A Miscigenação na Expansão Portuguesa (Séculos XV-XVIII) Curso de Verão – 22 de Agosto a 10 de Setembro de 2016 A Miscigenação na Expansão Portuguesa (Séculos XV-XVIII) 3. Os Conceitos Operatórios Teresa Lacerda
O que entendemos por mestiço? - Indivíduos cujos primogenitores têm origens étnicas distintas. - A Expansão portuguesa pôs em contacto diferentes povos e culturas resultando daí um novo quadro de cruzamento étnico, assistindo-se a um aumento exponencial das variáveis: europeus, africanos, ameríndios, asiáticos.
As ideias preconcebidas sobre a cor que os europeus levaram consigo HESPANHA, António Manuel, “As Cores e a Instituição da Ordem no Mundo do Antigo Regime”, in Sons, Formas, Cores e Movimentos na Modernidade Atlântica. Europa, América e África, Júnia Ferreira Furtado (org.), São Paulo, Annablume, 2008, pp. 345-359. A teoria aristotélica das cores “O amarelo, vermelho e azul eram as cores básicas ou “nobres”, das quais todas as outras derivavam. Já as cores primárias eram o branco e o negro, a luz e as trevas, como dois elementos opostos de cuja luta derivavam as cores.” P. 347 As cores uma ordem inscrita na natureza “Os significados, valores e hierarquias das cores estão inscritos na natureza das coisas, como elementos de uma ordem natural, ou como sinais postos nas coisas para que o seu lugar nessa ordem se torne patente a todos.” P. 349. “O branco exprime, naturalmente a inocência; o vermelho, sangue as paixões (dolorosas ou gozosas) do corpo; o terroso e baço, o primitivo e rústico; o pálido ou cerúleo, tal como o negro, a morbidez e a morte”. P. 349
As cores e a tradição bíblico-cristãs “O branco é cor da pureza (candidus), do baptismo, do mistério pascal, da ressurreição (o renascimento, a manhã, a alba ou alva) e da vida eterna. Enfim, o branco corresponde à luz pura e luminosa do sol, essa luz que tantas vezes é identificada com Deus”. P. 350 “Em contrapartida, o negro carrega-se de uma pesada simbologia: a falta de luz, a abstinência, a penitência, a aflição e o sofrimento.”. p. 350 Misturar cores era perturbar a ordem do mundo “Este carácter natural da ordem das cores explica também, por sua vez, a gravidade da mistura de cores […]. Uma cor nova nunca se deve obter misturando corantes azuis com corantes amarelos; mas, antes, buscando corantes autónomos verdes, ou degradando os tintos das cores originais até se obter o tom desejado. Misturar cores seria como que perturbar a ordem do mundo, criando um hermafroditismo contra natura.” P. 357.
HORTA, José da Silva, “A imagem dos Africano pelos portugueses antes dos contactos” in O Confronto do Olhar. Encontro dos povos na época das Navegações Portuguesa, Luís de Albuquerque, António Luís Ferronha, José da Silva Horta e Rui Loureiro (coord.), Lisboa, Caminho, 1991, pp. 43-70. “A cor negra (num dos seus sentidos) é definida, no apêndice final como de interpretação de «palavras e figuras da Bíblia», não só como a cor do pecado mas igualmente do demónio.” P. 45. A tradição medieval difundiu a imagem do diabo na figura de uma criança negra. Pp. 45-46.
Quais os termos que se encontram nas fontes para designar mestiços? Baço Branco da terra Cabra Cafre Cafuzo Crioulo Etíope Fusco Guinéu Índio Mameluco Mestiço Mulato Negro Pardo Preto Trigueiro
Significado de alguns desses termos no Vocabulário Portuguez e Latino de Raphael Bluteau
“branco” – indicava também pessoa “bem nascida” – a cor branca estava associada à liberdade, em oposição à cor negra, associada à escravatura, mas também a um bom nascimento. “pretinho” – “vale o mesmo que pequeno escravo” “preto” – também se chama o escravo preto” “negro” – “homem da terra dos negros ou filho de pais negros” “negrinho” – “uma rapaz negro” “pardo” – é antes de mais nada, uma cor: a “cor entre branco e preto”, que é “própria do pardal, donde parece lhe veio o nome” “mulato” – é equivalente a “pardo” “mulata e mulato” – Filha e filho de branca e negra ou de negro e de mulher branca. Esse nome de mulato vem de mu ou mulo, animal gerado de dois outros de diferente espécie” “mestiço” – “nascido de pais de diferentes nações, por exemplo, filho de português e de índia ou de pai índio e mãe portuguesa”