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A DIALÉCTICA ENTRE O APOLÍNEO E O DIONISÍACO EM O BARÃO

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Apresentação em tema: "A DIALÉCTICA ENTRE O APOLÍNEO E O DIONISÍACO EM O BARÃO"— Transcrição da apresentação:

1 A DIALÉCTICA ENTRE O APOLÍNEO E O DIONISÍACO EM O BARÃO
Conferência UM RITUAL DIONISÍACO: A DIALÉCTICA ENTRE O APOLÍNEO E O DIONISÍACO EM O BARÃO  Domingos Correia

2 Apolo Filho de Zeus e da titã Leto. Estava relacionado com a medicina, música, poesia e profecia, além de ser o protector dos rebanhos

3 Dionísio Deus do vinho e da vegetação, que mostrou aos mortais como cultivar as videiras e fazer vinho. Foi identificado com o deus romano Baco.

4 Resumo: A novela O Barão inicia-se com uma grande manifestação contrária ao acto de viajar: "não gosto de viajar".   O enunciado "Não gosto de viajar" é repetido por três vezes antes da personagem–narrador começar a contar a viagem que fez um certo dia, um dia muito chuvoso. Esta “viagem do inspector de escolas à aldeia perdida nos confins da serra do Barroso é uma viagem, tanto espacial como temporal, rumo ao passado. Trata-se, no entanto, de um tempo e até de um espaço imprecisos”. É um inspector que está sempre a viajar em serviço e que tem consciência das viagens serem “uma instabilidade de eterna juventude”, mas que mesmo assim não gosta de viajar.

5 Neste caso podemos identificar aqui uma certa aproximação aos romances de cavalaria: tal como aí o herói viaja sem querer, interveniente e distanciado da sua narrativa, fala-nos dela como alguém que anda no caminho da bela aventura, da sensação nova e feliz, como um cavaleiro andante”. Este cavaleiro dos nossos tempos passa por várias aventuras que têm lugar no castelo do Barão e nos espaços mais próximos. A vida para ele é uma constante viagem contra a sua vontade, “uma deslocação no espaço (e concomitante no tempo), e também uma constante contradição entre um espírito resignado, satisfeito com a sua tranquilidade, e por outro lado um espírito que de uma forma inconsciente acabava por caminhar à procura de algo diferente onde as emoções atingem o rubro. Referimo-nos, aqui, às relações entre o Apolíneo e o Dionisíaco.

6 Descida ao Hades …Por outro lado, para o inspector viajar é uma espécie de descida aos infernos, o que torna possível “uma ruptura com a existência comum com vista a uma regeneração, constitui, afinal uma experiência – e um rito – capaz de conduzir à fundação dum novo modo de ser” . A sua viagem inclui assim um conceito mais abrangente: “andar em viagem significa no fundo parar em algum sítio, deter-se na vida, suspender o caminho (para um olhar, um diálogo, uma apreensão, um gesto, uma escrita, a renovação do viático; paragens) (...)”.

7 Hades Na mitologia grega, Hades é o deus do mundo inferior, soberano dos mortos. O nome Hades era usado para designar tanto o deus como os seus domínios

8 A Viagem ao Barroso Insistindo no não gosto de viajar, o personagem narrador empreende a viagem narracional contando uma sua aventura à serra do Barroso, no Inverno, num dia de chuva. (...) O fogo é um elemento importante nesta época, porque aquece o ambiente; mas podemos identificar aqui o seu simbolismo, uma vez que ele é um elemento transformador da realidade. Para Heráclito, “No fogo vêm unir-se e fundir-se a carência inicial e a saciedade final, é aquilo de onde tudo parte e aonde tudo regressa. O fogo e o vinho são duas fontes de calor, uma gasosa e outra líquida, que têm em comum serem capazes de agitar “superfícies” e de as fazerem brotar para fora de si mesmas como, por exemplo, a terra com seus vulcões, associada ao calor do fogo, e o vinho que também é gerador de calor e faz o homem sair para fora de si mesmo, tal como aconteceu com o inspector. Heráclito nasceu em Éfeso, cidade da Jônia, de família que ainda conservava prerrogativas reais (descendentes do fundador da cidade). Seu carácter altivo, misantrópico e melancólico ficou proverbial em toda a antiguidade. Desprezava a plebe. Recusou-se sempre a intervir na política. Manifestou desprezo pelos antigos poetas, contra os filósofos de seu tempo e até contra a religião

9 O Barão versus Dionísio
O Barão aparece como Dionísio, deus da noite, que “era acompanhado por um cortejo mítico de Sátiros e de Ménades (...), com as suas peles de animais sobre o peplos sem mangas, com tirsos e serpentes nas mãos. Era o Thiasos, que vagueava pelas montanhas. Dionisio deus da vitalidade, tinha por símbolos vegetais a videira e a hera”. Dioniso era uma divindade sempre em movimento, em constante mudança, com máscaras estranhas, com uma potência inigualável, cujas primeiras epifanias são marcadas pelo conflito, por atitudes hostis.

10 Friedrich Wilhelm Nietzsche (Röcken, 15/10 de 1844 — Weimar, 25/8 de 1900) foi um influente filósofo alemão do século XIX. Podemos dizer que o Inspector-Apolo não pode viver sem o Barão-Dionísio. Apolo e Dionísio funcionam aqui, como princípios do mundo, neste caso desta novela. “Apolo e Dionísio formam uma «união fraternal», como diz Nietzsche: «Dionísio fala a língua de Apolo, mas Apolo, afinal, fala a língua de Dionísio.»”.

11 Barão também era um homem em que lutavam Deus e o Diabo”
Barão também era um homem em que lutavam Deus e o Diabo”. Diz-nos Heráclito, que “ O que é oposto une-se e o que diverge conjuga-se» Os Homens não sabem como o discorde está de acordo consigo mesmo: harmonia das tensões opostas, como as do arco e as da lira (...). A harmonia não é para Heráclito a síntese dos opostos, a conciliação e o anulamento das suas aposições; é antes a unidade que submete precisamente as aposições e a torna possível”. Heráclito de Éfeso (datas aproximadas: 540 a.C a.C. em Éfeso, na Jônia), filósofo pré-socrático, recebeu o cognome de "pai da dialéctica". Problematiza a questão do devir (mudança). Recebeu a alcunha de "Obscuro", pois desprezava a plebe, recusou-se a participar da política (que era essencial aos gregos), e tinha também desprezo pelos poetas, filósofos e pela religião. Sua alcunha derivou-se principalmente devido a ao livro (Sobre a Natureza) que escreveu com um estilo obscuro, próximo a sentenças oraculares.

12 Platão dizia que conhecer é recordar, e ao que parece o Inspector espera reviver algo de si perdido noutros tempos. Inspector é levado para o castelo do Barão, onde ele vive isolado, aí, ambos tornam-se mais próximos (...) Desta forma, o inspector que parecia ser um homem que procurava apenas testemunhar as reacções do Barão, acaba aos poucos e poucos, por penetrar no mundo do outro desnudando-se a si próprio.

13 Nesta obra as duas personagens, o Barão e o Inspector - estão em oposição. Daí ele ter sentido que tudo “aquilo era para ele um prazer vivo mas doloroso. Depois do Inspector manifestar a sua fome, o Barão chama a sua criada Idalina: “Uma mulher alta bem feita (...)” que nos remete para Afrodite, a deusa da beleza e do amor . Era um ser bonito, que nos permite tecer outras conexões e que “andava ali como dona da casa, oscilando entre baronesa e serva”.

14 A entrada de Idalina chamaou atenção do Barão e do Inspector, e ao sair deixou “ ficar atrás dela um momento de silêncio” uma espécie de transição de um palco do imaginário para outro. Barão começa a confessar que às vezes vendia suas amantes a seu “pai ou trocava-as quando precisava de dinheiro.” O filho tinha uma espécie de contrato com o pai, pois com ele trocava, vendia as suas mulheres, desta forma desviava o seu pai da sua esposa; para além disso chegavam por vezes a possuir a mesma mulher, tal como Édipo que “desposou Jocasta, ignorando que se tratava da sua verdadeira mãe.

15 Nesta hora de confissão edipiana, que nos remete para as orgias romanas, onde os homens trocavam de mulher durante as festas, ao mesmo tempo que comiam e bebiam, o Barão “fez uma pausa e, como se acordasse de repente, olhou para mim, [o inspector] endireitou-se na cadeira, bebeu um gole de vinho e bateu com o copo com tal força sobre a mesa que o fez em estilhas”.

16 Com as barreiras do inconsciente enfraquecidas, o barão mergulha um pouco mais nas profundezas do seu inconsciente, para trazer à memória aquela, a única que foi capaz de o fazer culpado por ser diferente. Por causa desta diferença é que “de manhã deram com ela na presa do moinho... Mas foi só esta. As outras não se matavam ... Só cabras ...”. Esta existencial e angustiada confissão tem um duplo sentido, é uma forma de ele se libertar do complexo de culpa e sentir-se menos culpado pois as outras não se mataram. Depois deste caos volta a si e toma consciência de si reconhecendo-se como sendo um “animal, uma pura besta”. Tudo está estilhaçado, e tudo transborda: a consciência do Barão e o vinho. É assim que entramos numa atmosfera com aspectos ainda mais profanos a alicerçados em Dionisio.

17 A Desordem e Dionísio Depois de bem comerem, absorverem “os néctares do Paraíso”, continuavam a falar de mulheres. É nesta atmosfera dionisíaca que o Barão pede à criada que vá chamar a Tuna para o castelo. A sua entrada foi acompanhada por grandes ruídos, uma espécie de trovoada que nos faz lembrar as alvoradas das festas populares que marcam o início, ou o fim das festividades A tuna era enorme, constituída por mais de cinquenta homens com um ar estranho, que “ entravam um a um, lentos, sonolentos, de todos os tamanhos, uns magros, outros gordos, uns de grandes bigodes tártaros, outros de barba à passa-piolho, dois ou três de grandes barbas, como profetas, envolvidos nas mais variadas mantas e capotes.

18 O Início do Ritual Dá-se início ao ritual com o Verde-Gaio, “Um dos tocadores aproxima-se da mesa, e agarrou uma broa. Cortou uma fatia e passou ao vizinho. Depois, com ambas as mãos pegou num dos grandes copos de vinho donde bebeu uns goles e passou. E assim fizeram todos”. Aqui podemos dizer que há mais uma certa aproximação às bacanais romanas, e às festas em honra de Baco, divindade romana do vinho e da vinha. Depois de cometidos os excessos da comida e da bebida, a Tuna volta a entrar em cena, tocando outra toada regional. Depois da entrada ao ritmo do Tum-Tum como os ditirambos entoados pelos companheiros e companheiras do deus Dionisio ao qual em sua honra prestavam homenagens rituais, num ritmo alucinante, de onde emanavam tanto a ordem como a desordem. É ao ritmo destes sons exacerbados que o Barão, Inspector e Idalina dançam até cair, tal como acontecia nas festas em honra de Dionisio

19 O estado de embriaguez vai-se apoderando do Barão e do Inspector arrastando-os para o clímax a que todos atinge ao longo dessa espécie de orgia, que à luz de Baco iluminava as noites de Roma. Cometem-se todos os tipos de exageros, ultrapassam-se todos os limites, a ordem agora é imposta pelo vinho. Por isso, o Barão numa espécie de baptismo, levanta ao alto um grande garrafão “e começou lentamente a despejar a sobre a cabeça uma cascata de vinho branco (...)” Depois de todo este ritual, partem para o castelo da Bela-Adormecida, a única, “Ela”, um amor com valor iniciático que motiva a descoberta do imaginário desconhecido. Aqui, “como na história do malicioso Cervantes, estes dois princípios tão avessos, tão desencontrados, andam contudo sempre juntos; ora um mais atrás, ora outro mais adiante, empecendo-se muitas vezes, coadjuvando-se poucas, mas progredindo sempre”.

20 A passagem Na Grécia o Templo de Delfos protegia os deuses Dioniso e Apolo, aqui, o castelo, edifício sólido, protege e acolhe a musa do Barão. “O que ele encerra está separado do resto do mundo, toma um aspecto longínquo, tão inacessível quanto desejável”, neste caso a “Bela-Adormecida”. O corredor, tal como um túnel, representa uma via de comunicação, uma abertura. O castelo do Barão era uma espécie de microcosmos. O nome Delfos tem origem em Delphinios, um epíteto para Apolo originado em sua ligação com golfinhos. De acordo com a lenda, Apolo foi a Delfos com sacerdotes de Creta no dorso de golfinhos

21 A Saída Depois de perdido, encontra a saída através de um pomar de laranjeiras. “O mundo apresenta-se como um charco onde as águas quietas e transparentes se conturbam, subindo ao de cimo os lodos do fundo revolvidos [...], pelos seus pés enterrados na terra mole. Podemos aqui realçar a simbologia anexada às laranjeiras, mais precisamente às suas flores, que significam pureza, virgindade. O inspector se sente uma espécie de “Fénix Renascida” com uma enorme vontade de resistir, de sobreviver.

22 A Saída do “Inferno” Depois de atravessar várias dificuldades, consegue finalmente encontrar o caminho que o leva ao palácio do Barão e recolhe-se no seu quarto, onde se atira para a cama e adormece. (..) O tão necessário sono foi envolvido num quente pesadelo, pois havia fogo no seu quarto. (…). O fogo que queimou o ninho da Fénix de cujas cinzas irá nascer uma outra Fénix. Inferno é um termo usado por diferentes religiões, mitologias e filosofias, representando a morada dos mortos, um lugar de grande sofrimento ou de condenação. A origem do termo é latina: infernum, que significa "as profundezas" ou o "mundo inferior".

23 A Vitória Sobre o fogo O Inspector e o Barão brindam à vitória sobre o fogo e sobre a morte e encontram a unidade na diversidade que foi purificada ao longo de todo o ritual. Não se defrontam mais, andam “de braço dado, calados e inseparáveis”, já não caminham mais de costas voltadas para diferentes horizontes, “marcham ao lado um do outro”. É chegado o momento em que se espelham, se reflectem, e se identificam um com o outro, tal como Narciso. A lenda de Narciso, surgida provavelmente da superstição grega segundo a qual contemplar a própria imagem prenunciava má sorte, possui um simbolismo que fez dela uma das mais duradouras da mitologia grega.

24 A Dulcineia de D. Quixote, e A Bela-Adormecida
Depois tudo é mais fácil, as portas que eram difíceis de atravessar e saltar já se abrem para um novo ritual, em volta da casa, como dois adolescentes apanham flores “Para Ela...”, tal como a Dulcineia de D. Quixote, A Bela-Adormecida, de certo traduz um ideal do Barão, emanado na mulher idealizada, «A Madona do Campo Santo». A Bela-Adormecida.

25 O despertar de um sonho O Inspector retorna à realidade durante a alvorada e encontra um homem com um burro, que, tal como Sancho Pança que conduzia Don Quixote, devolve o Inspector ao palácio onde vai encontrar o Barão acamado “com um tiro num ombro e fractura do crânio. O burro, em algumas “tradições, aparece como um animal sagrado. Desempenha um papel importante nos cultos apolíneos: em Delfos eram oferecidos burros em sacrifício. Um burro carregou com a arca que serviu de berço a Dioniso, a quem este animal era também consagrado”. Noutro sentido o burro pode também simbolizar os solitários, homens como o Barão que vivem como espécies de ascetas no seu próprio tempo, buscando um ideal, no caso do Barão, a Bela-Adormecida.

26 O fim da viagem Depois desta dionisíaca travessia pela novela O Barão, a narrativa acaba com o Inspector a anunciar que voltará a visitar o Barão, para o ajudar a depositar a rosa na janela do seu amor. "Sim Barão!... Hei de voltar, um dia. E havendo de tornar a perder-nos pelos caminhos sombrios de nosso sonho e da nossa loucura e mais vez havemos de cantar às estrelas, e dar a vida para ires depor outro botão de rosa lá na alta janela da tua Bela-Adormecida!...”.


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