parcela do seu tempo para investir na celebração desta vida.
Ao trabalho comunitário de louvar e dar graças ao Senhor porque ele é bom, costumamos chamar, desde tempos antigos, de Ofício Divino por excelência.
O nome indica: “o trabalho de Deus”, Deus agindo na gente e no mundo. É a proclamação do que Deus faz por nós, e por meio de nós, mais do que o nosso serviço de culto a ele.
Ofício Divino das Comunidades
O Oficio Divino das Comunidades possibilita uma oração cotidiana conforme a tradição da Igreja, de rezar com salmos e outros cânticos bíblicos, no ritmo das horas e dos tempos do ano litúrgico, com uma linguagem acessível às nossas comunidades.
Depois de 20 anos desde a primeira edição, tornou-se uma referência reconhecida nas comunidades eclesiais do nosso país. E de certa forma ele cresceu com a prática das comunidades.
Inculturação... Inculturação... a preocupação de adequar a linguagem dos textos, os ritos e o estilo da celebração ao modelo eclesial (teologia e prática) assumido por nossas comunidades a partir do Concílio Vaticano II e de Medellin.
Parte-se do princípio que a inculturação da liturgia não é uma tarefa isolada, mas tem a ver com a inserção da Igreja no mundo, com a sua missão.
Como bem formulou o liturgista filipino, Anscar Chupungco, a inculturação “não é apenas problema antropológico, mas também teológico, pois tange tudo o que toca o relacionamento entre Deus e o seu povo”. Esta preocupação perpassa todo o Oficio.
Aparece nos hinos, nas orações, nas preces, nas introduções aos salmos etc. Aparece especialmente na Recordação da vida, introduzida par explicitar a relação entre o mistério pascal vivido no dia a dia e a celebração litúrgica.
Outro importante destaque é a inclusão de elementos da piedade popular, realizando concretamente a ‘mútua fecundação’ entre liturgia e religião popular. E não apenas incorporando elementos externos, mas procurando corresponder à piedade e ao “fervor espiritual” do povo; aos “anseios de oração e de vida cristã”, tão característicos da piedade popular... Por exemplo:
As repercussões da piedade popular podem ser percebidas no próprio estilo do oficio. A ritualidade e a singeleza da celebração, com seu tom coloquial, sem muitas palavras explicativas, centrada no mistério pascal de Jesus, com seus salmos, hinos e orações em linguagem acessível, encontra eco na piedade do povo, com sua capacidade contemplativa e sua atitude de confiança em Jesus.
Além disso, um exemplo concreto são as aberturas: com seu conteúdo bíblico e estrutura dos benditos populares em formato de repetição, traduzem com muita propriedade o sentido teológico do invitatório.
Respeitando sua forma responsorial, possibilita o diálogo e conduz à oração. A repetição foi bastante valorizada na elaboração dos diversos elementos que compõem o ODC, libertando a oração do papel e dando razão ao aspecto oral da piedade popular.
É um dos elementos que mais agrada o povo e realmente convida a entrar na oração. Outro exemplo são os hinos - “cai a tarde o sol se esconde”, “pecador agora é tempo” e outros mais — tomados do repertório popular. Poderíamos ainda falar da dimensão relacional, de aliança, que cria um clima orante, comum à liturgia e à piedade popular.
Montagem: Renato,SJ.