Deixo contigo meu sangue meus livros e minhas horas. E a dor cansada na insônia contra o lençol das demoras. Deixo a paz que eu encontrei, mas me fugiu entre os dedos. E a chave surda e sem uso da gaveta dos meus medos.
Deixo perdido um poema e não por esquecimento: mas pra que um dia eu te encontre na leve pauta dos ventos. Deixo contigo meu ventre, meus olhos, minhas entranhas. E com mãos nuas, reflito: - Perde mais quem hoje ganha?
Deixo contigo meus beijos, meu suor, meu desabrigo. Deixo roupas, documentos. De meu, nada irá comigo Deixo a sombra, de teimosa. Deixo as fotos, deixo a casa. Do poço mais infinito só levo a alma, presa e rasa.
Imagem: Tela - “A Espera” - cedida pelo autor ( Texto: Inventário do desamor- Dilan CamargoJornal Zero Hora (16/02/2007) Música: Sonata nº 6 - Violinos de Paganini Formatação: Site: