Movimento Estudantil 1968, o ano que não termina Caio Túlio Costa

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Transcrição da apresentação:

Movimento Estudantil 1968, o ano que não termina Caio Túlio Costa Casa do Saber, 30 de agosto de 2005

Joana D’Arc. Óleo do séc. 19

La Liberté guidant le peuple, óleo de Delacoix

Gravura celebrando a Comuna, século 19.

Manifestação estudantil na França em maio de 68, a “Joana de Maio”

Dimensão mundial A movimentação estudantil se produz em dimensão mundial em 1968 – acentuadamente na Europa A “vaga subversiva” atinge mais de trinta países entre fevereiro e outubro de 1968 França, Alemanha, Inglaterra, Irlanda do Norte, Polônia, EUA, Itália, Espanha, México, Brasil, Argentina, Uruguai, Nicarágua....

O cenário francês De um lado, militantes organizados (em especial militantes trotskistas e maoístas) à frente de um esquema bem organizado, rígido – pode-se dizer leninista. De outro lado, a grande massa que literalmente explodiu, inteiramente fora e até contra o leninismo. Ela que desenvolve instintivamente uma estratégia nova que contesta radicalmente tanto as estruturas repressivas do Estado quanto as do contra-poder comunista. Apud Jacques Baynac

O cenário brasileiro De um lado, o poder militar em desagregação. De outro os estudantes organizados funcionando como espécie de porta-vozes da estrutura partidária colocada na ilegalidade pela ditadura. De outro a grande massa estudantil, que também literalmente explode contra o regime opressivo.

Janeiro de 68 – dois fatos 5 - Alexander Dubcek (1921 – 1992) eleito primeiro secretário do Comitê Central do Partido Comunista Tcheco. 4 a 11 - Congresso Cultural de Havana, “Colonialismo e neo-colonialismo no desenvolvimento cultural dos povos”. Reunião de intelectuais de todos os países, Jean-Paul Sartre entre eles.

Janeiro de 68 / França 8 - Inauguração da piscina do campus de Nanterre pelo ministro da juventude e do esporte, François Missoffe, detido pelos estudantes. 26 - Violentos incidentes em Caen entre os grevistas da montadora SAVIEM e as “forças da ordem”. Conflitos em Nanterre. 27 – Jacques Derrida e “La Différance”, conferência na Sociedade Francesas de Filosofia “(...) la différance renvoie mieux par le fonctionnement de son a à ce que le langage classique appellerait l´origine oú la production de différences (...)”. Ainda 27 – Jimmi Hendrix se apresenta em Paris, no Olympia.

Janeiro de 68 / Brasil 13 - "Roda Viva" estréia no Teatro Princesa Isabel, no Rio de Janeiro. 15 - Passeata dos estudantes do Calabouço contra o fechamento do restaurante (de estudantes) porque era ponto de encontro e foco de agitação.

Fevereiro de 68 / três fatos 7 - Discordâncias violentas por ocasião de uma manifestação organizada pelos Comitês Vietnamitas. 15 - Países africanos boicotam as Olimpíadas no México por conta da admissão da África do Sul nos jogos. 17 e 18 - Berlim: manifestações da juventude européia contra a guerra do Vietnã por iniciativa do SDS (Sozialistischer Deutscher Studentenbund, a Federação Alemã dos Estudantes Socialistas - Rudi Dutschke). 20 mil participantes.

Fevereiro de 68 / França 24 - Louis Althusser faz conferência na Sociedade Francesa de Filosofia: “Lênin contra a filosofia universitária”: “Os professores universitários são os lacaios diplomados”, “A noção de verdade é uma noção ideológica”. Ainda 24 - Declaração social e política conjunta do PCF (Partido Comunista Francês) e da FGDS (Federação da Esquerda Democrática e Socialista). William Burroughs é descoberto na França com o velho La Machine Molle (The Soft Machine) publicado em 1961 na própria França.

Fevereiro de 68 / Brasil 8 - Assalto a banco em São Paulo. Primeira das quarenta e sete ações atribuídas à esquerda. 12 - Greve nacional dos artistas contra a censura. 15 - Passeata de excedentes (aprovados no vestibular, mas sem vagas nas universidades) no Rio. 23 - Passeata de excedentes em São Paulo.

Março de 68 / França 15 - O jornalista Hubert Beuve-Méry deixa do Le Monde. Artigo na primeira página do Monde: “o que caracteriza atualmente nossa vida pública é o aborrecimento”. 20 - Ataque à sede parisiense da American Express. 22 - Incidentes em Nanterre. Ocupação da torre de administração. Criação, por anarquistas, do Movimento do 22 de Março. 29 – Maurice Duverger escreve no Monde: “Primavera em Praga?” Pergunta se se trata da reconciliação do comunismo e da liberdade.

Março de 68 / Brasil 21 - Estudantes invadem e ocupam a reitoria da USP. 22 - Passeatas em São Paulo. 28 - Manifestação contra o fechamento do Calabouço. Polícia invade o restaurante e mata o estudante Edson Luís. Seus colegas levam o corpo para a Assembléia Legislativa. Teatros suspendem os espetáculos. 29 - Edson Luís é enterrado no Rio por sessenta mil pessoas. Manifestações de protesto em todo o país deixam vinte feridos. A UNE decreta greve geral dos estudantes. 30 - Novas manifestações em diversas capitais. Em Goiânia, a polícia mata outro estudante, Ivo Vieira.

Abril de 68 / França / Alemanha / EUA 3 - Primeira manifestações da Fração Armada Vermelha, de Andréas Baader (depois Baader-Meinhof): duas lojas de departamento em Frankfurt incendiadas. 4 - Assassinato de Martin Luther King em Memphis, no Tennessee. Manifestações em várias cidades americanas. Lançada em Paris a radio “Campus” A radio jovem contra a televisão dos pais. 25 - O deputado comunista Pierre Juquin é expulso do campus de Nanterre pelos maoístas. 27 - Sucesso na França do programa diário de Ménie Grégoire na TV: A psicanálise, produto de consumo corrente? 28 - Comando pró-chinês destrói exposição de apoio ao Vietnã do Sul.

Abril de 68 / Brasil 1o - Estudantes nas ruas nas principais cidades do país protestam contra a ditadura. Governo coloca o Exército nas ruas do Rio. 2 - Passeatas e greves em várias capitais do país. 3 - Segue a agitação estudantil. 4 - Missa de Sétimo Dia na Candelária por Edson Luís. Cavalaria da PM investe com sabres contra padres e estudantes. Conflitos em todo o país. 5 - Ministro da Justiça proíbe o funcionamento da Frente Ampla que Carlos Lacerda articulava com Juscelino Kubistchek e João Goulart. 16 - Começa a greve de metalúrgicos em Contagem, Minas Gerais. Durante nove dias, quinze mil operários permanecem parados.

Maio de 68 / França - 1 1 – Sai o primeiro número do jornal La Cause du Peuple, órgão marxista-leninista-maoísta. Diretor: Roland Castro. O jornal teve Jean-Paul Sartre entre seus diretores. Desfile da CGT, PC e PSU na Place de la Republique e na Bastille. 2 - Início da viagem de Georges Pompidou (primeiro-ministro) ao Irã e Afeganistão. Incidentes em Nanterre onde os cursos são suspensos. 3 - Meeting no pátio da Sorbonne. Editorial de Georges Marchais (líder comunista) no jornal comunista L’Humanité no qual fustiga "o anarquista alemão Cohn-Bendit" e zomba dos "revolucionários (...) filhos da alta burguesia (... ) que rapidamente terão apagadas a suas chamas revolucionárias para ir dirigir a empresa do papai e explorar os trabalhadores". A polícia evacua a Sorbonne a pedido do reitor. Manifestação no Quartier Latin. Incidentes. Quase seiscentas interpelações policiais. 4 - Condenação de pessoas interpeladas na véspera. Chamada à greve ilimitada da UNEF e do SNEsup. Suspensão das aulas na Sorbonne.

Maio de 68 / França - 2 5 - Condenação à prisão de quatro manifestantes do dia 3 de Maio. 6 - Violência no Quartier Latin. Comparecimento de Daniel Cohn-Bendit e estudantes de Nanterre à comissão disciplinar. Manifestações. Primeiras barricadas. Violentas confrontações com a polícia. Mais de quatrocentas detenções. 7 - Manifestação de Denfert-Rochereau até o Arco do Triunfo. Sai Action, primeiro número do jornal do movimento estudantil francês onde vai aparecer Siné, Wolinski, Reiser. 8 - Discurso do conservador Alain Peyrefitte na Assembléia Nacional. 9 - Os líderes estudantes anunciam intenção de ocupar a Sorbonne assim que a polícia sair. Em resposta, Alain Peyreffite declara que a Sorbonne continuará fechada até voltar a calma. 10 - Noite de motins ao Quartier Latin onde se levantam 60 barricadas. A polícia intervém a partir de duas horas da manhã. Noite das barricadas.

Maio de 68 / França - 3 11 - Centrais sindicais CGT e CFDT e a FEN conclamam à greve geral a partir de 13 de maio. Georges Pompidou regressa do Afeganistão e anuncia a reabertura da Sorbonne para 13 de maio. 13 - o Tribunal de Recurso põe em liberdade provisória os condenados em 5 de maio. Reaberta, a Sorbonne é imediatamente ocupada. Manifestação sindical da estação do Leste até Denfert-Rochereau. Os estudantes continuam até Champs-de-Mars. Greve geral. Manifestações de trabalhadores, professores e estudantes. 14 - Partida do General De Gaulle para a Romênia. PCF e FGDS (Federação da Esquerda Democrática e Socialista) apresentam moção de censura na Assembléia Nacional. Daniel Cohn-Bendit ganha perfil na imprensa (Zoom). 15 - Ocupação da fábrica da Renault em Cléon. Ocupação do Teatro Ódeon aos gritos de “Marx, Marcuse, Mao”.

Maio de 68 / França - 4 16 - O movimento grevista se estende nas empresas. 17 - Encontro de François Mitterrand com o líder comunista Waldeck-Rochet. Greve na ORTF (Office de la Radio et de la Télévision Française). 18 - Regresso de General de Gaulle da Romênia. Greve geral. A paralisia econômica se espraia pelo país. François Truffaut, Jean-Luc Godard, Claude Lelouch, Claude Berri e Louis Malle interrompem o Festival de Cannes. 20 - Sartre vaiado por estudantes da Sorbonne: “Sartre, seja breve”. A greve generaliza-se. 22 - A moção de censura ao governo depositada na Assembléia Nacional pela esquerda é rejeitada. Daniel Cohn-Bendit é proibido de morar na França. Criação do Comitê Nacional de Defesa da República (CDR). Os sindicatos declaram-se prontos para negociar com o governo. Ataque da sede nacional conjunta do CDR e do Serviço de Ação Cívica, na rua Solferino, por manifestantes.

Maio de 68 / França - 5 24 - Nova noite das barricadas. O General De Gaulle anuncia um referendo para o mês de junho. A Bolsa de Valores é incendiada. Um Comissário de polícia é morto em Lyon por um caminhão lançado pelos manifestantes. 25 a 27 - Início de negociações na rua de Grenelle (sede dos Ministérios do Trabalho e dos Affaires Sociales). Aumento do SMIG (salário mínimo inter-profissões garantido), dos salários e promessa de redução do ritmo de trabalho. 26 - O General De Gaulle dá o seu acordo para a organização de uma grande manifestação na sexta-feira, 31 de maio, que acontece dia 30. 27 - Acordo a respeito do protocolo de Grenelle entre os sindicatos, o patronato e o governo (aumento do SMIG e dos salários, redução da jornada de trabalho, redução da idade da aposentadoria). Manifestação no estádio de Charléty em Paris organizada pela UNEF (União Nacional dos Estudantes Franceses), o PSU (Partido Socialista Unificado) e a CFDT (Confederação Francesa Democrática do Trabalho).

Maio de 68 / França - 6 28 - Coletiva de imprensa de Mitterrand que anuncia sua candidatura à presidência da República em caso de vacância do poder. Reunião de trinta diretores de Casas da Cultura e de teatros populares. Todo esforço cultural deve ser “um empreendimento de politização, quer dizer, de invenção”. Francis Jeanson inventa a expressão “não-público”, alvo privilegiado daí para a frente 29 – Adiada a reunião do Conselho de Ministros. O General de Gaulle deixa o Palácio do Elysée de manhã e chega à Colombey-les-deux-Eglises, via Baden- Baden onde encontrou o General Massu. Pierre Mendès France declara-se pronto para formar um novo governo. De Gaulle retira-se. 30 - Às16h30 o General De Gaulle anuncia a dissolução da Assembléia Nacional. Uma manifestação de apoio ao chefe do Estado reúne um milhão de pessoas nos Champs-Elysées. De Gaulle que diz que não vai se retirar.

Maio de 68 / França -7 31 - Remanejamento ministerial. Manifestações de apoio ao General De Gaulle no interior da França. O Homem Unidimensional, de Herbert Marcuse (o ensaio sobre a ideologia da sociedade industrial avançada) é o best-seller do ano na França. Mais de mil exemplares vendidos por dia. Também faz sucesso na França O Novo Estado Industrial, de John Kenneth Galbraith, ensaio sobre o sistema econômico americano, sobre a era da tecno-estrutura. Jean Baudrillard lança “O Sistema dos Objetos” que trata do consumo enquanto fundamento do nosso sistema cultural. Nicos Poulantzas lança “Poder Político e Classes Sociais” no qual fala da “autonomia relativa” da política numa plataforma marxista. Albert Cohen lança “Belle du Seigneur”, o “amor louco” nos tempos de liberação sexual.

Maio de 68 / Brasil 1o - Dia internacional do trabalho é comemorado com manifestações em todo o país. Em São Paulo, estudantes apedrejam o governador Abreu Sodré. 7 - Manifestações no Rio.

Junho de 68 / França / Tchecoslováquia 5 - Início da retomada dos trabalhos nos serviços públicos. 6 e 7 - Evacuação violenta da fábica Flins pela polícia especial, a CRS (Compagnies Républicaines de Sécurité). Confrontos. 10 - Morte do secundarista Gilles Tautin. 11 - Evacuação da fábrica Peugeot-Sochaux. Confrontos. 2 mortos. Reocupação da Flins pelos grevistas. 18 a 24 - Retomada dos trabalhos na Renault, Peugeot e Citroën. 23 a 30 - Primeiro e Segundo turno das eleições legislativas. A direita francesa, a UDR (União para a Defesa da República), ganha de forma acachapante as eleições: 358 cadeiras num total de 485. 27 - Tchecoslováquia: “Manifesto das duas mil palavras”. 70 artistas, sábios e atletas assinam documento pró-democratização. Reino do plástico, a nova matéria. Um símbolo: os banquinhos Tam Tam, desenhados por Henri Massonet. “Les carnets du Major Thompson” de Pierre Daninos, é o livro mais vendido na França desde 1948: 1,4 milhão de exemplares.

Junho de 68 / Brasil 4 - Greve Geral na UFRJ. 11 - Estudantes paulistas ocupam reitoria da USP. 19 - Passeatas no Rio e em São Paulo. 20 - Concentração estudantil na reitoria da UFRJ (Praia Vermelha). Cerca de quatrocentos estudantes são presos e humilhados no campo do Botafogo. Revolta em todo o país. 21 - Sexta-feira sangrenta no Rio. Estudantes, apoiados por populares, protestam contra a ação da PM no campo do Botafogo. Enfrentamentos durante todo o dia deixam mais de mil presos, sessenta feridos e três mortos. Polícia invade Universidade de Brasília. 22 - A VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) realiza uma ação para se apropriar de armas no hospital militar de Cambuci. 24 - Manifestações em várias capitais. 26 - Passeata dos Cem Mil no Rio. Polícia se retira das ruas e não ocorrem incidentes. Formada na passeata uma comissão para dialogar com o governo. 27 - A VPR lança um carro-bomba contra o Quartel General do II Exército em São Paulo.

Julho de 68 / França 10 - Formação do governo Couve de Murville na França após a demissão de Georges Pompidou. 25 - A encíclica Humanae Vitae, de Paulo VI, desaprova o controle de natalidade e o aborto terapêutico. Grandes reações de protesto.

Julho de 68 / Brasil 2 - Na Faculdade de Filosofia é descoberta a espiã Maçã Dourada (Heloísa Helena), falsa estudante infiltrada no movimento pela polícia. Reunião em Brasília entre o general Costa e Silva e a comissão dos Cem Mil. 4 - Passeata pacífica no Rio de cinqüenta mil pessoas. 16 - Comando de Caça aos Comunistas (CCC) ataca o Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, onde se levava a peça "Roda Viva“. Espancam atores e destroem o cenário. Greve dos quinze mil trabalhadores em Osasco. 18 - Estudantes se manifestam no Rio e São Paulo em solidariedade aos trabalhadores de Osasco. 22 - Atentado à bomba na ABI.

Agosto de 68 / França / México 20 - Intervenção das tropas do Pacto de Varsóvia na Tchecoslováquia. Comunicado do PCF fala em “surpresa e reprovação”. 23 e 24 - México: fuzilaria na Praça das Três Culturas. O enfrentamento de policiais versus estudantes faz oficialmente 18 mortos, oficiosamente seriam centenas.

Agosto de 68 / Brasil 2 - Atentado contra o Teatro Opinião, no Rio. 3 - Prisão de Vladimir Palmeira. 6 - Passeatas no Rio. 9 - Novas passeatas no Rio violentamente reprimidas. 10 - A ALN (Ação Libertadora Nacional) “expropria” o trem pagador Jundiaí-Santos. 19 - Atentado à bomba contra o Dops de São Paulo. 29 - Polícia invade a Universidade de Brasília. Vários feridos graves. 30 - Assembléia de estudantes na UFRJ atacada a tiros pela polícia.

Setembro de 68 / França 5 - François Truffaut lança Beijos Roubados. A educação sentimental do após maio-68. 18 - Rouge, jornal de ação comunista, órgão da antiga JCR trotsquista (Juventude Comunista Revolucionária): “Em maio nós tomamos a palavra e ela será a última arma que nos farão entregar”. 26 - Stanley Kubrick lança 2001, uma Odisséia no Espaço. O filme, que custou cerca de US$ 10 milhões, exigiu três anos de preparação e a colaboração técnica da NASA e da IBM. O choque do futuro. William Reich e A Revolução Sexual, o grande clássico da síntese Freud-marxista. Aparece o enciclopedismo “new look”: primeiro volume da Enclycopedia Universalis.

Setembro de 68 / Brasil 3 - O deputado federal Márcio Moreira Alves ataca a ditadura militar no Congresso. 7 - Atentado contra a Editora Tempo Brasileiro. 13 - Os ministros militares se julgam ofendidos e solicitam abertura de processo contra Márcio Moreira Alves. 28 - Caetano Veloso vaiado com a música É Proibido Proibir no III Festival Internacional da Canção. No festival, ganhou Sabiá, de Tom Jobim e Chico Buarque.

Outubro 68 / França 12 - No México, se assiste à abertura das XVI Olimpíada. No pódio, Tommy Smith e John Carlos, atletas negros afro-americanos levantam o punho enluvado de negro, símbolo do “black power”. 12 - Na França, primeira reunião do Grupo de Estudos Teóricos da Tel Quel (Pierre Boulez, Julia Kristeva e Philippe Sollers entre outros) que lançam a Carta Comunista e se propõem a construir uma “teoria do conjunto” a partir da psicanálise, lingüística, semiologia e o marxismo-leninismo. 31 - Dissolução do movimento francês de extrema-direita, o Ocidente. 124 livros publicados sobre maio de 68 até este mês. Gabriel Garcia Márquez publica “Cem anos de solidão”, parábola da história da AL. Sai o primeiro número da revista Change (Le Seuil): “Nós habitamos as sociedades pré-moldadas – desmontar suas formas não é suficiente, é preciso ir até o nível onde elas se produzem por si mesmas engendrando este jogo de formas – para mudá-las”. O dissidente soviético Alexander Soljenitsin se torna célebre com a tradução de O Primeiro Círculo e O Pavilhão dos Cancerosos (O Arquipélago Gulag sai no ocidente só em 1977). O Ducrot, T. Todorov, S. Sperber, M. Safouan, F. Wahl: “O que é o estruturalismo?” O que a aplicação do método estruturalista mudou no desenvolvimento da lingüística, da poética, da antropologia, da psicanálise e da filosofia? Primeira publicidades de televisão na França. Dois minutos por dia. Criação da Esquerda Proletária – aliança do maoísmo com o espontaneísmo.

Outubro de 68 / Brasil 1o - O deputado Maurílio Ferreira Lima denuncia ao Congresso o plano de utilizar o Para-Sar (Serviço de Salvamento da Aeronáutica) em ações terroristas sob o comando do brigadeiro João Paulo Burnier. 3 - Conflito em SP entre o CCC e estudantes de Filosofia da USP. Um morto. 4 - Grupo para-militar seqüestra em Porto Alegre atores de "Roda Viva". 6 - Polícia reprime com violência manifestações no Rio e em São Paulo. 8 - Normal Bengell é seqüestrada em São Paulo por um comando de direita. 12 - Polícia estoura o 30º Congresso da UNE que se realizava em Ibiúna. Presos cerca de oitocentos estudantes e, entre elas as principais lideranças do movimento estudantil: Luís Travassos (presidente eleito), Vladimir Palmeira, José Dirceu, Franklin Martins e Jean Marc Von Der Weid. 13 - Atentado à bomba contra a Editora Civilização Brasileira. 14 - Manifestações de protesto em todo o país contra as prisões em Ibiúna. 22 - Um morto e sete feridos à bala na repressão contra uma manifestação na Faculdade de Ciências Médicas em Vila Isabel.

Novembro 68 / França 12 – Sai a Lei de Orientação do Ensino Superior. Criação das unidades de aprendizagem e de pesquisa (UER) reagrupadas em universidades pluridisciplinares, financeira e administrativamente autônomas. Estudantes participam diretamente da gestão. Lei adotada por unanimidade. E. Goffman: Asilos. Estudo sobre a Condição Social dos Doentes Mentais (apresentação de R. Castel). Teoria da “instituição totalitária”. Gilles Deleuze publica Différence et Répétition, como sair da filosofia da identidade.

Novembro de 68 / Brasil 08 - ALN “expropria” carro pagador no Rio de Janeiro.

Dezembro de 68 / França As obras de Marshall McLuhan são traduzidas na França: A Galáxia de Gutenberg, O Meio é a Mensagem (Message et Massage) e Para compreender a Mídia. Serge Gainsburg: 69, année érotique. Em 31 de janeiro do ano seguinte estudantes interrompem a aula de Theodor Adorno, em Frankfurt. Ele suspende o curso. “Afinal, preciso defender os interesses do Instituto - nosso velho Instituto (…) Recentemente, o sr. Cohn-Bendit disse-me, durante uma discussão numa associação profissional, que eu só teria o direito de procurar a polícia se alguém quisesse espancar-me a pauladas; respondi que então talvez fosse tarde demais. O caso da ocupação do Instituto não permitia nenhum comportamento diferente do nosso. (...) A exigência que os estudantes me lançaram recentemente - fazer autocrítica pública -, considero-a puro stalinismo”, diz em carta a Marcuse. Adorno morre em agosto de 69.

Dezembro de 68 / Brasil 3 - CCC explode bomba no Teatro Opinião no Rio. 7 - Atentado contra o Correio de Manhã. 12 - Congresso Nacional rejeita licença para processar Márcio Moreira Alves. 13 - Ministro da Justiça anuncia o AI nº 5. 18 - Prisão de Gil e Caetano. Geraldo Vandré foge para o Chile. Alguns livros publicados no Brasil em 1968: Florestan Fernandes, Sociedade de Classes e Subdesenvolvimento / 1968: Zahar Soren Kierkegaard, O conceito da angústia / 1968: Hemus Livraria Editora Fernando Sabino, O Homem Nú / 1968: Sabiá, Stanislaw Ponte Preta, Stanislaw, Febeapá - 2: Segundo festival de besteira que assola o pais Filmes: Glauber filma O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro. Neste ano, fala em sair definitivamente do Brasil e em 1969 exibe O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro no Festival de Cannes 69 que lhe daria o prêmio de melhor diretor. O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla

O enigma Jacques Baynac: “Lá (na noite das barricadas) está o coração do enigma de maio. Eu acredito que 68 foi a verdadeira revolução na revolução, nada a ver com aquela anunciada por Regis Debray, mas aquela que, pela primeira vez na história, viu manifestar-se uma força subversiva criada pela abundância e não mais pela miséria, uma força que não queria mais morrer pela revolução mas viver graças a ela, uma força que queria mudar tanto o modo de vida quanto o mundo, mas que se recusava a tomar o poder para fazê-lo.”