Sobre o livro... Conhecido como um dos maiores focos de violência urbana do Rio de Janeiro, o conjunto Habitacional “Cidade de Deus” é o campo de pesquisa sobre o qual foi elaborado esse livro, que aborda a pobreza e seus diferentes significados. Alba Zaluar faz aqui um rico e diversificado estudo da vida de seus moradores, seu trabalho, a constituição de sua vida familiar, lazer e religião, buscando entender, entre outras coisas, as diferentes histórias de vida que levam ao trabalho ou ao banditismo.

O Antropólogo e os Pobres – Introdução Metodológica e Afetiva Imagine-se estacionando seu carro particular na rua de um bairro de pobres cujo nome permanecia nas manchetes dos jornais (...) O Cenário Não era desprovido de tranqüilidade De certos ângulos parecia mesmo calmo de intensa vida social entre os vizinhos Meninos correndo, soltando pipa no telhado. Donas de casa conversando no portão Homens jogando carteado na birosca Trabalhadores passando a caminho do trabalho Grupinhos na esquina e tudo mais que foi eternizado para nós no samba

Mas a tensão era visível Nos bêbados apedrejados, na mulher louca andando pela rua em meio a indiferença geral e nas esquinas estratégicas e nos olhares atentos e avaliadores dos adolescentes que se encaminham para a vida que denominamos criminosa. Sinais de miséria social e moral eram sublimados pela própria composição material do conjunto. Ruas esburacadas, cheias de lama e de dejetos fétidos do esgoto.

A Primeira Fase Um novo papel nas idas e vindas de mediador intelectual entre os pobres temidos e meus temerosos iguais. O intuito principal da pesquisa era recolher as representações dos moradores acerca da pobreza vinculadas ao consumo nas unidades domésticas. A Recepcão Com desconfiança, como jornalista interessada em difamar o local, ora com esperança como enviada do governo que antecederia os sacos de feijão e arroz que o governo iria mandar para as pessoas pobres.

A Entrevista Dos que aceitavam, a expectativa era de que a autora funcionasse como agência ambulante de emprego. Mulheres tentando encaminhar seus filhos para o mercado de trabalho. Dos que não aceitavam o argumento de um homem é de que isso não serviria para nada, E uma mulher que queria saber quantos sacos de feijão ganharia por isso.

Na Segunda Fase Contato com a associação de moradores e organizações voltadas para o lazer. Opção por dedicar-se a agremiações carnavalescas e aos times de futebol. Isto porque a principal associação recusou abrir a história da associação. Resolve procurar as organizações que atuavam ao nível das quadras praças, das ruas do conjunto e que se espalhavam por todo ele.

Armadilhas Clientelísticas Oferta de atuar no papel de juíza da escola de Samba Pedidos velados de dinheiro para passagem Pedidos de roupas velhas e de presentes para as crianças Pedidos mais claros de ajuda ao bloco nas suas obrigações de rituais e exibição de prestígio junto a outro bloco. Financiamento de bebida quando o bloco apadrinhou uma agremiação amiga. Pagamento de dívida de registro na federação dos blocos Palco para espetáculo para visitas importantes

Passada a fase inicial - Finalmente aceita Uma das lições mais marcantes durante a pesquisa foi a que não se pode fotografar juntos uma mulher com marido de outra, mesmo que seja no meio da rua. Uma das impressões mais vividas na memória foi a corrida descarada das crianças e a pressa mais disfarçada dos adultos em se postarem sob o ângulo das minhas lentes.

Material da pesquisa como resultado “Recolhi um material muito mais rico e mais diferenciado do que meu treinamento em farejar padrões, regularidades e estruturas me deixava suspeitar.”

Muito obrigada !!! FELIZ FÉRIAS!