O metafórico sertão de Guimarães Rosa

Slides:



Advertisements
Apresentações semelhantes
ABRIR O CORAÇÃO A DEUS CONHECER-ME EM DEUS
Advertisements

Immanuel Kant O que é o Iluminismo.
CURSO BÁSICO DE ESPIRITISMO 2011 METAS
ESTÉTICA 1.
Aluno:Daniel Pires de Mello Tema:República de Platão
Filosofia O amor ao saber Prof. Alan Carlos Ghedini
" Conquistar a felicidade "
Paulo exortou-os a não receberem a graça de Cristo em vão
Critérios de estudo e interpretação do Evangelho
A Concepção Objetiva da Arte
Platão e a Teoria das Idéias
Prezado Irmão Este estudo, o qual denominamos “A Verdade Acima de Tudo”, é uma profunda e substanciosa abordagem sobre a Doutrina da trindade. Esta abordagem,
A necessidade de nascer de novo
construção da felicidade
Estou aprendendo Irene Alvina Clicar.
Filosofia Professor Breno Cunha
ARTES DA IMAGEM, DA MÚSICA E DO PENSAMENTO TEXTOS: Autores Diversos
ARTES DA IMAGEM, DA MÚSICA E DO PENSAMENTO
Criação: Marlos Urquiza Cavalcanti
Fenomenologia Edmund Husserl ( ).
Toda alma tem cheiro de roça…
Vivei o Presente Abdruschin (Escrito em 1931).
Maria a Bem-Aventurada
Profa. MSc. Daniela Ferreira Suarez
COMO VOCÊ ENCARA “SEUS PROBLEMAS”.
Fotos: TUDO BRANCO Texto: FELICIDADE.
O QUE É A SOLIDÃO? ROBERTO ROMANELLI MAIA Automático / Sonorizado.
AMIGO D’ALMA.
Existencialismo – Parte II
COMO VOCÊ ENCARA “SEUS PROBLEMAS”.
O Cético e o Lúcido   No ventre de uma mulher grávida estavam dois bebês. O primeiro pergunta ao outro: — Você acredita na vida após o nascimento? — Certamente.
Inteligências que percorreram, construíram e herdaram de si mesmas tudo o que a expressão humana fantasticamente pode conceber, não nos cabe mais a fundação.
A ARTE DE PERDOAR Em todos os caminhos de crescimento humano, tanto psicológico quanto espiritual, uma ênfase especial é dada à questão da mágoa. Não só.
Parte II - Carlos _ Bru.  Eu não estou passando informação para vocês serem melhores, eu estou transmitindo informações para que vocês entendam o mecanismo.
Pr. Marcelo Augusto de Carvalho
Dor de perda Letícia Thompson.
Filosofia O que é filosofia?.
Platão e o mundo das Ideias
Capítulo 1 – Geografia: Introdução e conceitos
Existe somente uma estrada real para a jornada espiritual... O amor! Existe na Índia um ser de luz feito do mais puro amor... Sai Baba!
Palavra de Vida Janeiro
Uma flor chamada mamãe Letícia Thompson som.
Escola de Evangelização de Pacientes Grupo Espírita Guillon Ribeiro
LIGAR O SOM E DEIXAR CAMINHAR SOZINHO... Um instante de silêncio para pedir a graça do Espírito Santo...
Nasce uma Mamãe segunda-feira, 10 de abril de :37:01
 A Bíblia inteira nos foi dada por inspiração de Deus, e é útil para nos ensinar o que é verdadeiro, e para nos fazer compreender o que está errado em.
- Homem como animal político
ARTES DA IMAGEM, DA MÚSICA E DO PENSAMENTO TEXTOS: Autores Diversos
FILOSOFIA 3ª SÉRIE E.M. IDEALISMO ALEMÃO.
A GRAVIDEZ DA AMIZADE -Slides Automático -.
Fotos: TUDO BRANCO Texto: FELICIDADE.
O que vim fazer neste mundo?
“Apegue-se à instrução, não a abandone; guarde-a bem, pois dela depende a sua vida...
Fotos: TUDO BRANCO Fotos: TUDO BRANCO Texto:FELICIDADE Texto: FELICIDADE.
Quem quer voar, cria asas…
A imaginação segundo Gaston Bachelard
ESTÉTICA 1.
By Búzios Slides A DOR DA PERDA Avanço automático.
EXISTENCIALISMO Filosofias de Base I Especialização em Gestalt-terapia
O budismo considera que todos os nossos sofrimentos se originam dos desejos. O desejo move o mundo. Ele pode nos arrastar ao inferno ou nos elevar ao.
#SalveaHumanidade #ProtocoloMundo
“Escrever é traduzir. Mesmo quando estivermos a utilizar a nossa própria língua. Transportamos o que vemos e o que sentimos para um código convencional.
A natureza do desejo - Osho
Défilement automatique ou manuel A felicidade é, sem dúvida, uma qualidade inerente a todo ser humano., Central Park.
Ciclos da Vida Existem ciclos de sucesso, como quando as coisas acontecem e dão certo... E os ciclos de fracasso, quando elas não vão bem e se desintegram.
Mecanicismo cartesiano
INOBJETIVIDADE DA EXISTÊNCIA
Estética Antiga Objetivos do texto:
A Verdadeira Propriedade
Professora Rosana Rossatto 7º ano Outono de 2016.
Transcrição da apresentação:

O metafórico sertão de Guimarães Rosa “O sertão está em toda parte.” “O sertão é sem lugar; é dentro da gente; é do tamanho do mundo.”

Guimarães Rosa nasceu em um casebre de onde se via a pequena estação ferroviária de Codisburgo (“cidade do coração”). Talvez daí esse olhar de chegar e partir, essa inquietação de quem adivinha o mundo grande e pequeno. Pequeno no estar por enquanto; grande nas possibilidades de estar.

Sua obra todo dia amanhece mais cheia de fios, mais plena de possibilidades interpretativas. Para penetrá-la e necessário aprender um idioma, dispor-se a ter um olhar vasto até a náusea, pensar o mundo; mas sobretudo pensar a si mesmo sem reservas. Ter um tanto de religiosidade também é bom. Especialmente no sentido de se religar com a substância suprema que deu vida ao Universo. Para isso é preciso atravessar o sertão, que, como se sabe, está em toda a parte.

Um Regionalismo Universal

Ainda que G. Rosa se valha de um espaço regional - em especial o Sertão das Gerais e da gente que ali vive -, sua obra prioriza questões universais. O sertanejo em seu espaço vive um impasse existencial que pode ser vivido e/ou compreendido por qualquer indivíduo, em qualquer espaço. Esse personagem passa por uma crise existencial, ou por uma sucessão delas, que o faz rever o seu ser e estar no mundo; ao mesmo tempo uma crise com o universo concreto, com aquilo que lhe é externo.

Prisioneiro desse processo, o personagem rosiano faz um questionamento profundo e constante do sentido das coisas, da validade de certos esforços, da legitimidade das normas sociais e daquilo que é corretamente aceito como verdadeiro. Esses movimentos quase invariavelmente conduzem os personagens a uma ascese, a epifanias; eles sofrem um conflito, descem aos infernos de si mesmos, mas emergem renovados, melhores, mais fortes, mais sábios, iluminados.

O final último é a alegria O final último é a alegria. Sempre simbolizando a aceitação da condição de ser humano, com tudo o que esse sentimento implica, e a tomada de consciência de si mesmo como parte essencial do cosmo. A alegria, em G. Rosa, é a elevação espiritual e/ou moral em estado puro. Uma elevação inquestionável, um passo certo rumo ao mundo das formas perfeitas de que falava Platão, quanto à idéia da existência de dois planos:o mundo sensível e o mundo das idéias, ou das formas perfeitas.

O primeiro é aquele em que estamos, mas, apesar de nos parecer real, o que nele vemos não passa de uma projeção do que se passa no segundo, onde residem as formas e idéias perfeitas, verdadeiras e inquestionáveis. Desse modo, retoma-se a idéia de que a alma é eterna, tem uma espécie de memória residual do mundo das idéias e inconscientemente busca voltar a ele, retomando os referencias verdadeiros. Essa ascese muitas vezes é movida pela dor, pelo conflito: algo rompe a planura do cotidiano, arremessando o personagem numa crise; o conflito leva-o, por sua vez a um redimensionamento das perspectivas.

É importante frisar que esse mecanismo platônico – que implica ignorância e obscurantismo (mundo sensível, estado de caverna), crise, dor e ascese (elevação espiritual, ascensão ao mundo das formas perfeitas, ou a trilha nesse sentido) – é recorrente em várias filosofias e religiões. O mundo das idéias encontra correspondência no Paraíso cristão, no Nirvana budista, no plano último das reencarnações espíritas etc.

O Sertão e a Travessia

O grau de universalismo que G O grau de universalismo que G. Rosa atribuiu ao sertão é claramente explicitado pelo autor: “O sertão está em toda parte.” // “O Sertão é do tamanho do mundo.”. claro está, portanto, o caráter metonímico desse espaço: a parte (sertão) é metonímia do todo (mundo/vida) Frequentemente para as personagens de Rosa há a situação da travessia do sertão. Ela é, naturalmente, a representação metafórica da travessia da vida, com seus percalços, como o que há de luta entre a condição humana e o universo mundano.

O foco, portanto, está no “graminhar”, no processo, na caminhada progressiva por natureza e destino inexorável do homem... “Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.”

Palavras-chaves e imagens: Sertão (“ser tão!!!), Travessia, Ascese e Epifania, Silêncio e pensar, Viver, Veredas.

Vereda s.f. Caminho estreito, atalho, senda. / Fig. Via moral: as veredas da salvação. / Bras. Região com maior abundância de água e vegetação na zona das caatingas. / (S da BA) Várzea ao longo de um rio. / Fig. Ocasião, momento: naquela vereda, eu fugi. // Bras. (S) De vereda, de repente.

TERRITORIALIDADE “o sentido da palavra territorialidade como sinônimo de pertencer àquilo que nos pertence... esse sentimento de exclusividade e limite ultrapassa a raça humana e prescinde da existência de Estado. (...) a territorialidade humana pressupõe também a preocupação com o destino, com a construção do futuro, o que, entre os seres vivos é privilégio do homem.” (SANTOS, 2001, p.19)

Pode ser relativa a um espaço vivido, um sistema percebido, através do qual o indivíduo sente-se “em casa”; é entendida como uma projeção de nossa identidade sobre o território.