José Luis Michinel Eliane Santos Souza

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1 José Luis Michinel Eliane Santos Souza
Disciplina: Análise de textos na produção de resultados qualitativos (EDCC49-Tópico Especial) José Luis Michinel Eliane Santos Souza

2 Minayo, M. C. de S. Conceitos básicos sobre metodologia e sobre abordagens qualitativas. In:______O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 11ª ed. São Paulo: Hucitec, p Seminário I Por Patrícia Schiper

3 Maria Cecília de Souza Minayo
Quem é Minayo? Itabira - Mg em 1942; Socióloga, Mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Doutora em Saúde Pública pela Fundação Osvaldo Cruz; Editora Científica da Revista ABRASCO Ciência e Saúde Coletiva; Consultora dos Ministérios da Saúde, da Justiça e da Educação; da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República e da OPAS/OMS; Áreas de atuação: Saúde Coletiva, Metodologia da Pesquisa Qualitativa em Saúde, Ciências Sociais em Saúde, Violência e Saúde, Políticas de Saúde e Avaliação de Programas Sociais e de Saúde. Itabira é conhecida como a “Cidade da Poesia e do Ferro” e é o local onde nasceu a Companhia Vale do Rio Doce. Uma visita ao seu Curriculum Lattes evidencia a extensa e sólida produção científica desta pesquisadora brasileira, comprovando tratar-se de uma das autoras mais importantes no campo das ciências sociais em saúde. Os capítulos que serão objetos deste seminário fazem parte de um de seus 38 livros publicados. Maria Cecília de Souza Minayo

4 O Livro... 1ª Edição – 1992: 9ª Edição – 2006; (revisada)
408 páginas; 13 Capítulos e conclusão; 5 Partes. A origem deste livro remonta a tese de doutorado da autora defendida em 1989 na Escola Nacional de Saúde Pública; Trata-se de um livro obrigatório nos cursos das áreas de saúde pública/saúde coletiva/ciências sociais; O livro trata de forma erudita diversos aspectos da construção do conhecimento: ciências, metodologia das ciências sociais, a saúde como objeto central.

5 Parte 1 - Conceitos básicos sobre metodologia e sobre abordagens qualitativas.
CAPÍTULO 2 - METODOLOGIA DE PESQUISA SOCIAL E EM SAÚDE. CAPÍTULO 3 – CONTRADIÇÕES E CONSENSOS NA COMBINAÇÃO DE MÉTODOS QUANTITATIVOS E QUALITATIVOS.

6 Parte 1 - Conceitos básicos sobre metodologia e sobre abordagens qualitativas
A ciência é a forma hegemônica de construção do conhecimento. Razões: Externa - reside no poder de dar respostas técnicas e tecnológicas aos problemas humanos; Interna - reside no fato dos cientistas terem criado uma linguagem universal. “Terceiro Mundo” (Poper, 1993). A guisa de introdução... O Terceiro Mundo corresponde a uma espécie de classe ou casta com sua economia e lógicas próprias. Ao enveredar por este mundo, os cientistas aceitam as condições instituídas – regras para conferir o grau de cientificidade ao que é produzido e reproduzido dentro deste campo do conhecimento – e o caráter de historicidade e provisoriedade peculiares a este universo do saber humano.

7 Capítulo 2 – Metodologia de Pesquisa Social e em Saúde
Especificidade das Ciências Sociais (CS) A cientificidade não pode ser reduzida a uma só forma de conhecer. Características das CS (Demo, 1981): O objeto das CS é histórico; As sociedades e os indivíduos têm consciência histórica; As CS trabalham no nível da identidade entre sujeito e objeto da investigação; As CS são intrínseca e extrinsecamente ideológicas; O objeto das CS é essencialmente qualitativo. As sociedades humanas vivem o presente marcado pelo passado e projetado para o futuro. 2. O investigador, os seres humanos, os grupos e a sociedade dão sentido, significado e intencionalidade e interpretam suas ações e construções. 3. “Numa ciência onde o observador é da mesma natureza que o objeto observado, o observador, ele mesmo, é parte de sua observação” (Lévi-Strauss, 1975). A lógica interpretativa de primeiro nível é a do senso comum. 4. Toda ciência passa pela subjetividade e por interesses diversos. 5. A realidade social é o próprio dinamismo da vida individual e coletiva com toda a riqueza de significados que transborda dela. Trabalhar dentro dos marcos das CS significa enfrentar o desafio de manejar ou criar teorias e instrumentos capazes de promover a aproximação da suntuosidade e da diversidade que é a vida dos seres humanos em sociedade, ainda que de forma incompleta, imperfeita e insatisfatória. A quantidade é, em si mesma, uma qualidade do objeto , assim como a qualidade é um dos elementos da quantidade (Kant, 1980). A tarefa do pesquisador é compreender e aprender, além do visível, do “morfológico e do ecológico”, os outros níveis que se interconectam e tornam o social tão complexo (Gurvitch, 1955).

8 Capítulo 2 – Metodologia de Pesquisa Social e em Saúde
Conceito de Metodologia A discussão epistemológica sobre o “caminho do pensamento” que o objeto requer; Apresentação adequada e justificada dos métodos, das técnicas e dos instrumentos operativos utilizados para responder às indagações da investigação; “Criatividade do pesquisador” . “Caminho do pensamento” = “Prática teórica pensada” (Bourdieu, 1972). c. A marca pessoal e específica do pesquisador em articular teoria, método, achados experimentais, observacionais ou de qualquer outro tipo de resposta às indagações científicas. c. Arte, imaginação, intuição... Sua experiência reflexiva, sua capacidade de análise e síntese teórica, sua memória intelectual, seu nível de comprometimento com o objeto, sua capacidade de exposição lógica e seus interesses. Dialética de subjetivação e objetivação (diferencia um pesquisador de outro). c. O conceito de pesquisa como caminho para se entender a totalidade...

9 Capítulo 2 – Metodologia de Pesquisa Social e em Saúde
Conceito de Pesquisa Social Pesquisa é a atividade básica das Ciências na sua indagação e construção da realidade. Pesquisa Social corresponde a vários tipos de investigação que tratam do ser humano em sociedade, de suas relações e instituições, de sua história e de sua produção simbólica. Pesquisa Social em Saúde corresponde a todas as investigações que tratam do fenômeno saúde/doença, de suas representações pelos vários atores que atuam no campo: as instituições políticas e de serviços e os profissionais e usuários. Qualquer conhecimento é aproximado, é construído. A pesquisa alimenta o ensino. Tem característica do acabado provisório e do inacabado permanente.

10 Capítulo 2 – Metodologia de Pesquisa Social e em Saúde
Conceito de Pesquisa Social Classificação de Bulmer (1978): Pesquisa básica; Pesquisa estratégica; Pesquisa orientada para problemas específicos Pesquisa-ação; Pesquisa de inteligência. Contraponto para a classificação de pesquisa “pura” e “aplicada”. Dá idéia de um continuum... Satisfação da curiosidade do pesquisador; 2. Ação governamental ou da sociedade; 3. Modalidade operacional, visando ao conhecimento imediato; 4. Medir o impacto de programas sociais ou governamentais (OBS.: ≠de pesquisa-ação segundo Thiollent, 1986, que corresponde a investigação de base empírica, concebida e realizada em estreita associação com uma ação voltada à resolução de problemas comunitários e sociais onde há o envolvimento cooperativo ou participativo de pesquisadores e participantes representativos da situação ou do problema); 5. Grandes levantamentos de dados demográficos, econômicos, estatísticos, epidemiológicos para fim de planejamento, formulação de políticas específicas e tomada de decisão. Faz uma crítica aos SURVEYS – o risco do empirismo e do positivismo é a minimização dos problemas teóricos e da redução do papel do pesquisador a um levantador de dados técnicos e provedor de informações para autoridades que encomendam e financiam seu trabalho.

11 Discussão crítica sobre métodos quantitativos e qualitativos
Capítulo 3 – Contradições e consensos na combinação de métodos quantitativos e qualitativos. Discussão crítica sobre métodos quantitativos e qualitativos O conhecimento científico se produz pela busca de articulação entre teoria e realidade empírica. O método torna plausível a abordagem da realidade a partir das perguntas feitas pelo investigador e é escolhido na dependência dos objetivos que se pretende alcançar. Quantitativo X Qualitativo O que é o método qualitativo? Os métodos mais usados no campo da saúde coletiva são o quantitativo (epidemiologia) e qualitativo (CS). A complexidade da realidade social é reduzida quando avaliada apenas por métodos quantitativos. O método qualitativo é o que se aplica ao estudo da história, das relações, das representações, das crenças, das percepções, e das opiniões, produtos das interpretações que os humanos fazem a respeito de como vivem, constroem seus artefatos e a si mesmos, sentem e pensam. As abordagens qualitativas se conformam melhor a investigações de grupos e segmentos delimitados, focalizados, de histórias sociais sob a ótica dos atores, de relações, para análises de discurso e de documentos e para elaboração de novas hipóteses, construção de indicadores qualitativos, variáveis e tipologias. Captar algo dos aspectos subjetivos da realidade social (Granger, 1967). Para se trabalhar com CS é necessário participar do processo social (Mannheim, 1968). Na fenomenologia, as realidades sociais são construídas no significados gerados na interação social. A linguagem, as práticas e as coisas são inseparáveis (Schutz, 1982). No marxismo clássico, há uma interpretação da realidade onde fatores visíveis e representações se integram e configuram um modo de vida condicionado pelo modo de produção específico. Em todas as correntes de pensamento, há o reconhecimento do subjetivismo e do simbólico como partes integrantes da realidade social. Estão indissociados: sujeito e objeto, atores sociais e investigadores, fatos e significados, estruturas e representações. Mesmo que as interpretações sejam múltiplas, nem todas elas são boas (Eco, 1992) o que direciona a pesquisa qualitativa à objetivação.

12 Possibilidade de combinação: métodos quantitativos e qualitativos
Capítulo 3 – Contradições e consensos na combinação de métodos quantitativos e qualitativos. Possibilidade de combinação: métodos quantitativos e qualitativos Abordagens mais complexas. Definição de saúde – processo social no qual as sociedades faze escolhas conscientes ou inconscientes para assegurar as condições nas quais as pessoas podem ser saudáveis. A saúde é um bem compartilhado (Gadamer, 1999). O setor saúde trabalha com problemas coletivos e determinações biológico-social-ambientais. Proposta por Malinowski (1975): Documentar estatisticamente; Complementar os registros quantitativos pela observação dos fenômenos sociológicos; Compreender os imponderáveis da vida; Ouvir e buscar compreender o ponto de vista, as opiniões e as expressões dos nativos. Segundo vários documentos... A Carta de Otawa (1995). Categorias estruturantes: classes, gênero, idade, etnia. Vivências desiguais constroem formas diversas de pensar, sentir e agir peculiares a respeito da saúde e da doença. A saúde e a doença não se reduzem a uma experiência orgânica, biológica e externa aos sujeitos. Os problemas se materializam na realidade antropológica.

13 Possibilidade de combinação: métodos quantitativos e qualitativos
Capítulo 3 – Contradições e consensos na combinação de métodos quantitativos e qualitativos. Possibilidade de combinação: métodos quantitativos e qualitativos A combinação de métodos tem se mostrado um desafio. Modelos de explicação das doenças: organicista, social e ecossistêmico. Críticas aos métodos qualitativos: Baixa potencialidade de aplicação prática dos conhecimentos gerados; Empirismo ingênuo . Conjugar os verbos: aprender (epidemiologia) e compreender (antropologia). Duas modalidades de investigação com campos teóricos próprios,, delimitados e, muitas vezes, antagônicos. Organicista – saúde é algo independente da enfermidade (teoria microbiana, no passado; e pesquisas básicas e aplicadas da genética, na atualidade). Social – articula a saúde e a doença com a condição de vida. Ecossistêmico – influência de vários movimentos (ambientalistas, feminista etc.) que tentam combinar epidemiologia com condições sociais e variáveis ambientais. A complexidade dos seres vivos precisa ser levada em conta na produção da saúde humana; As questões de gênero devem ser evidenciadas; A equidade é um princípio básico; A participação e a responsabilidade social dos diferentes atores tomados em seus contextos têm de ser incorporados como parte integrante da construção de uma vida saudável. Tendências: crise ou abandono dos marcos referenciais baseados nas metanarrativas e macroteorias; aumento da produção científica de base compreensiva; expressivas tentativas de produção de estudos interdisciplinares e transdisciplinares por triangulação de métodos quantitativos e qualitativos. Que transforma opiniões, crenças e queixas dos usuários do sistema de saúde em verdades, evidenciando incapacidade de realizar análises contextualizadas, fundamentadas e elaboradas teoricamente.

14 Possibilidade de combinação: métodos quantitativos e qualitativos
Capítulo 3 – Contradições e consensos na combinação de métodos quantitativos e qualitativos. Possibilidade de combinação: métodos quantitativos e qualitativos Contribuições da combinação dos métodos: Compreensão em profundidade; Explicação em extensão. A triangulação de métodos não é fácil nem simples.

15 Possibilidade de combinação: métodos quantitativos e qualitativos
Capítulo 3 – Contradições e consensos na combinação de métodos quantitativos e qualitativos. Possibilidade de combinação: métodos quantitativos e qualitativos Síntese: Os métodos não são incompatíveis e podem ser integrados num mesmo projeto; Uma investigação quantitativa pode apresentar questões que são melhor respondidas por estudos qualitativos e vise versa; Investigações qualitativas coadunam com estudos de situações particulares, grupos específicos e universos simbólicos; Todo conhecimento social (investigado por qualquer método) é sempre um recorte, uma redução, uma aproximação; Os métodos quantitativo e qualitativo em conjunto promovem uma construção mais completa e elaborada da realidade e o desenvolvimento de teorias e novas técnicas cooperativas.

16 “[...] ‘fatores de risco sociais’ nada mais são que a expressão do modo de vida de grupos populacionais. [...]”. MINAYO TERMINA SEU TEXTO COM UMA CITAÇÃO DO EPIDEMIOLOGISTA ALMEIDA FILHO (2000)