Simbolismo português Álvaro Cardoso Gomes.

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Hoje é sábado, 21 de setembro de 2019
A Flor da Honestidade.
Transcrição da apresentação:

Simbolismo português Álvaro Cardoso Gomes

As Flores do Mal Prefácio: “Poetas ilustres tinham dividido há muito tempo as províncias floridas do domínio poético. Pareceu-me prazeroso, e tanto mais agradável, porque a tarefa era mais difícil, extrair a beleza do mal.” (Les fleurs du mal. Paris, Garnier, 1961. p. 248.)

Das circunstâncias históricas Revolução industrial Crença no progresso promovido pela ciência Positivismo de Comte: O “como” substitui o “porquê” Do Simbolismo como estética antipositivista e antimaterialista Schopenhauer

Das relações com o Romantismo Valorização do sonho e da espiritualidade, mas sem confessionalismo e sentimentalismo Do sentimento como objeto do Romantismo à representação das sensações fugazes, oníniricas, misteriosas por meio do símbolo

O símbolo Creio [...] que, no fundo, os jovens estão mais próximos do ideal poético do que os parnasianos, que ainda tratam seus temas à maneira dos velhos filósofos e dos velhos retóricos, apresentando os objetos diretamente. Penso ser preciso, ao contrário, que haja somente alusão. A contemplação dos objetos, a imagem alçando vôo dos sonhos por eles mesmos suscitados, são o canto; já os parnasianos tomam a coisa e mostram-na inteiramente: com isso, carecem de mistério; tiram dos espíritos essa alegria deliciosa de acreditar que estão criando. Nomear um objeto é suprimir três quartos do prazer do poema, que consiste em ir adivinhando pouco a pouco: sugerir, eis o sonho. É a perfeita utilização desse mistério que constitui o símbolo: evocar pouco a pouco um objeto pra mostrar um estado de alma, ou inversamente, escolher um objeto e extrair dele um estado de alma, através de uma série de adivinhas. (Mallarmé, OEuvres complètes, p. 868.)

O caráter não convencional dos símbolos Os símbolos do Simbolismo têm de ser definidos de maneira algo diversa do sentido dos símbolos comuns — o sentido de que a Cruz é o símbolo da Cristandade ou as Estrelas e as Listras o símbolo dos Estados Unidos. Esse simbolismo difere inclusive de um simbolismo como o de Dante. Pois o tipo familiar do simbolismo é convencional e fixo; o simbolismo da Divina Comédia é convencional, lógico, preciso. Mas os símbolos da escola simbolista são, via de regra, arbitrariamente escolhidos pelo poeta para representar suas idéias; são uma espécie de disfarce de tais idéias. (Edmundo Wilson, O castelo de Axel, p. 21.)

A música como arte por excelência AO LONGE OS BARCOS DE FLORES Só, incessante, um som de flauta chora, Viúva, grácil, na escuridão tranquila, – Perdida voz que de entre as mais se exila, – Festões de som dissimulando a hora. Na orgia, ao longe, que em clarões cintila E os lábios, branca, do carmim desflora... Só, incessante, um som de flauta chora, Viúva, grácil, na escuridão tranquila. E a orquestra? E os beijos? Tudo a noite, fora, Cauta, detém. Só modulada trila A flauta flébil... Quem há-de remi-la? Quem sabe a dor que sem razão deplora? Só, incessante, um som de flauta chora...

O poeta como vidente O Assinalado Tu és o louco da imortal loucura,   Tu és o louco da imortal loucura, O louco da loucura mais suprema. A Terra é sempre a tua negra algema, Prende-te nela a extrema Desventura. Mas essa mesma algema de amargura, Mas essa mesma Desventura extrema Faz que tu'alma suplicando gema E rebente em estrelas de ternura. Tu és o Poeta, o grande Assinalado Que povoas o mundo despovoado, De belezas eternas, pouco a pouco... Na Natureza prodigiosa e rica Toda a audácia dos nervos justifica Os teus espasmos imortais de louco!

O poeta como vidente Eu sou um visionário, um sábio apedrejado, Passo a vida a fazer e a desfazer quimeras, Enquanto o mar produz o monstro azulejado E Deus, em cima, faz as verdes Primaveras. Sobre o mundo onde estou encontro-me isolado, E erro como estrangeiro ou homem de outras eras, Talvez por um contrato irônico lavrado Que fiz e já não sei noutras sutis esferas. A espada da Teoria, o austero Pensamento, Não mataram em mim o antigo sentimento, Embriagam-me o Sol e os cânticos do dia... E obedecendo ainda a meus velhos amores, Procuro em toda a parte a música das cores, — E nas tintas da flor achei a Melodia. (Gomes Leal, apud MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através dos textos, p. 301-2.).

Do caráter aristocrático do Simbolismo “a nova arte será requintada, atormentada, nevrótica e orgulhosa, aristocraticamente incompreensível para o vulgo”. Alberto Osório de Castro in Boêmia Nova tal a obra que o Poeta concebeu longe dos bárbaros, cujos inscientes apupos (...) não lograrão desviá-lo do seu nobre e altivo desdém de nefelibata”. (Eugênio de Castro, prefácio de Horas)

O simbolismo em Portugal Oaristos, 1890, mas com antecedentes, Quental, por exemplo: Junto do mar, que erguia gravemente A trágica voz rouca, enquanto o vento Passava como o vôo dum pensamento Que busca e hesita, inquieto e intermitente, Junto do mar sentei-me tristemente, Olhando o céu pesado e nevoento, E interroguei, cismando, esse lamento Que saía das cousas, vagamente... Que inquieto desejo vos tortura, Seres elementares, força obscura? Em volta de que idéia gravitais?... Mas na imensa extensão, onde se esconde O inconsciente imortal, só me responde Um bramido, um queixume, e nada mais... (Oceano nox. Apud MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através dos textos. São Paulo, Cultrix, s.d. p. 320.).

Simbolismo em Portugal 1- a busca da expressão especiosa,rica, (Eugênio de Castro) 2- a busca da fala fluente, (Antônio Nobre) 3- a busca da expressão fluida, (Camilo Pessanha O que possuem em comum: a busca pelo novo, a priori e a posteriori

Simbolismo em Portugal, nacionalismo “se o simbolismo francês preza o artificial e tem caráter urbano, o português, devido a condições histórico culturais, quase sempre valoriza o natural e tem os olhos voltados para o campo”. (p. 19) “o Neogarretismo dá à estética simbolista feições bem lusitanas, ao valorizar o campo em oposição à cidade, o natural ao artificial, a linguagem simples, espontânea, ao rebuscamento formal, o passado ao futuro”. (p. 19)

Antonio Nobre Virgens que passais, ao Sol-poente, Pelas estradas ermas, a cantar! Eu quero ouvir uma canção ardente, Que me transporte ao meu perdido lar. Cantai-me, nessa voz omnipotente, O sol que tomba, aureolando o Mar A fartura da seara reluzente, O vinho, a graça, a formosura, o luar! Cantai! Cantai as límpidas cantigas! Das ruínas do meu lar desaterrai Todas aquelas ilusões antigas Que eu vi morrer num sonho, como um ai.... Ó suaves e frescas raparigas, adormecei-me nessa voz...cantai !

Simbolismo em Portugal, Decadentismo Influência francesa: aristocratismo, hedonismo, clima mórbido, linguagem barroquizante

Eugênio de Castro Um sonho. Na messe, que enlourece, estremece a quermesse... O sol, o celestial girassol, esmorece... E as cantilenas de serenos sons amenos Fogem fluidas, fluindo à fina flor dos fenos... As estrelas em seus halos Brilham com brilhos sinistros... Cornamusas e crotalos, Cítolas, cítaras, sistros, Soam suaves, sonolentos, Sonolentos e suaves, Em suaves, Suaves, lentos lamentos De acentos Graves, Suaves. Flor! enquanto na messe estremece a quermesse E o sol, o celestial girassol esmorece, Deixemos estes sons tão serenos e amenos, Fujamos, Flor! à flor destes floridos fenos... Soam vesperais as Vésperas... Uns com brilhos de alabastros, Outros louros como nêsperas, No céu pardo ardem os astros... Como aqui se está bem! Além freme a quermesse... – Não sentes um gemer dolente que esmorece? São os amantes delirantes que em amenos Beijos se beijam, Flor! à flor dos frescos fenos... As estrelas em seus halos Brilham com brilhos sinistros... Cornamusas e crotalos, Cítólas, cítaras, sistros, Soam suaves, sonolentos, Sonolentos e suaves, Em suaves, Suaves, lentos lamentos De acentos Graves, Suaves... (...)

Simbolismo em Portugal, universalismo O tema do tempo: revalorização da infância e do passado (Nobre); fragmentação do real e obsessão pelo Nada (Pessanha).

Camilo Pessanha Imagens que passais pela retina Dos meus olhos, porque não vos fixais? Que passais como a água cristalina Por uma fonte para nunca mais!... Ou para o lago escuro onde termina Vosso curso, silente de juncais, E o vago medo angustioso domina, - Porque ides sem mim, não me levais? Sem vós o que são os meus olhos abertos? - O espelho inútil, meus olhos pagãos! Aridez de sucessivos desertos... Fica sequer, sombra das minhas mãos, Flexão casual de meus dedos incertos, - Estranha sombra em movimentos vãos.