Frei Herculano Alves, OFMCap. MINISTÉRIOS em S. PAULO Frei Herculano Alves, OFMCap.

Metáfora do Corpo de Cristo É importante considerar que Paulo não emprega a metáfora do “corpo” para designar o corpo da igreja, mas o corpo de Cristo. Interessa-lhe apre- sentar a presença de Cristo no mundo através da presença da Igreja.

Ministério da Eucaristia (1 Cor 11,23-29) Com efeito, eu recebi do Senhor o que também vos transmiti: o Senhor Jesus na noite em que era entregue, tomou pão e tendo dado graças, partiu-o e disse: ‘Isto é o meu corpo, que é para vós; fazei isto em memória de mim’.

Do mesmo modo, depois da ceia, tomou o cálice e disse: ‘Este cálice é a nova Aliança no meu sangue; fazei isto sempre que o beberdes, em memória de mim.’ Porque, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha. Assim, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será réu do corpo e do sangue do Senhor. Portanto, examine-se cada um a si próprio e só então coma deste pão e beba deste vinho; pois aquele que come e bebe, sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a própria condenação (1 Cor 11,25-29).

Conclusões importantes a tirar ► Todos os elementos da Igreja são necessários, tal como os diversos membros de um corpo. Não há os mais importantes e os menos importantes, os mais santos e os menos santos… O que importa é que cada um realize o que deve, da melhor maneira, à semelhança das diversas partes do corpo. ►Os diferentes ministérios e dons não são para uso pró- prio, mas para o bem de todo o corpo eclesial: Cristo também não viveu para si, mas para os outros (Rm 12,3-8). ►As pessoas não se definem pela sua autonomia, mas pela participação, pela comunhão.

Tríade principal em Paulo Mestres (didaskaloi) São associa- dos aos pro- fetas e ensi- nam a dou- trina segun- do a tradição rabínica (Act (13,1). Apóstolos Estes apóstolos são diferentes dos 12. São missionários itinerantes. Profetas São os mais comuns (1 Cor 14,1-17; Ef 2,20). São chefes de comunidades locais nos Actos (4,36; 13,1; 15,32). Lista de Antioquia: Act 13,1. Em Ef 4,11 acrescenta outros ministérios. Também se diz que tais ministérios sãos dons do Espírito Santo, Ele é a origem de todos (1 Cor 12,28).

Em 1 Cor 12,12-27, contexto da metáfora do corpo de Cristo, refere-se àqueles que Deus estabeleceu na igreja: os apóstolos, os profetas, os mestres. Em seguida vêm os que fazem milagres, depois os que têm os dons da cura, o dom da assistência, do governo, de falar diversas línguas. E termina: São todos apóstolos? Todos profetas? Todos mestres? Fazem todos milagres? Possuem todos os dons das curas? Falam todos línguas? Têm todos o dom de as interpretar? (28-30).

Principais colaboradores de Paulo Têm estatuto ministerial Timóteo, Tito, de origem pagã. Epafras (Cl 4,12). Epafrodito (Fl 2,25). Tíquico (Cl 4,7-9). Onésimo (Cl 4,9)… São escolhidos pelos Apóstolos e aprovados pela comunidade; trabalham geralmente na comunidade, que os controla (1 Cor 14,29).

As mulheres são profetisas Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que também é diaconisa na igreja de Cêncreas recebei-a no Senhor, de um modo digno dos santos, e assisti-a nas actividades em que precisar de vós (Rm 16,1). Rm 16; Cl 4,15; Flm 1-2 mostram que elas tinham acti- vidades normais na Igreja, juntamente com os maridos; é o princípio da igualdade entre os dois (Gl 3,28).

►Os ministérios não estavam ligados ao celibato (1 Cor 7). ►O celibato pode ajudar Paulo e outros: Eu quisera que estivésseis livres de preocupações. Quem não tem esposa, cuida das coisas do Senhor, como há-de agradar ao Senhor (1 Cor 7,32). ► Os ministros vivem do Evangelho: 1 Cor 9,14; Gl 6,6. Por vezes, Paulo não aceita que lhe paguem.

Ministérios: carisma ou instituição? A riqueza de ministérios (dons, carismas, funções) manifesta que não havia hierarquia entre eles. Algumas conclusões: ► O ministério cristão paulino não é um oficio litúrgico, ao contrário do sacerdócio, que é tão antigo como o ho- mem. Estes ministérios estão ao serviço da comunidade. ► O mais importante não é o ministério, mas a comunidade. ► O ministério cristão tem a ver com a acção, não com honras. ► O ministério cristão é um serviço da igreja, universal e diverso. Tem a ver com as qualidades e vocação de cada um, num sistema mais carismático do que de eleição, em favor da construção do corpo de Cristo.

Os ministérios em Colossenses e Efésios • As Cartas aos Colossenses e Efésios são muito importantes para a questão dos ministérios no Novo Testamento. Para Ef 2,20, a igreja é fundada pelos “Apóstolos e Profetas”, para o crescimento coerente do Corpo, para o bem de todos (Ef 4,7-16). • O autor deixa entender que a igreja, fundada pelos Apóstolos e Profetas, já pertence ao passado; por isso escreve que Cristo constituiu alguns como Apóstolos, Profetas, Evangelistas, Pastores e Mestres, em ordem a preparar os santos para uma actividade de serviço, para a construção do Corpo de Cristo (Ef 4,11-13).

Dinâmica do ministério de Paulo ► Oração, hinos das primeiras comunidades, oração pela comunidade e pelas autoridades (1 Tm 1,12). ► Combate por Cristo (2 Tm 2,3-7; 1 Tm 6,7-10). ► Esperança nas provações (1 Tm 1,1; Tt 2,13; 2 Tm 4,18). ► Oferta da vida pelos irmãos (2 Tm 2,4-16; 4,6-8).

Os ministérios nas Cartas Pastorais • As Cartas Pastorais influenciam de modo decisivo os ministérios do séc. II e III. • Escritas para ajudar as comunidades a encontrarem o seu caminho de unidade doutrinal contra as falsas doutrinas, e a preservarem o depósito da fé. • Não se trata da Igreja universal, à maneira de Cl e Ef, mas das igrejas locais, divididas por facções doutrinais, que necessitavam de ser governadas e doutrinadas por quem vivia permanentemente nas comunidades, e não à maneira dos ministérios itinerantes paulinos.

►As comunidades, na visão das Cartas Pastorais, são como famílias que precisam de um pai honesto, trabalhador, piedoso e zeloso. ► Assim aparecem os bispos (1 Tm 3,1-7), os presbíteros (Tt 1,6) e os diáconos (1 Tm 3,8-13). Não se trata de missionários mas de pastores locais. ► Os presbíteros/bispos são nomeados para cada comunidade (cidade) (Tt 1,5-7) e têm autoridade no governo desta, para que não se desintegre e guarde o depósito da fé. Não se fala de sacramentos e da sua presidência, mas de governo e doutrina.

A imagem que caracteriza a comunidade é a da casa-família. Os bispos, presbíteros e diáconos são os pais da família, que devem zelar pela unidade da mesma (1 Tm 3,5; ver 3,15; 2 Tm 2,20; 3,6; Tt 1,6-9). Os cristãos devem portar-se em relação aos bispos, presbíteros e diáconos como em relação às autoridades civis (Tt 3,1).