A apresentação está carregando. Por favor, espere

A apresentação está carregando. Por favor, espere

6. – O Antigo Testamento Encontros de Formação Cristã Paróquia de Santa Maria de Carreço.

Apresentações semelhantes


Apresentação em tema: "6. – O Antigo Testamento Encontros de Formação Cristã Paróquia de Santa Maria de Carreço."— Transcrição da apresentação:

1 6. – O Antigo Testamento Encontros de Formação Cristã Paróquia de Santa Maria de Carreço

2 6ª sessão – O Antigo Testamento Sumário: 1.O Antigo Testamento 1.1.–O Antigo Testamento: sua importância 1.2 – O Antigo Testamento: composição e denominação 1.3 – O Antigo Testamento: a formação dos livros 1.4 – O Antigo Testamento: línguas e traduções 2. O Pentateuco 2.1 – O Pentateuco 2.2 – O Génesis 2.3 – O Êxodo 2.4 – Levítico, Números e Deuteronómio 2.5 – A Lei, coração da Antiga Aliança 3. Os livros históricos 3.1 – Josué e Juízes 3.2 – 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis 3.3 – Crónicas e Esdras-Neemias 3.4 – Outros livros históricos 4. Os livros sapienciais e poéticos (didácticos) 4.1 – Literatura poética: Cântico dos Cânticos e Salmos 4.2 – Livros sapienciais: Job, Provérbios, Eclesiastes, Sabedoria e Eclesiástico 5. Os livros proféticos 5.1 – Os profetas 5.2 – Os profetas maiores: Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel 5.3 – Os “Doze” profetas menores 6. Uma análise de um texto: Segundo Relato da Criação (Gn 2,4b-3,24) 7. Bibliografia recomendada (E.F.C. 6)

3 1. O Antigo Testamento

4 1.1. – O Antigo Testamento: sua importância 1.1. – O Antigo Testamento: sua importância Em resumo: A razão de ser de tudo o revelado no Antigo Testamento, não era outra que preparar a Revelação do Filho. N’Ele Deus entrega-nos a Sua Palavra pessoal e definitiva de salvação. No Antigo Testamento, a Revelação é sempre parcial, fragmentária, multiforme e fica-se no anúncio. No Novo Testamento, é total, completa, única e cumpre-se para além do esperado. Antigo Testamento?! Para que o vou ler, se já há um Novo? Rejeitar o AT seria equivalente a fazer o que fez Marcião, herege do séc. II que rejeitou entre outros livros do NT, todo os livros do AT! A Igreja sempre combateu o marcionismo (cf. CIC 123). No capítulo IV da DV, nos nºs 14 (história da salvação nos livros do AT), 15 (Importância do AT para a vida dos cristãos) e 16 (Unidade do A e NT) e no CIC (nºs 112, 121 a 123 e 128 a 130) estão algumas ajudas. O AT é uma parte da Sagrada Escritura que não se pode prescindir, pelo facto que os seus livros são divinamente inspirados e conservam um valor permanente, porque a Antiga Aliança nunca foi revogada; a unidade da Escritura advém do facto de Deus ser o seu autor! A economia do AT destina-se a preparar o advento de Cristo, redentor universal, que é o centro de toda a Escritura; todos os acontecimentos importantes da História da Salvação estão orientados ou projectados para Cristo (não podemos cair no extremo de pensar que todos os acontecimentos o são: um acontecimento só terá importância se levar ao desenvolvimento da fé do Povo de Deus em Cristo!). O próprio Cristo fez notar isso aos discípulos de Emaús: «começando por Moisés e continuando pelos profetas, explicou-lhes o que a Seu respeito estava dito nas Escrituras» (Lc 24, 27). Nos livros do AT já se encontra a pedagogia divina: apesar de conter muitas coisas imperfeitas, Deus tem paciência, condescende ao nível do homem para o elevar; determinadas normas só tinham justificação naquele contexto; a plenitude do AT só se dá no NT! (por ex: «Ouvistes o que foi dito…olho por olho… eu porém digo-vos…amai os vossos inimigos»); e encontram-se sublimes doutrinas acerca de Deus, um tesouro de preces, etc. O NT refere muitas vezes factos do AT: profecias que se cumprem, citações, etc. Muitas passagens do NT só se entendem com o NT; É anúncio velado de inúmeras profecias que se cumpriram no NT.

5 1.2. – O Antigo Testamento: composição e denominação 1.2. – O Antigo Testamento: composição e denominação A fórmula «Antigo Testamento» é de origem cristã; surge no séc. II (por Melitão de Sardes) em complemento e paralelo com a de «Novo Testamento». A Vulgata usou a palavra latina «testamentum» para traduzir a palavra hebraica bérith e o grego diahtéké. Esta palavra significa de início aliança; evolui para o sentido técnico que testamentum imortaliza em todas as línguas: assim, a tradução mais correcta seria Aliança. O Antigo Testamento é a primeira parte da bíblia cristã (cerca de 2/3). Com poucas excepções e algumas variantes, a sua composição é praticamente a da Bíblia hebraica dos judeus. Com excepção da Tora, a organização e a ordem dos livros em ambos os corpos são diversas. A Bíblia hebraica tem 3 secções: os cinco livros da Tora ( de Moisés); os profetas (Nebiim; profetas anteriores: de Josué aos reis, correspondem +/- aos nossos históricos; os posteriores são 15, de Isaías a Malaquias); e os 13 Escritos (Ketubbim; dos Salmos às Crónicas, dos quais os 5 rolos ou Megilloth, que se liam inteiros nas festas judaicas); é a Tanak (iniciais de Tora, Nebiim e Ketubim), num total de 24 (ou 22 livros) livros. Estes livros correspondem aos 39 livros da Bíblia protestante, como vimos. A Bíblia protestante tem 7 livros (+ alguns trechos) a menos do que a católica: chamados deuterocanónicos pelos católicos (entrados em segundo lugar no cânone); são: Tobias, Judite, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, Baruc, 1 e 2 Macabeus, adições gregas de Ester e as adições gregas de Daniel. A razão prende-se com a existência dos dois cânones para o AT: o judaico- palestinense, mais curto, adoptado pelos judeus em Jâmnia no séc. I d.C., seguido pelos protestantes na Reforma; e o judaico- alexandrino, mais longo, com livros escritos em grego, adoptado pelos judeus da Diáspora, na Versão dos LXX, por volta de 250 a.C.: este é o cânone católico. As principais razões de recusa desses livros por parte dos protestantes prende-se com o facto de esses livros defenderem doutrinas contrárias às suas: por exemplo, a do Purgatório. O AT compreende 46 livros (ou 45, se juntarmos Jeremias e Lamentações; ou 47, se separarmos a Carta de Jaremias, do Livro de Baruc) e divide-se em quatro partes, pela seguinte ordem: 5 livros do Pentateuco; os 16 livros históricos (não são história no sentido actual, mas podem conter história, mas cujo interesse está em segundo lugar: o importante reconhecer a acção de Deus nos acontecimentos; doe Josué ao 2º Livro dos Macabeus); os 7 sapienciais (expressa a sabedoria retirada da vida; de Job ao Eclesiástico); os 18 proféticos (de Isaías a Malaquias). Alguns, ausentes da Bíblia hebraica, estão escritos em grego ou só existem em grego; os profetas podem ser: maiores, que ocupam maior extensão dos seus escritos (Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel; a estes agregam-se Baruc, considerado secretário de Jeremias e as Lamentações de Jeremias); e menores (os restantes); podem ser escritores (se deixaram algum escrito) e não-escritores ( os restantes).

6 1.3. – O Antigo Testamento: formação dos livros 1.3. – O Antigo Testamento: formação dos livros A formação dos livros da Bíblia é um processo com três momentos: 1º - vivência, fé vivida, segundo determinada norma ou conduta; 2º - primeira redacção: começa-se a escrever qualquer coisa; documentos que iam circulando na comunidade; 3º - redacção final: vários autores vão retocando o texto, até o texto que hoje temos. Na redacção final, levanta-se a questão da autenticidade (saber se o livro foi escrito pode determinada pessoa ou não; por exemplo, há Salmos atribuídos a David que o não são). De notar que muitos livros não foram escritos na época da qual falam! Etapa históricaSéc.s (+/-)Livros que falam dessa etapa Livros escritos nessa etapa Pré-história bíblica?Génesis- Etapa patriarcal (Abraão, Isaac, Jacob, José) XIX a XIII a.C. GénesisTradições orais Etapa mosaicaXIII a.C.Êxodo, Levítico, Números e Deuteronómio Tradições orais Conquistas da Terra XIII a XI a.C.Josué e Juízes Tradições orais; alguns documentos escritos (Código da Aliança, Decálogo, etc.) Etapa da monarquia (Reino Unido e divisão em dois reinos) 1000 a 587 a.C. Alguns Salmos, fonte javista, alguns históricos (I e II Samuel, I e II Reis); alguns proféticos (Amós, Oseias, Isaías I, Sofonias, Jeremias, Naum, Habacuc… Etapa do Exílio ou Cativeiro 587 a 538 a.C. Lamentações, Deutero-Isaías, Abdias, alguns Salmos Etapa do Judaísmo (domínio persa, grego e macabeu;) 538 a 63 a.C. Redacçaõ definiitva Pentateuco (Esdras 400 a.C:?), Zacarias, Esdras-Neemias, Daniel, Sabedoria, Macabeus…

7 1.4. – O Antigo Testamento: línguas e traduções 1.4. – O Antigo Testamento: línguas e traduções Como vimos no E.F.C. 5, o Antigo Testamento foi escrito em hebraico, aramaico (este especialmente nos livros Esdras, Daniel, Jeremias e Génesis) e grego (os livros da Sabedoria, do 2 Macabeus, as partes deuterocanónicas de Ester e Daniel). Os restantes deuterocanónicos (além de Sab e 2 Mac) parecem ter parecem ter sido escritos noutras línguas, embora só possuímos cópias em grego. - O hebraico era a língua sagrada e servia para a leitura na sinagoga; - O aramaico começou a ser usada no comércio e diplomacia no séc. VI a.C. e no tempo de Jesus tornara-se uma língua popular; - O grego (koiné) ou comum, língua vulgar de todo o vasto império constituído por Alexandre. Versões. Algumas Traduções antigas do AT. 1) Versão samaritana (séc. II a.C.) Oferece um Pentateuco ampliado, único texto sagrado dos samaritanos. 2) VERSÕES GREGAS: - Dos LXX (séc. III a.C.): tradução de setenta tradutores (ou 72) ou sábios que foram de Jerusalém para Alexandria e traduzindo separadamente o texto sagrado, chegaram à mesma tradução. - Decalque de Áquila (128-129d.C.): a cada palavra hebraica corresponde uma única palavra grega; - De Teodocião; - De Símaco (165d.C.): quase inteiramente desaparecida; -- Héxapla de Orígenes (220 a 245d.C.) inscreveu o texto hebraico, transcreveu-os em caracteres gregos, depois inseriu as versões gregas de Áquila, Símaco, Teodocião e dos Setenta: 6 colunas ao todo, daí a designação de Héxapla, obra gigantesca, hoje quase completamente perdida. Jerónimo serviu-se dela para a Vulgata latina. 3) VERSÕES ARAMAICAS: -Targums: compreendia elementos de explicação; utilizavam-se nas sinagogas; existem targums do Pentateuco e um targum dos profetas; Fragmento da Versão dos LXX targum

8 2. O Pentateuco

9 2.1 - O Pentateuco 2.1 - O Pentateuco Os cinco primeiros livros da Bíblia (Génesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronómio), são chamados de a “Lei” (em hebraico Torah ou Torá) ou “a Lei (Torah) de Moisés”, considerados uma só unidade. Na Tradição judaica são simplesmente a Torah. A palavra cristã Pentateuco impôs-se depois: é a transcrição do latim pentateuchus (liber), tradução do grego hè pentateuchos (biblos), “o (livro) em cinco volumes”, ou «cinco rolos», ou «cinco estojos», fórmula comprovada em meados do séc. II. Na Bíblia hebraica, e segundo o costume mesopotâmico, cada um dos cinco livros do Pentateuco tem por título a sua primeira palavra ou expressão; mais tarde, por intermédio da Tradução grega dos Setenta e da Vulgata latina, um outro nome se impõe, dando os tradutores um nome conforme o seu conteúdo… PortuguêsHebraicoGregoLatimSignificado Génesis Bereshit ( בראשית ברא אלהים ): «No princípio…» Genesis «Origem», «nascimento», Livro das Origens. Narra as origens do mundo e do ser humano desde os seus começos até a formação de Israel como povo, pouco antes da saída do Egipto. Origens da humanidade e de Israel, duas etapas de um único projecto salvador de Deus. ÊxodoShemot (“nomes”: «Estes são os nomes…») ExodosExodus«saída». A saída dos hebreus do Egipto, guiados por Moisés, a passagem milagrosa do Mar Vermelho e a sua estadia no Sinai, onde recebem de Deus a Lei, sancionada por um pacto ou Aliança (Berith) entre Deus e o povo. Desde esse momento, Israel chega a ser o Povo eleito e chamado por Deus. LevíticoWayyiqera (“E chamou”: «O Senhor chamou…») LévitikonLeviticus«o livro da lei», «livro dos levitas». É essencialmente uma compilação de Leis. NúmerosBamidebar (“No deserto”: «O Senhor chamou a Moisés no deserto…» ArithmoiNumeri«números». Censo do povo que aparece nos seus primeiros capítulos, embora depois se detenha a narrar a vida de Israel com as suas vicissitudes. Deuteronó -mio Debarim (“Palavras”: «Estas são as palavras…»). Deuteron omion Deuteron omium «a segunda lei», deriva da interpretação do tradutor de Dt 17,18. Mais do que um conjunto de leis, é um conjunto de exortações e de chamadas a Israel para que permaneça fiel ao Senhor.

10 2.1 - O Pentateuco 2.1 - O Pentateuco O Pentateuco tem dois pilares: 1º - O plano divino de salvação trazido por Deus; 2º - A resposta a esse plano por parte do homem, desse povo escolhido. O Pentateuco dá resposta às grandes questões de Israel: quem criou o mundo e o homem? (Génesis – origem da humanidade e da história dos patriarcas); quando teve Israel consciência de ser povo eleito? Êxodo (libertação do Egipto, travessia do deserto, Aliança do Sinai); como deve reger-se a comunidade de Israel? Levítico (conjunto de leis e normas), Números (experiência do amor de Javé) e Deuteronómio (segunda lei). Assim, os livros não são independentes, mas estamos perante uma mesma trama narrativa e que se divide em seis grandes etapas, perfeitamente diferenciadas: 1 - História das origens (Gn 1,11); 2 - História patriarcal (Gn 12-50); 3 - Saída do Egipto e a travessia para o Sinai (Ex 1-18);4 - Revelação no Sinai (EX 19-40 + Lev + Nm 1-10); 5 - Travessia do deserto do Sinai até as planícies de Moab (Nm 10-36); 6 - Discursos e despedida de Moisés (Dt). Estes livros formam a Torá ou Lei por excelência, a carta constitucional que consagrou os princípios fundacionais, religiosos e civis, pelos quais Israel se constituiu como povo com identidade própria e referido exclusivamente com o seu Deus, Javé. Autor do Pentateuco. Tradicionalmente foi atribuído a Moisés a autoria do Pentateuco, mas estudos mais recentes chegaram à conclusão que teve outros autores, que foram acrescentando elementos. Para uma multiplicidade de fontes, apontam por exemplo: os relatos duplos (2 relatos da criação; 2 relatos sobre a vocação de Moisés Ex 3) e a mudança do nome de Deus. Curiosidade: alguns exegetas pensam que se pode falar de um Hexateuco (Pentateuco mais Josué) ou Heptateuco (Hexateuco mais Juízes), pois pensam tratar-se de uma só unidade literária, tendo por base os mesmos autores. Antes de se fixarem por escrito, as tradições eram transmitidas por via oral. Numerosos estudiosos da Bíblia teceram várias hipóteses. A mais famosa foi a teoria das quatro “tradições”, ou “fontes”, formulada no séc. XIX por Julius Wellhausen (hipótese documentária). Ainda que esta hipótese tenha sido superada, pelo menos em parte (devido à “descoberta” de uma nova fonte, a laica, a novos métodos de interpretação, etc.), foi o notável o contributo que deu, merecendo por isso ser conhecida. Em termos clássicos, seria Esdras, por volta de 400a.C. que procedeu à “colagem” dessas tradições, redigindo o Pentateuco. Uma comparação feita é a de quatro rios que se vão juntando num só… As “fontes” clássicas do Pentateuco estão reflectidas no quadro seguinte…

11 2.1 - O Pentateuco 2.1 - O Pentateuco Fonte e siglaSéc. e lugarCaracterísticas Javista (J) X a.C. (época de Salomão, por volta de 950 a.C.) ou IX; no Reino do Sul (Judá) - Utiliza em larga medida o nome de Deus,«Javé»; - Dá importância ao Rei como congregador da fé e do povo, é filho de Deus no sentido funcional, como instrumento nas mãos de Deus; - certo universalismo: o Povo de Israel começa a tomar consciência que é um Povo escolhido por Deus não só em sua função, mas também da salvação de outros povos; - É um grande contista, narrador de histórias, Estilo vivo, concreto, expressivo, dramático, com imagens vivas; - Personagens, lugares e costumes dos povos descritos de forma precisa; - Deus é representado com traços antropomórficos, quase com formas humanas (trabalha com o barro, passeia no Éden, etc.); - Deus está sempre pronto a perdoar, mas também pode amaldiçoar; - Ênfase na salvação como possessão da Terra Prometida. Eloísta (E) VIII (ou IX a.C) no Rei no do Nor te (Isr ael) - Chama a Deus de «Eloim»; - Chama Monte Horeb ao Sinai, aos cananeus de amorreus… - Dá muita importância ao profeta como congregador do povo (por exemplo, Elias e Oseias); - Menos dramático e menos concreto; - Evita o antropomorfismo, tende a espiritualizar a imagem de Deus: proíbe s suas representações (cfr. Ex 24, 10), Deus quase nunca intervém pessoalmente, mas através de sonhos, visões e milagres; - Acentua o aspecto moral, apresentando a mensagem religiosa com maior reflexão; - Sublinha a fé testada até ao limite, o temor de Deus, os temas da eleição do povo de Israel e da aliança; a salvação do povo é a Aliança de Amor com Deus e não a Terra Prometida; Deuteronomist a (D) VII (ano 622 a.C. Reforma de Josias) em Jerusalém - A figura central é Moisés, como orador e legislador e não como libertador; - Não é uma narração histórica, mas um código de leis; mas a história do povo está presente indirectamente; o passado do povo é uma lição onde se aprende a fidelidade a Deus; - Insiste no temor / amor de Deus em termos de obediência aos Mandamentos e de ameaça com castigos; Estilo exortativo (parecido com homilias); - Insiste-se muito no tema da eleição: Deus é único, fiel à sua promessa, escolheu um povo que a Ele tudo deve, sendo a Lei a garantia da vida e fonte de alegria; - Vocabulário típico: «Amar a Deus», «Servir a Deus»… - Um único Deus, um único povo, um único Templo… Sacerdotal (P, inicial do alemão priester, padre) VI (Regresso do Exílio) em Jerusalém - Rigorosa, sublinha os traços distintivos do Judaísmo: o Sábado, a circuncisão, a Lei. - Forma de falar solene, litúrgica; - Preocupa-se em ensinar, especialmente as normas de culto; - Procura a precisão das datas, das cronologias; - Deus é apresentado de uma maneira mais espiritual e abstracta (é «Espírito», cf. Gn 1,2).

12 2.2 – O Génesis 2.2 – O Génesis «Génesis»: do grego grega génésis, “origem”, “nascimento”. Este livro não teve só um autor: é o resultado de antigas tradições orais, populares e da recompilação de três fontes: javista, eloísta e sacerdotal. Usa os relatos míticos, lendas e genalogias. Na literatura próxima de povos vizinhos de Israel, por exemplo, na Mesopotâmia, encontram-se relatos parecidos que falam também do início do mundo: o poema de Enuma-Elish, de Gilgamesh, etc; mas há diferenças dignas de nota: na bíblia realça-se o monoteísmo (em contraste com o politeísmo dos povos vizinhos); o Deus da bíblia e amor, ao contrário dos outros que são egoístas e superficiais; e o relato bíblico encontra-se purificado das fantasias mitológicas, vincando a reflexão teológica. Assim, o Génesis é único, não na sua forma literária, mas na mensagem sobre Deus e o homem. Divide-se em duas grandes partes: História das origens (Gn 1-11) e História Patriarcal (Gn 12-50). I –História das Origens (Gn 1,1-11,32) do mundo e da humanidade: Gn 1-3: relato da criação, da queda do homem, da intervenção de Deus e a sentença, a promessa da redenção; Gn 4-5: o progresso do mal e da humanidade; Gn 6-10: o dilúvio universal, consequências do pecado e Aliança de Deus; Gn 11 – A torre de Babel, consequências do pecado e chamada de atenção de Deus. De um modo resumido, os ensinamentos de Gn 1-11 são: Deus é o Criador de tudo quanto existe; o homem foi criado por Deus para viver em amizade com Ele e foi colocado num estado de felicidade; criou-os homem e mulher para que compartilhassem o amor e continuassem o género humano; por instigação do demónio (da serpente), o homem pecou por soberba (quis ser como Deus) e pelo pecado gerou-se a dor, a morte e todas as inclinações más que o homem tem no seu coração; ao primeiro pecado, o das origens, seguiram-se outros pecados da humanidade; mas Deus nunca abandonou o homem e prometeu-lhe logo a redenção, em Gn 3, 15, em que promete um Salvador, que seria o Seu Filho, Jesus Cristo. II – História dos patriarcas (Gn 12-50). Trata das origens do povo de Deus. Gn 12-25 (Ciclo de Abraão).Gn. 26-27 (Ciclo de Isaac).Gn. 28-36 ( Ciclo de Jacob).Gn. 37-50 (Ciclo de José). Realça-se o seguinte conteúdo teológico e espiritual: Deus escolhe homens para realizar o Seu plano de salvação; Deus pede obediência de fé e disponibilidade total; As provas são ocasião maravilhosa para demonstrar a nossa preferência por Deus; Deus é sempre fiel às suas promessas; O povo que Deus escolhe é um povo a caminho na História da Salvação, que se vai realizando no seu caminhar; é um povo a caminho, até à sua eterna pátria. Mediante a história do homem, de afastamento de Deus, Deus propõe a Sua história, a História da Salvação. Deus quer formar o Seu povo e iniciar com ele uma História de salvação para todos os homens. Para isso escolhe ABRAÃO, prova-o na sua fé e obediência, tornando-se o pai dos crentes. Abrão («pai venerado») torna-se Abraão («pai de muitas nações»), nome dado por Deus como início de uma nova missão e recompensa-o, com a Sua proximidade, compaixão e amor. Os outros patriarcas são: Isaac (o filho da promessa), Jacob que se torna Israel («Deus é forte», sendo o homem da astúcia) e José é o homem honesto, íntegro, cheio de caridade e sábio.

13 Êxodo significa «saída». Retrata a saída dos hebreus do Egipto, por volta de 1250a.C. É fruto de quatro tradições: javista, eloísta, deuteronomista e sacerdotal. Os seus relatos encaixam no género literário épico- religoso: apresentam situações e factos verdadeiros, mas narrados de forma grandiosa, e sempre com finalidade religiosa, isto é, para nossa salvação. É o que apresenta maior diversidade de géneros literários: materiais narrativos, legais, litúrgicos, etc. 2.3 - O Êxodo 2.3 - O Êxodo Conteúdo teológico-espiritual do Êxodo: -Deus: a Sua imagem configura-se a partir da revelação do Seu nome: Javé, sempre disposto a acudir os Seus eleitos. É Uno, transcendente, Senhor do cosmos, como o demonstra nas pragas, na passagem do mar… Senhor da história, Deus está por detrás dos acontecimentos; É fiel à Sua palavra, solidário com os que sofrem; o faraó é o seu inverso: egoísta, sanguinário… - Moisés: imagem perfeita do homem eleito, cuja missão será salvar o povo com a ajuda do Senhor; não parecia ser o homem mais indicado, pouco fluente na palavra, quando foge do Egipto e perde as honras reais é que é chamado para a missão… É o intermediário entre Deus e o povo; assumiu perfeitamente a sua missão. - O povo: começa a história de Israel como povo; ao contrário de Moisés, o povo é o eleito que não cumpre a sua missão, e se livra da aniquilação graças á intercessão de Moisés; -A Aliança: o culminar de uma marcha ao encontro do Senhor. 3 partes do livro: 1ª A preparação e saída do Egipto (Ex 1,1-15,21). Integram-se a opressão dos hebreus, a vocação de Moisés, as pragas, a celebração da Páscoa, a passagem milagrosa do Mar vermelho, o cântico triunfal.2ª A marcha dos hebreus pelo deserto (Ex 15,22-18,27). Inserem-se uma sequência de episódios maravilhosos, como o dom do maná e o milagre em que Deus faz jorrar água de um rochedo. 3ª O dom da Lei do Sinai (10,1-40,38). O Decálogo e o Livro da Aliança. Inserem-se prescrições sobre a construção do santuário, o episódio do bezerro de ouro, etc. A Páscoa. O relato do Êxodo da última noite que os hebreus passam no Egipto é associado à festa da Páscoa (do hebraico pésach). Celebra a libertação de Israel do jugo egípcio. Na Bíblia, significa o acto de “saltar” ou de “passar” no sentido de “poupar”: é a passagem de Javé sobre as casas dos israelitas para que a dos egipícios fossem castigadas. Havia duas festas nos povos de Canaã, mais tarde absorvidas pelos hebreus: a Páscoa (oferecia-se o melhor novilho dos rebanhos, para garantir a fecundidade dos rebanhos; pesach também se refere à passagem da transumância, da procura das melhores pastagens pelos rebanhos) e a dos ázimos (festa de agricultores que oferecia aos deuses as melhores colheitas, as primeiras). Páscoa passa a ser a passagem em que Deus protege o Seu primogénito: Israel. Oferece-se primogénito dos rebanhos e colheitas a Deus, para O louvar) e para Lhe dar o que Lhe pertence (a terra é Dele); o Primogénito de Deus, Israel, não pode morrer. Passa a ser a passagem da terra da escravidão para a liberdade; nos cristãos é a festa da paixão, morte e ressurreição de Cristo, verdadeiro cordeiro pascal, imolado a Deus pelos homens.

14 2.4 - Levítico, Números e Deuteronómio 2.4 - Levítico, Números e Deuteronómio LEVÍTICO: leis litúrgicas ou de culto; NÚMEROS: factos ocorridos no deserto e algumas leis sem ordem; o deserto é o local de prova e intimidade com Deus; DEUTERONÓMIO: leis morais e de justiça para o povo; é considerado como o discurso de despedida de Moisés; divide-se em 5 grandes discursos: dois de introdução (o primeiro é uma repetição da história de Israel desde a partida do Horeb ou Sinai; aí se inclui o Shema, oração dos judeus Dt 6,4: «Escuta Israel! Javé nosso Deus é o único Deus», bem como uma bela profissão histórica, o credo histórico); o código de leis do Deuteronómio (em duas partes) e por fim, conclusões, exortações e bênçãos. Conteúdo teológico e espiritual destes livros: São cinco grandes temas: um Deus, um povo, uma terra, uma lei, um santuário. -Deus: uno, santo, libertador, guia e pai providente, chefe militar, Deus dos deuses, Senhor dos senhores, valente e terrível, imparcial, justo e benévolo; -Povo: é um povo santo e consagrado ao Senhor. A sua finalidade é amar o Senhor, reconhecê-l’O como Deus; Deus é santo, pelo que o povo também o deve se, juntamente com a fraternidade e justiça, especialmente aos mais pobres e necessitados; -Terra: de Deus vêm todos os bens que Israel possui; somente deve confiar no Senhor, sem vangloriar-se ou temer; -Lei: o povo necessita de uma lei para viver em sociedade; ser fiel à Lei é ser fiel ao Senhor; do cumprimento das leis depende a vida e a bênção desse povo; dão-se leis da pureza e impureza legal, ser puro é ser são, bom, santo; para nós, pureza é a virtude moral do nosso comportamento que regula a esfera da sexualidade; - Santuário: o centro do culto é o templo;, onde se faziam as orações e sacrifícios, meios para nos tornarmos santos; pede-se a Israel que destrua os locais de culto cananeus e se volte para Deus.

15 2.5 - A Lei, coração da Antiga Aliança 2.5 - A Lei, coração da Antiga Aliança Os dez mandamentos (Ex 20,1-21; Dt 5,1-22) formam a “carta constitucioonal” com que Deus elege Israel de entre as nações da terra. Depositados e guardados na Arca da Aliança, eles tornam-se sinal da presença de Deus e da Sua Palavra. 1º degrau da Aliança: a criação (Gn 1-2), que uniu a totalidade do universo ao seu criador; 2º degrau da Aliança: renovada a aliança com Noé (Gn 9, 1-7), com o sinal do arco-íris; 3º degrau da Aliança: em Abraão sob o signo da circuncisão e da tríplice promessa: terra, descendência e bênção (Gn 12,1-17; 15,1-19; 17,1- 27;21,1-18); 4º degrau da Aliança: o Sinai; Moisés e Israel tornam-se os “eleitos” da revelação da vontade divina sobre a terra (Ex 19-24;Dt 5-7); 5º degrau da Aliança: consagração da Tribo de Levi ao serviço de Deus presente no Seu santuário (Ex 32,25-29; Dt 10,1-9); 6º degrau da Aliança: a monarquia do rei David, unida ao sumo sacerdócio, representa mais um passo; 7º degrau da Aliança: ainda falta este degrau; é o sinal que aponta o olhar para o futuro, indicando o Messias, rei e sacerdote, por meio dos profetas.

16 3. Os livros históricos

17 3.1 - Josué e Juízes 3.1 - Josué e Juízes O Livro de JOSUÉ Livro dominado pela figura de Josué: colaborador de Moisés, com fidelidade inquebrantável, guia do povo eleito. Lembra Jesus Cristo, entre outros motivos pela coincidência do nome (Josué significa «Javé é auxílio»; Jesus é a transcrição grega de je[ho]schua = «Javé é auxílio»). Conteúdo: Abrange o período da morte de Moisés à de Josué. Livro de “batalhas e guerras”. 1. A conquista da Terra de canaã (Jos 1,1- 12,24); 2. Distribuição da Terra Prometida pelas tribos (Jos 13,1- 21,45); 3. Epílogo: descanso em Canaã e as Assembleias de Siquém: renovação da Aliança (Jos 22-24). Ensinamentos. Fidelidade à palavra de Deus; realça a Aliança de Javé com o Seu povo eleito; as vitórias militares são consequência do cumprimento da Aliança por parte dos hebreus. Deus dá provas da missão confiada a Josué perante o Seu povo, mediante prodígios. O mais importante, é a passagem do Rio Jordão, similar ao Mar Vermelho. Questões. 1ª - Historicidade dos factos. Há uma historicidade de substância, embora os factos concretos possam ser distintos; os autores não querem fazer história, mas tratam de justificar como se assentou Israel na Terra Prometida, havendo diversidade de opiniões. 2ª - O extermínio (herem) das povoações. Era uma prática habitual da época; deve-se recordar o carácter progressivo da revelação; eram normas transitórias; o definitivo está em Mt 5,44-45: «Amai os vossos inimigos…». O Livro dos JUÍZES Não é dominado por uma figura como o precedente. O livro fala da chegada do povo de Israel à Terra Prometida, a sua fixação definitiva, as suas dificuldades e a protecção divina. A organização do povo é mediante tribos, clãs e famílias. Não há uma cabeça que governe: cada tribo actua com grande autonomia. Deus suscita nos momentos necessários juízes, homens carismáticos, líderes, que guiam o povo eleito. Aparece a tendência cada vez maior de imitar os povos vizinhos a estabelecer uma monarquia e a imitar os seus cultos idolátricos. O JUIZ tem a missão de ser juiz, julgar os israelitas nas suas querelas e guiar o povo noutras questões, especialmente bélicas. Aparecem 12 juízes, divididos em MAIORES (Otoniel, Eúde, Débora e Barac, Gedeão, Jefté e Sansão) E MENORES (todos os outros). Conteúdo: 1. prólogo (Jz 1,1-3,6): fixação na terra prometida; últimas batalhas; 2. primeiros juizes (Jz 3,7- 3,30); 3. Débora (Jz 4,1-5,32): uma mulher juiz; 4. Gedeão (Jz 6-9); 5. Jefté (Jz 10,6-12,15): voto de Jefté; 6. Sansão (Jz 12-16); 7. Um levita é bem tratado (Jz 17- 18); 8. Um levita é maltratatdo (Jz 19-21). «Guerra civil» contra a tribo de Benjamim e extermínio desta tribo (Jz 20, 48); arrependimento e restabelecimento da tribo com os poucos sobreviventes. Os livros de Josué, dos Juízes, de Samuel (1 e 2) e dos Reis (1 e 2) formam um conjunto literário cujo conteúdo é essencialmente histórico. Descrevem a história de Israel desde a conquista de Canaã até à conquista de Jerusalém ou ao Exílio da Babilónia. Dependem todos da mesma síntese historiográfica, do tempo de Josias (622a.C.), assemelham-se pelo conceito de história, língua e pensamento religioso ao Deuteronómio: por isso, são chamados por obra «deuteronomista».

18 3.2 – 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis 3.2 – 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis Os livros de Samuel e dos Reis contam a história da realeza israelita: preparação, instauração, decadência, pontos altos com David e Salomão. Livros de Samuel: 1 e 2Livros dos Reis: 1 e 2 Conteúdo. Cobre o final da época dos juízes e o início da monarquia, narram o advento da monarquia em Israel: reinado de Saúl e de David. Divisão: 1ª - História de Samuel (1 Sam 1-12): último juiz; nascimento milagroso de Samuel, infância no templo e vocação; 2ª - História de Saúl (1 Sam 13-31); 3ª - Reinado de David (2 Sam): a sua história é importante para a História da Salvação: da descendência de David nascerá o Messias. A arca da Aliança foi levada para Jerusalém, devido à predilecção divina por esta cidade; começa-se a contrapor Israel a Judá. Ensinamentos.1. Eleição gratuita de Deus, vocação; 2. A eleição de Deus é irrevogável, mas os homens podem arruiná- la pela sua conduta e soberba (caso de Saúl); 3. David, figura de Cristo; David, rei que sofre e atraiçoado é a figura do Messias; 4. Sentido religioso da história: Deus governa os povos e os dirige para o seu fim. Abarcam a história desde a morte de David e o começo do reinado de Salomão (cerca de 970a.C.) até à queda de Jerusalém (587a.C.); inclui desde o esplendor de Salomão até ao desaparecimento como Estado. Neste período actuam os maiores profetas de Israel. Divisão: 1ª - Reinado de Salomão; 2ª - História paralela dos dois reinos até o desaparecimento do reino do Norte; 3ª - História do Reino de Judá até ao seu desaparecimento. Conteúdo: 1ª parte – construção do templo de Jerusalém; 2ª parte – Jeroboão I é a figura principal do Reino do Norte; realça-se o seu pecado, de idolatria, culto paralelo; instabilidade política, queda do reino e ciclo de Elias e Eliseu; 3ª parte – os reis são ímpios, que favorecem a idolatria, como Roboão, Abias, Acaz, etc.; os reis são aceitáveis, se não favorecem o paganismo, mas não arrancam a idolatria da raiz popular, como Asa, Josafat, Azarias, etc.; 3ª - Exemplares: promovem uma reforma religiosa: Ezequias e especialmente Josias. Os reis do Sul são descendentes de David. Ensinamentos. O destino do homem está nas mãos de Deus e depende da sua fidelidade aos planos que Ele nos traçou. Deus enviou profetas para adverter o Seu povo nos momentos cruciais. A Casa de David foi perdendo importância até ser deportada, mas a promessa do Messias continua.

19 3.3 – Crónicas e Esdras-Neemias 3.3 – Crónicas e Esdras-Neemias Por volta do séc. IV a.C., já depois do Exílio, vem a lume, entre os judeus, uma vasta síntese de perspectiva histórica como a obra deuteronomista: a colecção bíblica chamada do Cronista. Compreende os dois livros das Crónicas (inicialmente eram só um), e os livros de Esdras e Neemias (inicialmente só um, com o nome de Esdras). Livros das Crónicas: 1 e 2Livros de Esdras e Neemias Narram a história da salvação desde Adão até o decreto de Ciro que permitiu a volta a Israel. Os protagonistas são os israelitas, a quem se dedicam amplas genealogias; David, o rei ideal, onde não se encontram os defeitos mostrados em Samuel; e o Templo e sua organização. Divisão. 1. Genealogias (1 Cro, 1-9); 2. Reinado de David (1 Cro, 10-29); 3. Reinado de Salomão (2 Cro, 1-9); 4. Reis de Judá (2 Cro, 10-35); 5. Queda do Reino de Judá (2 Cro, 36): termina com o decreto de Ciro. Ensinamentos: clara intenção didáctica através das histórias seleccionadas para a narração. Pretendem animar os judeus que voltaram recentemente do Exílio e que não conheciam o anterior Templo. Pretende-se ensinar: o plano providencial de Deus através da história, dirigida para o povo hebreu; exaltação dos hebreus como depositários das promessas de Deus; povo judeu, como comunidade cultual do verdadeiro Deus; Esperanças messiânicas presentes; importância do templo e culto. Esdras é o sacerdote e escriba encarregue de reconstruir a vida religiosa dos judeus e restaurar o culto a Deus; Neemias é o governante encarregue de reconstruir as muralhas, organizando a sociedade no recém povo judeu regressado, inclusive a defesa. É o único relato da época pós-exílica conservado na Bíblia. Trata de dois períodos: o primeiro, a seguir do Exílio à reconstrução do Templo (515 a.C.); o segundo, relativo às actividades de Esdras e Neemias (a partir de 458a.C. ou 445 a.C.). Por vezes há confusão entre os dois períodos. Vão sendo consolidadas as bases do judaísmo: a Tora, o Templo… A Versão dos Setenta em grego e dá-lhe o título de Paralipoménia (Paralipómenos), que significa «coisas omissas»; as Crónicas eram vistas por suplemento dos livros de Samuel e dos reis.

20 3.4 – Outros livros históricos 3.4 – Outros livros históricos Livros que narram a perseguição contra os judeus na Terra Prometida por Antíoco IV; além destes dois, há outros dois, o III e o IV Macabeus, considerados apócrifos por judeus e cristãos. Narra-se a rebelião de Matatias e dos seus cinco filhos, chamados de Macabeus: um deles, Judas Macabeu, chegou a expulsar os selêucidas e fundar um reino judaico independente, o primeiro deste o Exílio da Babilónia. A perseguição religiosa deu-se no ano 167a.C. Judas fundou uma dinastia, chamada de Macabeia ou Asmoneia, que chegou à época de Jesus Cristo. Abarca desde a subida ao trono de Antíoco IV (175a.C.), até à morte de Simão, o último irmão Macabeu (134a.C.); os verdadeiros protagonistas são os “piedosos” que sustentam o combate contra o helenismo. Livros dos Macabeus: 1 e 2 O 2 Macabeus não é a continuação do primeiro, mas é a repetição entusiasta da história de Judas Macabeu, narrada em 1 Mac, mas destaca mais o carácter religioso da luta dos Macabeus. O 2 Macabeus insiste em mais algumas doutrinas: preocupa-se mais com o judaísmo, do que com a glória dos Macabeus, afirma a ressurreição dos corpos e a oração pelos mortos. Nestes livros aparece a fidelidade à Lei de Deus e a segurança na Providência divina se se é fiel a ela. Ester Judite Rute Tobias História sobre a compaixão de Rute sobre a sua sogra, Noemi. Rute fica viúva e abandona a sua terra, de Moab e regressa com Noemi à terra natal desta: Belém. Rute casa-se com Booz, parente de Noemi e incorpora-se ao povo de Israel; dela nascerá Obed, pai de Jessé e avô de David. A finalidade do livro é moral, religiosa e didáctica, através de uma história fictícia. Domina a ideia que Deus protege os justos; fica clara a doutrina cristã e judaica sobre os anjos; importância para a santidade no matrimónio; ensina a oração, esmola e confiança em Deus. 1ª parte: Desgraça de Tobias em Nínive e de Sara em Media; 2ª - Viagem de Tobias, junto com o arcanjo São Rafael (Tobias não o sabe…); 3ª - Casamento de Sara e Tobias; 4ª- Cura de Tobite. Convida os judeus, povo débil e pouco numeroso a não desanimarem perante os poderosos. O general assírio Holofernes seduzido e assassinado pela bela Judite, representa as forças do Mal. Judite, a judia, simboliza o povo de Deus Situa-se no império persa, na corte do rei Assuero (séc. V a.C.). O núcleo do relato é o projecto do extermínio total dos judeus («solução final»), idealizado pelo primeiro ministro Aman. A judia Ester tinha sido desposada há pouco com o rei, e este dera o seu aval à chacina. Mas a situação inverte-se pela intervenção de Ester: este acontecimento será celebrado na festa do Purim. Vê-se a actuação da Providência pela actuação de Ester, uma chamada de esperança em Deus, aparece a eficácia da oração.

21 4. Os livros sapienciais e poéticos (didácticos)

22 4.1 – Literatura poética: Cântico dos Cânticos e Salmos 4.1 – Literatura poética: Cântico dos Cânticos e Salmos Além destes dois, as Lamentações também são literatura poética, mas analisa-se com os proféticos. Muitas poesias se compunham mais para serem cantadas do que lidas: como os Salmos. Algumas destas usavam-se na liturgia judaico, no Templo ou na Sinagoga. Características da poesia hebraica. A língua hebraica é praticamente apropriada para a poesia: concreta, desprovida de abstracções, com vasta predominância de substantivos e verbos, com o condão das imagens e figuras. Alguns elementos constitutivos: Paralelismo: sinonímico, como: «Quem poderá, Senhor, residir no Vosso santuário? Quem poderá habitar na Vossa montanha santa?» (Sl 15,1); ou antitético, como: «O filho sábio é a alegria de seu pai, o insensato é a tristeza de sua mãe» (Prov 10,1). Destaque para a estrofe ou conjunto de versos em unidades estilísticas, o refrão, como: «Ó Deus, fazei-nos voltar, mostrai-nos o vosso rosto e seremos salvos» (Sl 80); acróstico alfabético, começando com uma letra do alfabeto, por exemplo Sl 9-10, etc.; aleph, beth… A mudança de narrador ou de destinatária, guia e organiza a leitura de certos salmos. Salmos É a grande jóia literária da Bíblia, o coração da Bíblia. É uma colecção de 150 salmos (chamado de saltério), de carácter heterogéneo, nos quais ressoam quase todas as tradições que encontramos dispersas pelos outros livros da Bíblia. A sua elaboração estende-se por longos séculos. A numeração é diferente na Bíblia hebraica (adoptada pelas traduções actuais) e na Vulgata e na dos Setenta: nesta os números que se situam entre o 9 e o 147 levam um número a menos. No texto hebraico, os Salmos dividiam-se em 5 livros. A variedade de temas é enorme, assim como o conteúdo literário, com grande quantidade de recursos estilísticos, ritmo, etc.; orações; historicamente contem as grandes tradições: êxodo, a terra, a monarquia, o desterro, a esperança, reservando um lugar de destaque a David. Embora alguns salmos possam ser de David, na maior parte das vezes isso não acontece! É difícil classificar os salmos, pela sua heterogeneidade de conteúdo e pelas diferentes épocas em que surgiram: alguns, muito antigos, inspiram-se na poesia cultual de Canaã (por ex. Sl 19); outros são salmos reais, lembram a grande época real (por ex.: Sl 2); uns evocam o Exílio e o período da restauração (Sl 126 e Sl 137); muitos são litúrgicos (ex. Sl 124); poemas de sabedoria, de peregrinações (Sl 120 e Sl 134), etc. Cântico dos Cânticos O nome é um superlativo, como o Santo dos Santos): «o cântico por excelência». A versão dos Setenta inclui-a entre os livros da sabedoria e a Bíblia hebraica entre os Escritos (estes lêem esse livro na Páscoa). É um grande poema de amor, os protagonistas são dois namorados que tecem um diálogo que, curiosamente é liderado pela mulher («ele» e «ela» sem nomes concretos). É atribuído a autoria a Salomão, mas hoje coloca-se em dúvida essa autoria. Dá-se um cruzamento de imagens de símbolos e imagens altamente evocativas; é um texto sensual que determina os direitos do amor humano: separa-o da divinização da sexualidade como era praticada no Oriente antigo. Os judeus e os cristãos vêem nele, a representação alegórica entre Deus e Seu povo.

23 4.2 – Livros sapienciais: Job, Provérbios, Eclesiastes, Sabedoria e Eclesiástico 4.2 – Livros sapienciais: Job, Provérbios, Eclesiastes, Sabedoria e Eclesiástico Estes livros caracterizam-se por serem transmissores de sabedoria; por tal deve entender-se uma transmissão de conhecimentos adquiridos por experiência. Os hinos da sabedoria são poemas onde a sabedoria aparece “personificada” e em que a mesma Sabedoria faz o seu próprio elogio; destacam-se Prov 8,22-31; Ecl 24; Sab 7. Os temas principais são: o próprio homem, sua natureza, virtudes e defeitos. Além dos cinco livros sapienciais há mais literatura sapiencial. Job Enfrenta o tema do sofrimento entendido como provação do homem. O autor recusa o conceito de retribuição divina, superando a concepção simplista que vê no sofrimento uma consequência do pecado. É um livro sem data certa, mas que deverá remontar ao séc. V a.C. Provérbios Caracteriza-se pelo seu aspecto antológico e composto, em parte, devido à retomada de diversos séculos de reflexão sapiencial; e, em parte, devido ao trabalho de recolha feita em épocas diferentes. Prov 10-29 poderão ser de antes do Exílio, o Prólogo (Prov 1-9) datará do séc. V a.C. Prov 30-31 são de época incerta. Eclesiastes (ou Coélet) Interpreta os acontecimentos da vida de modo negativo, com um pessimismo irremediável. Mas um discípulo, talvez pouco à vontade com as posições do mestre, tentou mitigar o tom da obra com um “final feliz” (Ecl 12,9-14). Sabedoria Provavelmente o último a ser escrito do A.T., reflecte a influência do pensamento helenístico. O autor, preocupado com as questões que atormentam a alma humana, apresenta a sabedoria como âncora de salvação para o homem. Eclesiástico (Ben Sirá) Pode remontar a 190-180 a.C. e trata de um tipo de sabedoria oposto ao de Qoelet. Este elabora uma receita para uma vida serena, em tom optimista. O seu raciocínio filosófico roda em torno da questão da natureza do homem e seu destino. «Ilusão das ilusãos – disse Qohélet – ilusão das ilusões: tudo é ilusão. Que proveito pode tirar o homem de todo o esforço que faz debaixo do Sol’» (Ecl 1, 2-3).

24 5. Os livros proféticos

25 5.1 – Os profetas São 18 livros proféticos, correspondentes a 16 profetas, quatro maiores e doze menores. segundo o tamanho dos livros, os profetas classificam-se em: maiores (Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel, a que se junta as Lamentações e Baruc (secretário de Jeremias). A Bíblia hebraica distingue entre os primeiros profetas (desde o final do Êxodo ao Exílio), como Natan, Elias, Eliseu e Isaías; «últimos profetas» são os profetas propriamente ditos (profetas escritores). Profetas designa simultaneamente, quer a pessoa dos profetas, quer os escritos que tiveram origem naquilo que disseram. O termo «profeta» deriva do grego prophètès e significa «aquele que fala no lugar do outro» (que é Deus). Existe um antecedente do profeta que eram as confrarias de profetas, grupos de devotos, chamados também de profetas, que viviam à volta dos principais santuários judaicos e entravam em êxtase ao som de danças e estupefacientes, para entrarem em contacto com Deus; alguns criaram comunidades de fieis semelhantes a comunidades de monges. Noutras culturas vizinhas, existia outro tipo de profetismo, parecidos com adivinhos, através de comportamento extático, adivinhação, interpretação de sonhos, etc., para revelar a vontade divina e a intenção do deus determinado (por ex. os profetas de baal); normalmente para aconselhar os reis. Também houve falsos profetas, personagens que tentaram falar em nome de Deus (por ex. em 1Rs 22, 5-23); em Dt 18,1-22 dá-se as regras para distinguir os falsos profetas dos autênticos. Os profetas podem classificar-se em: Período antigo (Moisés, Natan, Elias, Eliseu…); Profetismo clássico (sécs. VIII a VI a.C) : Pré-exílicos: período assírio (s. VIII a.C.): Amós, Oseias, Isaías 1 a 39, Miqueias; período babilónico (s. VII-VI): Sofonias, Naum, Jeremias, Habacuc; Do exílio (587- 538a.C.): Ezequiel e Isaías 40-55; Período de transformação no Pós-exílicos (s VI-II a.C.): Ageu, Zacarias 1 a 8, Isaías 56-66, Abdias, Malaquias, Jonas, Joel, Zacarias 9-14, Baruc, Daniel. Aqui a importância do profeta esfuma-se, devido à elaboração das bases do sistema teocrático do judaísmo, Tora, escribas e sacerdotes. Formação dos livros proféticos. A maioria dos livros forma-se por várias etapas. 1. Textos do próprio proftea (são raros); 2. Textos recolhidos pelos discípulos; 3. Redactor final dá unidade ao conteúdo. O oráculo é a forma habitual de expressão. O oracúlo de condenação; de salvação, de tipo messiânico, ou escatológico; oráculo judicial; no oráculo tem duas partes: a acusação e a sentença. outras formas: acções simbólicas, o profeta executa acções e depois explica o significado; outros são cânticos, visões, orações, sonhos…Os temas mais importantes dos livros proféticos são: o monoteísmo, a esperança messiânica, a doutrina moral e social. A função desses livros é fazer mudar o coração dos homens, preparando o povo eleito para receber o Senhor. Características dos profetas bíblicos. A sua vocação é um “mandato” recebido ou imposto por Deus para benefício do povo; o seu monoteísmo, enfatizando a presença e transcendência divina: o profeta não pode fugir a esse chamamento profético; uma grande solicitude com o homem, que faz deles, mediadores entre Deus e o homem, a ponto de assumirem o pecado do seu povo e participarem do seu castigo; apelo constante à fidelidade à Aliança com Deus; forte sentido de justiça social, sem temor de denunciar abertamente qualquer pessoa. Os profetas anunciam a mensagem de Deus, incutem esperança, mas também denunciam as injustiças abertamente.

26 5.2 – Os profetas maiores: Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel 5.2 – Os profetas maiores: Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel IsaíasJeremias O livro de Isaías é um só, mas os especialistas costumam dividi-lo em três: Is 1-39- profeta do séc. VIII a.C.; Is 40-55 – profeta do tempo do exílio; Is 56-66- seria uma colecção anónima posterior ao exílio. Toda a obra exprime a grandeza do Senhor, senhor do mundo e da história, e a necessidade de proclamar a sua glória ao universo inteiro. Um dos temas mais importantes é a “santidade” ou transcendência de Deus, forja a expressão «Javé, o santo de Israel» presente ao longo do livro. E como a opressão dos fracos é uma ofensa à santidade de Deus, Isaías fala, com veemência, da justiça social como directamente ligada à santidade divina. Algumas passagens. O Livro de Emanuel (Is 7-12). Carácter messiânico e cristológico; Isaías anuncia ao incrédulo rei Acaz uma grande esperança: o nascimento de um filho salvador de uma mãe misteriosa. Os Cantos do Servo de Javé (Deus promete a salvação ao seu povo a toda a humanidade através de uma personagem misteriosa, o Servo de Javé, que realiza a sua missão através do sofrimento. «Brotará um rebento do tronco de Jessé, e um renovo brotará das suas raízes. Sobre ele repousará o espírito do Senhor». (Is 11, 1-2). Nasce em Ananot, perto de Jerusalém, profetiza no séc. VI a.C.; insiste em que o rei deve aliar-se a Nabucodonosor e não com o Egipto, como era a política real. A sua pregação insiste no submetimento á vontade de Deus e a confiança plena em Deus. É uma das figuras mais atraentes da Bíblia, todo ele sensibilidade e interioridade; a conversão do coração é seu tema favorito; a religião de Javé atinge nele uma profundidade nunca alcançada. Lamentações Atribuído a Jeremias, escrito em forma poética, embora não pareça que ele fosse o autor. Coloca a tónica na gravidade do pecado, que é a verdadeira causa de todos os males. É uma colecção de cinco cantos de dor pela devastação da Cidade Santa. Baruc Baruc é secretário de Jeremias. Contém dois textos independentes: umas considerações sobre a queda de Jerusalém e as condições dos exilados e uma Carta de Jeremias aos deportados (Br 6); por vezes esta carta é considerado um texto independente.

27 5.2 – Os profetas maiores: Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel 5.2 – Os profetas maiores: Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel EzequielDaniel Ezequiel é um sacerdote, deportado no ano 597a.C. com o primeiro grupo, o do Rei Joaquim; cinco anos mais tarde teve uma visão junto ao Eufrates, começa a sua actividade de profeta, seguindo-se outras. A sua maior preocupação seria o culto e o Templo. É um profeta escritor. Divisão. 1ª parte (Ez 1-24): temas: juízo de Deus sobre Jerusalém; colocar de lado toda a ilusão de um final breve do Exílio; 2ª parte (Ex 24-48): temas: a esperança vivida no exílio; regresso e reconstrução da comunidade da aliança em volta do templo. Narra diversas visões (o carro divino, os ossos ressequidos, o Templo celeste…). Destaca a santidade de Deus, o pecado enquanto ofensa a Deus, a transcendência de Deus; ou seja, a essência de Deus, a moral e a esperança na salvação. Não se insere na verdadeira corrente profética. Daniel é um livro apocalíptico, que tem como finalidade sustentar a fé e a esperança dos judeus num momento muito sombrio de perseguição (séc. II a.C. perseguição de Antioco Epifánio). Daniel tem partes deuterocanónicas. 1ª parte - Histórias de Daniel, os três jovens, o banquete de Baltasar com os vasos do Templo, recusa de Daniel a adorar a estátua de Dario, Daniel arrojado aos leões. 2ª parte – visões de Daniel; afirma a ressurreição dos mortos; 3ª parte - partes deuterocanónicas dos Setenta: Oração de Azarias, cântico dos três jovens na fornalha, episódio de Susana e o de Bel e o dragão. É importante a profecia das 70 semanas de anos (Dan 9,24), que destaca que os desígnios de Deus com o Seu povo são desígnios históricos, a história é governada pela providência divina. «A mão do Senhor desceu sobre mim; então, conduziu-me em espírito e colocou-me no meio de um vale que estava cheio de ossos» (Ez 37, 1-2) «Quanto tempo durará o que anuncia a visão, a propósito do holocausto perpétuo, da abominação devastadora, do abandono do santuário e do exército dos fiéis calcado aos pés? Aquele respondeu: «Duas mil e trezentas tardes e manhãs. Depois disso, o santuário será restaurado» (Dn 8, 13- 14)

28 5.3 – Os “Doze” profetas menores É considerado um único livro na Bíblia hebraica. Uma palavra sobre cada um… Oseias Reino do Norte (séc. VIII a.C.): a sua obra está marcada por uma experiência matrimonial infeliz, interpretada como a aliança de Deus e o Seu povo. Joel O «Dia de Javé» é o tema principal. Amós Reino do Norte, séc. VIII a.C. Primeiro profeta de quem se conservam os escritos. Manifesta-se num período próspero: reinam as despreocupações, desprezo pelos desprotegidos, mas ele anuncia terríveis catástrofes. Abdias Séc. VI a.C. Texto mais curto do AT; tema o «Dia de Javé». Jonas Mais do que uma profecia é uma parábola. Jonas foge da missão que Deus lhe deu: pregar a penitência em Nínive. Mais tarde, como punição, passa três dias no seio de um grande peixe; arrependido volta e prega em Nínive que é poupada, graças à intervenção salvadora de Deus. Miqueias Contemporâneo de Isaías. Camponês, ataca a opressão social, anuncia a renovação da dinastia de David a partir de Belém; tema do “resto” importante, do que sobrevive do povo após as provações. Naum Séc. VII a.C., Reino do Norte. O nacionalismo violento do discurso anda nele a par com um grande ideal de justiça e de fé. Habacuc Coloca-se o problema do mal; uma verdade permanece: «O justo viverá pela sua fidelidade» (Hab 2,4). Sofonias Séc. VII a.C. «Dia de Javé»; a salvação é prometida apenas a um “resto” humilde e modesto. Ageu Tema central, a reconstrução do Templo. Zacarias Malaquias Anuncia-se uma era messiânica; fala num «Anjo da Aliança» (3,1) identificado nos evangelhos com João Baptista. Reconstrução nacional, exigências morais e religiosas; há três fases de redacção.

29 6. Uma análise de um texto: Segundo Relato da Criação (Gn 2,4b-3,24)

30 Trata-se do Segundo Relato da Criação diferente do Primeiro em teologia, linguagem e forma. Este Relato não é Javista apesar de partilhar algumas características; de facto, os profetas anteriores ao Cativeiro da Babilónia (Isaías, Jeremias, etc) não falam de um Jardin do Éden; no entanto, Ezequiel, profeta do Cativeiro já fala num Jardim do Éden: é esse “silêncio dos profetas” que leva a pensar que não surgiu em 950a.C. (início da Tradição javista), mas na altura do Cativeiro. Aqui os profetas e sacerdotes exilados interrogam-se sobre as grandes questões da humanidade, como: Quem criou o homem? Por que é que é o ser mais perfeito da criação? De onde vem o mal?, etc. A finalidade do Relato é dar a conhecer o Deus Criador, que criou o homem e mulher, profundamente unidos e um lugar perfeito para viverem; no entanto, por causa do pecado do homem (desobediência e querer ser como Deus) a maldição surge. A finalidade última é a de fazer que o Povo de Israel se volte para o verdadeiro Deus já virado para cultos de Canaã, de fecundidade; é uma analogia do Povo de Israel com este Relato: o Povo é exilado para o Cativeiro, assim como Adão e Eva é expulso do Jardim. Gn 2, 7: «O Senhor Deus formou o homem do pó da terra e insuflou-lhe pelas narinas o sopro da vida, e o homem transformou-se num ser vivo». Quer dizer que o homem participa da condição divina (é mais do que os animais e do que a Terra); adam (daí Adão) significa terra ou húmus, daí «humanidade» e adamah é o barro. Gn 2,5: «não havia arbusto». Significa que a terra era um local seco, árido, semelhante à terra perto do Mar Morto (a ocidente deste). Gn 2,4: «O Senhor Deus fez a Terra e os céus…». Ou seja, fez tudo o conhecido: é um quiasmo, figura de estilo, a terra é tudo o acessível ao homem e os céus tudo o que o transcende; esse momento da Criação não é uma referência cronológica, mas sim refere-se às raízes da condição do mundo em sentido ontológico; embora o texto seja poético e não histórico (insere-se no Mito, tenta explicar o que não tem explicação racional), esse momento da criação pode ser considerado histórico, pois há um momento em que as coisas começaram a existir. Deus não foi Criador, mas é Criador e continua a ser. A constante repetição de «Senhor Deus» no relato é para mostrar que Ele é central. 6 – Uma análise de um texto: Segundo Relato da Criação (Gn 2,4b-3,24) 6 – Uma análise de um texto: Segundo Relato da Criação (Gn 2,4b-3,24) Gn 2,8: «Depois, o Senhor plantou um jardim no Éden, no oriente…». Deus prepara as condições para o homem ser feliz, cria-lhe um Jardim (especial em terra árida); não há a intenção de o localizar, «a oriente» é daí que vem a luz; os rios Tigre e Eufrates são para dar a ideia de grandeza desse rio (fala-se tb em nascente: nasce ou não lá?). Gn 2, 12: a referência a pedras preciosas é para dizer que o Éden é um local de eleição. Em todo o Relato, há a ideia de um Deus não transcendente, mas sim, antropomórfico, por ex.: Gn 3,9: «Onde estás?»; Gn 2,18: «Não é conveniente que o homem esteja só», etc. Dá a ideia de um Deus não omnisciente (Ele já devia saber isso antes!). Aqui compartilha características do javismo. Temos: Deus oleiro, jardineiro, cirurgião e depois juiz. Tenta explicar a origem do trabalho.

31 Gn 2, 15: «O Senhor Deus levou o homem e colocou-o no jardim do Éden…»: esquecer-se-ia Deus que já tinha colocado o homem no Jardim mais acima (Gn 2,8: «e nele colocou o homem que tinha formado…»)? Isto prova a existência de várias tradições no texto, que depois foram “cosidas”; o 1º Relato da Criação é SACERDOTAL, como vimos (Deus + transcendente). Gn 2,19: «Vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele». Ao retirar a mulher da costela, o homem dorme: significa que não participa na sua feitura; Gn 2,23: «Chamar-se-á mulher, visto ter sido tirada do homem». O ser universal (Adam) passa agora a ser homem e mulher, diferenciados. A mulher é complementar e da mesma natureza que o homem; em hebraico isch (masculino) é a raiz da palavra ishah (feminino), ou seja ambos têm a mesma natureza (a mesma raiz da palavra). Gn 2,24: «E os dois serão uma só carne»: isto é muito unidos. 6 – Uma análise de um texto: Segundo Relato da Criação (Gn 2,4b-3,24) 6 – Uma análise de um texto: Segundo Relato da Criação (Gn 2,4b-3,24) Transgressão: o mal vem do homem. Gn 2,26: Deus avisa que não se pode comer o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal; no entanto, sucumbem à tentação e por meio da serpente são levados a comer o fruto proibido. A serpente é astuta, sabe onde colocar a pedra de toque (Gn 3, 4 : «sereis como Deus»); a serpente representa o animal impuro (Gn 3, 14) e o culto aos deuses da fecundidade em Canã; por isso eles tapam a cintura (relação com os genitais) em Gn 2,7. Gn 3,9: «Onde estás?»: a pergunta de Deus não se refere a situar o homem, mas sim a perguntar: quem te fez perceber que estás nu? Qual a tua condição? Para onde caístes? Quem te fez perceber da tua fraqueza? É uma pergunta no sentido ontológico, do ser. Gn 3, 12-14: Depois há um passar de culpas de uns para os outros: o homem culpa a mulher e esta a serpente. É uma chamada de atenção para Israel que sucumbia ao culto da serpente (culto cananeu). Gn 2,22: «já que se tornou um de nós», é uma ironia: o homem não foi capaz de cumprir a sua missão de guardador do jardim., pois sucumbiu à serpente. Gn 3,24: expulsão. O pecado gera o distanciamento de Deus. O homem não deve alcançar ou comer o fruto da árvore da vida; de facto, o homem foi capaz de alcançar a árvore da ciência do bem e do mal, pois com a ajuda de Deus pode progredir na sabedoria; mas nunca será imortal. Estes textos não são importantes em si, não são históricos, mas pretendem dizer que Deus é Criador, dar resposta às grandes questões da humanidade, o que interessa é o valor pedagógico, ou seja, a finalidade do relato. Israel estava a desviar-se de Deus, prestando culto a outros deuses (pecado da idolatria), por isso Judá estava no cativeiro. É por culpa do pecado do homem e da presunção da sabedoria ( Gn 3,17 «não comas» é uma crítica velada a Salomão, que o viram como sábio, mas deixou o culto a Deus, rebaixando-se). Assim, a relação do Povo de Israel com este Segundo Relato da Criação é evidente. O homem deve mudar de vida, não deve querer ser como Deus; precisa de evitar o pecado, deixando o Relato antever a ideia que o homem conseguirá livrar-se do pecado. O valor deste texto é inquestionável para nós hoje. Gn 3,15: temos aqui o chamado proto-evangelho: inimizade entre ti e a mulher; a leitura cristã refere-se a Maria, a nova Eva e ao Redentor, Cristo; mas o pecado será vencido.

32 7. Bibliografia recomendada (E.F.C. 6) Da Editorial Perpétuo Socorro


Carregar ppt "6. – O Antigo Testamento Encontros de Formação Cristã Paróquia de Santa Maria de Carreço."

Apresentações semelhantes


Anúncios Google