Espiritualidade e Natureza

Discurso de Dalai Lama num Simpósio Ecumênico na Universidade de Middlebury, Vermont, EUA, em 14 de setembro de 1990, quando ele abordou sobre religião e o meio ambiente.

Imagino que vocês tenham vindo aqui com algumas expectativas, mas praticamente nada tenho a oferecer. Só tentarei compartilhar algumas de minhas experiências próprias e minhas concepções.

Vejam, cuidar do planeta não é nada em especial, nada sagrado e nada santo. É como tomar conta de nossa própria casa.

Não temos outro planeta ou casa, exceto este. Embora existam muitos transtornos e problemas, essa é a única alternativa. Não podemos ir para outros planetas.

Por exemplo, olhem a lua; ela surge e parece tão linda à distância; morar lá, no entanto, será horrível. Isso é o que concluo.

Olhem o nosso planeta azul: é melhor e mais alegre. Portanto, precisamos tomar conta de nosso próprio lugar, nossa casa, nosso planeta.

Afinal, o ser humano é um animal social. Sempre digo aos meus amigos que eles não precisam estudar filosofia, estes assuntos profissionais complicados.

A simples observação dos animais inocentes, insetos, formigas, abelhas, etc, acaba me provocando um certo respeito por eles.

Como?! Porque eles não têm nenhuma religião, nem constituição, nenhuma força policial, nada, mas vivem em harmonia dentro da lei natural da existência, da lei ou sistema da natureza.

O que há de errado em nós, seres humanos? Temos tanta inteligência e sabedoria. Penso que frequentemente usamos a inteligência humana de forma e na direção erradas.

Como consequência, praticamos ações que vão essencialmente contra o fundamento da natureza humana.

De certa forma a religião é um tanto quanto suntuosa. Se você tem uma religião, muito bem; mesmo sem religião você pode sobreviver e se conduzir, mas sem o afeto humano não sobreviverá.

Embora a raiva, o ódio e, também, a compaixão e amor façam parte de nossas mentes, ainda acredito que as forças dominantes sejam a compaixão e o carinho humanos.

Costumo chamar estas qualidades de espiritualidade, não necessariamente de uma mensagem religiosa ou uma religião em si.

Ciência e tecnologia aliadas ao afeto humano serão construtivas. Ciência e tecnologia sob o controle do ódio serão destrutivas.

Se praticarmos a religião correta e genuinamente, ela não estará fora, mas dentro de nossos corações. A base de qualquer religião é um bom coração, então isso é bom. Eu digo que o amor e a piedade são a religião universal.

Esta é minha religião. Filosofias complicadas, sejam quais forem, às vezes criam mais dificuldades e problemas.

Se estas filosofias sofisticadas são úteis para o aperfeiçoamento da bondade, então isto é bom: use-as inteiramente.

Se estas filosofias ou sistemas se tornam um obstáculo para o coração bom, é melhor os deixar de lado.

Se observarmos atentamente, a afeição natural dos seres humanos é a chave para um bom coração. Acho que a mãe é o símbolo da compaixão.

Todos temos uma semente do bom coração. A única coisa é se nós cuidamos ou não de dar conta do valor da piedade.

Tenzin Gyatso, o 14º Dalai Lama, líder do Tibet, doutor em filosofia budista, já foi homenageado com o Prêmio Nobel da Paz, mas se considera apenas um simples monge.

Formatação, versão para o português e redação Leila Marinho Lage Música “Dammerschein” Instrumental com Born Georg Deuter Fonte de pesquisa