José Gabriel Condorcanqui Tupac Amaru, o Tupac Amaru II, uma espécie de Tiradentes do Peru, nasceu a 10 de abril de 1738 em Surimana, localidade desse.

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2 José Gabriel Condorcanqui Tupac Amaru, o Tupac Amaru II, uma espécie de Tiradentes do Peru, nasceu a 10 de abril de 1738 em Surimana, localidade desse país

3 Embora perfeitamente assimilado a cultura branca peruana, ele era mestiço, e descendia diretamente de Tupac Amaru, último monarca inca, que viveu de 1540 a 1572 e que foi executado por ordem do vice-rei.

4 Tendo sucedido seu pai na função de cacique nas localidades de Surimana, Tungasuca e Pampamarca, o novo Tupac Amaru almejava libertar o país do jugo espanhol e reconstituir o império dos incas. 1

5 Pelas lutas que empreendeu nesse sentido, ele é considerado o precursor da emancipação social do Peru, ideal que lhe custou não apenas a própria vida (em 1781) mas também a de diversos membros de sua família, entre os quais sua esposa e um filho.

6 Em meados do século XVIII, a população indígena do Peru, então colônia da Espanha, era submetida as mais penosas condições de vida. Em sua História do Peru sob os Bourbons, o historiador Sebastian Lorente, a este respeito, descreve: "A opressão dos índios já excedia os limites de sua incomparável paciência. A lei declarava-os livres e o rei 2 queria que fossem iguais a seus demais vassalos; mas desde a infância até a morte sofriam as mais duras penas da servidão e eram tratados de maneira pior que os escravos, por cuja conservação era comum que o amo mais desumano se desfizesse em cuidados a fim de não perder o capital que representavam" 3

7 As leis espanholas destinadas a regulamentar a vida dos habitantes do Peru tendiam, com efeito, a oferecer ao índio alguma proteção, mas não eram cumpridas, e a impunidade para os maus governantes e transgressores era quase uma norma. O resultado disso era um quadro desolador, e representantes não apenas da própria comunidade indígena mas também da Igreja e do próprio governo clamavam por reformas radicais sem que no entanto se chegasse, na prática, a qualquer solução. E em meio a esse panorama que surge, na história do Peru, a figura heroica do cacique José Gabriel Tupac Amaru, uma espécie de Tiradentes desse país.

8 Assim como o mártir brasileiro, Tupac Amaru ousou enfrentar os poderes instituídos de sua nação, prenunciando assim o fim do jugo metropolitano. Ambos viveram na mesma época (há um intervalo de apenas oito anos entre suas mortes), e ambos fizeram eclodir, cada qual a sua maneira, o descontentamento que na América então grassava em função do domínio europeu. E, por uma estranha coincidência do destino, tanto na história de um como na do outro, ainda que de formas bastante distintas, o tema da mineração se faz presente. Afinal, Tiradentes, como se sabe, viveu em Minas Gerais, Estado que ganhou esse nome justamente porque, sendo rico em minérios, veio a notabilizar-se como um importante centro de extração.

9 E, quanto ao líder peruano, uma das principais causas pelas quais lutou foi a da abolição da mita, sistema de trabalho forçado e ininterrupto nas minas do Potosi, Bolívia, realizado por índios da região. Além disso, ambos foram supliciados publicamente por governos coloniais que, de forma semelhante, utilizaram seus despojos como peças de um degradante e desumano espetáculo de intimidação. Movidos a chicotadas, os índios que participavam da mita permaneciam em contínuo regime de servidão até que outros viessem a substituí-los (no antigo idioma dos incas, mita significa turno, ou um de cada vez) e isto, quase sempre, após terem realizado longas viagens nas mais precárias condições. Como é fácil imaginar, dos que eram designados para integrar esse infeliz sistema de trabalho muitos jamais retornavam a seus lares.

10 Em 1776, Tupac Amaru manifesta seu profundo descontentamento com a situação ao tomar a audaz iniciativa de encaminhar à cidade de Cuzco uma petição pelo fim dos padecimentos dos índios nas minas. Vários outros caciques haviam lhe outorgado poder para representá-los. Pouco tempo depois ele surpreende, uma vez mais, ao encaminhar a questão diretamente a real audiência, pois constatara que em Cuzco sua causa não chegaria a receber a devida atenção. Mas Tupac Amaru não perseguia apenas a abolição dos trabalhos forçados nas minas. Ele lutou também pela extinção dos obrajes - locais onde índios de todas as idades, em regime quase que de prisão, eram obrigados a tecer sem descanso - e, principalmente, pelo fim dos abusos cometidos por muitos corregedores, os quais impunham a comunidade indígena a compra, a preços bastante questionáveis, de uma série de quinquilharias que eles próprios se encarregavam de vender.

11 O que Tupac Amaru almejava, na verdade, era uma profunda transformação política, social e econômica, para a qual chegou, inclusive, a propor reformas e medidas. Não se sabe ao certo se ele pretendeu promover uma reforma no sentido separatista. Em vários documentos, o líder peruano chegou a afirmar que seu movimento não era contra o rei, mas contra seus maus representantes e ministros, uma vez que estes se mostravam incapazes de aplicar a lei. Porém, é preciso considerar que, logo de início, uma ruptura aberta com a Espanha teria sido altamente perigosa. É possível, portanto, que ele tenha seguido a mesma linha adotada pelos próceres de Quito, La Paz, Buenos Aires, Montevideo e Assunção entre os anos de 1809 e 1819, os quais, embora tivessem a independência como meta final, trataram de adotar ares de fidelidade à metrópole.

12 Mas, quaisquer que tenham sido as intenções de Tupac Amaru no que toca a esta questão, o certo é que seu objetivo maior era que se viesse a alcançar, no Peru, uma maior justiça social, de modo que o sofrimento dos mais miseráveis de seus habitantes pudesse vir a ser, se não extinto, ao menos sensivelmente amenizado. E é isto, precisamente, o que fez dele um grande personagem, talvez o maior, da história desse país. Inca RocaYahuar HuacaPachacuti Manco Capac

13 A RELIGIÃO DE TUPAC AMARU O Estado não foi a única instituição a sofrer críticas do valente mestiço: também a Igreja se descobriu em sua mira, pois, embora Tupac Amaru até certo ponto acatasse os preceitos católicos, ele defendia a ideia de que era preciso "buscar a verdadeira religião". Inca RocaYahuar HuacaPachacuti Manco Capac

14 Numa nota dirigida a administração da cidade de Cuzco, ele expressa: "Este Estado nunca lhes permitiu [aos peruanos] chegar a conhecer o verdadeiro Deus, mas apenas dar contribuições a corregedores e padres com seu suor e trabalho; de modo que, havendo eu pesquisado na maior parte do reino o governo espiritual e civil destes vassalos, concluo que todas as pessoas que compõe o número da população nacional não possuem luz evangélica, porque falta-lhes quem possa ministrá-la, já que maus exemplos lhes são oferecidos " 4 Inca RocaYahuar HuacaPachacuti Manco Capac

15 Em carta ao bispo dessa mesma cidade, alega o cacique jamais haver feito oposição à “Santa Igreja", pois pretenderia apenas "subtrair tiranias ao reino e que fosse observada a santa e católica lei...” 5 Mas os representantes desta mesma Igreja não pareciam dispostos a permitir que qualquer limpeza deste gênero fosse realizada. E, em novembro de 1780, quando a sublevação promovida por Tupac Amaru já estava em andamento, foi-lhes fácil encontrar pretexto para excomungá-lo. Inca RocaYahuar HuacaPachacuti Manco Capac

16 A SUBLEVAÇÃO Ninguém poderia imaginar que na cidade peruana de Yanacoa, na alvorada do dia 4 de novembro 1780, “acender-se-ia a tocha que haveria de dar início a um incêndio colossal que ameaçaria com suas chamas toda a estrutura do vice- reinado". Inca RocaYahuar HuacaPachacuti Manco Capac O historiador Julio Cesar Chaves, autor destas palavras, prossegue assim o seu relato: "Era aniversário do monarca reinante, Carlos III, e para celebrar a data, o padre de Yanacoa, Carlos Rodriguez, oferecia um almoço em sua casa, para o qual haviam sido convidados, entre outras autoridades e sacerdotoes, o corregedor Arriaga e Tupac Amaru. (...)

17 Após a sobremesa, com um pretexto qualquer, retirou-se o cacique, e foi emboscar-se com um grupo de homens de sua confiança no caminho que levava a cidade de Tinta afim de ali esperar pelo corregedor, que por essa via haveria de retornar à sede de seu governo (...) Confiante marchava Arriaga pelo caminho quando numa curva, saído de uma encosta, apareceu o cacique com seus homens." 6 Inca RocaYahuar HuacaPachacuti Manco Capac

18 Arriaga foi laçado, derrubado de seu cavalo e aprisionado. Após alguns dias, foi-lhe dito que sua prisão havia sido ordenada pelo próprio rei da Espanha. Seus capturadores obrigaram-no então a escrever uma carta às autoridades pedindo-lhes armas e dinheiro no intuito de apossarem-se dos mesmos, o que efetivamente acabaram conseguindo. No dia 10 de novembro, o corregedor foi executado na forca. Inca RocaYahuar HuacaPachacuti Manco Capac

19 Inca RocaYahuar HuacaPachacuti Manco Capac Por mais de uma vez, o pregoeiro da sentença repetiu: "Manda o rei, nosso senhor, que seja retirada a vida deste homem rebelde". 7 Executado Arriaga, tem início a insurreição. "Sem perda de tempo, começou o cacique a tomar medidas de caráter social e a abrir sua campanha panfletária. (...) Libertou pessoas, distribuiu roupas e mantimentos (...) Correu nas asas do vento (...) a nova da insólita rebelião. Grande e profunda era a alteração, e bastante alarmadas sentiam-se as autoridades". 8

20 Atahualpa Mama Ocllo Tupac Inca Yupanqui Huayna Capac Em questão de dias, Tupac Amaru já havia conseguido reunir um exército de mais de vinte mil índios e mestiços. O movimento teve repercussões em toda a América espanhola. "De tal forma aumentaram as forças adquiridas pelo rebelde - observava a Real Audiência de Lima - debilitando-se assim as de Cuzco, que na plebe ele infundiu pusilanimidade, sendo de temer-se a propagação do pernicioso contágio, mesmo às províncias mais distantes, o que obriga a aplicar remédios extraordinários..." 9 A partir de então, não faltou quem se empenhasse em aniquilá-lo. Sayri Tupac Tupac Amaru I Tupac Amaru II

21 Atahualpa Mama Ocllo Tupac Inca Yupanqui Huayna Capac O FIM DA REBELIÃO Sayri Tupac Tupac Amaru I Tupac Amaru II A derrota de Tupac Amaru aconteceu numa batalha a 6 de abril de 1781, quando, ao tentar tomar a cidade de Cuzco, ele caiu numa emboscada dos espanhóis. O cacique, no intuito de evitar um excessivo derramamento de sangue, protelara a invasão e tentara negociar com as autoridades. E estas, enquanto ele buscava alcançar esse objetivo, apressaram-se em organizar o exército que terminaria por imobilizá-lo.

22 Atahualpa Mama Ocllo Tupac Inca Yupanqui Huayna Capac Sayri Tupac Tupac Amaru I Tupac Amaru II À altura em que o confronto teve início, o número dos que seguiam Tupac Amaru já se encontrava sensivelmente reduzido, pois, tendo sido declarado pelos espanhóis que o comércio obrigatório com os corregedores seria abolido e que, com exceção dos que encabeçavam o movimento, todos os insurrectos seriam perdoados, muitos destes lhe voltaram as costas, engrossando as fileiras opostas ou simplesmente desertando.

23 Atahualpa Mama Ocllo Tupac Inca Yupanqui Huayna Capac Sayri Tupac Tupac Amaru I Tupac Amaru II No dia 15 de maio do mesmo ano, a sentença de morte do cacique é pronunciada. Ele é acusado de rebelião e amotinamento de índios em quase todos os territórios desse vice-reinado e também no de Buenos Aires. Rezava a sentença:

24 Atahualpa Mama Ocllo Tupac Inca Yupanqui Huayna Capac Sayri Tupac Tupac Amaru I Tupac Amaru II “ DEVO CONDENAR E CONDENO JOSÉ GABRIEL TUPAC AMARU A QUE SEJA LEVADO A PRAÇA PÚBLICA DESTA CIDADE, ARRASTADO ATÉ O LOCAL DO SUPLÍCIO, ONDE ELE PRESENCIE A EXECUÇÃO DAS SENTENÇAS A SEREM APLICADAS A SUA MULHER, MICAELA BASTIDAS, SEUS DOIS FILHOS HIPÓLITO E FERNANDO TUPAC AMARU, A SEU TIO FRANCISCO TUPAC AMARU, A SEU CUNHADO ANTONIO BASTIDAS E A ALGUNS DOS PRINCIPAIS CAPITÃES E AUXILIARES DE SUA INÍQUA E PERVERSA INTENÇÃO OU PROJETO, OS QUAIS DEVEM MORRER NO MESMO DIA;

25 Atahualpa Mama Ocllo Tupac Inca Yupanqui Huayna Capac Sayri Tupac Tupac Amaru I Tupac Amaru II E CONCLUÍDAS ESTAS SENTENÇAS SER-LHE-Á CORTADA PELO CARRASCO A LÍNGUA, E DEPOIS DE AMARRADO OU ATADO POR CADA UM DOS BRAÇOS E PÉS COM CORDAS FORTES, E DE MODO QUE CADA UMA DESTAS POSSA SER ATADA OU PRESA COM FACILIDADE A OUTRAS QUE ESTEJAM PRESAS ÀS SELAS DE QUATRO CAVALOS, PARA QUE, COLOCADO DESTE MODO, OU DE SORTE QUE CADA UM DESTES VÁ EM UMA DIREÇÃO, RUMO ÀS QUATRO ESQUINAS OU PONTAS DA PRAÇA, MARCHEM, PARTAM OU DISPAREM DE UMA SÓ VEZ, DE FORMA QUE, DIVIDIDO SEU CORPO EM OUTRAS TANTAS PARTES, SEJA O MESMO LEVADO (...) PARA O MORRO OU ALTURA CHAMADA PICCHU,

26 Atahualpa Mama Ocllo Tupac Inca Yupanqui Huayna Capac Sayri Tupac Tupac Amaru I Tupac Amaru II ONDE TEVE ELE O ATREVIMENTO DE VIR A INTIMIDAR, SITIAR E PEDIR QUE ESTA CIDADE A ELE SE RENDESSE, PARA QUE ALI SEJA QUEIMADO NUMA FOGUEIRA QUE ESTARÁ PREPARADA, SENDO SUAS CINZAS LANÇADAS AO VENTO, E EM CUJO LUGAR SERÁ COLOCADA UMA LÁPIDE DE PEDRA QUE EXPRESSE SEUS PRINCIPAIS DELITOS E MORTE, PARA MEMÓRIA E ESCARMENTO DE SUA EXECRÁVEL AÇÃO." 10

27 A execução é levada a cabo na própria cidade de Cuzco, em praça pública, três dias depois. A sentença previa que o réu deveria assistir ao suplício e morte de dez pessoas (cinco membros de sua família e cinco seguidores). Seu filho Fernando, de onze anos, também condenado, acabou sendo poupado por motivos não esclarecidos pelos historiadores 11.

28 Após presenciar todas essas execuções, conforme previa a sentença, Tupac Amaru teve sua língua cortada e seus quatro membros presos a quatro cavalos a fim de que fosse esquartejado vivo, espetáculo que nunca antes havia sido visto nessa cidade. Mas, "fosse porque os cavalos não eram muito fortes, ou porque o índio o era em demasia, o fato é que eles não puderam absolutamente dividi-lo, mesmo havendo tentado fazê-lo durante algum tempo, de modo que o sustinham no ar como se fosse uma aranha." 12

29 Conta-se que, enquanto a agonia de Tupac Amaru assim se prolongava, Fernando Tupac Amaru, que a tudo assistia, "lançou um grito tão pungente que seu eco ressoou por muito tempo nos ouvidos de todos os que o ouviram". 13 Como o tormento se prolongasse sem que o cacique fosse efetivamente esquartejado, terminou-se por ordenar ao carrasco que lhe cortasse a cabeça. Consumada a execução, um fato estranho se deu: embora se estivesse em plena seca, caiu no local uma forte borrasca, em decorrência da qual todos os presentes bateram prontamente em retirada. Casa de Tupac Amaru em Tungasuca

30 Nos colégios peruanos, as aulas de História têm silenciado sobre a saga de Tupac Amaru. Estranhamente, embora ele tenha sido nada mais nada menos que o precursor do movimento de libertação da América, seu nome parece ter mergulhado no esquecimento. Mas o sigilo que tem prevalecido em torno deste nome tem explicação: ocorre que ele foi adotado, indevidamente, por um dos principais movimentos guerrilheiros do Peru, que tentou recorrer à figura do líder indígena como forma de justificar historicamente sua prática terrorista. Algo semelhante aconteceu também no Uruguai, onde durante o período da ditadura militar surgiu o grupo dos tupamaros. TUPAC AMARU HOJE

31 Apesar de representar uma flagrante falsificação da história, esta utilização, evidentemente, torna a menção de Tupac Amaru bastante inconveniente aos governos direitistas sul-americanos. Semelhante omissão, entretanto, só faz corroborar o erro dos que adotaram o nome, mas não os ideais e propósitos, do cacique libertário. Os protagonistas desses movimentos travam hoje uma luta desesperada e equivocada, em seus meios e em seus fins, contra um tipo de colonização totalmente desconhecido por Tupac Amaru e Tiradentes.

32 É uma colonização que não usa exércitos porque visa não tanto dominar o solo, mas o pensamento dos colonizados, e sua maneira de agir e falar. Uma colonização que : dá independência política às colônias, mas apenas na medida necessária para eximir a metrópole da responsabilidade de administrar os problemas que ela mesma lhes causa.

33 Uma colonização que substituiu a escravização direta e visível pela impalpável escravização por endividamento, que marca secretamente milhões de seres humanos com o triste estigma de devedores antes mesmo de que tenham nascido, e sem que eles jamais tenham oportunidade de usufruir dos supostos benefícios em nome dos quais a dívida teria sido contraída. Ainda que trabalhem tão duramente quanto os antigos mineiros de Ouro Preto e do Potosi, ou como os extratores de pau-brasil e borracha e os lavradores de cana e café do Brasil colonial, esses novos escravos não poderão levantar durante toda uma vida as importâncias que lhes foram impingidas desde o berço. E a isso tem sido chamado liberdade.

34 Dos céus da História, Tupac Amaru e Tiradentes contemplam contristados essa estranha liberdade, e já compreendem que todo o seu esforço, ao fim e ao cabo, resultou no oposto do que esperavam conquistar. Os países que ambos tentaram libertar do jugo de seus dominadores caíram nas mãos de um outro dominador, bem mais sagaz, que conseguiu impor seus valores e ainda se fazer admirar pelos dominados. E examinando a história de tantos outros povos oprimidos, esses dois mártires reconhecem que a sedição e a violência nunca trouxeram a verdadeira liberdade, e que para vencer realmente a opressão é preciso cultivar e fazer crescer algo totalmente diferente dela.

35 Oxalá ao menos os anseios de justiça e os exemplos de coragem de Tiradentes e de Tupac Amaru possam contribuir para o surgimento de uma liberdade real, uma liberdade viva, humana, luminosa, capaz de fazer com que esses povos sofredores acordem do marasmo em que vivem, deixando de admirar e imitar seus algozes e encontrando sua própria identidade. Só assim terão a força necessária para se fazerem respeitar e a luz que também lhes permita respeitar os outros povos, valorizando neles tudo o que for digno de admiração e respeito. Mais tarde ou mais cedo, certamente, será restituído ao líder peruano o lugar que, por direito, lhe cabe na História. Afinal, o que mais se poderia esperar em se tratando de um mártir com cujo extermínio a própria natureza pareceu mostrar-se contrariada?

36 A força que impediu que os quatro cavalos destroçassem o corpo de Tupac Amaru é a mesma estranha força que provocará a liberdade de todos os injustiçados, não através de métodos sanguinários, que imitam os dos opressores, mas por meio de um processo de aperfeiçoamento pessoal a ser vivido por multidões. Gravura do esquartejamento

37 A física quântica descobriu que o objeto observado sofre sempre a influência do observador. Partindo desse princípio, confiamos que, quando a grande maioria da humanidade tiver alcançado um grau mais elevado de sensibilização e interesse pelo bem-estar alheio, bastará o olhar crítico que ela lançará Gravura do esquartejamento

38 a todos aqueles que ainda promoverem o sofrimento para que estes sintam um profundo constrangimento e mal-estar pelos seus crimes. E então, horrorizados com o espetáculo de suas próprias atrocidades e sinceramente arrependidos, haverão, por fim, de transformar-se também. Gravura do esquartejamento

39 Que agora, no início do terceiro milênio, toda a energia, todo o sangue derramado por milhões de homens que, a semelhança de Tupac Amaru, tiveram a coragem e a dignidade de sacrificar suas vidas em nome de um ideal, Gravura do esquartejamento

40 possam, caindo como gotas de orvalho, serenar o espírito guerreiro que até então tomou conta desta humanidade sofredora. E que a rosa da paz possa finalmente nascer no coração de cada um. Gravura do esquartejamento

41 Notas 1. In: Grande Enciclopédia Larousse Cultural. Círculo do Livro. São Paulo, Editora Universo. 1988. 2. Carlos III, rei da Espanha. então metrópole do Peru. 3. Lorente, Sebastián. Apud Júlio Cesar Chaves, Tupac Amaru, Buenos Aires, Ed. Assunción, 1972, pág. 17, tradução nossa. 4. Carta de Tupac Amaru à administração de Cuzco de 3 de janeiro de 1781. Apud Júlio Cesar Chaves, op. cit., pág. 143. 5. Chaves, Julio Cesar, op. cit. pág. 145. 6. Chaves. Julio Cesar., op. cit. pág. 89. 7. Mendiburu: Diccionario Histórico del Perú, VIII, 127. Apud Júlio Cesar Chaves, op.cit. 8. Idem, pág. 94. 9. Valcárel, Daniel. Apud Júlio Cesar Chaves, op.cit., pág. 95 10. Chaves, Julio Cesar, op. cit.

42 11. Ao menos, pelos historiadores consultados. 12. Mendiburu: Diccionario Histórico del Perú, VIII, 144. Apud Julio Cesar Chaves, Opus cit., pág. 180. 13. Idem. Imagens Pag. 116 - Tupac Amaru - de Etna Velarde – Fondo Editorial Navarrete – 1982. Págs. 118 e 119 - Galeria de Representantes do Império Inca - Museu de Arte Religiosa da Catedral de Lima. Museu Pedro de Osma, Benemérita Sociedade Fundadores da Independência, arquivos de David Colmenares e Jorge Silva Sifuentes. Págs. 120 e 121 - Casa de Tupac Amaru e gravura do esquartejamento - Julio Cesar Chaves em Tupac Amaru - Editorial Asunción, Buenos Aires, 1972.

43 Fim


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